lara-one Lara One

Uma série de denúncias anônimas ao FBI. Pedaços de pele humana. Um caso atirado para a seção de crimes violentos. Um corpo mutilado nos trilhos do trem. Um profeta misterioso. Uma seita envolvendo adolescentes. O silêncio da população e o medo. Qual seria o grande segredo escondido?


Fanfiction Seriados/Doramas/Novelas Para maiores de 21 anos apenas (adultos).

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S05#27 - NECRONOMICON

INTRODUÇÃO AO EPISÓDIO:

Fade in.


Halloween – Templo dos Emissários de Cthulhu -New Hampshire – 11:11 P.M.

As crianças fantasiadas correm com sacolas de doces, pela rua, de casa em casa. O menino observa o templo parado na frente da porta. Olha para as tochas na entrada. Para a aldrava com o rosto do demônio. A porta abre-se.

MENINO: - Gostosuras ou travessuras?

Sikes, num manto negro, cabeça coberta por um capuz, barba. Mal se vê seu rosto. Ele inclina-se para frente, e a luz da tocha revela seus olhos verdes de retina de gato.

MENINO: -Gostei da sua fantasia!

SIKES: - (SORRI) Que idade você tem?

MENINO: - Oito. (SORRI) Legal suas lentes!

SIKES: - (SORRI) Oito? Que pena! Gostosuras para você. Travessuras para mim, meu pequeno pagão adorador do Dia das Bruxas.

Sikes estende a mão até a sacola do menino, revelando as unhas longas e pintadas de negro, o anel no dedo médio com uma caveira. Abre os dedos e joga um punhado de balas. O menino sai correndo. Sikes o acompanha com os olhos e fecha a porta. Caminha pelo templo de várias colunas estilo greco-romanas. Empurra com as duas mãos a porta dupla.

[Som: Marilyn Manson - Sweet Dreams]

As tochas e velas negras iluminam o local sinistro e úmido. O altar contendo um livro aberto ao centro. Sobre o altar uma escultura enorme se projeta da parede: um monstro antropoide, com uma cabeça de polvo, a face com tentáculos, escamoso, garras grandes e asas longas. Sikes olha para a escultura e a saúda.

SIKES: - (BRAÇOS ABERTOS) Salve Cthulhu!

Espalhados pela sala, seis discípulos com mantos e capuzes negros. Um deles mais à frente de todos, cabisbaixo, segurando algo nas mãos. Sikes aproxima-se do altar. Toma o livro nas mãos.

Close do livro feito com pele humana, escrito e desenhado com sangue.

Sikes passa o dedo na língua e folheia o livro. Vira-se de frente para as pessoas. Para dentro de um pentagrama desenhado no chão. Lê o livro.

SIKES: - Volec demas, Oris, por esta terra você não passará. Eu me formei com minha arte e tu darás verdadeiras respostas às minhas demandas quando a minha necessidade por ti se fizer clamar. Guardiões Nemus, Dacos, Cabid, Leebo! Então com rugido atroador as estrelas girarão em torno de mim em um grande vórtice, enrolando-me e atirando-me no abismo sem nome como uma folha na tempestade. Meus gritos de terror e escuridão rendidos ao misericordioso me engolfarão. E verei ele, que dorme nas profundezas do abismo, que agora me recebe como seu emissário.

TODOS (EM CORO): - Entre o escuro e a luz, entre céu e inferno, entre sonho e vigília, entre céus e terra, há apenas nós.

Um discípulo, cabisbaixo, se aproxima de Sikes parando fora do pentagrama. Segura algo nas mãos.

SIKES: - Gibil, espírito do fogo, se lembre! Girra, espírito das chamas, se lembre! Oh deus de fogo, filho poderoso de Anu, a maioria que terrifica entre irmãos de Thy, suba! O deus do forno, deus de destruição, se lembra! Se levante, o deus de fogo, Gibil, em majestade de Thy e devora meus inimigos.

Sikes, sem sair do pentagrama, toca a cabeça do discípulo à frente, que continua cabisbaixo.

SIKES: - Gibil gashru umuna yanduru... tushte yesh shir illani u ma yalki! Gishbar ia zi ia, ia zi dingir girra kanpa! Se levante, filho do disco flamejante de Anu! Se levante, descendência da arma de ouro de Marduk! Não sou eu, mas Enki, mestre de mágicos que convoca Thee! Não sou eu, mas Marduk, assassino da serpente que chama Thee agora aqui! Se levante! Gishbr ba Gibbil ba girra zi aga kanpa! Espírito do deus de fogo, tua arte suplicou! Kakkammanunu!

O discípulo entrega uma espécie de vidro com desenhos estranhos. Retira a rolha. Sikes cospe dentro do vidro.

SIKES: - As palavras foram faladas, o sinal foi determinado, para que assim você agora more dentro deste recipiente. A grande besta. Abram-se os sete portões do inferno.

Sikes retira o punhal do bolso. Aproxima-se de uma mesa feita de pedra. Há uma mulher grávida inconsciente. Sikes olha para o discípulo.

SIKES: - Revele sua face. Sacrifique seu corpo e entregue sua alma a Cthulhu. Ainda hoje você estará com ele em seu reino, segundo as palavras do Necronomicon.

Sikes beija o livro. O discípulo leva as mãos ao capuz, retirando-o. Revela dois chifres na cabeça. Sikes ergue o punhal sobre a barriga da mulher.

Corta para Dee, uma das discípulas, que vira o rosto.

Close do sangue que escorre para dentro do pequeno vidro que Sikes segura.

[Fade in]

[Sirenes de polícia]

[Fade out]

Luz parca na escuridão vinda de postes e latões de lixo improvisando fogueiras para o frio.

As duas viaturas policiais estacionam ao lado do terminal da antiga estação de trem. Os policiais descem. O xerife também. Um carro do FBI estaciona ao lado.

Alguns mendigos estão por ali, observando o movimento.

Donald Mallet desce do carro, num sobretudo, manta no pescoço e luvas. Dois policiais descem da viatura. Donald e os policiais correm até os trilhos.

Sobre os trilhos, o corpo sem cabeça de um homem. O abdômen inteiro foi aberto e os órgãos estão expostos. Donald olha para os policiais.

DONALD: - Quero que vasculhem o local. Precisamos encontrar a cabeça da vítima. Segurem essa gente aqui, espalhe seus homens, eu quero todas as informações.

Os policiais se espalham. Donald olha para o corpo decapitado. O velho Tim, um mendigo, aproxima-se dele, enrolado num cobertor. Toca-o no ombro. Donald olha pra ele.

TIM: - Eu sei quem fez isso. Se me der 10 dólares eu falo.

Donald pega a carteira e dá dez dólares ao mendigo. Ele olha pra nota, abrindo um sorriso revelando apenas dois dentes.

DONALD: - Quem fez isso?

TIM: - O Capeta...

Donald olha para Tim, incrédulo. Os policiais aproximam-se correndo, apavorados.

POLICIAL #1: - (MEDO) Encontramos alguma coisa, agente Mallet.

DONALD: - A cabeça?

POLICIAL #1: - ... Talvez, mas... Não é humana.

Donald olha para o lado. O policial #2 aproxima-se segurando nervosamente a cabeça decapitada da vítima.

DONALD: - (SEGURANDO O RISO) Como assim ‘não é humana’?

Close na cabeça. Sobre ela, duas marcas como se chifres tivessem sido arrancados.

VINHETA DE ABERTURA: A VERDADE ESTÁ LÁ FORA



BLOCO 1:

FBI – Seção de Crimes Violentos – 8:21 A.M.

As pernas nuas e bem torneadas adentram pela sala, em saltos altos. Os agentes, todos homens, em suas mesas, param pra acompanhar as curvas femininas que entram na sala, segurando uma pasta.

Diana Fowley, séria, bem arrumada, aproxima-se da mesa ao fundo onde o agente sentado de costas pra ela, lê atento alguma coisa num papel. Sobre a mesa dele, uma plaquinha de madeira com um rosto indígena desenhado, usando um cocar mantendo um sorriso sarcástico e a frase: “I’m the Big Boss.” Donald vira-se com a cadeira. Larga o papel sobre a mesa. Olha pra ela.

DONALD: - Oi, agente Fowley. Sente-se.

Diana senta-se, constrangida.

DONALD: - Seja bem vinda à seção de crimes violentos. Acho que não precisamos de apresentação. Sei sua ficha, seu ótimo trabalho prestado ao FBI, cursamos a Academia juntos. Seja bem vinda neste departamento.

DIANA FOWLEY: - (CONTRARIADA) Obrigada.

DONALD: - Ei, rapazes! Esvaziem uma mesa pra agente Fowley.

Todos eles se levantam às pressas para limpar uma das mesas, aos empurrões.

DONALD: - (SORRI) Não se preocupe. São bons garotos, não vão importuna-la. Só não estão acostumados a ver uma mulher aqui dentro.

DIANA FOWLEY: - Alguma coisa que eu possa fazer, Don?

DONALD: - Pode ajeitar-se em sua mesa, se organizar... Vou apresentar seus colegas...

DIANA FOWLEY: - Quem será meu parceiro? Você?

DONALD: - Agente Fowley, todos aqui dentro tem parceiros com exceção deste que vos fala. Mas isto não significa que vamos ser parceiros. Todos aqui são parceiros. De acordo com o trabalho que termina e o outro que surge. Todos se ajudam mutuamente. Aqui dentro temos a ideia de trabalho em equipe. Meus rapazes são verdadeiros uns com os outros, e arriscam suas vidas pelos colegas. Espero que compreenda esta ideia.

DIANA FOWLEY: - Perfeitamente, Don.

DONALD: - Regras: reuniões no boliche depois do expediente na sexta para descontrair. Festinhas de aniversários com direito a bolo, chapeuzinhos e balões, aqui no escritório. Mas na hora de trabalhar, eu quero seriedade. Responsabilidade. Competência. Qualquer problema que surgir reporte-se a mim. Estando fora do meu alcance, eu o passarei diretamente ao diretor-assistente responsável, Alvin Kersh. Não admito que passe sobre mim. Entendeu? Detesto ficar sabendo pela boca do Kersh sobre algum problema interno no meu departamento.

DIANA FOWLEY: - ...

DONALD: - Qualquer dúvida, todos nós estamos aqui pra ajuda-la. Na minha ausência, um de vocês toma a responsabilidade. Isto é feito num sorteio, coloque seu nome na caneca.

DIANA FOWLEY: - (DEBOCHADA) Impressão minha ou entrei no lugar errado? Aqui é o FBI ou é a Disney, ‘Donald’?

Donald inclina-se sobre a mesa. A encara.

DONALD: - Aqui é a seção de crimes violentos, agente Fowley. O dia todo convivemos com casos sanguinários que revoltam o mais insensível dos homens. Mutilações, esquartejamentos, vísceras espalhadas e um menu de fartas opções de acordo com cada maluco que nasce nesse país. Portanto, tornar o ambiente mais leve, nos faz equilibrar a insanidade que nos espreita. Rir aqui é mandamento. Se não está contente, tente transferência novamente para os Arquivos X. Mas eu aviso por antecedência o que escutei da direção: ou você fica aqui, ou cai fora. Sem meio termo. Portanto, agente Fowley, não me cause dor de cabeça. Porque a minha educação e cavalheirismo terminam onde uma mulher começa a criar problemas pra minha equipe.

Diana levanta-se.

DONALD: - Outra coisa. Reporte-se a mim como agente Mallet. Donald ou Don, é apenas para os íntimos.

Diana lança um olhar de raiva pra ele e dirige-se à sua mesa. Os rapazes sorriem pra ela. Ela mantém-se séria, os ignorando. Eles se afastam. Donald a observa sério, com uma cara de quem teve seu dia estragado. Pega o papel novamente e começa a ler. O telefone toca. O agente gordinho, Lewis, atende.

LEWIS: - Ei, Don! Outro daqueles telefonemas.

Diana olha pra Lewis.

DIANA FOWLEY: - (DEBOCHADA) Don??? Tão íntimo...

DONALD: - Passa pra mim, Lewis. Tente localizar a ligação!

Donald pega o telefone, encarando Diana. Aperta a tecla.

DONALD: - Aqui é o agente Mallet... Não, você tem que se identificar, ou pelo menos nos dar provas boas ou não podemos pegar o cara... Não tenho nada nas mãos ainda e você disse que eu teria boas provas no Halloween... Não estou segurando você no telefone... Por que tem medo de se identificar? Eu estou começando a achar que você é um doido viciado em filmes de terror... (PEGA A CANETA) Estou anotando... Olha, amigo, o FBI quer ajudar, mas se você...

Donald suspira. Desliga o telefone.

DONALD: - Alguma coisa, Lewis?

LEWIS: -Não deu tempo. Ele sabe do rastreamento. Não vamos pegá-lo pelo telefone.

Donald levanta-se. Pega o paletó.

DONALD: - Vou resolver um assunto. Se me ligarem, volto em meia hora.

Donald sai da sala. Diana o acompanha com os olhos. Lewis aproxima-se.

LEWIS: - Oi colega. Se precisar de alguma ajuda...

DIANA FOWLEY: - Meu nome não é colega. É agente Fowley. E eu nunca preciso de ajuda.

Os agentes todos olham pra ela. Lewis vai desconcertado pra sua mesa.


Arquivos X – 9:04 A.M.

[Som: Radiohead – True Love Waits]

Mulder organiza as fitas de vídeo, enquanto balança o corpo ao som da canção. Batidas na porta.

MULDER: - Entre!

Donald entra segurando uma pasta, olhando curioso para todos os lados. Mulder continua seu trabalho sem virar pra trás.

DONALD: -Radiohead? Eu não tenho Radiohead no trabalho! Isso é injusto!

Mulder vira-se. Sorri surpreso. Donald anda pela sala olhando pra tudo.

DONALD: -Impressionante, mas isso aqui é mais do que falam pelos corredores. Bem mais legal do que o meu quarto quando eu era adolescente! Um pouco mais bagunçado, mas...

MULDER: - Você? Não! Você por aqui? Tá com muito tempo livre lá em cima? Estou em defasagem de parceiro. E hoje é dia de faxina.

DONALD: - Sinto não ter vindo pra tomar café. Sério. Eu que preciso da sua ajuda.

Mulder larga as fitas. Desliga o som. Aproxima-se de Donald, que parece nervoso.

MULDER: - O que aconteceu?

DONALD: - Melhor ver as fotos. Nem dá pra falar.

Donald coloca a pasta sobre a mesa. Mulder pega as fotos. Vira o rosto com repulsa. Donald senta-se na ponta da mesa.

DONALD: - Começou com um telefonema anônimo há dois meses. Fui até o local, apenas sangue, a vítima não foi encontrada. As amostras de sangue e vestígios de células epiteliais nos levaram ao nome da vítima, mas nunca encontramos o corpo. Depois mais uma série de telefonemas. Dois homens mortos e três desaparecidos, três mulheres grávidas mortas e fetos que desapareceram. Ontem, um fato novo que acredito ter ligação. Encontramos o corpo de um homem, com a mesma retaliação abdominal dos outros. Mas com a diferença de estar decapitado.

Donald procura uma foto.

DONALD: - Olhe o que a autópsia revelou no corpo. Havia marcas da presença de chifres na cabeça. E eles eram reais e de nascença.

MULDER: - (INCRÉDULO) Chifres???

DONALD: - Não me pergunte, chifres são o seu departamento... (SACANA) Sem ofensa pessoal... E nas costas da vítima havia a tatuagem de um besouro. Não bate com nenhuma tatuagem de gangues conhecidas dos arredores. Mulder, sei que você entende significados de símbolos melhor do que eu, você é especialista nessa área. O que besouros significam?

Mulder pega a foto e observa. Donald o acompanha com os olhos.

MULDER: - Este é o besouro do esterco, que é o antigo símbolo egípcio da reencarnação. É também símbolo de Belzebu, o senhor das moscas. Este símbolo é usado dentro do Ocultismo para mostrar que seu portador tem poder e é uma fonte de proteção em relação a outros dentro do reino ocultista.

DONALD: - Mulder, meu palpite é que tenho um Arquivo X nas mãos. Se não tiver nada mais interessante pra fazer, gostaria que entrasse nisso comigo. Não quero que seja uma troca de favores, não estou te obrigando...

MULDER: - (EMPOLGADO)Pra onde vamos?

DONALD: - (SORRI) New Hampshire. E eu ainda pergunto pra uma criança se ela quer doce...

Mulder fica estático. Donald olha pra ele.

DONALD: - Algum problema, Mulder?

MULDER: - (RECEOSO) Não. Eu quero esse caso. Você nem imagina o quanto eu quero esse caso. E ainda bem que foi parar em suas mãos, porque você como ex-padre vai ajudar muito. Tenho um Arquivo X sobre uma seita satânica em New Hampshire. Pode ter ligação.

DONALD: - Mulder... Sua amiguinha chegou hoje. E já conseguiu estragar o meu dia.

MULDER: - Reze. Use incenso de arruda na sala. Isso afasta os maus espíritos e o olho gordo.

DONALD: - Mulder é sério. Ela vai criar encrenca no meu departamento. Eu levei anos pra juntar uma boa equipe, agentes competentes e parceiros e essa mulher já está estragando o clima de todo mundo.

MULDER: - Quem é o responsável?

DONALD: - Kersh.

MULDER: - Droga! Esqueça o incenso. Chame um feiticeiro vodu.

DONALD: - Eu queria que Skinner ou McKenna estivessem nisso e tenho certeza de que ela não aqueceria a cadeira no meu departamento. Mas Kersh? Ainda mais que sei do caso dela com o... Platinado. Você sabe.

MULDER: - Você tá numa sinuca, Don. Mas me escute: Diana não tem jeito pra seção de crimes violentos. Logo vai começar a se atrapalhar toda e eles vão ter que transferi-la. Aguente um pouco.

DONALD: - Eu não posso nem olhar pra cara dela. Acredita?

MULDER: - Donald, se eu não guardo ressentimentos, você menos ainda, ok?

DONALD: - ... Eu sinto muito... Fiquei sabendo sobre Scully...

MULDER: - Don, não fale nisso. Por favor... Não toque neste assunto.

A porta abre-se. Diana entra. Donald olha pra ela. Olha pra Mulder. Mulder sorri. Donald fica incrédulo.

DIANA FOWLEY: - Podemos conversar em particular?

Donald pega a pasta e sai da sala. Diana fecha a porta.


Gabinete do diretor-assistente Kersh – 10:12 A.M.

Kersh lê a folha de papel. Donald sentado à frente dele. Kersh olha pra Donald.

KERSH: - Está claro que é um maníaco homicida. Quero que pegue um agente e leve com você. Aproveite Diana Fowley.

DONALD: - Tenho outros casos pra ela. Vou sozinho. Após avaliar a situação eu chamo outro dos meus homens.

KERSH: - Não. Quero a agente Fowley com você nesse caso.

Skinner entra na sala, segurando um papel.

SKINNER: - Soube do caso em New Hampshire. Quero Mulder nisso. É um Arquivo X.

KERSH: - Não é um Arquivo X.

SKINNER: - (FURIOSO) Esse caso já esteve nos Arquivos X e é por direito do agente Mulder. Ele conhece os envolvidos. Ele está por dentro disso tudo.

Donald olha pra Kersh.

DONALD: - Estou sem parceiro. Mulder trabalhou comigo na seção de crimes violentos e ele é um perito no assunto, senhor. Acredito que não há alguém mais indicado do que Mulder pra isso.

SKINNER: - É o que penso.

KERSH: - Mas não é o que penso. Está fora de cogitação. Dê o fora da minha sala os dois, agora.

Skinner e Donald saem.

DONALD: - Não funcionou.

SKINNER: - Fiz o que pude. Não posso negociar com Carter sobre isso. Lamento, Donald.

Skinner vai pra um lado. Donald pra outro.


Mulder sai do elevador, num sobretudo. Aproxima-se da recepção que está vazia. Mulder bate à porta e entra. Kersh ao vê-lo, levanta-se da mesa.

KERSH: - Não pode entrar aqui desse jeito!

Mulder fecha a porta. Puxa o maço de cigarros do bolso. Acende um. Olha pra Kersh, soltando a fumaça no ar, com jeito arrogante.

KERSH: - (IRRITADO) E nem pode fumar aqui dentro!

MULDER: - (IMITANDO O FUMACINHA) Eu fumo e entro aqui quando eu quiser. Estou no caso, você vai assinar a permissão para isto. Ou vamos conversar de pertinho. Não vai gostar de sentir meu hálito na sua orelha.

KERSH: - Não pode ameaçar um diretor do FBI!

MULDER: - Ok, ‘Alvin’. Como quiser...

Mulder puxa o celular. Kersh o observa. Mulder finge apertar uma tecla. Enquanto aguarda, serve um café.

MULDER: - É Mulder... ‘Pai’, preciso de um favorzinho. Estou com um Arquivo X em New Hampshire, mas ele foi parar na seção de crimes violentos. Eu o quero na minha mesa. Mas alguém aqui não está disposto a colaborar... (OLHA PRO RELÓGIO) Sim, a esta hora a Senhora Kersh está saindo para o trabalho.

Kersh olha pra ele, incrédulo.

KERSH: - Mulder!

MULDER: - O que foi?

KERSH: - Pegue esta droga de caso e saia agora da minha sala!

Mulder volta ao telefone. Kersh assina o papel.

MULDER: - Esqueça, pai. Mudaram de ideia. Um abraço pra você também.

Mulder desliga. Pega o papel com um sorriso sarcástico.

MULDER: - Obrigado pela compreensão.

Kersh esmurra a mesa. Mulder sai da sala. Apaga o cigarro. Começa a rir.

MULDER: - (RINDO) Idiota... Acha que eu ligaria pra aquele cretino nessa intimidade toda e ainda o chamaria de pai? Nem com uma arma apontada na cabeça!


11:49 A.M.

Donald dirige. Mulder observa as fotos com um ar de vingança.

DONALD: - Ei, Mulder... Não vai mesmo me contar como Kersh mudou de ideia?

MULDER: - Não. Mas quando precisar que ele abane o rabinho e finja-se de morto, me diga.

Donald olha pra ele, rindo.

DONALD: - É... Estranho Mulder e seus mistérios.

MULDER: - Não foi vodu, não se preocupe.

DONALD: - Vamos almoçar na estrada?

MULDER: - Tô nessa... Todas as vítimas que você encontrou até agora... Estavam sem pele?

DONALD: - Na parte abdominal. Parece um padrão.

MULDER: - É um padrão, mas não é um assassino serial. Esse cara e seu grupo, estão ligados a um culto que utiliza pele humana.

DONALD: - Como sabe que é um cara?

MULDER: - É uma seita satânica ligada ao Necronomicon.

DONALD: - Necronomicon? Tá falando do filme?

MULDER: - É, já serve pra você saber do que falo. O Necronomicon, também conhecido como ‘O Livro dos Mortos’, é feito de pele humana e escrito com sangue humano.

DONALD: - (DEBOCHADO) Acha que estamos procurando um grupo editorial que quer lançar uma publicação em massa sem fugir do conceito da obra original?

MULDER: - Acho que estamos buscando alguém que quer reescrever o Necronomicon. Ou cria-lo.

DONALD: - Como assim?

MULDER: - Supostamente o Necronomicon foi um livro secreto escrito pelo árabe louco Abdul al-Hazred, de cujo conteúdo só se conhece pequenos trechos, como "Não está morto o que para sempre pode jazer, e com eras estranhas, até a morte pode morrer."

Donald olha pra Mulder.

MULDER: - "As cavernas mais inferiores, não são para a compreensão dos olhos que vêem; pois suas maravilhas são estranhas e terríveis. Amaldiçoando o chão onde pensamentos mortos vivem em novos e estranhos corpos, e maligna a mente que é mantida por nenhuma cabeça”. “Feliz é a tumba onde nenhum mago foi sepultado, e feliz é a cidade onde, à noite, todos seus magos são cinzas. Pois é um velho rumor que a alma dos levados pelo demônio não se precipita dos restos de sua carne, mas engorda e instrui o próprio verme que o mastiga; até que da decomposição surge uma vida horrenda, e os estúpidos escavadores da cera da terra astutamente se mobilizam para criar monstros para nos afligir. Grandes buracos são cavados secretamente onde os poros da Terra deveriam bastar e as coisas que deviam rastejar aprendem a andar."

DONALD: - Mulder, se está querendo me arrepiar, você está conseguindo! Quer me contar uma história de terror?

MULDER: - Na verdade isto está em contos de terror. Escritos por Howard Philips Lovecraft, vulgo H.P. Lovecraft. Ele é o cara que citou a existência do Necronomicon em sua obra. Discute-se que o Necronomicon nunca existiu e não passa de uma criação da cabeça de Lovecraft e que Abdul al-Hazred seria um apelido que um parente lhe dera aos cinco anos, visto que após ouvir estórias do livro "As Mil e Uma Noites" Lovecraft se travestia de árabe em suas brincadeiras.

DONALD: - Hum...

MULDER: - Você viu Re-Animator, de Stuart Gordon? É uma variação de Frankenstein, em que um cientista obcecado pela vida após a morte fica brincando de reviver no necrotério de uma universidade. Esse filme de 1985, acendeu numa geração inteira de espectadores a vontade de conhecer a obra de Lovecraft. O filme tem pouco do livro, mas tem cenas polêmicas.

DONALD: - De que tipo?

MULDER: - Como quando um cadáver faz sexo oral numa mulher amarrada.

DONALD: - (OLHA PRA ELE RINDO) Me empresta a fita? Com certeza você tem um exemplar naquela sua coleção... Mulder, então devo acreditar que o Necronomicon é uma fantasia?

MULDER: - Talvez. Quem sabe de onde Lovecraft tirou isso?


1:38 P.M.

Mulder dentro da cabine telefônica, disca um número. Observa Donald que entra no carro.

MULDER: - ... Oi... (DEBOCHADO) Liguei pra avisar que não vou pra casa hoje, ganhei convites pra um espetáculo chamado ‘As orgias de Madame Satã ao vivo’... (SORRI) ... (SÉRIO) Estou indo pra New Hampshire, ajudar o Don num caso de assassinato... Bem... Investigar alguns crimes que ocorreram e... (SUSPIRA) Tá bom, Scully, não vou mentir. É referente aquela pasta do caso Necronomicon, pode estar relacionada com os crimes que o Donald está investi...

Mulder afasta o telefone do ouvido. Pode-se ouvir Scully gritando com ele do outro lado da linha. Mulder aproxima o fone do ouvido novamente.

MULDER: - Não se preocupe, eu te mantenho informada e Don está comigo... E Pinguinho? (SORRI) Certo... Esqueça isso, essas coisas horríveis não interessam pra você agora. Se eu precisar da sua ajuda eu entro em contato pela rede... Tá bom Scully, eu vou passando o relatório pra você fazer... Cuide-se, eu amo vocês duas... Não, não se preocupe comigo. (ÓDIO) Sikes é meu.

Mulder desliga. Caminha até o carro. Entra. Donald liga o carro.

DONALD: - Ligou pro Skinner?

MULDER: - ... Liguei.

DONALD: - Então vamos tomar a estrada.

MULDER: - ...

DONALD: - ... Mulder, eu sei que ficamos por longos anos sem contato, que considero você como um amigo... E que não tenho direito de me intrometer em sua vida particular, mas eu quero saber porque está ligado a mim de certa forma... Temos alguns anos de vida juntos no passado...

MULDER: - (OLHA PRA ELE) Criou coragem pra me pedir em casamento?

DONALD: - Está dormindo com Diana de novo?

MULDER: - (SEGURA O RISO) Estou.

Donald olha incrédulo pra Mulder.

DONALD: - Eu não acredito que você teve coragem, Mulder! Depois de tudo o que você passou? Onde está com a cabeça?

MULDER: - Mas eu amo a Diana.

DONALD: - Você está louco! Mulder, sei que perdeu a agente Scully, que ninguém tem notícias dela, que um homem sozinho comete besteiras, mas isso tá além de besteira, isso é insanidade!

MULDER: - (SEGURANDO O RISO/ DEBOCHADO)

DONALD: - Ah, Mulder! Esquece. Você é idiota, sabe? Você pede pra levar na cara. Ou melhor, na cabeça! Se fosse comigo eu nunca mais olhava pra essa criatura. Isso é retrocesso, sabia? Freud explicaria muito bem!

MULDER: - E o que Freud explicaria? Seria um impulso sexual suicida?

DONALD: - Não. Encaro isso como alienação da sua cabeça devido a dor da perda da agente Scully. Agora você se atira nos braços daquela mulher que não respeitou você. É autopunição pela sua culpa inconsciente.

MULDER: - Sério?

DONALD: - Você sabe que é. Você se sente culpado por não ter protegido Scully e agora então se autoflagela nas mãos da Diana. Mas tenho outra teoria.

MULDER: - Qual?

DONALD: - Você não tem vergonha na cara.

Mulder começa a rir. Donald fica furioso.

DONALD: - Não ria, isso é insanidade! Devia se tratar. Volte a fazer análise, vai conseguir enxergar isso.

MULDER: - Donald... Não estou dormindo com ela. Estava folgando com você.

DONALD: - (OLHA PRA ELE)

MULDER: - Não sinto mais nada por Diana. Mas eu a quero por perto. Melhor saber com antecedência o que trama contra mim.

DONALD: - Eu conheço você Mulder... Ela vai tentar até conseguir. Você é assim. Você acaba se apaixonando de novo pelas ex-namoradas.

MULDER: - Com essa foi diferente... (PENSATIVO) É... Acho que não foi não. Logo que ela surgiu de novo, me lembro bem que causou certo desconforto na Scully... Acho que eu tava me afeiçoando de novo...

DONALD: - Tá vendo como conheço você? Você é o tipo do cara que adora ‘matar saudades’. E termina levando pela segunda vez!

MULDER: - Mas dessa vez é diferente. Acredite. E depois, se eu ficar caído por ela, o que você tem a ver com isso?

DONALD: - Nada. Realmente nada. Mas se um dia Scully voltar ela vai saber. Pela minha boca.

MULDER: - (ENCIUMADO) Qual é a sua com Scully?

DONALD: - Ora, nada! Mas você olha pra ela e detecta uma mulher classe A. Não se pode tratar como qualquer uma. Ela não merece ouvir mentiras... (DANDO O TROCO) Se ela voltar e você não estiver mais a fim, encararia como petulância se eu tentasse um encontro com Scully?

Mulder cruza os braços, emburrado.

DONALD: - O que foi?

MULDER: - (ENCIUMADO) Concentre-se em dirigir. Me esqueça. E principalmente esqueça da Scully. Pra sua própria saúde física.

Donald segura o riso.


Delegacia do Condado de Kettley – New Hampshire – 3:19 P.M.

Mulder anda de um lado pra outro, observando a delegacia. Donald sai por uma porta com o xerife.

DONALD: - Esse é o agente Mulder, especialista em comportamento humano e ocultismo.

O xerife cumprimenta Mulder.

XERIFE: - Bem vindo a Kettley, agente Mulder. Estamos tentando entender a origem desses crimes e...

MULDER: - (SÉRIO E AGRESSIVO) Xerife, vou pedir-lhe para poupar-se de qualquer comentário cínico sobre isso na minha frente, deixe-os para o agente Mallet que pegou uma bomba nas mãos e ainda acredita que vocês não sabem de nada.

Donald arregala os olhos, olhando pra Mulder. O xerife fica sério. Mulder está tomado de ódio.

MULDER: - Há muitos anos atrás estive aqui com minha parceira. Na época, o xerife responsável acabou sofrendo um processo nas costas por abuso de autoridade, teve o seu distintivo cassado, eu e minha parceira ganhamos duas semanas de suspensão no FBI, sendo que ela ficou as duas semanas em estado de depressão profunda e eu levei um processo na justiça por não cumprimento da ‘Lei Miranda’, quando espanquei um fanático religioso desgraçado por não confessar o assassinato brutal de um bebê de dois meses de idade! Três policiais foram mortos, incluindo a esposa grávida de um deles, essa cidade fedia a cadáver fresco, adolescentes foram presos no cemitério desenterrando cadáveres e cometeram suicídio em sua cela em nome de Belzebu, ninguém por aqui abria a boca pra testemunhar e eu terminei voltando de mãos vazias para casa. Portanto ambos sabemos que existe uma seita nessa cidade, sabemos que o líder Harold Sikes é culpado por esses crimes e dessa vez eu vou pegá-lo. E não espere de mim qualquer atitude diplomática, porque eu usarei qualquer método pra enfiar esse bastardo na cadeia. Fui claro?

Donald olha assustado pra Mulder, sem entender nada. O xerife cerra a fisionomia. Olha pra Mulder.

XERIFE: - Boa sorte. Está sozinho nessa.

MULDER: - (SÉRIO) Obrigado. Fica mais fácil fazer meu serviço sem ser enganado com falsa ajuda. Agora se quer fazer seu trabalho sem se envolver poderia omitir minha vinda na cidade como omite pra si mesmo que Sikes não existe.

XERIFE: - Não vi você aqui, nem o agente Mallet. Não sei de nada. Se estão aqui é por conta própria e não fui informado.

MULDER: - Deixe o agente Mallet fora disso. Ele vai voltar agora pra Washington. Eu fico.

Mulder dá as costas e sai da delegacia. Donald vai atrás dele.

DONALD: - Mulder, o que está acontecendo? Eu não vou voltar! Por que disse isso? Está mais por dentro desse caso do que...

MULDER: - Porque não quero que você corra perigo e sei que Sikes logo vai saber que estamos aqui. E isso é comigo, Don. Foi o que eu disse lá dentro. Precisamos encontrar o cara que fez a denúncia se quisermos resolver esse caso. No caso das legislações, ele é a única pessoa que pode ajudar.

Mulder olha pra Donald.

MULDER: - Viu como o xerife tremeu? Ele ia enrolar você durante as investigações como o outro me enrolou! Sikes é um bastardo, líder de uma seita de fanáticos pelo demônio, baseado nos ensinamentos do Necronomicon. A cidade o teme como teme o próprio capeta. E não pense que isso diminui os adeptos da seita. Os jovens estão com ele, o safado tem um discurso rebelde e convincente. 20% da população frequenta o templo do desgraçado. Os outros 80% fingem não saber dele pra continuarem vivos. A polícia fica de fora, com medo. Não confie em ninguém por aqui, não espere ajuda nenhuma. Nenhuma viva alma vai abrir a boca nessa cidade. Por isso precisamos encontrar quem fez a denúncia para testemunhar. É a única prova pra enfiar esse cara na prisão.

DONALD: - O que posso esperar desse tal Sikes?

MULDER: - Tudo. Ele não escolhe vítimas. Adultos viram peles para o Necronomicon. E bebês viram oferta para o demônio em rituais de iniciação... Me leve até o local onde encontraram o corpo.

DONALD: - Mulder, acho que não deveria se envolver nisso... Sinto algo de pessoal e...

MULDER: - É pessoal Don. Eu vou pegar esse cara. Dessa vez ele não me escapa. Por isso eu fiquei empolgado com seu convite. Lamento ter ocultado isso de você, mas eu precisava chegar até aqui e não faria isso roubando o caso e passando por cima de um colega que é meu amigo.

DONALD: - ... É por isso que precisa de um ex-padre? Eu nem me formei, Mulder, e nem entendo de rituais de exorcismo.

MULDER: - Não se preocupe com exorcismo, isso não adiantaria. Eu espero que tenha sua fé ainda. Porque aqui vai precisar dela. E eu preciso de alguém ao meu lado como você, que tem muita luz dentro de si. Porque o desgraçado conhece a minha alma, eu já vi dentro dos olhos do inferno, eu já fui possuído por demônios. E se você nunca viu um demônio, acredite, vai vê-lo quando olhar nos olhos de Sikes. A propósito, quando o conhecer, aquilo que ele tem nos olhos não são lentes. É o reflexo da própria alma dele.

Mulder e Donald entram no carro.

[Som: Radiohead – True Love Waits]

Corta para Dee, que agora se revela: uma bonita garota de cabelos pretos, curtos e arrepiados, piercing no nariz, maquiagem pesada e roupas negras. Na calçada, ela desenha alguma coisa num cavalete, com as pessoas olhando impressionadas ao redor dela. Ela, concentrada em seu trabalho, não percebe Mulder e Donald.


BLOCO 2:

Templo dos Emissários de Cthulhu – 7:23 P.M.

[Som: Homage for Satan - Deicide]

Um púlpito negro vazio.

Ao lado, Dark, um punk tatuado, cabeça raspada, com uma mecha de cabelos verdes ao centro da cabeça, vestido num manto, controla a mesa de som, agitando as pessoas que estão sentadas, dispersas pelo templo, balançando o corpo ao som pesado da música. Muitos jovens ali, dançando enlouquecidos movendo a cabeça com o som pesado.

Dee em pé entre as pessoas, também usa um manto negro, sem o capuz. Masca chicletes. Em seu pescoço um medalhão com o pentagrama. Há três homens vestidos como ela, dispersos no ambiente. Sikes toma o púlpito e abre os braços. A música para.

SIKES: - No sermão de nossa reunião de hoje eu vou falar da fé. Vocês aspiram ser Emissários de Cthulhu?

Silêncio. Sikes os incita aos gritos.

SIKES: - (GRITA) Aspiram ou não?

Todos respondem sim, entusiasmados, erguendo a mão fechada num soco, como metaleiros. A cada frase de Sikes, eles repetem o gesto, como um grito de guerra. Sikes aproxima-se de Dee e pega no manto dela.

SIKES: - Aspiram usar as roupas negras?

Todos afirmam. Sikes anda entre eles.

SIKES: - Vocês já são Emissários. Cthulhu os tocou com sua mão, os traz aqui em todos os cultos! Mas para serem guardiões como estes e usarem os mantos, precisam de mais! Não pensem que isto é fácil, é uma busca interior de muitos sacrifícios. Por enquanto vocês estão sentados aí, curiosos, como membros da congregação. Mas para chegar a este manto negro e passarem atrás daquela porta para verem Cthulhu em sua verdadeira forma, precisam provar que o merecem. E para chegarem ao nível do Besouro têm de estar prontos para desencarnarem e conhecer os portões do inferno.

Eles aplaudem.

SIKES: - Podem agora perguntar: Mestre Sikes, mas como se pode chegar aos portões do inferno? Eu vos digo! Já estamos no inferno! O mundo arde em ódio, o mundo pertence a Satã e devemos abolir qualquer coisa que se manifeste contrária a ele, o glorioso senhor das profundezas! Nós não somos malucos fanáticos! Não somos doentes mentais, como dizem seus pais quando os pegam vendo fitas de sexo e ouvindo metal! Não há vergonha na escuridão! A alma humana é suja desde a sua criação! Não há pecado no reino de Cthulhu. Não há vergonha! Que mal pode haver nas drogas que nos abrem as portas da percepção? Que mal pode haver em fazer sexo e vandalismo? Não, crianças da noite. Não há mal algum, ao contrário do que diz aquela gente lá fora e seus malditos pais! Somos livres, o próprio livro deles chamado Bíblia diz isso!

Todos aplaudem.

SIKES: - Devassidão! Eles diriam, vocês são devassos! Mas eu vos digo: vocês são livres! Livres de todas as regras estúpidas que os outros seguem! Vocês são livres, minhas crianças. Livres para fazerem o que sua cabeça mandar. Livres para viverem intensamente tudo que pensarem, tudo que ousarem, não há limites! Eu agora quero testemunho.

Um jovem se levanta empolgado. Sikes olha pra ele.

SIKES: - Fale filho. Diga a todos aqui seu testemunho.

JOVEM: - Essa semana eu consegui me libertar de mim mesmo!

Todos fazem o gesto.

JOVEM: - Eu mandei meu pai pro inferno, mas não deixei a cocaína!!! Eu entrei na igreja deles e urinei naquele crucifixo imbecil!

Sikes o aplaude. Outro jovem se levanta.

JOVEM #2: - Eu fiz sexo com a irmã da minha namorada! Falei a ela as maravilhas de ser um Emissário de Cthulhu! Hoje ela está aqui comigo, querendo participar da nossa congregação.

Eles aplaudem. Sikes olha pra garota ao lado dele.

SIKES: - Que idade você tem jovem sábia?

GAROTA: - Dezesseis.

SIKES: - E qual foi seu primeiro delito para entrar por estas portas?

GAROTA: - Estou transando com ele sem minha irmã saber.

Sikes abre os braços.

SIKES: - Estão vendo? Façam o que quiserem! Vocês são livres!

Todos aplaudem. Sikes olha pra garota. Estende a mão. Ela dá a mão pra ele. Sikes passa as mãos pelo corpo da menina. Abre sua blusa, agarrando-lhe os seios. Vira-a de frente pra todos, enquanto coloca sua língua na orelha da menina.

SIKES: - A mais jovem de nossa congregação!

Eles aplaudem e assoviam.

SIKES: - Venha jovem sábia. Seja bem vinda. Você agora será iniciada no pecado da luxúria! E vocês todos, façam agora o ritual de oferenda de suas almas a Cthulhu!

Sikes toma a menina pela mão e se afasta dos demais com ela. Dee observa-o.

A música recomeça.

[Som: Homage for Satan - Deicide]

Os jovens se levantam, dançando enlouquecidos, alguns começam a tirar as roupas. Dark sai da mesa de som e se aproxima de Dee.

DARK: -(RINDO) A orgia de hoje está prometendo... Eles estão empolgados!

DEE: - Orgia não. Ritual de oferenda... Consegui a virgem pro ritual de amanhã. Eu te dou o endereço e você faz o serviço.

Dark oferece cocaína.

DARK: - Tá a fim?

Dee afasta-se com ele. Vão pra um canto, perto de uma mesa. Dark faz fileirinhas com o pó. Dee pega um canudinho.

DARK: - Sikes me convocou. Eu vou receber o besouro.

DEE: - (FRUSTRADA) ...

DARK: - (SORRI) Pedi que me queimassem na fogueira. Já pensou que morte vai querer? Você é a próxima depois de mim.

DEE: - Qualquer coisa que doa muito. Quero sofrer e urrar de dor!

DARK: - Precisa conseguir um feto pra minha passagem pro inferno.

DEE: - Acha que isso é fácil?

Dee aspira uma fileira inteira de cocaína. Então sente alguém atrás dela. Vira-se. Sikes olha pra ela.

SIKES: - Chamem os outros dois. Quero reunião depois do culto. Temos um problema na cidade, chamado FBI. Mulder é o nome do desgraçado. Olhos abertos, porque eu quero a pele dele na continuação do Necronomicon. E pra isso, minha querida Dee... Cthulhu precisa de você. Uma fêmea.

Sikes se afasta. Dee volta a cheirar cocaína, indiferente.


Hotel Rainbow – 8:38 P.M.

Mulder sentado na cama, com o telefone ao ouvido. O telefone chama até a ligação cair. Mulder desliga. Olha pro relógio.

MULDER: - Onde ela se enfiou?

Batidas na porta. Mulder levanta-se, abre a porta sem olhar e volta pra cama, pegando o telefone.

MULDER: - Fala Don.

SCULLY: - Não é o Don.

Scully entra. Mulder arregala os olhos, incrédulo. Desliga o telefone.

MULDER: - Você???

Scully coloca a mala no chão. Olha pra ele num sorriso.

SCULLY: - Surpreso?

MULDER: - (CATATÔNICO)

Mulder cai de costas na cama, colocando as mãos no rosto.

SCULLY: - Puxa... Pensei que ganharia um beijinho.

MULDER: - (INCRÉDULO) Beijinho??? (ENFURECIDO) Você ainda quer beijinho? Eu devia é te dar um puxão de orelha!

Mulder se levanta furioso. Scully coloca a mala sobre a cama. Passa a mão na barriga.

MULDER: - O que deu em você? Ahn?

SCULLY: - Viagem longa de ônibus... Mas me diverti tanto, tinha um senhor do meu lado que me dava biscoitos e balas, contava piadas...

MULDER: - (FURIOSO/ AOS GRITOS) O que pensa que está fazendo? Por que veio até aqui? Quantas vezes eu disse que é pra você ficar em casa, não se expor, você é uma agente federal desaparecida!

Scully nem liga. Abre a mala tranquilamente.

MULDER: - (FURIOSO) Donald está comigo, você é maluca? Quer arriscar todo o plano?

SCULLY: - ...

MULDER: - (FURIOSO/ AOS GRITOS) Volta agora pra Virgínia antes que alguém veja você! Você é teimosa feito mula, parece uma criança, perdeu completamente seu juízo! Está arriscando sua vida, a vida do nosso bebê, e você não tem esse direito! Pegue suas coisas e caia fora daqui, antes que eu me irrite mais ainda! Vou colocar você no próximo ônibus!

Scully se despe. Coloca um roupão.

MULDER: - Onde estava com a cabeça de vir até aqui? Sikes adoraria pegar você pra me ferrar! Scully, não entende que nessa cidade você corre perigo de vida? Olha pra você com essa barriga enorme, prato favorito pra satanistas! O que tem na cabeça? Doce demais? Ou ficou alienada repentinamente? Você me irrita! Agora pega essa droga de mala e suma da minha frente!

SCULLY: - ...

Scully deixa o roupão aberto e pega um pote de creme. Mulder senta-se no braço da poltrona, completamente irritado, sem olhar pra ela.

MULDER: - ...

SCULLY: - ...

MULDER: - ...

SCULLY: - ... Acabou?

Mulder olha pra ela incrédulo. Scully se aproxima dele. Abre um sorriso.

SCULLY: - Agora pode passar creminho de amêndoas na minha barriga? Hum?

Mulder olha pra ela, culpado. Scully passa creme na barriga.

SCULLY: - Nossa... (SORRI) Não tem mais creme que chegue!

MULDER: - (PARANOICO) Por que não está furiosa? Por que não discute comigo?

SCULLY: - Porque conheço você Mulder, de longa data! Você fala pelos cotovelos, fica duas horas batendo boca e depois se acalma. E eu aprendi a ignorar. Com louco não se discute.

Scully entra no banheiro, fechando o roupão. Mulder vai atrás dela. Começa a falar novamente.

MULDER: - (FURIOSO) Louco? Está me chamando de louco?

Scully sai do banheiro. Ele fica andando atrás dela e batendo boca. Scully nem liga.

MULDER: - (FURIOSO/ AOS GRITOS) Eu não sou louco!! Estou é zangado e furioso com você! Sabe por quê? Porque me preocupo com o meu filho!

SCULLY: - (CALMA) Sim.

MULDER: - (AOS GRITOS) Está arriscando nosso segredo vindo até aqui. E ainda por cima está pondo nosso bebê em risco!

SCULLY: - (CALMA) Sim. Mas eu pensei que já tivesse falado.

MULDER: - (AOS GRITOS) Não, eu não falei ainda! Você é louca e inconsequente!

SCULLY: - (CALMA) Tá certo. Eu sou louca e inconsequente. Agora tá feliz?

MULDER: - E para de concordar comigo!

SCULLY: - Mas eu concordo com você. Você tem toda a razão, Mulder. Eu sou louca e inconsequente.

MULDER: - (FURIOSO) Para com isso, Scully! Você está me deixando mais irritado do que eu estou!

Ela se aproxima dele. Puxa a bochecha dele.

SCULLY: - Ai, fica irritadinho, fica... Ai, como ele fica bonitinho quando faz beicinho...

MULDER: - (INDIGNADO) Para!

SCULLY: - Dá vontade de dar uma mordida louca e inconsequente nesse beicinho...

MULDER: - (RINDO) Para! Você não vai me amansar não! Estou furioso com você!

SCULLY: - Oh, tão bonitinho quando bravinho...

MULDER: - (RINDO) Para, Scully!

Scully fecha os olhos, esperando um beijo. Mulder beija os lábios dela. Donald entra no quarto. Ao ver Scully fica sem reação. Mulder abaixa a cabeça, num suspiro. Scully morde os lábios, constrangida.

DONALD: - Eu deveria ter batido... Desculpem. Achei que você estava sozinho.

MULDER: - Don, eu... Eu não queria mentir pra você... Eu...

DONALD: -Tá... Eu entendo. Entendo vocês dois. Ou deveria dizer três? Diante das coisas que vocês me falaram eu... Acho que ocultar essa verdade é mais seguro... Não sei ainda se estou mais surpreso pelo fato de ver a agente Scully viva ou ver que você vai ser pai. Só devo dizer que estou muito surpreso. Mesmo. Meus parabéns pelo bebê. Não se preocupem, eu ficarei quieto. Por pouco não fui padre. Pra ser padre tem que saber manter segredos. Encararei isso como uma confissão.

Scully sorri. Mulder fica aliviado. Donald olha pra Scully, completamente encantado.

DONALD: - Desculpe a ousadia, agente Scully, mas você ficou mais linda ainda com essa barriga...

Scully sorri. Mulder abre a porta, indignado. Olha pra Donald.

MULDER: - (ENCIUMADO) Vai, o que está esperando pra poder passar a mão na barriga dela? Afinal barriga de mulher grávida é domínio público.

Mulder sai irritado, batendo a porta. Donald olha pra Scully.

DONALD: - O que deu nele?

SCULLY: - Não se preocupe. Está duplamente ciumento. Efeito da gravidez paterna. Hormônios.

Donald ri.


10:47 P.M.

Mulder e Scully sentados à mesa da lanchonete. Scully devora um hambúrguer. Mulder olha pra ela.

MULDER: - Que inveja! E eu aqui tendo que passar fome... Por que veio até aqui?

SCULLY: - Por nada. Não tinha nada mais pra fazer, o tédio estava começando, mamãe foi até New Jersey pra audiência...

MULDER: - Que audiência?

SCULLY: - Ela vai tentar novamente a guarda de Will...

Ele leva sua mão por cima da mesa até a mão dela e afaga-a. Olha em seus olhos.

MULDER: - Não mente.

SCULLY: - Tá bom, Mulder. Eu vim aqui porque eu quero ajudar a pegar esse assassino cretino matador de criancinhas, aliciador de adolescentes! Esse caso é meu também! E é pessoal! ... (RELUTANTE) E porque estou preocupada com você.

Mulder sorri.

SCULLY: - Eu conheço bem esse Sikes. Quando souber que você voltou vai tentar de tudo pra eliminar você do seu caminho. Como eu podia ficar em casa tranquila sabendo do perigo que você está correndo aqui?

MULDER: - Ainda se importa comigo?

SCULLY: - (DEBOCHADA) Claro! Afinal de contas, estou quase dando a luz! E quem vai pagar as contas no final do mês?

MULDER: - (SORRI)

SCULLY: - (DEBOCHADA) Eu não vou criar minha filha sozinha, você tem parte nisso, honre suas obrigações! Fez, agora assuma!

Donald aproxima-se e senta-se ao lado de Scully.

DONALD: - Desculpem a demora. Ele ligou de novo. Pro meu celular dessa vez.

SCULLY: - Acha que pode confiar nele?

DONALD: - Não temos outra alternativa. Eu disse que estava na cidade e expliquei nossa situação. Ele disse que só vai revelar sua identidade quando tiver a certeza de que Sikes foi preso. Enquanto isso vai nos manter informado sobre as atividades de Sikes... Ele mudou seu método de encontrar as vítimas.

MULDER: - Como assim?

DONALD: - O sujeito com chifres que encontramos decapitado... (OLHA PRA SCULLY) Desculpe... Vai perder seu apetite...

SCULLY: - Não, continue.

DONALD: - ... Tem certeza de que não vai enjoar?

SCULLY: - Absoluta. Mulder, vai comer suas batatinhas?

MULDER: - Não.

Mulder entrega o prato de batatas fritas pra ela. Scully derruba muito catchup por cima. Espalha açúcar. Donald olha pra Scully apavorado. Então olha pra Mulder.

DONALD: - Bem... O sujeito chamava-se Frederico Latuzzi. Um italiano naturalizado americano. Tinha uma anomalia de nascença na cabeça, que pareciam chifres.

SCULLY: - (BOCA CHEIA) Quero examinar isso.

Os dois olham pra ela, que continua comendo aquela gororoba com gosto.

DONALD: - Latuzzi era o primeiro homem de Sikes. Você tinha razão quanto ao significado do besouro. Quando o nível de confiança de Sikes é estabelecido para com um discípulo, este recebe aquela tatuagem como prova de sua fidelidade ao bichinho lá, que me nego a pronunciar o nome, e portanto, com a seita... Isso é bom, agente Scully?

SCULLY: - Uma delícia. Experimente.

Donald pega uma batatinha e põe na boca. Mulder olha incrédulo.

MULDER: - É como uma promoção... Acho que terminam se matando para ir ao inferno conhecer o grande chefe pessoalmente.

DONALD: - Supostamente... Posso pegar outra, agente Scully?

Donald e Scully comem as batatas com açúcar e catchup. Mulder observa com cara de nojo.

MULDER: - Você falou do método de arranjar vítimas...

DONALD: - Sim. Fica difícil atrair as pessoas quando você é temido na cidade... Sikes agora usa garotas para o serviço.

SCULLY: - O meu asco por esse sujeito está aumentado...

Mulder leva as mãos à boca e sai correndo pro banheiro. Donald o acompanha com os olhos.

SCULLY: - Enjoo de grávido.

DONALD: - Isso é sério? É possível?

SCULLY: - Completamente nada científico, mas muito mais comum do que se pensa. Eu como, ele vomita. Casal perfeito.

Donald começa a rir.

Corte.


Mulder senta-se à mesa, ficando de lado sem olhar pra Scully e Donald com suas batatas excêntricas.

MULDER: - Você estava dizendo que Sikes mudou o método de atrair vítimas, que agora usa mulheres pra isso...

DONALD: - Sim, mas não usa menores para não dar motivo pra polícia pegá-lo. Então as adolescentes maiores da seita frequentam um lugar chamado Inferno de Dante. Supostamente pra irem dançar e se divertir. Mas é onde fazem suas vítimas. Todos homens casados, querendo uma aventura e que nem suspeitam que serão mortos. Ou que estão sendo atraídos enquanto suas esposas têm seus bebês roubados... Agente Scully, eu começo a ficar preocupado com você por aqui.

Scully leva a mão até a bolsa e mostra a arma.

SCULLY: - Não se preocupe. Ninguém se mete com o meu bebê.

Donald leva a mão pra pegar outra batatinha.

SCULLY: - E nem com as minhas batatinhas...

Donald arregala os olhos. Rouba outra batata.

MULDER: - Fala pra ela que Kettley não é uma cidade pra mulheres grávidas! Quem sabe ela escuta você?

SCULLY: - Desistam de falar qualquer coisa, esse caso é meu e eu tenho todo o direito de estar aqui. Agora, se já encerraram a opinião chauvinista de vocês, eu vou expor meu plano.

MULDER: - Plano?

Eles olham curiosos pra ela.

SCULLY: - Nós alugamos uma casa. Ficamos os três nela. Don mantém seu registro no hotel. Não nos conhecemos. Vamos fazer Sikes pensar que quando Mulder não está, eu estou sozinha. Mas na verdade estarei com Don. Pelo que sei até agora, o xerife pensa que Don voltou para Washington. Portanto, se o xerife for intimado e abrir a boca pra Sikes, Don não está aqui. Sikes conhece a mim e a Mulder. Vai sacar logo que estamos no encalço dele. Mas não conhece você, Don. Você pode agir livre.

MULDER: - (INCRÉDULO) Don???

SCULLY: - Você pode desfilar por aí sem chamar a atenção, diga que é vendedor, sei lá. A intenção é que eu e Mulder sejamos iscas para Sikes. E você, ‘Don’, é a carta na manga.

MULDER: - (ENCIUMADO) Don??? Você está chamando ele de Don?

Donald vira o rosto pra rir.

SCULLY: - Enquanto Sikes fica cismado conosco, vamos investigando e juntando provas.

MULDER: - Não gosto disso. Está arriscando nosso filho nessa coisa toda!

SCULLY: - Mulder, nem eu gosto disso. Mas alguém tem que acabar com isso por aqui. Ou mães nunca mais vão dormir à noite pensando em seus bebês ou seus maridos e filhos adolescentes.

DONALD: - Ela tem razão, Mulder. É perigoso. Mas nos revezamos pra ficar com ela.

MULDER: - (INCRÉDULO/ ENCIUMADO) Como assim nos revezamos? Que história é essa de revezamento pra ficar com a Scully? (IRRITADO) O que você está pensando, hein, ô padreco?

Donald vira o rosto, rindo. Scully chuta Mulder por debaixo da mesa.

MULDER: - Au!

SCULLY: - Vamos arranjar a casa. E deixar que Sikes saiba de mim e Mulder, se é que já não sabe. Com certeza ficará surpreso ao nos ver juntos, como marido e mulher. Vai achar que eu não sou mais agente do FBI e que estou vulnerável. Deixe que pense. Tenho várias balas na arma pra cravar nesse imbecil. E me acreditem, os hormônios estão me deixando muito, mas muito irritada.

Mulder e Donald olham pra ela, assustados.


Apartamento de Dee – 1:46 A.M.

[Som: Radiohead – True Love Waits]

Um apartamento bagunçado, sombrio e sinistro. Cortinas fechadas, a luz apenas de velas negras.

Close do aparelho de som ligado. Na parede, um pôster de Robert Smith (vocalista do The Cure). Os pés pequenos no tapete e as pernas que tremem, sentadas ao sofá. A seringa descartável cai ao chão. Dee sentada no sofá, está chorando.

DEE: - Maldita vida sem sentido!

Ela levanta-se, completamente fora de si e começa a quebrar tudo, espalhar suas coisas, atira roupas pelo apartamento.

DEE: - (GRITA) Eu odeio tudo! Eu odeio tudo!

A porta do apartamento se abre. Sikes entra. A segura pelos pulsos.

SIKES: - O que está fazendo?

DEE: - (DESESPERADA/ CHORANDO) Eu quero morrer! Você por duas vezes permitiu que outros fossem na minha frente! Eu não vou mais esperar!

SIKES: - Depois de Dark será você.

DEE: - (CHORANDO) Você disse isso antes de Latuzzi! Eu quero ir pro inferno, não entendeu ainda? Não há mais nada aqui pra mim!

SIKES: - Se quiser ir pro inferno, tenho serviço pra você: Mulder, que nesse momento está no nosso local preferido. Com a parceira dele. E pasme, ela está grávida. Bom demais isso, não? Descubra se o filho é dele. Se pegar essa mulher, eu deixo Dark pra depois e mato você primeiro. Esse é o acordo. Mas eu quero essa criança. Pra mostrar a Mulder com quem ele está lidando. Está lúcida pra fazer isso, vaca?

DEE: - E precisa de lucidez pra isso? E pode me chamar de vaca, mas agora eu não sou mais a sua vaca. Sou a vaca dos outros.


Inferno de Dante – 2:13 A.M.

[Som: Possessed (by Satan) - Gorgoroth]

O local cheio de jovens dançando, chutando, bebendo, se empurrando.

Mulder sentado ao balcão com um copo de uísque. Scully ao lado dele tomando um refrigerante. Um olhando para o outro, assustados. Algumas vezes olham para os jovens dançando. Tentam conversar no meio da música alta.

SCULLY: - Detesto esse lugar! Eu não sou fã de metal pesado, Mulder. Essa música me revolta o estômago. Seu filho está se revirando aqui dentro. Com sorte, meus tímpanos se recuperam.

MULDER: - Quer sair?

SCULLY: - Não. Vou ficar com você.

MULDER: - Isso não é heavy metal, Scully. É black metal.

SCULLY: - E tem diferença? Arrebenta os tímpanos do mesmo jeito!

MULDER: - Tem heavy metal, black metal, trash metal... Eu gosto de heavy metal. E você gosta também. Curte o Metallica, Led Zeppelin, Deep Purple, Aerosmith... (DEBOCHADO) Pelo menos quando faz strip-tease pra mim.

SCULLY: -(RINDO) Sim, eu gosto, mas pensei que eles eram rock pesado!

MULDER: -O heavy metal é pesado, mas é sonoro. Os outros são mais gritaria e barulheira com invocações e performances satânicas que eu não sei como conseguem distinguir a que tipo de metal pertencem, me soa tudo a mesma coisa. Minha particular opinião. Mas esse eu sei que é black metal.

SCULLY: -O som até passa. A letra é que me deixaria assustada se eu não soubesse que muitas bandas utilizam o discurso demoníaco para venderem seu trabalho. Puro marketing, Mulder.Tipo Marilyn Manson, que ganhou a fama de anti-cristo, porque faz uma encenação toda, tem um visual andrógino excêntrico e tá mais pra quem acredita num Deus que no diabo. Como os Stones quando gravaram Simpathy of Devil, que foram chamados de satanistas, e ao meu ver não tem nada demais na música, eles expõem apenas a verdade da natureza do diabo. Ninguém invoca nada ali.

MULDER: -(MORDE OS LÁBIOS) Scully, eu tenho uma coisa pra dizer.

SCULLY: - Nem vem, Mulder. Nem vem falar mal do Mick Jagger pra mim! E nem vem com história de discos de vinil que tocados ao contrário recitam mensagens satanistas. Besteira! E não venha com o assunto sobre pactos que músicos de jazz e blues fizeram com o capeta em encruzilhadas...

MULDER: - (SORRI) Tá maluca? Eu amo os Stones! Eu só quero dizer que essa banda que tá tocando não é o que você pensa. O fundador e guitarrista da Gorgoroth, que tem o apelido de 'Infernus' formou a banda para expandir suas crenças nas trevas... O cara é satanista assumido. Por isso você está ouvindo coisas como "mate o padre o queimando', 'a santa trindade será incendiada pela espada do lorde sombrio desse mundo"... Ele não está brincando pra vender discos. Ele sabe bem o que está pregando, Scully.

SCULLY: - (ASSUSTADA) Não é à toa que nosso filho está revoltado aqui dentro!

Mulder toma um gole do refrigerante dela. Scully acaricia o rosto dele e levanta-se. Cochicha algo em seu ouvido e some entre as pessoas. Mulder bebe seu uísque, observando o espelho do bar. Dee se aproxima, dançando, requebrando os quadris. Roupas curtas, barriga à mostra, piercing no nariz e umbigo, cabelos arrepiados com gel. Mulder continua a observa-la. Ela se aproxima, sentando ao lado dele. Mulder não olha pra ela, disfarça olhar para o outro lado. Faz questão de segurar o copo para mostrar a aliança. Ela aproxima o rosto do de Mulder.

DEE: - Ei, me paga uma bebida?

Mulder olha pra ela.

MULDER: - Não é nova demais pra beber?

DEE: - Tenho 21. E você não é velho demais pra este lugar?

MULDER: - (DEBOCHADO) Não. Eu inventei o metal pesado. O que quer beber?

DEE: - Hum... Champanhe.

Mulder olha para o barman.

MULDER: - Sirva um champanhe pra moça.

DEE: - Meu nome é Dee. E o seu?

MULDER: - Mulder.

DEE: - Hum... Quando dizemos nosso sobrenome, significa que não queremos intimidade.

MULDER: - Que bom que entendeu isso.

DEE: - Cara, você tá me dando um fora?

MULDER: - Fora? E eu sou louco de dar um fora numa gatinha gostosa como você? Olha Dee, não me meta em encrenca. Minha esposa está aqui comigo, foi ao banheiro e se me encontrar com uma garota ela vai brigar.

DEE: - Hum, me dá seu telefone. Quero agradecer a champanhe.

MULDER: - Por que você não me dá o seu? Ahn? Afinal eu sou casado e se você liga pra mim num momento inoportuno, me criando uma séria confusão?

Dee pega um guardanapo e anota o número. Empurra o guardanapo com os dedos por sobre o balcão até chegar na frente de Mulder. Ele pega o guardanapo rapidamente e coloca no bolso interno do paletó. Dá um sorriso sacana que ela retribui. Dee pega o champanhe e pisca pra ele.

DEE: - Me liga. Pra que eu possa agradecer.

MULDER: - Eu vou cobrar alto esse champanhe.

Ela olha matreira pra ele.

DEE: - Você nem imagina o quanto eu posso cobrar também...

Dee sai dançando até ficar no meio das pessoas que dançam na pista. Mulder a acompanha pelo espelho do bar. Scully aproxima-se e senta-se. Mulder continua olhando a garota pelo espelho.

MULDER: - Caiu feito patinha.

SCULLY: - Deixou telefone?

MULDER: - Sim. Vamos embora, quero descobrir o endereço dela. Don pode vigiá-la. Com certeza ela sabe onde Sikes se esconde.

Mulder se levanta. Ajuda Scully. Dee fica olhando pra Scully. Mulder e Scully passam por ela. Mulder pisca pra Dee. Ela passa a língua sobre os lábios, sensualmente, devolvendo um piscar de olho. Dark aproxima-se dela.

DARK: - Então, conseguiu?

DEE: - (IRRITADA) Consegui. Pode dizer ao Mestre Sikes que vou ligar pra ele, marcar um encontro e que enquanto trepo com Mulder, vocês podem pegar a mulher e a criança.

Dee sai dali, empurrando todos, indignada.


Jornal The Newport Day – New Hampshire - 4:11 A.M.

Mulder lê o jornal, sentado sobre uma escrivaninha. A redação vazia. Apenas dois jornalistas trabalham. Um senhor de cabelos brancos meio calvo aproxima-se trazendo duas canecas de café. Entrega uma pra Mulder.

SALLIS: - Dei minha sala e meu computador para sua parceira procurar informações. O FBI deixa mulheres grávidas trabalharem em campo?

MULDER: - Ela não está aqui oficialmente e você nem a viu, Sallis.

Donald entra. Ao ver Mulder abre os braços. O abraça. Mulder sorri.

DONALD: - Ainda furioso e enciumado comigo?

MULDER: - Para com isso, eu não sou ciumento.

DONALD: - Mulder, agora você se revelou um mentiroso.

MULDER: - Esse é Sallis, o editor do jornal. Um velho amigo. Sallis este é o agente Mallet o meu parceiro oficial, entendeu?

Sallis e Donald se cumprimentam. Donald rouba o café de Mulder.

SALLIS: - São irmãos?

MULDER: - Mas que mania que todo mundo acha que esse imbecil é meu irmão! Nem somos parecidos!

DONALD: - (DEBOCHADO) Quem sabe onde meu pai andava?

MULDER: - (INDIGNADO) Por que o seu pai e não o meu?

Sallis começa a rir. Acende um cigarro.

SALLIS: - Então voltou em busca dos Emissários de Cthulhu... Faz um bom tempo que eles não viram manchete no estado... Apenas uma notinha na seção policial...

MULDER: - Mas vai ter sua manchete exclusiva em breve com a foto de Sikes na capa.

SALLIS: - Devo omitir "agente Scully"?

MULDER: - Sallis, sabe qual o seu problema? Você mete o nariz onde não deve.

SALLIS: - O que espera de um jornalista?

MULDER: - Omissão do nome das fontes?

SALLIS: - Ok, Mulder... Se me der detalhes exclusivos da captura do safado e tempo para mandar meus rapazes antes do concorrente, eu posso colaborar mais um pouquinho.

MULDER: - Colabore.

SALLIS: - Um dos meus repórteres foi até lá dar uma checada na coisa. Se passou por um interessando em entrar na seita. Foi indo nas reuniões... Vou poupar os detalhes sórdidos. Ele disse que lá dentro metal pesado com letras demoníacas são louvores. Sexo é oferenda. Droga é ser livre. Nada de sangue de galinha, velas, bichos mortos, essas coisas... É bebida, droga e sexo. Até grupal... Incluindo menores. Quando chega uma garota disposta a entrar na seita, Sikes transa com ela. É o que chama de "batismo". Cada jovem que entra lá é "batizada" por ele.

DONALD: -Eu sou do tempo em que batismo era com água não com fluídos corporais...

SALLIS: - Eu sabia que deveria ter criado uma seita ao invés de um jornal. Ficaria rico rapidinho, apenas me divertindo... Bom, você não tem acesso a sala de sacrifícios antes de ser da confiança de Sikes. Mas como meu repórter ficou lá quase um ano, fingindo ser um devoto e seguiu as regras... Como eu disse, vou poupar os detalhes sórdidos... Ele conseguiu... Fotos da captura e acesso direto dentro da delegacia?

MULDER: - Combinado.

SALLIS: - Havia uma imagem do tal Cthulhu segundo a descrição do Necronomicon. Uma mesa ritualística e vestígios de sangue. E uma prateleira cheia de vidros com pedaços humanos que ele identificou como sendo... Pedaços de fetos.

Mulder fecha os olhos. Donald larga o café sobre a mesa. Mulder olha pra Donald.

MULDER: -(DEBOCHADO) Entreviste o editor aqui, que eu acabo de ficar enjoado. Acho que é a cara dele que me enoja.

Mulder se afasta levando o jornal. Sallis o segura pelo braço.

SALLIS: - Você está levando a edição de amanhã. Custa um dólar.

Donald puxa um talão de cheques.

DONALD: - (DEBOCHADO) Nominal ou ao portador?

SALLIS: - Tem certeza de que não são irmãos mesmo?

Corte.


Mulder entra na sala de Sallis. Scully sentada em frente ao computador. Mulder senta-se.

MULDER: - Então?

SCULLY: - De acordo com os dados que encontrei, há um total de 57 pessoas desaparecidas no estado de New Hampshire desde o início do ano.

MULDER: - Subtraia disso os fujões, as vítimas de sequestro e homicídio e temos um bom número para Sikes.

SCULLY: - Só nesta região, Mulder, 17 pessoas...

MULDER: - Algo não bate. Esse cara que liga pra Donald. Ele deve estar por dentro da seita, tem que ser alguém ligado a Sikes ou não teria tantas informações. E tem que ser um cara do grupo de confiança. Se tivéssemos o número de homens de confiança de Sikes...

Os dois se levantam.

SCULLY: - Vamos fazer o seguinte. Acho que se vigiarmos o templo em turnos, podemos fazer um cálculo dos homens de confiança da Sikes, observando quem entra e sai com o manto negro.

MULDER: - (DEBOCHADO) Estou feliz por você estar aqui. Meu senso investigativo voltou repentinamente... Sério, Scully. Eu me sinto mais seguro com você do meu lado. Principalmente no que se refere ao demônio. Pelo menos tenho uma cristã e um ex-padre...

Scully o beija no rosto.


BLOCO 3:

10:15 A.M.

Uma casa grande. Sala e cozinha conjugados. Scully, Mulder e Donald entram. Donald vai pra cozinha.

MULDER: - Continuo não gostando disso.

DONALD: - Eu gostei! Temos geladeira aqui!

Scully sorri. Donald observa a cozinha.

DONALD: - Isso aqui é mais legal do que meu apartamento... Quando me casar vou morar numa casa.

MULDER: - (DEBOCHADO) O que ele quer dizer, Scully, é que nunca vai morar numa casa.

DONALD: - Hehehe... Ora, Mulder, se você conseguiu uma esposa, imagina quantas eu conseguirei? ... Acho que vou fazer compras. Geladeira vazia me deprime!

SCULLY: - A mim também! Mas deixe que eu e Mulder façamos isso. Precisamos desfilar pela cidade pra chamar atenção.

DONALD: - Ok... Mas me tragam sorvete de passas ao rum.

SCULLY: - Hummm... Passas... Eu estou com desejo de passas!

MULDER: - Shi, tava demorando...

SCULLY: - Ai, meu bebê quer passas... Que maldade, Mulder!

MULDER: - O bebê... sei. A culpa é da pobrezinha que ainda não pode falar pra se defender.

DONALD: - Pobrezinha? Então teremos uma mini agente Scully? Menos mal, começava a me preocupar de ver uma cópia do Mulder por aí falando sobre discos voadores e conspirações governamentais enquanto perde as fraldas pelas pernas andando pela casa... Vou pegar as malas.

Scully aproxima-se de Mulder, o segurando pela cintura.

SCULLY: - Não está gostando da minha presença, é isso?

MULDER: - Como você é boba. Sabe que eu sinto falta de você em todos os aspectos da minha vida. Mas estou preocupado.

SCULLY: - Besteira... Mulder, tenho algo sério pra perguntar.

MULDER: - (DEBOCHADO) Não, eu não sou virgem.

SCULLY: - (SORRI) ... Depois das coisas que ouvimos, sobre sua família... Tem certeza de que não vai ficar frustrado se o único filho que podemos ter venha a ser uma menina?

MULDER: - Frustrado? Por que eu ficaria frustrado? Eu ficaria feliz.

SCULLY: - Porque ela não vai continuar seu nome, um dia ela vai se casar...

MULDER: - Ah Scully que bobagem! Isso era importante para os judeus, eu não sou judeu de crença. Ela sempre será minha filha. E depois, ela pode não querer ter o sobrenome do marido. Ou pode querer manter o nosso sobrenome junto com o do marido. Isso não importa. Não mesmo. Ela pode até nem querer casar! A criança nem nasceu, não sabemos nem o sexo e você já tá pensando no casamento dela?

SCULLY: - Mas toda mulher apaixonada quer ter o sobrenome do marido...

Mulder olha pra ela.

MULDER: - Tem certeza de que está falando da nossa filha ou isso é uma indireta do tipo: me leve pra um cartório, Mulder?

Scully sorri. Donald entra com as malas.

DONALD: - Olha, vou colocar minhas coisas num quarto e vou vigiar o templo. Vocês podem ir dormir se quiserem.

MULDER: - Boa ideia, tô cansado...

SCULLY: - (BEIÇO) E as minhas passas?

MULDER: - (SORRI) Don, enquanto você faz isso, eu vou encher a geladeira, antes que Scully fique estressada por falta de comida. Você fica com o turno do dia e eu com o turno da noite.

DONALD: - Ok, podemos nos revezar pra vigiar o templo. E nos revezar pra ficar com Scully.

MULDER: - (ENCIUMADO) Quanto ao ‘revezamento de Scully’, quando eu for fazer a vigília, ela vai comigo, ok?

Donald começa a rir. Scully olha pra Mulder.

SCULLY: - Que coisa mais feia, Mulder! Como pode ser tão grosso? Ciumento!

MULDER: - Eu não sou ciumento!

DONALD: -Não é mesmo. Só é mentiroso!


Templo dos Emissários de Cthulhu – 7:34 P.M.

As pessoas reunidas. Sikes anda entre elas. Dee está séria, vestida no manto. Sikes caminha, a observando com os olhos.

SIKES: - Hoje, crianças de Satã eu vou falar sobre fracasso.

Dee olha pra ele. Sikes aproxima-se, ficando atrás dela. Passa a mão em seus cabelos. Dee fica assustada.

SIKES: - Fracasso, significa você não fazer as coisas direito. Se você deve servir a Satã e ele pede uma coisa, você deve fazer o que ele pediu. E não pegar um número de telefone e adiar a conversa para outro dia...

Dee fica estática sem reação. Sikes, por trás dela, abre-lhe o manto, revelando sua nudez. Dark olha apavorado, com medo de Sikes.

SIKES: - Olhem para esta emissária... O que vocês vêem? Apenas carne. Ela é uma fracassada...

Dee enche os olhos de lágrimas, humilhada. Os olhos de Sikes brilham.

SIKES: - O que Satã pode esperar dela? É apenas um nada, um frasco vazio, inútil. Não há vida aqui, não há morte. Ela é apenas uma vadia que confunde liberdade com fracasso. E não está agradando a Cthulhu. Olhem bem para esta mulher. Ela é o fracasso materializado.

Dee segura as lágrimas.

SIKES: - Sim, crianças, o demônio quer vida. Ele não quer coisas mortas, sem espírito. E esta aqui é uma coisa morta. Apenas um objeto que vai e vem conforme o vento. Um nada.


10:11 P.M.

Chuva forte. Mulder e Scully sentados dentro do carro, do outro lado da rua, em frente ao templo.

MULDER: - Visto de fora parece até um lugar agradável.

SCULLY: - Tenho medo de saber tudo o que fazem aí dentro.

MULDER: - Sikes é esperto. Ele fala a palavra chave para conquistar adolescentes: liberdade.

SCULLY: - Quando eu era jovem ficava indignada quando meu pai me proibia certas coisas... Eu ficava tomada de ódio. Por que ele me afastava de determinadas pessoas, me proibia de algumas coisas... Hoje agradeço ao meu pai. Porque agora eu entendo que ele conseguia ver os perigos que eu não via. Pessoas erradas em nossa vida podem nos influenciar, por mais maduros que pensamos ser.

MULDER: - Quando somos adolescentes temos sede de contrariar a ordem das coisas, Scully. É normal, estamos num estágio entre ser adulto e mandar no nosso nariz e ao mesmo tempo ser criança e não ter que se preocupar com o nosso sustento. Ou seja: nós não sabemos quem somos. Eu era o rei do discurso de liberdade lá em casa. (SORRI) Bom, você sabe o quanto eu falo quando estou irritado com alguma coisa. Mas quando meu pai dizia que liberdade não significava conseguir festas sozinho e usar o carro e a gasolina dele, eu ficava com vergonha e ia dormir coçando minhas espinhas...

Scully sorri. Mulder olha pra ela e sorri.

MULDER: - Achamos que tudo é repressão e ficamos rebeldes... Com o tempo a gente entende que proibir também é amar. Pais que dão liberdade demais não amam. Eles apenas se livram da responsabilidade dos filhos e isso é omissão, portanto não pode ser amor. O amor não é omisso. (SORRI) Uma vez eu fiquei fulo com a minha mãe porque ela escondeu minha bola de basquete. Eu não via nenhum motivo pra ela ter feito aquilo. Me tranquei no quarto, disse um monte de coisas horríveis pra ela... Eu desejava que ela morresse, de tanta raiva que eu estava. E por meses eu fiquei sem bola de basquete.

SCULLY: - E por que ela escondeu a bola de basquete?

MULDER: - Porque eu comecei a jogar com uns caras e ela não gostava deles. Mas eu gostava. Eram espertos, não se intimidavam, viviam uma "vida louca". Eu invejava isso, queria estar perto deles pra me espelhar neles. E eles gostavam de mim, me ensinavam coisas diferentes. Mas quando a bola saiu de cena e não teve mais basquete, eles me dispensaram. Fiquei chateado, confesso. Culpei minha mãe de novo. Meses depois descobri que minha mãe havia me salvo. Dos quatro, eu fui o único que se escapou de ir preso por assalto e tráfico de drogas. Hoje penso, ela podia ter me deixado jogar com eles. E me pergunto: eu seria o que eu sou hoje tendo aquelas companhias? Ainda estaria vivo? Ou seria um marginal como eles?

SCULLY: - É Mulder... No meu caso eu ficava indignada porque meus pais proibiam as festinhas. Mas eu era teimosa. Talvez se tivesse dado ouvidos a eles, eu nunca teria carregado o fardo Douglas em minha vida. Ellen tem culpa nisso também. Ela sempre foi a boa moça na frente de todos, mas não era tão comportada não. Eu a entendo, sempre teve liberdade pra tudo, ou seja, era vítima de omissão da família. E eu a invejava por ter liberdade... Hoje tenho a certeza de que Ellen me invejava porque eu tinha quem se preocupasse comigo. Talvez se meu pai não tivesse puxado as rédeas... Eu estaria por aí, sei lá, levando uma vida difícil...

MULDER: - Criar um filho não é fácil... E eu não quero errar com o nosso. Eu não sei dizer não e isso é péssimo.

SCULLY: - Eu puxo as rédeas, por experiência própria.

Mulder olha pra ela e sorri. Os dois trocam um beijo. Scully recosta-se nele e fecha os olhos.

SCULLY: - Eu faço o segundo turno.


Apartamento de Dee - 10:47 P.M.

Dee, vestida de jeans e uma camiseta cortada, que lhe cobre apenas os seios. Na camiseta a estampa do AC/DC. Ela olha-se no espelho do banheiro. Olheiras profundas, ressaltadas pela maquiagem pesada e escura. Ela olha para a pia e para a gilete. Pega a gilete. Ergue o pulso, chorando.

Batidas fortes na porta de entrada. Dee solta a gilete, assustada.

SIKES: - Abra a porta, sua vaca drogada, eu sei que está aí!

Dee sai correndo do banheiro, em pânico. Olha para a porta de entrada. Sikes do lado de fora continua esmurrando a porta.

SIKES: - (FURIOSO) Sua imbecil! Eu disse pra pegar o cara e não ficar trocando telefones! Mulder é esperto e enrolou você! Espero que o castigo tenha sido o suficiente, porque a minha raiva está incontrolável! Eu devia era currar você sua cretina!

Ele esmurra a porta. Ela com medo recua.

DEE: - (CHORANDO/ GRITA) Me deixa em paz, seu desgraçado!

SIKES: - Abre essa droga de porta!

Dee corre pra janela. A chuva cai forte e fria. Ela sai pela janela, descendo as escadas de incêndio, desesperada. Corre pelo beco. Olha para trás. Chora. Põe as mãos no rosto. Olha pro beco.

DEE: - (GRITA) Inferno!!!!!!!

Ela sai caminhando na chuva, abraçando-se com frio, enquanto a maquiagem e as lágrimas escorrem com a chuva por seu rosto.


11:12 P.M.

[Som: Radiohead – True Love Waits]

Um bar estilo tradicional, bem arrumado. Nenhum cliente. Donald entra no bar. Fecha o guarda-chuva, colocando-o no cesto de entrada. Retira o sobretudo e o pendura no cabide. Ajeita o paletó. Senta-se ao balcão. O barman vem atendê-lo.

DONALD: - Uísque.

O barman serve uma dose. Donald sinaliza duas. O barman serve duas. Começa a limpar o balcão com a flanela. Donald olha para o copo, triste. Bebe um gole.

Corta para a porta. Dee entra. Completamente molhada, morrendo de frio. Os cabelos encharcados, a franja que cai arrepiada por sobre os olhos. Senta-se ao lado de Donald e olha para o barman, enquanto treme.

DEE: - Conhaque.

O barman olha pra ela sério.

BARMAN: - Sai daqui encrenqueira vagabunda! Fora do meu bar!

Donald olha pra eles.

DEE: - Eu pedi um conhaque! Não vê que estou com frio?

BARMAN: - Primeiro me mostra o dinheiro, depois eu te sirvo.

DEE: - Olha, não dá pra...

DONALD: - Serve um conhaque pra senhorita. Eu pago.

BARMAN: - (RINDO DEBOCHADO) Senhorita... Nem nos buracos dos ouvidos.

Dee olha pra Donald. Donald não olha pra ela.

DEE: - Eu não preciso da sua piedade, cara.

DONALD: - Está molhada, com frio e eu não negaria essa gentileza pra ninguém numa situação dessas.

DEE: - E quanto vai me custar um conhaque? Se pensa que vou trepar com você está enganado.

DONALD: - Eu apenas quero pagar um conhaque pra você. Ao contrário do que pensa, nem todos são mal intencionados no mundo. Além do mais, você é criança demais pra mim.

O barman serve o conhaque e entrega a contragosto pra ela.

BARMAN: - (DEBOCHADO) Senhorita... Ahn! Não te chuto pra fora daqui, vadia drogada e inútil em consideração ao cavalheiro.

O barman afasta-se. Dee faz careta pra ele. Donald observa a mão dela pegar o copo tremendo, as unhas longas e azuis. Com o canto dos olhos nota a corrente com o pentagrama. Dee olha pra Donald.

DEE: - Não é daqui. Nunca te vi. Morador novo?

DONALD: - Não, estou passando uns dias no hotel. Sou vendedor de seguros de vida. Quer fazer um seguro?

DEE: - Se me oferecesse seguro de morte fecharia negócio agora mesmo. Deve estar na maior fossa pra sair do hotel num tempo desses...

DONALD: - Gosto de estar na rua em noites frias e chuvosas. A chuva é como a água que limpa a alma dos mais profundos pesadelos.

DEE: - (CANTANDO/ TRISTE) ... Just... Don't leave... Don't leave...

DONALD: - Gosta do som do Radiohead?

DEE: - Se olhasse pra mim veria que combina feito raposa num galinheiro.

Donald não olha pra ela.

DONALD: - Algumas vezes você finge que é uma raposa porque precisa habitar entre as raposas. Isso chama-se sobrevivência.

DEE: - Tá legal. Eu gosto. É a minha canção favorita.

Donald olha pra ela. Ela olha pra ele entre os cabelos que caem sobre os olhos. Donald sorri. Estende a mão.

DONALD: - Donald Mallet.

DEE: - Dee. Apenas Dee.

DONALD: - Bonita cor de esmalte.

DEE: - Combina com minha personalidade.

DONALD: - (CURIOSO) Essa coisa aí em seu nariz... Não machuca?

DEE: - Essa coisa chama-se piercing e não machuca não.

Dee vira-se pro balcão e pega o copo. Treme de frio. Os pelos dos braços arrepiados. Empurra o resto do conhaque pela garganta. Donald retira o paletó. Levanta-se e leva o paletó em direção a ela.

DEE: - Não. O que isso vai me custar?

DONALD: - Pare de ver tudo com uma etiqueta de preço. É apenas educação. Sua mãe não te ensinou boas maneiras?

DEE: - Não sei, ela morreu quando eu nasci.

DONALD: - Desculpe... Foi um péssimo comentário.

Donald coloca o paletó sobre ela. Ela veste o paletó, tremendo de frio.

DEE: - Não estou acostumada com homens que fazem gentilezas. Geralmente eles atiram tudo na sua cara. Você não é americano.

DONALD: - Não. Nasci em Londres. Vim pra América aos quinze.

DEE: - Isso justifica o velho dito de que ingleses são verdadeiros cavalheiros. (RI) Pensei que isso fosse piada.

Dee olha para trás do balcão e vê um maço de cigarros. Observa o barman distraído. Então leva a mão e pega um cigarro. Retira um isqueiro do bolso da calça e acende nervosamente o cigarro.

DEE: - Quer?

DONALD: - Não fumo. Isso faz mal sabia? Está se matando aos poucos.

DEE: - Qual é, pensa que é meu pai agora? E além disso eu não temo a morte. Morrer é uma bênção.

DONALD: - Não devia falar isso. A vida é uma bênção. Deveria festejar sua vida todos os dias. Só pelo fato de saber que sua mãe morreu pra você nascer.

DEE: - Porque ela era burra. Deveria ter me abortado. Dee, maldito dia em que você nasceu, sua desgraçada.

DONALD: - Nunca diga essa palavra. É algo muito forte. Atrai coisas ruins.

DEE: - E daí? O que sabe sobre coisas ruins?

DONALD: - O suficiente para querer todas elas bem longe de mim.

DEE: - Cara você é muito careta, sabia? Se não fosse vendedor eu diria que é psicólogo!

Donald disfarça, levando o copo à boca.

DEE: - Embora todo vendedor entenda de psicologia pra empurrar suas tralhas garganta a baixo dos otários.


2:21 A.M.

Donald, vestido com o sobretudo, segura o guarda chuva, caminhando ao lado de Dee que mantém o paletó sobre os ombros.

DEE: - Você tem bons papos, sabia? Deve ser a experiência de vida.

DONALD: - (DEBOCHADO) Agora está me chamando de velho?

DEE: - Ah, cara, pra garoto é que você não está. Eu fico aqui. Obrigada pela carona.

Dee entrega o paletó. Sobe as escadas do prédio.

DEE: - Vai ficar aí parado ou vai embora?

DONALD: - Estou esperando você entrar.

DEE: - Por quê?

DONALD: - Ora porquê! Pela sua segurança. Já ouviu falar em assaltos?

Dee olha pra ele, constrangida.

DEE: - Ei cara... (RECEOSA) Eu... Quer tomar um café? Eu não costumo fazer isso, mas você foi legal comigo e merece ao menos um café.

Donald sorri. Sobe as escadas. Fecha o guarda chuva. Dee abre a porta do prédio. Olha pra ele.

DEE: - Olha, eu convidei você pra tomar um café, ok? Não estou te convidando pra dormir comigo. Entendeu?

DONALD: - Devia ir tratar essa paranoia, sabia?

Corte.


Dee entra no apartamento, todo revirado. Livros atirados, um cavalete com papel em branco, roupas pelo sofá. Donald entra, fechando a porta.

DEE: - Olha, não repara a bagunça, eu nunca fui muito caprichosa não. Arranja um lugar pra sentar, eu vou fazer um café.

Ela vai pra cozinha. Donald observa o apartamento. Então retira algumas roupas de cima do sofá e joga-as na poltrona. Uma calcinha cai ao chão. Donald ri. Pega a calcinha e coloca debaixo das outras roupas. Anda pelo apartamento.

DONALD: - O que você faz Dee?

DEE: - Eu desenho!

DONALD: - Caricaturas?

DEE: - Não, rostos de pessoas mesmo. Ganho a vida fazendo isso. Levo meu material para a praça e sempre aparece um cliente.

Donald entra no banheiro. Abre a porta do armário. Potes de pílulas e seringas. Donald fecha o armário e sai do banheiro.

DONALD: - Desenha ao vivo ou por alguma foto?

DEE: - Tanto faz. Sou boa fisionomista.

DONALD: - Invejo isso. Sou fascinado por arte. Mas não levo jeito nem pra fazer um quadrado!

Donald percebe um porta-retratos sobre o balcão. Olha pra foto de Dee ainda menina, ao lado de um velho. Dee entra na sala com duas canecas. Entrega uma pra ele.

DONALD: - Obrigado... Esta deve ser você e seu pai?

Donald leva a caneca à boca.

DEE: - Sim, sou eu. Mas não sei quem é meu pai. Acho que nem minha mãe sabia! Esse é o meu padrasto. Ele me odeia.

DONALD: - E por que acha que ele odeia você?

DEE: - Acha que alguém que ama estupraria a enteada desde os sete anos de idade?

DONALD: - (ATERRORIZADO) Agora entendo sua paranoia... E por que mantém a foto dele aqui? Autopunição, sente-se culpada pelo que ele fazia, como se você fosse a responsável em provocar essa atitude nele?

DEE: - Tem certeza de que não é psicólogo? Não é por isso não, cara. É menos complexo.

DONALD: - Então me explica.

DEE: - Simples. Todo mundo tem foto de família e ele é a única família que conheci.

DONALD: - Você fugiu de casa com quantos anos?

DEE: - ... Ah esquece isso. Você é casado? Tem família?

DONALD: - Não, sou solteiro. Meus pais vivem na Inglaterra.

DEE: - Solteiro? Você deve ser infernal pra estar solteiro até hoje.

DONALD: - Não. Eu sou um sonhador.

Donald senta-se. Ela senta-se na mesa de centro. Olha pra ele curiosa.

DEE: - Sonhador? Como assim sonhador?

DONALD: - Eu tenho minhas próprias teorias a respeito de relacionamentos. Acredito que cada homem que nasce tem uma mulher que nasce pra ele.

DEE: - De onde se baseou nisso?

DONALD: - A coisa da costela de Adão...

Os dois riem.

DEE: - Mas você namora?

DONALD: - Ah, eu namoro. E muito! Passo o tempo procurando entre todas elas a que me pertence.

DEE: - Encontrou e perdeu?

DONALD: - Nunca encontrei. (DEBOCHADO) Acho que não tiraram a minha costela.

DEE: - Desista. Não existe. A felicidade é ilusória.

DONALD: - Existe. Um dia eu encontro. Nem que seja aos oitenta.

DEE: - (RINDO) Tô fora da sua teoria. Ela é muito longa.

DONALD: - Não me culpe. Eu vim para o seu país estudar num seminário. Eu era pra ser padre.

DEE: - Sério??? E o que fez você mudar de ideia? Um belo par de seios?

DONALD: - Não. Eu já estava quase me deitando de bruços no chão pra receber a ordenação quando sentado num banco da praça eu vi dois meninos jogando bola. Parei de ler meu livro e os observei jogando. Então o pai deles se aproximou gritando ‘filhos, está na hora do jogo’. Filhos... Eles correram até o pai e saíram abraçados. E eu pensei comigo, nunca terei filhos. Sei lá, dois dias depois desisti de ser padre.

DEE: - Desistiu de ser padre por causa de crianças? Cara, essa é nova pra mim!

DONALD: - É, pensei nos filhos, mas me esqueci que pra isso tinha que pensar em mulher primeiro.

Os dois riem.

DONALD: - Mora sozinha?

DEE: - Tinha uma amiga que dividia isso comigo. Mas ela deu o fora, foi pra Las Vegas... Também, se eu tivesse o corpo dela ia ganhar muita grana como Go-Go Girl.

DONALD: - Gosta da escuridão? Seu apartamento é tão escuro.

DEE: - Cada espaço reflete a personalidade da alma de seu dono.

DONALD: - Se acha tão sombria assim?

DEE: - Eu sou sombria.

DONALD: - Toda a sombra só existe porque tem uma luz que bate contra alguma coisa e projeta a sombra.

Dee olha pra ele. Donald levanta-se.

DONALD: - Preciso ir, está tarde.

Dee abre a porta. Donald olha pra ela.

DONALD: - Obrigado pelo café, Dee.

DEE: - (SORRI) Obrigada por tudo. Você me fez rir muito.

DONALD: - Tá vendo? Afastou o objeto que fazia sombra. Deveria fazer isso mais vezes... Ame-se Dee. Você é mais do que isso.

Donald sai. Dee fecha a porta. Escora-se com as costas na porta. Fecha os olhos. Respira fundo, sorrindo.


7:12 A.M.

Mulder e Scully entram na casa. Donald prepara o café, cabisbaixo.

MULDER: - (DEBOCHADO) Muito bem, mordomo. Assim que eu gosto, café prontinho.

Scully corre até a cozinha e senta-se à mesa.

SCULLY: - Oba! Panquecas com mel! Nem meu marido faz isso. Bem, as panquecas não faz mesmo... O mel até que ele anda mostrando.

MULDER: - Desista, Scully, não vai me irritar. Estou virado num trapo... Don, o desgraçado saiu do templo e foi até o apartamento da garota que vai marcar encontro comigo.

Mulder senta-se. Donald serve o café e senta-se com eles.

DONALD: - Sério? Pegaram a garota?

MULDER: - Não subimos, só ficamos vigiando Sikes. Depois ele voltou ao templo. Acho que está morando por lá, o que é pior pra conseguirmos entrar e colher provas.

DONALD: - ... Conheci uma garota ontem. Tinha um pentagrama no pescoço. Acho que frequenta a seita.

MULDER: - E o que descobriu?

DONALD: - ...

MULDER: - Então? O que descobriu?

DONALD: - (TRISTE) As piores coisas que um ser humano pode ouvir de outro ser humano.

MULDER: - Ela confessou alguma coisa sobre os sacrifícios?

DONALD: - Não me mate, Mulder. Eu estava numa péssima noite e... Acabei falando um monte de coisas, menos de seitas... Sei lá, eu fiquei chateado, ela estava deprimida, parecia pedir ajuda... Tentei ajudar.

MULDER: - Lá vem o padreco dar conselhos e tentar juntar o rebanho.

SCULLY: - Pois saiba que isso é admirável.

DONALD: - ... Eram os olhos mais tristes que eu já tinha visto. Nunca mais vou me esquecer daqueles olhos.

Scully olha seriamente pra Donald o analisando. Donald bebe o café, olhar perdido no nada. Levanta-se da mesa e sai da cozinha.

MULDER: - O que deu nele?

SCULLY: - Mulder... Posso dizer algo pra você?

MULDER: - Claro. O que é?

SCULLY: - (PREOCUPADA) Nada. Esquece. Estou imaginando coisas... Cérebro de Scully... Coisa de mulher.


9:29 A.M.

Dee caminha pela calçada. Entra numa loja. Aproxima-se do balcão. Dark vem atendê-la.

DARK: - Cara o que foi aquilo que Sikes fez com você ontem? Dee não vacila, garota. Ele tá uma fera por causa desse Mulder.

DEE: - Eu sei...

DARK: -Tem iniciação de membro novo no culto de hoje.

DEE: - E-eu não sei se vou ir... Estou meio doente, sabe?

DARK: -O que tem Dee? Precisa de ajuda?

DEE: - Não, eu... Eu preciso descansar um pouco. Você tem agenda aí?

Dark pega do balcão uma agenda negra, com motivos de rock.

DARK: -(SORRI) Vai adorar essa, Dee. É a sua cara!

Dee olha pro balcão. Vê uma agenda com ursinhos, capa cor-de-rosa.

DEE: - Não, eu... Eu quero aquela ali.

Dark olha pra ela, incrédulo.

DEE: - (CONSTRANGIDA) É presente pra uma criança. A filha da vizinha tá de aniversário e...

DARK: -(SORRI) Ah! Você me assustou Dee. Achei que tava virando a casaca. Tenho uma coisa pra você.

Dark olha pros lados. Retira da jaqueta um saquinho de cocaína. Entrega pra Dee.

DARK: -Vai fundo, é das boas.

DEE: - Tá, valeu. Quanto eu devo pela agenda?

DARK: - Leva. O dono nem vai notar.

DEE: - Não... Eu... Eu prefiro pagar.

Dee retira o dinheiro do bolso e coloca sobre o balcão. Sai da loja. Dark a acompanha com os olhos.


BLOCO 4:

Apartamento de Dee - 7:23 P.M.

No banheiro, Dee amarra a tira de borracha no braço. Pega a seringa. Olha para o braço cheio de marcas onde não tem mais onde picar. Então ela olha pra seu rosto no espelho. Derruba lágrimas. Larga a seringa sobre a pia. Observa-se. Seca as lágrimas, borrando a maquiagem forte. Retira a maquiagem toda, lavando o rosto. Olha para o vaso do banheiro. Então num acesso joga a tira de borracha e a seringa dentro da privada. O saquinho de cocaína. Abre o armário e vai despejando as pílulas no sanitário. Dá a descarga. Põe as mãos no rosto, rindo.

DEE: - Eu sei que eu consigo! Não preciso disso!

Batidas na porta. Dee se assusta. Caminha receosa até a sala. Aproxima-se da porta e abre uma fresta, assustada, sem retirar a tranca de segurança.

Donald segura um saco de compras, algumas margaridas e uma caixinha de papelão enfeitada. Dee fecha a porta e retira a tranca abrindo a porta novamente.

DONALD: - (DESCONCERTADO) Sei que é uma atitude extremamente grosseira chegar sem avisar... Mas quer jantar?

DEE: - Não sou boa cozinheira.

DONALD: - Nem eu.Eu tô mais pra um quebra-galho. Aprendi no seminário. Acredite, aqueles padres comem muito bem! Ah, flores pra você. Acho que vão dar mais vida na sua decoração.

DEE: - (SORRI) Entra. Obrigada pelas flores. Eu gostei.

Donald entra. Ela fecha a porta. Cheira as margaridas e sorri. Donald olha para o apartamento todo arrumado. Cortinas e janelas abertas. Vira-se pra Dee a questionando com os olhos. Sorri surpreso.

DEE: - (SEM JEITO)Eu... Eu não tinha nada pra fazer então resolvi arrumar a casa... Vem, vou te levar na cozinha.

DONALD: - Juro que pensei que não encontraria você em casa. Pensei que... Tivesse saído, ido a algum lugar.

DEE: - Eu tenho compromisso todas as noites, mas... não senti vontade de ir hoje.

Os dois vão pra cozinha. Donald larga as compras sobre a mesa. Dee percebe o coldre e a arma sob o paletó dele.

DONALD: - Você fica melhor sem maquiagem. Ressalta mais seus olhos amendoados. Você é uma garota bonita. Não estou te cantando, não se preocupe.

DEE: - (SORRI) ...

Donald entrega a caixinha de papelão pra ela.

DONALD: - Apenas um presente. De um amigo careta.

Dee abre o laço da caixinha. Ergue a tampa. Vê uma Bíblia. Olha pra ele.

DONALD: - A parte das bem-aventuranças é ótima. Salmos, provérbios... Mas se não quiser... Pode dar isso pra alguém. Não quero converter você ao cristianismo. É apenas um livro interessante pra ler quando pensamos que só nós vivemos num tempo desgraçado e precisamos de algum consolo na vida.

DEE: -Olha, você pode ficar à vontade, tá? Eu vou terminar de resolver um assunto e já volto. Que tal uma música?

DONALD: - Pode colocar o que você costuma ouvir. Sou eclético.

Dee sai da cozinha sorrindo. Liga o som.

[Som: Radiohead – True Love Waits]

Dee vai para o banheiro. Donald estranha a música e dá um sorriso.Retira as compras lentamente do pacote. Suspira angustiado. Vai para a sala. Observa tudo, andando de um lado pra outro. Vê o cavalete de desenho. Aproxima-se.

Close do rosto de Donald desenhado no papel em tamanho grande. Atrás dele um sol. Donald leva a mão aos lábios. Dee sai do banheiro.

DEE: - Pronto, eu...

Dee fica constrangida. Donald perde o olhar no nada.

DONALD: - ... Eu... Acho que foi uma péssima ideia vir até aqui.

DEE: - ... Também acho, cara.

DONALD: - Me diga que não está envolvida com aquela seita. Eu não quero acreditar nisso.

DEE: - Então me diga que você não é policial, porque vi sua arma sob o casaco.

DONALD: - Eu sou agente federal, Dee. E vim aqui prender Sikes e seus seguidores.

DEE: - Eu sou seguidora de Sikes. Eu arranjo os sacrifícios pra ele. Satisfeito agora, policial?

DONALD: - (GRITA) Você não é seguidora de Sikes. Só não enxerga isso.

DEE: - (GRITA) O que você pensa que sabe? Hein? Você não sabe nada de mim, cara!

Donald puxa o braço dela. Está roxo de tantas marcas de agulhas.

DONALD: - Olha pra isso! Gosta disso? Gosta de ficar dentro desse apartamento escuro, drogada, se passando por uma crente do demônio, porque afinal de contas sua vida é uma merda mesmo! Por que não adorar o capeta então?

DEE: - (GRITA) Sai daqui!

DONALD: - (GRITA) Quer morrer, Dee? É isso o que quer? Você não precisa morrer, você precisa nascer de novo!

DEE: - (GRITA) Eu quero morrer sim e você não tem nada a ver com isso!

DONALD: - Não, eu não tenho nada a ver com isso. Se você quer se drogar, se aceita ser usada por um cafajeste, se prefere se prostituir...

DEE: - (GRITA) Eu não sou prostituta!

DONALD: - Mas você age como uma quando segue as ordens de Sikes! Como permite que os outros usem você? Como pode deixar que cuspam em sua cara se você é um ser humano? Uma garota jovem, talentosa, bonita. Você não combina com essa vida que está vivendo. Você merece mais.

DEE: - (GRITA/ CHORANDO) Não existe vida nenhuma dentro de mim! Nem esperança, pode entender isso? Não, você não pode, seu careta! Você tem quem se importe com você, tem amigos de verdade, tem sua família! Mas eu? Eu apenas mato meu tempo! Eu não sou luz como você é! Eu sou trevas! Cara, vá embora daqui, antes que eles te peguem e machuquem você e a mim. Sai daqui, antes que você se contamine com a minha insanidade! O que pode você ex-padre esperar de um demônio?

Donald aproxima-se dela. Olha pra ela.

DONALD: - Que ela seja um ex-demônio?

DEE: - Não... Eu só tenho isso na minha vida. Me esquece, cara, sai daqui. (GRITA) Vá embora! Me deixa sozinha na minha escuridão! Eu sou má, você não me conhece.

DONALD: - ... Eu não vou sair daqui até você me escutar.

DEE: - Avise seu amigo Mulder pra não me ligar, Sikes quer o filho dele e a esposa dele! (GRITA) Vai embora, Donald, por favor!

DONALD: - (GRITA) Sai dessa vida, garota! Você pode!

DEE: - (GRITA) Eu não quero! Sai daqui! Me deixa em paz!

DONALD: - (GRITA) Se você não quisesse não tinha arrumado seu apartamento! Nem aberto as cortinas. Não percebe que existe vida dentro de você, mas você reluta em enxergar isso?

DEE: - (GRITA) Não!

DONALD: - (GRITA) Se não existe vida em você, então por que fez isso tudo?

DEE: - (CHORANDO) Por você...

DONALD: - (ANGUSTIADO) ...

Donald fecha os olhos. Dee continua chorando.

DEE: - Cara, sai daqui... Sai daqui porque estou começando a gostar de você! E eu não tenho boas experiências quanto a isto. Não quero outro Sikes na minha vida que me usou e jogou fora. (GRITA) Sai! Toma seu rumo! Me esquece! Eu tô cansada de ser abandonada! Meu pai, Sikes e depois será você! Se realmente se importa, cai fora daqui. Você é policial. Eu sou marginal. Você é luz. Eu sou escuridão.

DONALD: - ... Você não gosta de mim. Como pode gostar de alguém se não gosta de você mesma?

DEE: - (GRITA) Sai daqui! Você só voltou aqui hoje porque é um cafajeste, estava pensando em jantar comigo e depois me levar pra cama!

DONALD: - Isso. Continue mentindo pra você mesmo. Pode ser que resolva por algum tempo. Faz de conta que só há maldade, que todas as pessoas são iguais, todo mundo é mau e cheio de péssimas intenções. Ninguém se importa.

DEE: - (GRITA) É, ninguém se importa mesmo! Que se dane a Dee! Quem liga pra ela? Aquela inútil, drogada, vazia, sem vida! Um mero objeto como disse Sikes.

DONALD: - Como pode acreditar naquele homem? Ele é a maldade em pessoa!

DEE: - (GRITA/ CHORANDO) Eu não acredito nele, nem na droga da seita dele, nem em merda nenhuma! Também não acredito em você e suas boas intenções! Seu careta! Seu cretino! Sikes é tudo o que tenho, aquela seita é onde eu posso me esconder de mim mesma!

DONALD: - Sacrificando a vida de inocentes por que você não tem vida?

DEE: - (GRITA) Não! Eu nunca sacrifiquei ninguém, eu odeio essas coisas, mas eu faço pra existir! Pra ser importante e útil pra alguém! Porque eu não sou nada pras pessoas. E dane-se você!

DONALD: - Dee, você é importante pra alguém... Existe alguém que se importa com você, que gosta de você e quer ver você feliz. E esse alguém... sou eu.

Donald aproxima-se dela e a abraça. Dee fecha os olhos, abraçando-o. Chora contra o peito dele. Donald afaga os cabelos dela. Respira fundo, angustiado.

DONALD: - ... (FECHA OS OLHOS) Diz pra mim que sou um careta e antiquado, se é possível você encontrar sua outra metade num bar, sendo ela tão diferente de você? É possível você se apaixonar em menos de 24 horas e desejar morrer ao lado dela? É possível que um homem não seja tirado para um aproveitador sendo você tão mais nova do que eu? É permissível e acreditável olhar pra você e dizer com toda a minha alma que eu te amo?

Dee olha pra ele. Donald olha nos olhos dela, secando-lhe as lágrimas. Ela sorri. Donald segura o rosto dela com as mãos e aproxima seus lábios. Dee fecha os olhos, chorando. Donald a beija com paixão.


10:34 P.M.

Mulder come sementes de girassol sentado dentro carro, enquanto lê um gibi. Scully ao lado dele observa o templo, angustiada.

MULDER: - (RINDO) Algumas atitudes do Pato Donald me parecem familiares. Como quando ele bate boca e resmunga mal humorado... Parece um cara que eu vejo todo dia no espelho...

SCULLY: - Mulder... Estou preocupada com Donald.

MULDER: - Não se preocupe, o Tio Patinhas tira ele dessa.

SCULLY: - Mulder, estou falando do Donald, seu amigo. Estou preocupada com ele.

MULDER: - (LARGA O GIBI) Por quê?

SCULLY: - ... Sinto que ele está apaixonado por essa garota.

MULDER: - (RINDO) De onde tirou isso? Ele foi até lá espioná-la, por isso a desculpa do jantar.

SCULLY: - Mulder, isso não é verdade. Quando ele falou hoje pela manhã em olhos tristes... Donald está apaixonado por ela.

MULDER: - (RI) Vocês mulheres tem mania de ver romance em tudo! Pra vocês tudo é mel. Basta um homem e uma mulher juntos e já tem romance. Donald não ia se apaixonar por uma garota assim. O cara foi padre, essa garota frequenta uma seita satânica. Digamos que ele seja a luz e ela a escuridão. Como pode os opostos se atraí...

Mulder se cala e olha sério para Scully. Então bate com o gibi na cabeça.

MULDER: - (INDIGNADO)Por que eu sou tão burro? Pode me explicar? Por que eu não percebo as coisas mais óbvias como você percebe? Merda, Donald corre perigo!

SCULLY: - Não sei se essa garota não está usando ele para conseguir mais uma vítima.

Mulder esmurra o volante.

MULDER: - Merda, Scully, merda! Agora como vamos saber onde ele está?

Mulder liga o carro.

SCULLY: - Pra onde vamos?

MULDER: - Tentar achar Donald. Antes que ele vire página do Necronomicon.


Apartamento de Dee – 10:38 P.M.

[Som: Radiohead – True Love Waits]

Foco pelo chão, as roupas espalhadas.

Corta para cama. Entre lençóis, Dee sobre o corpo de Don, os dois nus, trocam um beijo de desejo. Donald afasta os lábios olhando pra ela. Então retira a corrente com o pentagrama e joga longe. Dee sorri. Donald envolve as mãos no pescoço dela e a beija apaixonado. Ela envolve os braços nele, acariciando seus cabelos.


10:57 P.M.

Mulder e Scully entram na casa, às pressas.

MULDER: - (GRITA) Don!

Mulder sobe as escadas correndo. Scully procura pelos cômodos.

SCULLY: - (GRITA) Donald! Donald!

Scully põe a mão na testa, nervosa. Mulder desce as escadas.

MULDER: - Não está no quarto dele.

SCULLY: - Mulder, acho melhor chamarmos reforços. Se ao menos soubéssemos quem é a garota.

MULDER: - (NERVOSO) Você fica aqui. Tranca tudo. Eu vou até o templo, fazer Sikes abrir a boca.

SCULLY: - Está maluco! Você não vai lá sozinho, Mulder!

MULDER: - Não tenho escolha. Eles vão matar Donald!

Mulder põe as mãos na cintura.

SCULLY: - Mulder e se não for isso? E se essa garota realmente estiver apaixonada por ele?

MULDER: - Besteira! Como algo tão sombrio pode amar verdadeiramente algo iluminado e mudar de vida repentinamente por causa disso...

Mulder se atira no sofá com as mãos no rosto. Olha pra Scully.

MULDER: - (SUSPIRA) Por duas vezes nessa noite você me cala. Desisto. Meu cérebro não é páreo pro seu coração.

SCULLY: - Mulder, eu posso estar errada.

MULDER: - ... É, mas eu sei o que são as trevas. Como é viver nas trevas. E sei o quanto a gente anseia pela chance de aparecer uma luz. E quando essa luz estende seus braços... Acabaram as trevas. Você é a luz que me salvou, Scully. Eu devo minha vida a você. Se nunca tivesse ido pra aquele porão, sinceramente eu acho que nem estaria mais vivo.

Scully olha apaixonada pra ele.

SCULLY: - Mulder... Vamos voltar ao serviço. Vamos tentar achar Donald.


6:47 A.M.

Donald veste o paletó por sobre a camisa. Olha pra Dee que está dormindo. Retira o escapulário do pescoço. Coloca na mão dela. Beija-a na testa. Deixa sua gravata sobre a cama.


7:41 A.M.

Mulder e Scully entram na casa. Donald está sentado na cozinha, tomando café, cabisbaixo. Mulder olha pra Scully. Scully entende e sobe as escadas. Mulder vai pra cozinha. Serve um café. Olha pra Donald. Senta-se ao lado dele.

MULDER: - Vou usar as mesmas palavras que usou comigo. Onde está com a cabeça?

DONALD: - (ERGUE A CABEÇA) Do que está falando?

MULDER: - Sabe do que estou falando. Sabe quem ela é? A mesma que ia dormir comigo pra poder matar minha mulher e meu filho.

DONALD: - ... Eu sei quem ela é. Mas ela não é isso.

MULDER: - Donald, acorda. Eu entendo. Quase fiz besteira e ainda coloquei o pobre gato persa na história!

DONALD: - (OLHA PRA ELE) Que gato?

MULDER: - É a idade, Don, você quer viver coisas que não viveu e elas têm toda a sede de viver! Sim, elas atentam qualquer cristão! Somos homens, imperfeitos e safados por natureza.

DONALD: - Não é isso, Mulder... Eu gosto dela. É mais forte do que eu... Nunca senti isso na minha vida... Dói... Dói muito.

MULDER: - Ah meu Deus! Don, você vai se ferrar! Vai sair machucado disso! Ela é uma criminosa, Don! Você é policial!

Batidas na porta. Mulder levanta-se. Abre a porta desconfiado. Dee, em roupas claras, sem maquiagem, com o escapulário no pescoço, olha pra ele.

DEE: - Preciso falar com Donald.

MULDER: - (SÉRIO) Entra.

Scully desce as escadas, ao ver Dee fica parada. Dee passa por ela.

DEE: - Desculpe pelas coisas que eu ia fazer, senhora.

Dee vai pra cozinha. Donald olha pra ela.

DEE: - Eu ocultei algo de você.

DONALD: - ... Do que está falando, Dee?

DEE: - Eu... Eu chamei você aqui. Eu dei as informações, usando um simulador de voz pra que pensasse que eu era um homem... Tinha medo de que alguém descobrisse o que eu estava fazendo... Mas juro que não sabia que era você quando entrei naquele bar. Quando ouvi seu nome eu... eu desconfiei sobre quem você era... (CHORANDO) Eu tive medo, eu tenho medo de Sikes... Você diz que quer morrer, mas a morte sempre dá medo! Quando ele souber de nós dois ele vai me matar. E eu não quero mais morrer. Você me fez ver o mundo com outros olhos. Você me salvou. Mas isso não afasta de mim a culpa que eu tenho pela minha omissão. Eu fui cúmplice sim. Fui omissa com os inocentes como as pessoas foram omissas comigo em minha vida. Mas eu só quero que você saiba de uma coisa: eu não preciso mais daquela coisa que eu chamava de vida. Eu sou mais do que isso. Você despertou a minha luz. Me deu esperança, vontade de viver. E eu amo você.

Scully abaixa a cabeça, seca as lágrimas. Mulder olha pra Dee com desconfiança.

MULDER: - Se está tão a fim de nos ajudar a pegar Sikes, por que não nos dá a dica de que horas ele sai e a chave daquele templo?

Dee retira as chaves do bolso. Entrega pra Mulder.

DEE: - Uma da manhã. Ele nunca está, vai todo o dia fazer invocações na mata. Volta às duas. Tem a chave da sala de rituais aí. Debaixo da mesa do altar você encontrará um alçapão. Vai encontrar ali corpos de gente desaparecida que ele pretende ressuscitar de acordo com o Necronomicon.

MULDER: - E onde está o Necronomicon?

DEE: - No altar. Abaixo da imagem de Cthulhu.

Dee estende os braços pra Mulder.

DEE: - Me prenda. Quero pagar pelo que eu fiz aos outros.

Mulder olha pra Donald. Donald está cabisbaixo, fora de si. Mulder olha pra Scully. Então puxa as algemas. Scully salta na frente de Mulder.

SCULLY: - Tem o direito de ficar calada ou tudo que disser pode ser usado contra você num tribunal. Mas também tem o direito de conseguir redução de pena, aguardar julgamento em liberdade por nos ajudar. Mas isso não afasta seu julgamento como cúmplice dos crimes. Pode conseguir redução de pena por colaboração com a polícia, bom comportamento e se pegar um bom advogado pode ainda cumprir parte da pena em liberdade condicional.

Mulder olha pra Scully. Scully olha pra ele.

SCULLY: - Homens... Todos uns insensíveis!

MULDER: - ???

Mulder guarda as algemas. Olha pra Scully.

MULDER: - (CULPADO) É a terceira vez em menos de 24 horas que você me cala.

SCULLY: - Vamos até o templo. Temos que vigiar Sikes.

MULDER: - Agora? Mas acabamos de...

SCULLY: - (IRRITADA) Mulder... Vamos, me entendeu?

MULDER: - Quatro vezes, Scully. Eu sou um imbecil mesmo!

Os dois saem.

Donald levanta-se e vai pra sala. Senta-se no sofá. Dee olha pra ele.

DONALD: - Foge. Eu digo pra eles que você fugiu.

DEE: - Não. Isso não é justo.

DONALD: - O que importa? Você vai ser presa.

Dee senta-se ao lado dele.

DEE: - Você me ensinou a ser justa. Eu não vou fazer isso. Não vou mais fugir das coisas como eu fazia. Eu vou assumir o que fiz.

Donald olha pra ela com lágrimas nos olhos.

DONALD: - E como isto acaba? Como eu vou viver sem você?

DEE: - Sabe a teoria da costela? Ainda acredita nela?

DONALD: - (SORRI) Sim.

DEE: - Você é um sonhador. Um homem maravilhoso. Vai encontrar sua costela.

DONALD: - Você é minha costela. Eu esperei tanto, posso esperar mais.

DEE: - Não...

DONALD: - Eu vou esperar por você. Acredite, eu vou.

Os dois trocam um beijo apaixonado.


Apartamento de Dee – 4:12 P.M.

A porta abre-se lentamente. Sikes entra. Observa curioso o apartamento limpo. Caminha até o quarto. A cama desarrumada e a gravata de Donald. Sikes vai pra sala. Vê a caixinha de papelão. Ergue a tampa. Pega a Bíblia.

SIKES: - (ÓDIO) Vaca traidora... Aposto que me delatou ao Mulder... Vocês me pagam. Eu juro pelo inferno que vocês me pagam!

Sikes pega a bíblia e joga pela janela com ódio.


Templo dos Emissários de Cthulhu – 1:07 A.M.

Mulder estaciona o carro. Ele e Scully descem, com as armas em punho.

MULDER: - Teimosia estúpida! Eu disse pra ficar fora disso!

SCULLY: - Donald cuida da testemunha. E não há Sikes aqui pra que eu corra perigo.

MULDER: - Cuida da testemunha... Eles estão lá no maior love affair e eu aqui! Eu devia é te ensinar a respeitar seu marido!

SCULLY: - Se estou atrapalhando você, parceiro, vá na frente.

Mulder puxa as chaves do bolso. Os dois se aproximam da porta.

MULDER: - Se ficar horrorizada e vomitar, dane-se.

SCULLY: - Não vou ficar horrorizada e vomitar. E dane-se você, Mulder!

Mulder abre a porta. Eles entram. O templo está todo claro, com uma luz que penetra por cima. Os dois andam, um de costas pro outro, atentos.

MULDER: - Mulher grávida num lugar desses... Eu sou frouxo mesmo. Vou entrar na prática da corrente no pé da cama quando sair de casa.

SCULLY: - Para de resmungar, você tá me dando contrações! Não quer que eu vá parir num lugar desses!

Eles chegam na sala de ritual. Mulder coloca a chave na porta. Afasta-se.

MULDER: - Pelo amor de todos os santos, abra essa porta, Scully. Estou com todos os meus pelos arrepiados porque sinto muita energia ruim aí dentro.

SCULLY: - (DEBOCHADA) Desvantagens da paranormalidade.

Scully abre a porta. Os dois apontam as armas. Scully acende a lanterna, mirando sem querer na estátua.

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - O que foi?

SCULLY: - Meu filho tá se revirando todinho...

MULDER: - (DEBOCHADO) Desvantagens de estar grávida.

Mulder olha pro livro. Aproxima-se. Abre um sorriso.

MULDER: - Scully... Eu não acredito que estou tocando no Necronomicon.

SCULLY: - Mulder, a mesa.

Mulder aproxima-se da mesa. Agacha-se. Ergue o alçapão. Põe a mão no nariz.

MULDER: - Eu vou vomitar!

SCULLY: - Não disse que eu faria isso?

Mulder afasta-se e olha para a prateleira de vidros. Pega um deles. Scully se aproxima dele. Ilumina com a lanterna.

MULDER: - O que é isso?

SCULLY: - Não são conservas.

Mulder olha em pânico pra ela.

MULDER: - Que senso de humor negro!

SCULLY: - Parecem órgãos...

Mulder entrega o vidro pra ela.

MULDER: - Argh, isso é com você. Acho que é uma boa prova.

SCULLY: - Vou chamar Donald e ficar em casa. Você chama reforços.

Mulder puxa o celular. Scully sai correndo, levando o vidro.

MULDER: - Aqui é o agente Mulder... Estou dentro do templo de Sikes, xerife. Preciso de reforços. O cara tá na mira.

Mulder sente a mão a tocar-lhe o ombro. Abaixa o celular. Olha apavorado para trás. Sikes olha pra ele, os olhos de retina de gato brilham avermelhados.

SIKES: - Acha que pode pegar o demônio, Mulder? Não... O demônio já tocou você.

As portas se fecham. Mulder apavorado deixa o celular cair. Sikes ergue os braços.

SIKES: - Não devia brincar no inferno Mulder. Sabe o que fiz com as peles que tirei? Uma cópia autêntica e coloquei em um lugar que ninguém descobrirá. Sabe o que vou fazer, Mulder? Matar sua curiosidade sobre o Necronomicon. Vamos ressuscitar o que está morto. E você vai comigo. Para o reino daquele que não tem nome.

Sikes estende a mão espalmada na frente de Mulder. Mulder não se move. Olhos arregalados.

SIKES: - Aquele que ceifa com sua mão a colheita das almas, o que mora dentro da tumba depois que o espírito parte, o que fecha o Portão embaixo do olho da serpente. Torne pó o que agora é carne e torne carne o que era pó.

Mulder olha para trás. Percebe a porta do alçapão se abrindo. Mulder olha para si. Percebe algo correndo por dentro de seu corpo.

SIKES: - Zecka-rebus pratchi, ro'kas, welbrebosdos satigoc inrut, yoth, imbrut, zecka-rebus yoth! ro'kas yoth!

Ao redor de Sikes surge um vórtice que começa a aumentar de tamanho. O templo inteiro balança fazendo os vidros estilhaçarem-se. Mulder olha para o chão que vai rachando e expelindo sangue e fogo. Som de gritos e urros. Sikes continua falando em língua estranha com os braços abertos. A estátua de Cthulhu cai ao chão. O Necronomicon começa a incendiar-se sozinho. Sikes ri diabolicamente.

SIKES: - Sinta o fogo do inferno, Mulder... Afinal você nunca teve fé.

Mulder sorri. Sikes olha pra ele, sem entender. Mulder abre a camisa revelando a corrente com um crucifixo que era do filho.

MULDER: - Você não me conhece mais, Sikes. Acho que sua invocação não vai dar certo...

Sikes fica desesperado. O vórtice aumenta criando um vento enorme dentro da sala. Ouvem-se as batidas de Scully na porta, aos gritos. O chão vai se quebrando. Mulder corre até a porta, tentando abrir. Olha pra trás. O chão se parte soltando um urro infernal e o espectro sinistro surge do chão em forma de uma boca e engole Sikes. O chão inteiro desmorona pra baixo. Mulder segura-se na maçaneta da porta, ficando suspenso. Olha apavorado pra baixo. Um fosso enorme cercado de figuras esqueléticas e gosmentas que tentam soltar-se umas das outras enquanto gemem.

MULDER: - (AOS GRITOS) Scully!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

SCULLY: - (GRITA DESESPERADA) Mulder!!!!!!!!!!!

Scully atira contra a fechadura. Mulder solta uma das mãos quase levando um tiro. Segura-se rapidamente, olhando pra baixo. As mãos dele vão resvalando. Mulder cai, agarrando-se no pequeno resto de piso.

MULDER: - (GRITA/ PÂNICO) Scully!!!!!!!!!!!!!

Scully abre a porta. O vento faz os cabelos dela voarem pra trás. Scully olha para o vazio imenso da sala, cheio de estrelas como um portal aberto. Então olha pra baixo e vê os dedos de Mulder segurando-se no piso.

SCULLY: - (GRITA) Mulder!!!!!!

Scully abaixa-se, segurando as mãos dele. Tenta puxá-lo, a barriga atrapalha. Ela se desespera.

SCULLY: - Mulder!!!!!! Me ajuda!!!!!!!

Scully vira-se, deitando-se de costas no chão, tentando arrastar-se com as costas e puxar Mulder.

SCULLY: - Meu Deus, me ajuda!!!!!!! Eu não tenho mais força!

Scully fecha os olhos. Agarra firme os pulsos de Mulder. Começa a puxá-lo enquanto se arrasta pelo chão. Mulder olha pra cima e percebe duas pequenas mãos iluminadas sobre as mãos de Scully. Mulder arregala os olhos, impressionado, enquanto sente que seu corpo vai subindo. Scully consegue arrastar Mulder pra fora. A porta fecha-se num rompante. Mulder levanta-se do chão e a ajuda a se levantar.

MULDER: - Vamos dar o fora daqui, Scully!


Corta para fora do templo. Os dois saem desesperados, atravessando a rua. Olham para trás. Não há vestígios do templo, apenas um campo. Os dois olham um para o outro, incrédulos.

MULDER: - (ASSUSTADO/OFEGANTE)Eu... não sei... como... vou pôr isso... no meu relatório...


11:39 A.M.

Close do furgão da penitenciária feminina parado em frente ao local onde era o templo.

Donald observa o furgão. Dee passa por ele, algemada e escoltada por uma policial feminina. Mantém o escapulário dele em seu pescoço. Olha pra Donald. Sorri. Donald olha pra ela, tenso.

DEE: - Eu ficarei bem... Vou fazer tudo direitinho pra sair rápido.

A policial abre as portas da traseira do furgão. Dee entra. Olha pra Donald.

DEE: - Obrigado por salvar a minha alma.

DONALD: - Você a salvou.

A policial fecha as portas e afasta-se. Donald fica olhando para Dee pelo vidro traseiro do furgão. Ela aproxima os lábios do vidro e o embaça com um leve sopro. Desenha um sol. Aponta pra Donald. Donald sorri.

O furgão parte. Dee perde os olhos em Donald, enquanto derruba lágrimas. Donald perde os olhos nela, com os olhos marejados. Mulder se aproxima tocando no ombro dele.

DONALD: - (INCONFORMADO)Eu a amo, Mulder... Pode entender isso?

MULDER: - Posso. Hoje eu posso. Mas se perguntasse naquele tempo em que éramos parceiros, eu diria não.

DONALD: - Onde está a agente Scully?

MULDER: - Escondida na casa até o FBI cair fora daqui.

Mulder e Donald saem, Mulder com o braço nos ombros do amigo.

Corte.


Dee algemada e sentada dentro do furgão, chora calada, olhando para o sol desenhado no vidro.

DEE: - (CANTANDO) Just... Don’t leave... Don’t leave...

Dee abre um sorriso triste olhando para o vidro.

SIKES: - Por culpa sua e de Mulder, estou entre inferno e Terra agora.

Dee olha para o lado. Arregala os olhos. Sikes, sentado no banco. Aparência gosmenta e semi-esquelética. Olhos vermelhos.

SIKES: - (RINDO) Sempre esquecemos de levar alguma coisa, principalmente os traidores.

Dee grita desesperada.

Close do vidro da janela. Sobre o sol desenhado, o sangue espirra.


FBI – Seção de Crimes Violentos - 8:18 A.M.

[Som: Radiohead – True Love Waits]

Donald sentado na cadeira olha para o nada. Olhos inchados de quem não dormiu e chorou a noite toda. Diana o observa. Donald morde o polegar, contendo as lágrimas. Olha para a caixinha de papelão que dera pra Dee e o diário cor de rosa sobre a sua mesa.

DEE (OFF): - Nunca escrevi nenhum diário. Não havia porque escrever um livro de horror... Até conhecer a luz... Ela tinha a forma de um agente do FBI, cavalheiro, cordial e gentil, que se preocupou comigo... Queimei todas as minhas roupas negras, joguei as drogas fora, arrumei meu apartamento e decidi pela luz... Por ele...

Donald pega a caixinha e o diário e sai da sala. Todos olham pra ele em silêncio.


Arquivos X – 8:29 A.M.

Mulder sentado na cadeira olha para o nada, frustrado e triste, brincando com um elástico nas mãos. Donald entra segurando a caixinha e o diário.

MULDER: - O que é isso?

DONALD: - O diário dela. Que ela havia começado a escrever. E uma bíblia que lhe dei de presente. Vou guardar como recordação...

MULDER: - (ABORRECIDO) Lamento, Don... Espero que saiba que ela não se matou. Alguma coisa levou ela. É um Arquivo-X.

DONALD: - Obrigado.

MULDER: - (TRISTE) Pelo quê? Eu devia ter mandando ela fugir. Pelo menos estaria viva!

DONALD: -(TRISTE) Não se culpe, Mulder. Eu mandei ela fugir. Ela não quis... Talvez eu devesse repensar se não foi um castigo divino. Talvez meu lugar não seja aqui no FBI, mas... Sendo o padre que eu deveria ter sido...

MULDER: - Don...

DONALD: - Preciso pensar, Mulder... Vou pra casa.

Donald abre a porta. Olha pra Mulder.

DONALD: - Pelo menos encontrou o Necronomicon?

MULDER: - Peguei a cópia nas mãos. Mas foi destruída. O que me intriga é onde Sikes escondeu o Necronomicon verdadeiro.

DONALD: - Não quero saber Mulder. Prefiro encarar crimes violentos. Ali tenho respostas. Seu departamento afeta a alma. Só traz mais perguntas...

MULDER: - Don... Se cuida tá? Me liga.

DONALD: - ... Deus dá e Deus tira, Mulder. Você sabe bem disso. Eu não posso ver, mas Ele tem seus motivos. Por alguma razão isso aconteceu. E logo comigo. O ex-padre.

MULDER: - ... Eu só tenho medo de uma coisa. O Necronomicon permanece em algum lugar, e se cair em mãos erradas? Onde Sikes guardou aquilo?

DONALD: - Espero que bem longe dos corações maus.

Donald sai fechando a porta atrás de si.

Close da caixinha de papelão que ele leva consigo.


X


27/10/2001

26 de Agosto de 2019 às 01:48 0 Denunciar Insira Seguir história
1
Fim

Conheça o autor

Lara One As fanfics da L. One são escritas em forma de roteiro adaptado, em episódios e dispostas por temporadas, como uma série de verdade. Uma alternativa shipper à mitologia da série de televisão Arquivo X.

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