donnadan Donna Dan

Sasuke sentia-se vazio como uma caixa. Mas vocês sabem: Gatos adoram caixas! Fictober 2019. Dia 1: Caixa. Arte da capa: Snow_124 modificada por mim.


Fanfiction Anime/Mangá Para maiores de 18 apenas.

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Gatos e caixas

Notas iniciais:

Fictober 2019.

Dia 1: Caixa.

Essa fic pode conter gatilhos de suicídio. Se você for sensível ao tema, por favor, não leia. Se mesmo assim estiver curioso, vá até as notas finais onde tem um resumo bem simples do enredo.




Não há razão para viver. Era o que Sasuke pensava.

Tentaram convencê-lo do contrário ao longo dos anos; o que restou de seus familiares, seus médicos… Mas, racionalmente, nada o convencia. Entendia, de certa forma, porque as pessoas ficavam tão incomodadas com aquele vazio existencial que sentia, especialmente por ser um pessoa tão eloquente e articulada em suas poucas palavas: acabava por refutar qualquer tentativa que faziam de atribuir à existência um motivo e, por vezes, deixar outros na dúvida se o próprio argumento era tão válido quanto pensavam. Mas Sasuke já vivia há algum tempo daquela forma. Estava conformado.

Conformado demais.

Não havia tomado uma atitude antes por causa de seu irmão. Poupar o irmão mais velho do sofrimento de perder seu caçula, ainda mais depois de tudo que já haviam perdido, era o que guiava sua vida.

Até certo ponto.

Desde a morte trágica de sua família, em sua infância, não via sentido em nada. Porém, Itachi Uchiha fazia todo o possível e o impossível para cuidar de si. Sempre. O esforço heróico de seu irmão, seu sacrifício de deixar de lado o próprio sofrimento, para providenciar uma vida confortável e juntar todos os cacos do mais novo depois de todo aquele desastre, foi o alicerce daquela relação. Deixava ser cuidado, como parte do sentido de viver de itachi.

Funcionou durante um tempo. Mas não dava mais.

Tantos anos depois da tragédia, já adulto, observava o irmão deixando de lado tantas oportunidades para seguir cuidando de si. E, cada dia mais, sentia que não podia mais deixar aquilo acontecer.

Em sua mente parecia a hora certa.

Mas não queria preocupar ninguém, especialmente Itachi. Queria deixá-lo tranquilo, até o momento certo. Para não levantar suspeitas, disse para os outros aquilo que, dentre todas as possibilidades de sua mente analítica, parecia mais possível em sua mente deprimida: o sentido da vida estava no acaso. Não havia sentido prévio, e, sim, o que ainda estava por vir. Aquilo não era o suficiente para si, apesar de fazer sentido, não estava disposto a esperar o acaso; já tinha desistido. Mas as pessoas pareciam ter engolido e se preocuparam cada vez menos com sua saúde mental.

Sabia bem como as pessoas esperavam que ele agisse, como deveria ser sua melhora. Não era burro, apenas não tinha motivação própria. Terminou a faculdade, conseguiu um emprego e, depois de muita insistência, conseguiu que Itachi permitisse que morasse em seu próprio apartamento, sozinho. O irmão, ainda que relutante, lhe deu espaço. Aos poucos, Itachi tinha voltado a sair com os amigos; vez ou outra até ia a alguma festa.

Depois de todo aquele tempo, parecia que já estava na hora.

Respirou fundo.

Ficar em casa não era bom, então, naquele dia, resolveu sair. Quando reparou que já estava escuro, assustou-se, não percebeu que havia passado tanto tempo sem rumo com lembranças e pensamentos. Olhou em volta se localizando, tentando entender onde estava e como voltar. Ficar na rua muito tempo também não era bom. Na verdade, nada parecia bom para ele.

Uma caixa. Queria uma caixa.

Por mais que não visse sentido real, para si mesmo, em preparar algo de despedida para Itachi, não queria que ele sentisse culpa alguma com sua decisão. Pensaria em algo que fosse o suficiente para transmitir essa ideia ao irmão. Quando, enfim, entendeu onde estava, percebeu-se longe de casa, o melhor, especialmente àquela hora, seria pegar um ônibus. Próximo à parada, por sorte, encontrou uma caixa média, de tamanho excelente para separar alguns pertences que queria deixar para Itachi junto com sua carta.

Tinha que pegar o ônibus logo para dar tempo de escrever ainda naquela noite.

Sentado no banco da parada, agradeceu por estar sozinho. O ônibus simplesmente parecia que não ia passar nunca. Estava sem sorte. Sabia que, àquela altura, se decidisse ir à pé levaria muito mais tempo do que esperar pelo ônibus e respirava fundo tentando reunir paciência para aquela espera. Distraído, olhando a esquina de onde o transporte viria, assustou-se com o peso extra em seu colo de repente. Recomposto da surpresa, foi impossível não sorrir, ao seu jeito: um breve sorriso de canto.

Gatos amam caixas.

E, mesmo que ele fosse um total estranho, aquele bichano, mesmo sem conhecê-lo, achou que seria uma ótima ideia abrigar-se dentro da caixa em seu colo.Parado, acomodado no papelão, os olhos verdes brilhantes do felino, faziam-lhe um pedido mudo. Rolou os olhos, impaciente.

— Não tenho escolha, não é? - Disse baixo para o animal ao afagar suas orelhas peludas.

Os olhos quase fechados e o ronronar de satisfação eram agradáveis, ele era quentinho. As orelhas macias pareciam se agitar, como se captasse um som, e logo seus próprios ouvidos denunciaram os sons de passos apressados em sua direção. O homem, com as mãos nos joelhos recuperando o fôlego, levantou um dedo indicando que falaria assim que seus pulmões permitissem.

O gato preto, com as orelhas para trás, exibia pouco mais que os olhos pela borda da caixa, atento ao homem que o perseguia.

— Achei você, bichano!

Observou aquele homem. A pele bem bronzeada estava levemente corada pela corrida no frio. Aparentemente ele estava atrás do gato.

— Oi! Meu nome é Naruto. - disse rodeando os dois para sentar ao seu lado. — Estou atrás desse fujão há boas quadras. Mesmo com a pata machucada, perdi feio para ele. - Disse entre um fôlego e outro.

Instintivamente olhou para dentro da caixa tentando examinar o gato sem tocá-lo. Não era algo estranho para si, animais, de forma geral, pareciam gostar muito de Sasuke, por isso, e como tinha obrigação de escolher alguma coisa para estudar, escolheu medicina veterinária e tinha as habilidades necessárias para cuidar de uma possível lesão.

— Qual pata? - perguntou sem apresentar-se de volta.

Naruto sorriu, e aquilo não era o que Sasuke esperava, ciente de que seu jeito era um tanto rude comparado a cordialidade do outro. Os sorrisos que estava acostumado a ver eram sorrisos constrangidos e amarelos.

Mas o dele era lindo.

— A direita, da frente.

Tentou olhar a pata. A falta de luminosidade e o pêlo escuro do animal deixavam o interior da caixa muito escuro e não permitiam que fizesse seu trabalho. Mesmo assim, conseguiu ver que a tal pata estava muito relaxada, sem receber o peso do bichano. Devia estar doendo.

Olhou com curiosidade para o homem ao lado, que os observava com interesse.

— O que ia fazer quando pegasse o gato?

O outro riu, meio sem graça, frente à pergunta, mas ainda assim, com todos os dentes à mostra. A mão coçava a nuca, constrangido.

— Não tinha pensado nessa parte ainda.

Sasuke bufou inconformado com aquela atitude, pensando o quanto o outro era um idiota. Ouviu um ônibus se aproximando e finalmente era o seu. Fechou as tampas da caixa com o gato dentro, que pareceu se encolher ainda mais e levantou-se, deu sinal para que o ônibus parasse e o outro veio atrás.

— Vai ficar com o gato? - Naruto perguntou antes do ônibus abrir as portas.

— Não. - Respondeu com simplicidade. Não podia assumir responsabilidade por ele com o que tinha em mente.

— Pra onde vai? - Ele perguntou subindo no ônibus também.

— Pra casa. - O questionamento transmitido por aqueles olhos azuis venceram e fizeram que continuasse. — Sou veterinário, tenho como ajudá-lo em casa.

A dúvida desapareceu no mesmo instante e aquele sorriso retornou. Era um sorriso fácil, que parecia tão certo no rosto dele.

— Que legal. Os bichos sabem das coisas. - Disse satisfeito. O Uchiha nem questionou o porquê do outro estar o seguindo, nem continuou a conversa.

O caminho não era tão longo. Naruto se remexia às vezes, curioso para ver o gato dentro da caixa; vez ou outra conversando com o bicho. Ele não parecia muito bom em ficar quieto ou em silêncio, assim como parecia ter se convidado para ir até sua casa. Se fosse uma pessoa normal, preocupada com a própria vida, teria questionado, evitado que aquele estranho o seguisse e descobrisse seu endereço.

Mas Sasuke não se importava.

Desceram do ponto e, pouco depois, estavam abrindo a porta do prédio, onde Sasuke morava, no segundo andar. Levou a caixa até o pequeno espaço no canto da sala, que servia de depósito para o material da clínica que trabalhava. No pequeno amontoado organizado, estavam amostras grátis de comida, remédios e sua maleta. Deixou a caixa, ainda meio fechada, no chão para que o gato ficasse tranquilo por não estarem mais em movimento e decidisse que era uma boa ideia conferir o ambiente.

Naruto olhava para os cantos à medida que o seguia como se analisasse sua casa.

— Queria ser organizado como você. - Ele comentou com simplicidade, como se toda aquela situação fosse normal.

— Não passo muito tempo em casa. - Sasuke deu de ombros com a mesma naturalidade.

— Ah, mas com meia hora já virei minha casa de cabeça pra baixo! Teve um dia, que nem eu mesmo acreditei…

Sasuke não sabia muito bem explicar como aquela noite tinha ficado tão ao acaso. Naruto falava sozinho, sem estranhamento, mesmo sem incentivo. E aquilo era confortável. Um assunto vinha atrás do outro e a noite foi passando.

Cuidaram do gato, da pata dolorida por conta de uma queda.

Naruto continuava falando.

Comeram juntos uma dessas comidas congeladas que Sasuke tinha na geladeira, dessas que era só esquentar.

Ele sorria. E falava.

Arrumaram a pouca louça da cozinha e deixaram tudo organizado como o Uchiha gostavae ficaram no sofá.

Ele falava.

Ele só parou de falar quando o sono chegou, e, de uma hora pra outra, ele dormiu. O gato achou uma ótima ideia usar do calor de Naruto para dormir aconchegado nele. Na verdade, até mesmo para Sasuke, não parecia mesmo uma má ideia. Era o que parecia observando os dois. Se abrisse o encosto do sofá, transformando em uma cama, também ficaria confortável com eles. Estranhou um pouco aquela vontade repentina e, como de costume, colocou-se a pensar.

Naruto havia falado muito durante a noite. Em um determinado momento, os assuntos deixaram de ser aleatórios e ele começou a falar mais sobre si, sua história e seu passado. Por mais incrível que parecesse para Sasuke, ele tinha sofrido um dor muito parecida com a sua. Mas ele era tão diferente! Falou sobre os lares adotivos, o último emprego que não deu certo, o amigo que quebrava um galho deixando ele passar um tempo no sofá da casa dele.

Mesmo sem saber o que faria, ele sorria.

Era até estranho o observar dormindo. Ele não sorria dormindo. O rosto parecia sereno e ele estava calado. Com calma, forçou o apoio do sofá e ele abriu, virando uma cama. O gato observava seus movimento sem se mexer, muito confortável na “conchinha” que estava, mas desconfiado se teria que fugir dali.

Sasuke chutou os sapatos para fora dos pés e se acomodou atrás de Naruto. Naquela noite, o sono não tardou a vir, como em todas as outras. Não teve pesadelos. Não acordou com o coração acelerado ou falta de ar. Quando acordou aquela manhã, não acreditava em acasos acomo aquele. Ou passou tanto tempo convencendo as pessoas que acreditava que enfim se convenceu?

Não tinha muita certeza de nada.

Na verdade, acordou como uma caixa vazia, e um gato o encontrou. Um gato loiro dos olhos azuis.

E vocês sabem: gatos adoram caixas!





Notas finais:

Resumo:

Sasuke estava pensando em se matar. Ele acha uma caixa na rua que ele ia usar para deixar alguns pertences para o irmão. Um gato entra na caixa que ele mantinha no colo na parada de ônibus. Naruto estava atrás do gato porque a patinha dele estava machucada. Sasuke é veterinário e decide que vai cuidar do gato em casa e Naruto vai atrás dele. Sasuke ouve Naruto falar a noite inteira e acaba vendo alguma esperança no fim das contas. Ele era como uma caixa vazia, e Naruto era o gato que o encontrou.


Obrigada por lerem


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2 de Outubro de 2019 às 02:48 3 Denunciar Insira Seguir história
8
Fim

Conheça o autor

Donna Dan Compartilhando meus devaneios em aparições irregulares. Vem surtar comigo!

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André Vasconcelos André Vasconcelos
Nossa ... gostei muiiiito ❤️
January 08, 2020, 01:38
Suzie snskakwbw sjssksm Suzie snskakwbw sjssksm
Continua por favor!!!
December 14, 2019, 06:41

  • Donna Dan Donna Dan
    Oi, Kayle! No momento não pretendo continuar essa história, sorry. Se algum dia mudar de ideia, eu te aviso aqui ^^ Espero que goste das outras enquanto isso! December 24, 2019, 17:36
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