satu_rno Vitória Santos

Foi só ali que eu entendi onde eu comecei a te olhar diferente. Não foi nada premeditado. O coração se achando muito arteiro transformou nossa amizade de oito anos em algo mais profundo, quase invisível e intocável. Estou falando de almas. Eu deveria ter ficado mais atenta aos sinais, dei mole, e agora eu entrei na maior enrascada da minha vida. O pior é que mesmo sendo a coisa mais improvável desse mundo : Meu coração em toda sua arte, anda por aí querendo te encontrar... Sasusaku • UA • Desafio das quatro estações.


Fanfiction Anime/Mangá Todo o público.

#sasusaku #sandyejunior #quatro-estações #amizade-que-virou-amor
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Único

Arte do coração.

Único.

Chego toda atrapalhada da rua, com as sacolas do mercado rasgando e os ovos caindo pela garagem. A bolsa engata na maçaneta e eu bato com a ponta do dedinho no canto da porta. Lembro de acender as luzes, mas antes de chegar no interruptor meu cachecol sobe e embola sobre meus olhos tapando minha visão ao mesmo tempo que as chaves de casa escapam pelo meio dos meus dedos. E lá se foram: Ovos, sacolas e a minha paciência.

Enquanto tento recolher toda a bagunça protagonista do meu desastre, me pergunto o que está acontecendo comigo nos últimos dias. Praguejo em pensamentos e ouço passos vindo em minha direção, tenho segundos depois um par de coturnos desbotados com cadarços desalinhados parados na minha frente.

Não paro de recolher e nem levanto a cabeça para olhar quem está a poucos centímetros de mim. Não preciso. Seu perfume inconfundível me atingiu com força no momento que eu ainda praguejava absurdos pela sujeira.

Quando se apaixona a gente fica assim, yeah, yeah Nã, nã, nã.

Meu coração já estranhamente descompassado vibra dentro do peito ao som grave de sua voz. — Você é um desastre, Haruno. — Diz antes de abaixar-se para me ajudar na "árdua" tarefa de recolher as frutas. Ao menos as que restaram.

Não respondo, Não consegui fazê-lo ,Parece que tem algo na minha garganta que prende minha voz e eu fico sem volume.. Sinto como se minha garganta estivesse com cactos que impedem minha voz ou estupidamente diminuem seu timbre. Com a tensão, percebo que não é apenas em momentos como esses e que nem de longe é a primeira vez que essa confusão está acontecendo. Foram muitos os momentos em que ele se aproximou e precisei criar forças para dialogar sem parecer uma estúpida.

— Uchiha, o que faz aqui? — É a frase coerente que consigo formular quando já de pé direciono meus olhos verdes aos seus hipnotizantes espirais negros.

Frente a frente com seus olhos, entendo as razões do quão difícil era encara-lo por tanto tempo. Não sei se é paranóia, mas... estão intimidadores. Não que nunca tenham sido, só que, em oito anos de amizade eu nunca havia me sentido afetada dessa maneira por eles.

“Até esse exato momento”, penso desviando.

— Vim para te ver, você sumiu. — Com sua resposta, volto rapidamente meus olhos em sua direção tentando não demonstrar estar afetada por saber que ele tenha notado minha ausência e franzo as sobrancelhas numa pergunta muda. — O seu pai. Ele está aqui e disse que você havia saído, então resolvi esperar porque queria te fazer um convite.

Tento, tento de todas as maneiras não olhar para seu cabelo preto desconjuntado pela mão que insistentemente passa entre os fios toda vez que ele atinge o nervosismo extremo, e tento, tento mesmo não olhar para sua boca excessivamente vermelha por ter sido mordida com a frequência que complementa seu estado de inquietação.

Afinal, o que há com ele?

— Um convite? — Repito o óbvio.

— Sim, vou dar uma festa está noite e queria que você estivesse presente.

Mordo os lábios pensando na possibilidade de uma festa e seus olhos percorrem até a direção da minha boca, desviando antes mesmo que minha mente crie suposições absurdas.

— Festa, Sasuke? Sabe que eu não curto...

— Eu sei. — Me corta antes que eu possa inventar uma desculpa. — Essa é diferente, me expressei mal. É uma recepção para alguns poucos amigos.

O observo incerta se devo acreditar em suas palavras, pois as festas de Sasuke sempre foram exageradamente extravagantes. Ele mais uma vez morde os lábios e passa a mão no cabelo, evidenciando além do nervosismo, ansiedade? talvez. Eu não saberia dizer.

— Não estou convencida, mas farei um esforço. — Digo suspirando rendida.

Não queria, de verdade. Estive durante as últimas semanas o evitando por não saber lidar com essas sensações que começaram a me infestar toda vez que Sasuke se aproxima, e novamente o questionamento: O que está havendo comigo?

Ele me abraça rodopiando comigo em seus braços, fazendo meu coração fazer arte dentro do peito e um frio na barriga me inundar.

Sente um frio e um calor que vai e vem (que vai e vem)

Mas não sabe bem o que é essa sensação (essa sensação)

— Assim que chegar na recepção me procure. Tenho algo importante para te falar. — Ele diz atiçando minha curiosidade. — Te vejo às oito.

Antes que eu possa questionar sobre o assunto, Sasuke some pelos portões ainda abertos da minha garagem.

Fico parada observando o vazio do local tentando decifrar todo esse mar de emoções que Sasuke traz quando aparece e que se ameniza, não dissipa, apenas acalma a intensidade toda vez que ele vai embora.

— Eu vi essa cor nos seus olhos pouquíssimas vezes nesses vinte e quatro anos. — Atrás de mim ouço a voz do meu progenitor e sem pensar duas vezes corro em direção aos seus braços

Se os olhos brilham quando vêem alguém (quando vêem alguém)

Sou acolhida imediatamente e instantaneamente sinto o acalento e a paz que seu abraço tem o poder de transmitir. São poucos e raros os momentos em que posso verdadeiramente estar com meu pai, pois logo após ter ganhado independência e decidido a morar sozinha, nossas horários ficaram apertados e nossas agendas não coincidem.

— Papai. — Me pronuncio como uma criança e minha fala o faz rir.

— Minha menina, eu queria ser daqueles pais que diz que você cresceu, mas estaria mentindo. — Franzo o cenho fingindo está irritada com sua brincadeira em relação a minha altura e ele sorri ainda mais largo. — Olhe para mim hum... Deixe-me confirmar.

— Não estou entendendo, papai. — Digo frustrada.

Kizashi me pega pelo ombro e me guia para dentro de casa, me olha enigmático com seu olhar de quem sabe das coisas e diz:

— Na hora certa você vai entender, querida.

Solto um muxoxo de exclamação sem mais uma vez entender o que ele quis dizer e não pergunto. Conheço Kizashi Haruno tempo suficiente para entender que não adianta tentar tirar suas informações.

Meu pai não demora em sua visita, clareando na minha mente mais uma vez que nossas agendas apertadas nós impossibilitam de mais tempo como pai e filha, e logo estou sozinha novamente. E por deus, porquê parece tudo tão vazio? Não só a casa, mas dentro do meu coração.

Enquanto as horas vão se passando e o momento da festa se aproxima, percebo o quanto as palavras não ditas de meu pai fazem sentido. Com a cabeça a mil, me aproximo da sacada ouvindo barulhos perto da piscina que me assustam, mas nada chega perto da sua voz decidida diante do meu sussurro suplicante.

Parece que agora tudo que sentia/sinto em relação a ele se intensificou. Minha mente clareou para o óbvio, e eu me enfiei na maior enrascada da minha vida, e talvez no maior clichê de todos os tempos.

Eu me apaixonei pelo meu melhor amigo.

O badboy que implicava com a nerd no intervalo e que no fim acabou virando o melhor amigo dela. Eu o odiava, e mesmo assim, com o tempo e a aproximação percebemos e construímos nossa cumplicidade. Ele me mostrou que era um cara legal e vi que ele tinha tudo a ver comigo, que tinha os mesmos gostos e que seu ritmo era o mesmo que o meu.

Percebo agora que as madrugadas viradas jogando paciência e vendo filmes na Netflix significaram mais pra mim do que um dia eu poderia imaginar que significaria.

A verdade me estapeia com força e só enxergo a gravidade da situação quando sinto lágrimas grossas e desenfreadas banhando minha face uma atrás da outra. Sabia que hora ou outra alguém reservado pelo destino entraria no meu caminho, mas não esperava que esse alguém fosse Sasuke Uchiha.

Nã nã, nã nã

Qualquer hora ia acontecer pra mim.

Definitivamente me arrasto até o banheiro perto das sete e meia sem um único vestígio de coragem para me arrumar e ir a tal recepção e encará-lo. Mas faço. Me arrumo na velocidade de uma lesma e ao pegar o carro e dirigir até a sua casa, assimilo o quão assustador será encará-lo e o ver por outra perspectiva. Não como melhor amigo, mas como homem.

Estaciono e olho ao redor estranhando ter apenas dois carros,o dele e outro estacionado no pátio, e entendo no mesmo instante que dessa vez ele falou a verdade, pois não há nenhuma extravagância. Nada de som alto, de pessoas bêbadas pelo gramado ou pulando na piscina, nem do cheiro da nicotina. Suspiro aliviada, mas não menos tensa.

Entro entre as portas de madeira sem pensar em tocar a campainha, um costume que deveria ter deixado a muito tempo atrás, e que agora percebo ser um dos meus maiores erros. O primeiro erro é definitivamente está aqui e o segundo foi entrar sem me anunciar.

Na sala sobre uma mesa posta para duas pessoas há velas aromáticas sendo usadas como a única iluminação do ambiente meio escurecido, vasos de flores e até mesmo pétalas espalhadas pelas superfícies. Como fundo ,uma versão suave e acústica de Sandy e Júnior, Arte do Coração, a música que marcou o início de uma amizade. Música nada condizente com o status, é admissível. Mas é a nossa música, e a ouvindo no fundo da minha mente, ela nunca fez tanto sentido como nesse exato momento.

E no centro de tudo isso, um casal aos beijos. Ino Yamanaka e Sasuke Uchiha.

Dou as costas para o espetáculo e tento sair de cena sem que nenhum dos dois me veja, porém, é tarde demais. Minha nuca queima e sinto que seus olhos observadores me tem na mira perfeita.

Meus olhos arderam e lágrimas escaparam sem que eu pudesse evitar. Correndo, escuto passos atrás de mim e sua voz grossa chamando meu nome diversas vezes, mas ignoro entrando no meu carro e dirigindo de volta ao meu refúgio onde me jogo sobre os lençóis e desabo mais uma vez no mesmo dia.

Não sei em que momento pego no sono, mas acordo ainda pela madrugada sentindo o frio e o ar pesado. Minha cabeça, assim como meus olhos, estão doloridos e o meu corpo esgotado. Isso não me impede de observar a chuva lá fora e dispersa perdida em pensamentos demorar para perceber que batem insistentemente na minha porta.

— Sakura, por favor, preciso explicar o que aconteceu. — A voz desesperada de Sasuke me fez parar a mão trêmula na maçaneta. Não consigo abrir a porta para recebê-lo.

— Sasuke? — digo tentando parecer confiante. falhei miseravelmente. — Está tarde, não devia estar aqui.

— Preciso te dizer que foi a Ino que me beijou. Eu estava te esperando, ela chegou e... — Ele pausa e posso imaginar suas mãos furiosas bagunçado seus cabelos. — Fui pego de surpresa. Por Deus, você tem que me ouvir.

— Vá para casa, Sasuke. Você não me deve explicação alguma.

É verdade. Não somos nada um do outro além de amigos, eu não tenho o direito de cobrar absolutamente nada dele.

— Não, Sakura. Não. Você tem que me ouvir, eu... — Minha cabeça não consegue processar mais nada e sinto-me sufocada.

“Por quê?”, me pergunto o porque de ter que guardar tudo dentro de mim se isso me mata a cada segundo, e irá me matar a cada dia. Não posso fazer isso comigo, Preciso me libertar para poder seguir em frente, preciso falar, pois se em apenas um dia da descoberta desse sentimento eu me sinto em frangalhos, com o tempo o que será de mim ?

Pra que guardar um segredo

Se não quer esconder

Não sei se você me ama

Mas eu amo você.

— Hoje... — Começo e ele cessa com suas explicações para me ouvir. — Descobri um novo sentimento. O amor. — Ouço seu ofego profundo mas não paro. — Meu coração fez arte, Sasuke. Ele em toda sua teimosia se apaixonou.

Encosto minha testa na porta e choro o ouvindo fazer o mesmo. Mas porque ele o fazia? Empatia? Amizade?

— E você sabe por quem, Sasuke? — Faço uma pergunta retórica, mas percebendo que tem a pretensão de responder, continuo. — Me apaixonei pelo o meu melhor amigo, o quão clichê isso pode soar? Me apaixonei pelo sorriso de canto dele, por suas manias peculiares, por sua aversão a tomates e por sua pinta de badboy. Me apaixonei pelo seu cabelo bagunçado, seu jeito de moleque despojado, me apaixonei por tudo que ele é... Mas eu juro que vai passar. Você sabe que vai passar. Somos amigos e te respeito. Prometo que vai ficar tudo bem e nada vai interferir na nossa amizade. — Em nenhum momento permito que se pronuncie, soltava toda a dor do meu peito em um só fôlego. — Mas você não tem que se preocupar com isso, vou seguir em frente. — Termino sem convicção alguma das minhas palavras.

É difícil seguir em frente porque agora sei que ele coloca azeite em tudo, que só come cebola se ela estiver bem picadinha e que odeia tomates. Sei que ele é uma noiva para se arrumar e que enquanto eu não disser que está lindo, ele vai trocar de roupa mais trezentas vezes.

— Mas é que você é sempre lindo, tanto faz com óculos ou sem...

Admito meus pensamentos com a voz embargada e bem alta tendo a certeza que Sasuke está extremamente confuso. Perco o último fio de estabilidade e isso dar-se unicamente pela presença dele.

— E... E eu não sei... — Não sei mais o que falar para não tornar esse momento menos embaraçoso, então pergunto o mais conveniente. — Porque você está aqui, Sasuke?

Ouço sua voz do outro lado da porta tremulando, amedrontada, cheia de expectativas e promessas que eu não conseguia compreender, mas que faria minha falta de entendimento se surpreender após ouvi-las.

— Vim cuidar do seu coração que aos poucos percebi que já não é mais seu, assim como o meu já não é mais meu a tanto tempo. E isso eu digo com toda convicção e sabe por quê? Porque ele te pertence. É por isso que estou aqui, cheio de brigadeiros e ouro branco nas mãos, é o seu preferido. Abre a porta pra mim, amor?

Quando se ama não dá pra disfarçar

A gente brinca de esconde

Qualquer um vai notar.

Sinto a vontade de pedir silêncio, porque não é necessária mais nenhuma palavra quando abro a porta segundos depois para vislumbrar sua face molhada e seus orbes banhados no desespero. A tensão de dissipa e sua postura relaxa no mesmo instante que dizemos juntos “Quero ficar com você”.

Não tinha como ser diferente, pois o jeito que o meu eu se conecta com o seu é tão nós que novamente eu digo, não tinha como ser diferente.

25 de Setembro de 2019 às 03:33 0 Denunciar Insira Seguir história
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Fim

Conheça o autor

Vitória Santos Vitória dos santos ; 19 anos ; Mãe de um menino lindo ; Escritora por amor. Nasci em penedo - Alagoas , mas sou sergipana de coração. - Não sendo acetona, perfume ou gasolina o que é de Álcool eu tô tomando. Escrever me mantém Sã, comecei a compreender que escrever servia como uma terapia para mim : Cada comentário que leio , é um gatilho potente na minha inspiração. E cada história que escrevo , é um presente meu para vocês. Bem vindos ao meu cantinho. Link do fanfiction e do Spirit : https://fanfiction.com.br/u/775154/ https://www.spiritfanfiction.com/perfil/vih608

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