Hellos! Cheguei com uma shortfic da série Os Bridgertons, focada no primeiro livro (O Duque e Eu) e, portanto, no meu casal favorito Daphne & Simon ♥
Ela se passa depois do final e antes do primeiro epílogo. E, para contextualizar algumas coisas, eu menciono spoilers importantes, então leia por sua conta e risco ;-)
Imagem de capa do Pinterest, fiz apenas a edição básica.
Boa leitura ♥
***
O duque de Hastings voltou a Londres há dois meses, mas nem ele nem a esposa, a ex-Srta. Bridgerton, têm sido vistos com muita frequência nos círculos sociais.
Ao que tudo indica, andam preferindo a reclusão na Casa Hastings, embora constantemente recebam visitas de Lady Bridgerton e dos numerosos e idênticos irmãos e irmãs da duquesa.
Essa autora ficaria preocupada com o casal, se não tivesse visto os dois numa rara aparição no Hyde Park no começo da semana.
Ah, gentil leitor... Tão sorridentes!
CRÔNICAS DA SOCIEDADE DE LADY WHISTLEDOWN
06 DE OUTUBRO DE 1813
Simon Basset se considerava um homem afortunado. Não. Ele tinha certeza de que era o homem mais afortunado do mundo. O mais bobo e apaixonado deles também.
E isso era surpreendente porque jamais havia imaginado que algo assim aconteceria. Nunca acreditou que seria tão feliz como hoje era. Jamais pensou em se apaixonar de verdade e se casar um dia.
Aliás, se casar era uma coisa que o duque de Hastings havia jurado nunca fazer. Bem como a segunda coisa: nunca ter filhos.
Por muito tempo, tudo o que almejou foi contrariar os ideais do pai a seu respeito. O velho duque, um homem arrogante que desprezou o filho na infância ao perceber que ele era gago, sempre prezou muito o legado dos Basset e temia que o ducado fosse herdado por algum primo distante, uma vez que julgava o filho um idiota incapaz.
Quando soube que Simon havia vencido as dificuldades de fala e feito sua própria reputação na sociedade, sendo admirado pelos homens e reverenciado pelas mulheres, ficou aliviado. A herança e seu nome estariam a salvo.
Porém, cego de raiva, ferido pela rejeição e empenhado em contrariar o pai mesmo quando este faleceu, Simon jurou que o ducado morreria com ele, pois nunca teria um herdeiro.
Mas tudo isso foi antes dele conhecer a Srta. Daphne Bridgerton. Antes de se encantar com o sorriso exuberante da irmã de seu melhor amigo, Anthony, e ficar hipnotizado pela risada fácil e o humor inteligente dela. Foi antes de Simon se ver cativo dos olhos castanhos enternecedores e curiosamente contornados por uma quase imperceptível linha verde. Antes dos dois se perderem num plano maluco e caírem fatalmente na própria armadilha...
Assim, há quase cinco meses, Daphne Bridgerton subiu ao altar com Simon Basset, tornando-se a sua duquesa de Hastings.
Antes do casamento, quando Simon contou que não podia ter filhos, ela o escolheu mesmo assim. Para Daphne, era mil vezes melhor não ter filhos com o homem que amava do que tê-los com um que não amasse.
A paixão ardente e a cumplicidade fácil entre os dois foram abruptamente abaladas quando ela descobriu a verdade. Simon podia ter filhos, apenas não queria tê-los.
Depois de muitos percalços, erros dos dois lados e uma dolorosa separação, eles encontraram o caminho de volta. Simon enfim percebeu o quanto amava Daphne, que queria ser feliz de verdade e, pela primeira vez, permitiu-se refletir sobre a ideia de ser pai.
Pelo ritmo com que ele e a esposa se perdiam nos braços um do outro — e agora que Simon se liberava dentro dela e não mais nos lençóis —, desconfiava que uma concepção não demoraria a acontecer. Entretanto, a possibilidade ainda o assustava um pouco. Talvez, bastante.
Simon não disse uma palavra sequer antes dos quatro anos de idade e, por muito tempo, foi refém de uma boca que funcionava muito mal, aos gaguejos e sob olhares de piedade ou impaciência. Temia que um filho seu com Daphne sofresse assim.
Toda vez que esse temor ficava claro, a sua duquesa o tranquilizava. Daphne dizia que se acontecesse, os dois amariam o filho do mesmo jeito. Simon percebia que não poderia ser diferente, afinal ele definitivamente não era o velho duque. Com o apoio paterno que nunca teve, sabia que seu filho não sofreria como ele.
Além disso, dizia Daphne, por ter encontrado um jeito de lutar contra a própria gagueira, Simon poderia ajudar a criança a encontrar seu caminho também.
— Vossa Graça?
Simon ergueu a cabeça ao ouvir a voz do mordomo e o avistou parado na porta do seu escritório. Geralmente, o homem estava sempre com um semblante inexpressivo. Dessa vez, uma linha de preocupação podia ser notada em seus olhos e no cenho ligeiramente enrugado.
— Algum problema, Jeffries?
O mordomo deu um passo à frente e hesitou antes de responder meio sem jeito:
— É a sua esposa...
Num instante, Simon estava de pé, o que fez os documentos das propriedades que examinava farfalharem sobre a mesa.
— O que tem a minha esposa?
Simon já estava contornando a mesa, tomado por uma preocupação inevitável. A simples hipótese de que algo ruim pudesse ter acontecido com Daphne o desconcertou por completo, como se o chão tivesse sumido embaixo de seus pés e o ar ficado pesado a sua volta.
— Ela está bem, Vossa Graça! — Jeffries esclareceu às pressas, com o duque já na sua frente. — Perfeitamente bem.
Simon desistiu de passar por ele e disparar pelo corredor feito um louco ao ouvir isso, permitindo-se relaxar um pouco. Mas logo a preocupação deu lugar a certa impaciência.
— Então o que houve?
— Ela... Bom, ela dormiu, senhor.
Simon piscou os olhos azul-claros, perguntando-se se havia compreendido direito e por que Daphne ter dormido era um problema.
Tudo bem que estavam no meio da tarde, mas Simon entendia que a esposa estivesse cansada. Na verdade, ele mesmo podia ser o culpado disso. Não que lamentasse, é claro.
Adorava fazer amor com Daphne à noite e quase sempre era assim que começavam o dia também. E, naquela manhã em específico, ele acordou bem inspirado e fez questão de demonstrar o quanto a amava. Os dois inclusive demoraram a deixar a cama depois, porque adormeceram enroscados um no outro por mais uma ou duas horas.
Então, se Daphne ainda estava exausta e queria tirar um cochilo para recuperar as energias...
— Ela pegou no sono enquanto tomava chá com Lady Bridgerton, Vossa Graça.
Simon uniu as sobrancelhas e piscou surpreso. Realmente, isso era novidade.
Daphne adorava as visitas da mãe, e Simon admirava o entusiasmo com o qual as duas sempre conversavam. Quando participava das reuniões também, ficava zonzo tentando acompanhá-las. Quando não lhes fazia companhia, sempre as ouvia falando sem parar ao passar pelo corredor. Isso para não falar de quando os irmãos e irmãs apareciam também. Era uma verdadeira balbúrdia, com todos querendo falar mais alto e ao mesmo tempo.
Então, se Daphne fechou os olhos e simplesmente apagou enquanto Violet conversava com ela, alguma coisa podia mesmo estar errada.
Ou talvez, Simon cogitou com malícia, ele tivesse exagerado naquela manhã ao venerar a esposa com tanto empenho libertino.
— Eu irei vê-la agora mesmo — disse por fim.
Com isso, passou pelo mordomo e deixou o escritório para trás.
[...]
Dizer que Daphne tinha se rendido a um cochilo seria eufemismo. Quando adentrou a sala de visitas, Simon encontrou a esposa dormindo tão profundamente que um ressonar escapava pelos lábios entreabertos. A posição sentada, visivelmente desconfortável, não parecia incomodá-la.
Simon voltou a ficar preocupado. Talvez Daphne estivesse doente, pobrezinha...
A sogra dele, Lady Violet Bridgerton, estava improvisando uma manta com o próprio xale e cobrindo a filha mais velha num gesto de carinho e zelo. Ao ver o genro, no entanto, abriu um largo sorriso. Algo que o tranquilizou de novo, pois ela não parecia apreensiva.
— Simon! Como vai?
Ele lhe ofereceu um sorriso hesitante e beijou sua mão enluvada, antes de admitir:
— Um tanto confuso, eu acho. — Voltou o olhar para a esposa adormecida no sofá e, ciente de que a conhecia há pouco tempo, perguntou com humildade: — Isso já aconteceu alguma vez?
Violet balançou a cabeça e foi taxativa:
— Nunca.
Simon pensou ter visto um mínimo sorriso no rosto da sogra por um instante, porém não teve certeza.
— Mas confesso que, algumas vezes, eu mesma deixei Edmund falando sozinho e dormi assim. De repente, sabe?
Dessa vez, Violet soou nostálgica, como sempre ficava ao falar do falecido marido, e um tanto misteriosa. Simon se considerava um homem muito inteligente, mas se aquilo era algum tipo de mensagem implícita, ele não captou.
— Acha que Daff está doente?
Os olhos de Violet brilharam com diversão.
— Não, meu querido. Nossa Daphne não está doente. — A matriarca da família Bridgerton deu um tapinha no ombro do duque de Hastings. — Apenas coloque sua esposa na cama. Algo me diz que ela vai dormir por algum tempo e esse sofá não é o lugar mais confortável. Foi por isso que pedi para chamá-lo, aliás. Não se preocupe, vai ficar tudo bem.
— É c-claro.
Simon limpou a garganta. Às vezes, ele ainda gaguejava. Era quase imperceptível e só acontecia quando estava com raiva — o que não experimentava mais desde que a esposa voltou para ele — ou muito confuso e preocupado por algum motivo.
Apesar de Violet ter negado que a filha poderia estar doente, o coração do duque não ficou totalmente convencido. Fosse imaginação ou não, ao olhar para Daphne de novo, Simon foi assombrado por uma palidez que viu no rosto dela.
Nesse momento, decidiu que não apenas a levaria para o quarto deles no andar superior. Ele ficaria com Daphne até ela acordar.
Obrigado pela leitura!
Podemos manter o Inkspired gratuitamente exibindo anúncios para nossos visitantes. Por favor, apoie-nos colocando na lista de permissões ou desativando o AdBlocker (bloqueador de publicidade).
Depois de fazer isso, recarregue o site para continuar usando o Inkspired normalmente.