Seu sapato alto e cristalino se esconde nas sandálias de couro. Sua voz melodiosa enclausura-se em tons baixos e discretos. Sua bondade derrama-se em gestos tão singelos e sutis, quase desapercebidos à corrente gritante e a mentes distraídas. Seus atos avolumam-se na delicadeza.
Estranho ela ter escolhido este tempo para vir mais uma vez e ainda manter sua essência, tão dissonante à fluidez inconsistente reinante. Talvez em outros tempos, em outros lugares, onde seu vestido longo arranhava a relva, onde os castelos se erguiam pedra sobre pedra e quando o tempo gotejava preguiçosamente, lá também fosse uma estrangeira. Sua mansidão não abria as portas da submissão em tempos esquecidos, muito embora a serenidade em seu rosto assim pudesse parecer.
Talvez lá, onde os séculos se perderam, a princesa se remexia impacientemente na prisão do espartilho, desejando a liberdade que seu espírito se baseava. Talvez aqui, onde os anos se condensam em instantes, uma blusa preta e um simples jeans tenham mais majestade de que toda a seda do manto perdido.
Talvez a princesa transpasse o tempo, procurando a si mesma nos eternos longos cabelos negros caídos nas costas.
Ela veio, talvez renegando todas as firulas passadas e mergulhando nas ciências tão exatas, porém imersa também na doçura da poesia e na profundidade da prosa. Ou talvez ela nada negue, nada deseje e apenas passeie pela eternidade com calçados diferentes a cada passo.
Talvez ela já tenha se achado, mas não se reconheça.
Talvez.
Mas nós sabemos quem ela é.
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