lara-one Lara One

Mulder e Scully fugindo do FBI??? O que estariam fazendo??? Investigando alguma coisa? Descobrindo mistérios ainda desconhecidos??? O que vocês acham que eles estariam fazendo??? Pintando o sete? Aliás, o que esses dois fazem quando não estão no FBI ou no apartamento de Mulder? Hum... Não. Aposto que não é o que você está pensando.


Fanfiction Seriados/Doramas/Novelas Para maiores de 21 anos apenas (adultos).

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S05#13 - ABOUT US

(ABSOLUTE BEGINNERS)


INTRODUÇÃO AO EPISÓDIO:

[Som da marcha nupcial (Wedding march - Mendelssohn)]

A igreja cheia. Decorada com muitas flores e laços de fitas.

O Pe. McCue sorri no altar, segurando a bíblia contra o corpo. Ao lado dele, Margaret Scully derruba lágrimas emocionadas, secando-as com um lencinho. Will de terninho e gravata, segura uma cestinha com as alianças, sorrindo empolgado.

Num dos bancos, Byers chora emocionado, abraçado em Langly. Langly ajeita a gravata borboleta, sem muito sucesso, enquanto tenta afastar Byers com o cotovelo porque está molhando seu smoking. Tara ao lado deles, tenta afastar com a mão, o cheiro de naftalina que sai das roupas de Langly.

Frohike filma todos os 'suspeitos' presentes. Cookie sentado ao lado dele, usando uma gravata borboleta.

Corta para o altar.

Mulder, de smoking branco com um cravo vermelho na lapela, observa tudo nervosamente. Skinner ao lado dele, sério, compenetrado.

Corta para a porta.

Charles entra abrindo caminho, atirando pétalas de rosas coloridas pelo chão da igreja, vestido num manto hare krishna.

Scully entra num longo vestido branco de tafetá que se arrasta pelo chão. Flores nos cabelos, véu longo, luvas até os cotovelos. Bill com uma cara emburrada, de braço dado com ela. Scully sorri numa felicidade incontida.

Mulder desce do altar e vem até ela. Bill não a entrega, mantém o braço de Scully firme. Scully tenta se soltar de Bill, mas só consegue depois de acertar o buquê na cara dele. Mulder a toma pela mão, enquanto Bill olha atravessado pra Mulder, mostrando a arma dentro do smoking. Mulder faz uma cara de pânico.

Scully enlaça seu braço no de Mulder. Os dois caminham até o altar. O Pe. McCue sorri olhando pra eles. Os dois ficam em frente ao padre. Scully seca as lágrimas, emocionada, quase machucando os olhos com o buquê.

O Padre começa a cerimônia. Mulder olha para o lado. O Canceroso, vestido num smoking impecável, fuma um charuto, lhe dirigindo um sorriso. Mulder fica assustado. Olha para o outro lado. Bill o encara, mostrando a arma na cintura. Mulder afrouxa a gola da camisa com o dedo, suando nervosamente. Scully continua emocionada, olhando para Mulder apaixonadamente.

Mulder vira-se para trás e vê Kersh ao lado de Carter. Carter balança a cabeça, incrédulo, em negação. Olha pra Mulder e Scully e chora inconsolável no ombro de Kersh.

Mulder olha pra outro lado e vê Garganta Profunda e os Homens do Sindicato. Garganta Profunda mexe os lábios dizendo 'não confie em esposas'. Mulder vira-se novamente para o Canceroso. Krycek ao lado do Canceroso lhe sorri.

PE. McCUE: - Fox Willian Mulder... Recebe como sua esposa a senhorita Dana Katherine Scully, prometendo honrá-la, amá-la e respeita-la?

Mulder continua olhando para o Canceroso. Scully cerra as sobrancelhas e o cutuca. Mulder cai em si.

MULDER: - E-eu? Ah, sim. Sim, eu aceito.

PE. McCUE: - Dana Katherine Scully, recebe como seu esposo Fox Willian Mulder, 'o estranho', prometendo honrá-lo, amá-lo e respeita-lo mesmo que seja algo um pouco difícil, praticamente quase impossível?

Mulder olha incrédulo para o padre.

SCULLY: - (FELIZ) Sim, aceito.

PE. McCUE: - (PREOCUPADO) Tem certeza, Dana?

Scully respira fundo, num sorriso. Olha apaixonada pra Mulder.

SCULLY: - Tenho. Sei que nem a ciência pode explicar, mas eu quero este homem.

PE. McCUE: - Alguém aqui presente é contrário a esta união?

Carter vai erguer a mão, mas Frohike rapidamente se aproxima, esbarrando nele.

PE. McCUE: - Então eu vos declaro: Marido e mulher.

[Fade in]


[Fade out]

Mulder acorda-se aos gritos desesperados, sentando-se na cama. Scully acorda-se e olha pra ele, assustada.

SCULLY: - Pesadelos de novo, Mulder?

MULDER: - (PÂNICO) ... Ehrrr... Sim... Digamos que foi muito assustador...

Scully volta a dormir. Mulder seca o suor da testa, respirando aliviado. Deita-se novamente, puxando o edredom por cima da cabeça, agarrando-se em Scully.

MULDER: - Scully...

SCULLY: - Que foi, Mulder?

MULDER: - Eu tô com medo... Me abraça!

VINHETA DE ABERTURA:


BLOCO 1:

Sexta-Feira

FBI - Gabinete do Diretor – 9:47 A.M.

Carter levanta-se da cadeira. Olha incrédulo pra Skinner. Depois olha pra Mulder e Scully. Então coloca o dedo mindinho dentro do ouvido, como se o limpasse.

CARTER: - (INCRÉDULO/ INDIGNADO) Acho que não ouvi bem. Estão me pedindo autorização para passarem uma semana na Índia a fim de investigarem o caso do Homem Macaco que anda aterrorizando a população local?

Skinner abaixa a cabeça segurando o riso. Mulder olha pra Carter.

MULDER: - Sim, senhor.

CARTER: - Isso é problema dos índios!!!

MULDER: - Indianos, senhor.

CARTER: - Tanto faz, todos eles usam cocares e penas!

Scully vira o rosto segurando uma expressão de 'não acredito'. Carter senta-se.

MULDER: - Senhor, sei que parece absurdo, mas pense: não vai demorar muito e o Homem Macaco vai atacar na América. Foi assim com o Chupacabras.

CARTER: - (INTRIGADO) Sério? Isso é verdade, Walter?

Skinner acena com a cabeça confirmando seriamente.

MULDER: - Imagine, diretor Carter... Se formos até lá e desbancarmos esta mentira, evitaremos a propagação da mentira do Homem Macaco e com isso, evitaremos a importação do mito pelos americanos e futuros gastos com Arquivos X desnecessários. É como a coisa do elefante cor de rosa.

CARTER: - (CURIOSO) Que elefante cor de rosa?

MULDER: - Os russos...

Skinner segura o riso, mordendo os lábios. Scully disfarça.

MULDER: - Os russos, por beberem vodca em demasia, criaram o mito do elefante cor de rosa. Durante os anos 30, na época de Al Capone e da Lei Seca, o mito se espalhou entre os americanos e todos os consumidores de bebidas alcoólicas passaram a descrever o elefante cor de rosa como elemento taxativo de sinal de abuso de álcool.

CARTER: - Isso é verdade, Walter?

Skinner afirma com a cabeça.

CARTER: - Mas os elefantes não têm origem africana? Como os russos...

MULDER: - E o circo de Moscou? Diretor Carter, aí está o elo de ligação do Homem Macaco da Índia com o elefante cor de rosa dos russos. O senhor é um gênio!

CARTER: - ... Sou?

MULDER: - Sim! O senhor é um gênio. O melhor diretor do mundo! Merecia um Oscar, você é um gênio incompreendido pelas pessoas! Eu sempre disse, não é agente Scully, que nem James Cameron superaria seu talento.

CARTER: - James Cameron??? Ele é do FBI?

MULDER: - Agora consigo fazer a ligação! O elefante é um animal místico para os indianos e também habita na índia. Então o mito do elefante cor de rosa se originou na Índia e foi difundido pelos soviéticos.

CARTER: - É... Tem lógica.

MULDER: - Portanto, senhor, acho de estrema importância acabar com o mito do Homem Macaco. Porque todos esses mitos se originam na Índia.

CARTER: - (AINDA EM DÚVIDA) E o chupacabras?

MULDER: - O chupacabras também.

CARTER: - (IMPRESSIONADO) Também vem da Índia? Isso é verdade, Walter?

Skinner mordendo os lábios, afirma com a cabeça.

MULDER: - Sim, senhor. O termo chupacabra deriva do verbo 'suck' que significa chupar ou mamar. E na índia a vaca é um animal sagrado, portanto eles não podem beber leite.

Scully abaixa a cabeça, quase rindo. Skinner mal se aguenta. Mulder continua sério.

MULDER: - Se não podem beber leite, significa que podem beber álcool, entende? Olha o elefante cor de rosa aí novamente. E também deriva da palavra capri, que quer dizer cabra. E a cabra tem ligação com os cabritos malteses. Os cabritos por sua vez são animais que habitam pradarias montanhosas. E sabe das famosas montanhas da Índia...

CARTER: - (IRRITADO) Malditos indianos! (ESMURRA A MESA) É uma conspiração! Tudo leva a eles! Walter, autorize os agentes Mulder e Scully a irem para a índia pelo período de uma semana.

Skinner olha incrédulo pra Mulder. Mulder sorri cínico.

MULDER: - Obrigado senhor. Tenho orgulho de saber que finalmente temos um diretor que pensa aqui dentro. Sua lógica me fascina.

Os três se levantam e saem da sala. Carter sorri todo convencido.

CARTER: - Quem diria... Pela primeira vez eu consegui achar respostas para um Arquivo X... Ao contrário do que dizem que sou bom em criar mistérios, mas um imbecil para desvendá-los...


Arquivos X – 11:17 A.M.

Mulder olha fixamente pro relógio de pulso. Nervoso, angustiado. Scully come um iogurte, olhar perdido pro nada. Mulder levanta-se rapidamente, pega o paletó e a valise preta sobre a mesa.

MULDER: - Ahh, não aguento mais! Chega!!!!!

Scully atira o iogurte na lixeira. Mulder e Scully saem fechando a porta da sala.

Corte.


Mulder e Scully caminham até o estacionamento, olhando pra todos os lados, mas não pegam o carro. Saem pra rua a passos rápidos, quase correndo. Mulder continua olhando pra todos os lados, Scully também. Mulder acena pra um táxi.

O táxi para. Mulder abre a porta.

Cocoa, o taxista negro, cabelos rastafári, uma bandeira da Jamaica na jaqueta, todo malandrão olha pra Mulder. Mulder olha pro interior do carro, cheio de enfeites coloridos, cortinas com pompons, almofadas e um adesivo na janela: Mude o sabor: coma Chocolate! Mulder ri. Olha pro taxista.

MULDER: - (DEBOCHADO) Paga extra?

COCOA: - 'Simbora', mano. Aqui não tem couvert não.

MULDER: - Quem é o Chocolate?

COCOA: - Só respondo pra ruiva, mas como ela tá com você...

Scully põe a mão no rosto, rindo.

MULDER: - Primeiro as damas.

Ela entra. Ele entra depois dela.

COCOA: - Aí mano, pra onde vocês vão?

MULDER: - Ah, sei lá, vai rodando por aí que depois a gente pensa.

COCOA: - Pode colocar música?

MULDER: - Pode.

COCOA: - Alguma coisa contra Jimmy Hendrix?

MULDER: - Não, completamente a favor. Adoro solos de guitarra.

Mulder dá uma olhada rápida pelas janelas.

MULDER: - Não tem ninguém nos seguindo.

Os dois se atracam aos beijos e abraços dentro do carro. Cocoa olha rindo pra eles pelo retrovisor e liga o som.

[Som: Jimmy Hendrix- Foxy Lady]

Mulder e Scully se soltam. Riem como loucos. Cocoa olha pra eles pelo retrovisor.

COCOA: - Aí, mano, eu acho que tenho um lugar bem legal pra deixar vocês, falou? Vi que a urgência aí tá grande. A coisa certa. Lugar de branco. De primeiríssima.

Mulder olha pra ele. Escora-se no banco.

MULDER: - Mais dez pratas na corrida se estiver correto.

COCOA: - Deixa comigo, mano! Mais quinze e leva a camisinha.

Mulder ri.

MULDER: - Cinco dólares por um preservativo?

COCOA: - É dos bons, mano.

MULDER: - Esquece. Ela é minha esposa.

COCOA: - Aí, mano, cinco anos dirigindo táxi por aqui e é a primeira vez que vejo alguém se agarrando com a esposa aqui dentro. Tudo bem, mano, saquei a tua. Gosta de anonimato...

Scully vira o rosto pra janela e ri. Mulder recosta-se no banco e coloca o braço por sobre ela.

MULDER: - Tá bom, Scully. Temos uma semana fora do caos, supostamente na Índia investigando uma conspiração 'indígena', como diria nosso sábio diretor Carter... hehehehe... Ninguém nos viu sair, pra onde fomos, não podem nos seguir, estamos sem bagagem alguma, mas eu não vou me arriscar a voltar pra pegar...

SCULLY: - Mulder, o que podemos precisar em uma semana?

MULDER: - Roupas?

SCULLY: - Pra quê?

COCOA: - Ih, aí, hein, mano? A gata tá a finzona de você.

MULDER: - Oh, aí, mano! Dirige esse motel ambulante e vê se me esquece.

Scully abaixa a cabeça e começa a rir. Mulder olha pra ela.

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - Fala.

SCULLY: - Vamos dar uma parada no meio do caminho? Que tal comprar algumas roupas? Ahn?

Mulder olha pra ela e sorri.

MULDER: - Aí, ô Chocolate, muda o rumo. Nos deixe num shopping o mais longe possível daqui.

COCOA: - Ei, que tal no Alabama?

MULDER: - Como você é engraçadinho...

COCOA: - Tá legal, mano. A mana aí é quem manda no pedaço... Mas acho melhor colar teu cartão de crédito no bolso, falô? Mulher e lojas quando se encontram...


1:22 P.M.

Mulder e Scully sentados à mesa, almoçando num shopping.

MULDER: - Você tem certeza disso?

SCULLY: - (SORRI) Absoluta, Mulder! Não precisa se preocupar com isso, não há riscos.

MULDER: - Tem certeza?

SCULLY: - Mulder... Quem é médica aqui, hein? Acha que eu diria algo pra você se não tivesse certeza do que estou falando?

Mulder distribui olhares pelo shopping. Scully percebe.

SCULLY: - (TRISTE) Mulder, para! Não estão nos seguindo.

MULDER: - (SORRI SEM GRAÇA) ... Desculpe. Neurose... Todo o cuidado é pouco... Canceroso, Krycek, Strughold, Aliens, Carter, Kersh... A lista de inimigos está aumentando...

Mulder coloca os cotovelos sobre a mesa, as mãos no rosto. Suspira cansado.

MULDER: - Eu não consigo me desligar, Scully. É uma responsabilidade nos meus ombros enorme.

SCULLY: - Divida comigo.

MULDER: - Não posso fazer isso. Daqui algum tempo tudo vai se complicar mais e eu vou ter de segurar a barra sozinho. Tenho que ir me acostumando.

SCULLY: - Mulder, eu não quero que se mate, que tenha um enfarto, que acabe ficando louco.

MULDER: - (TIRA AS MÃOS DO ROSTO/ SORRINDO) Não vou ficar louco. Eu nunca estive tão feliz na minha vida!

Ela sorri.

MULDER: - O que vamos fazer agora? Pra onde vamos?

SCULLY: - Alguma ideia?

MULDER: - Tem um lugar que eu queria ir, mas prometemos que não iríamos pisar lá em estado de convulsão nervosa.

SCULLY: - (SORRI) Supersticioso.

MULDER: - Eu sou. Iremos pra qualquer lugar, mas por perto. A melhor maneira de esconder alguma coisa é deixá-la bem debaixo do nariz de todos. Foi o que aprendi com a conspiração.

SCULLY: - (SORRI) Tá funcionando.

MULDER: - (SORRI) Eu te amo, sabia?

Scully segura a mão dele e lhe sorri.

SCULLY: - E eu só fecho meus olhos todo o dia, tendo a certeza absoluta de que tudo dará certo. Que ao final disso, viveremos nós três bem longe de qualquer problema. O máximo de problemas serão as notas vermelhas do nosso filho, a comida salgada demais e as despesas no final do mês pra pagar aquela casa.

Mulder sorri, aliviado.

SCULLY: - Mulder, me diz uma coisa. Seja sincero.

MULDER: - Tá.

SCULLY: - Algum dia de sua vida comigo, você sentiu-se arrependido? Nós sabíamos que seria um relacionamento tempestuoso, não por nós dois, mas pelos outros. Mas já se questionou se não estava tendo dor de cabeça demais comparado com o tempo que você e eu éramos apenas bons amigos?

MULDER: - Nunca, Scully. Mesmo que esse passado permaneça vivo em tudo. A única coisa que morreu dele foi a minha solidão. E nem por um momento da minha vida eu cogitei voltar pra ela. Prefiro viver como estou vivendo. E por mais difícil que pareça para os outros, é muito fácil pra mim. Porque as pessoas veem desgraça em tudo. Olha, lá vai o Mulder, o coitado... Pobrezinho, como sofre! Como aqueles dois sofrem! Olha, ele tá morrendo e ela vai ficar sozinha agora? ... (RI) Eu não sou um pobre coitado! Se eu passo o que estou passando é porque tenho um objetivo. Porque eu sou obstinado. Essa dor é ínfima diante dos sorrisos que estou guardando. E da champanhe que eu jurei abrir e beber com você.

SCULLY: - (SORRI)

MULDER: - Você tá sofrendo pelo que estamos fazendo?

SCULLY: - Não.

MULDER: - Eu também não me sinto um sofredor. Com todas as coisas que estão acontecendo, abduções, medo, mentiras, sangue, eu aprendi a aceitar isso. Eu nunca lutei contra eles, eu lutava contra mim mesmo, entende? Eu só queria acreditar. Agora eu acredito. Acho que amadureci uma década em juízo. Me sinto com os pés no chão, decidido, sabendo por onde começar. Antes eu era um louco sem rumo. Agora sou um homem. Um pai, um marido. Eu tenho até um cachorro!

SCULLY: - (SORRI) ...

MULDER: - Você perdeu muito mais do que eu.

Ela revira o copo com o canudinho. Olha pra ele.

SCULLY: - Eu não perdi nada, Mulder. Quer dizer, perdi a minha tristeza, a minha seriedade, a minha solidão, meu medo... Fiquei mais light pra vida, vi outras realidades que eu não podia ver... Eu sempre buscava o amor. Mas na verdade, eu não acreditava nele. Eu buscava ser feliz, mas não acreditava que seria. Nunca procurei isto até que fui abduzida pela primeira vez. Aquilo mexeu comigo, me fez amadurecer, mas ao mesmo tempo me tornou uma pessoa mais séria e fechada do que eu era...

MULDER: - ...

SCULLY: - Acho que o fato de você entrar assim na minha vida possibilitou que um universo inteiro se abrisse dentro de mim. Você jogou tudo em cima de mim e aos poucos eu consegui ir colocando tudo em ordem. E a ordem veio quando você me disse eu te amo.

MULDER: - (SORRI)

SCULLY: - Sabe, algumas vezes eu ainda tenho dúvidas... Sobre Moses. Mas se eu realmente agir com sanidade e pensar nisto como uma benção, eu posso aceitar. Então digo pra mim mesma que meu filho está bem. Que eu sei onde ele está. Então eu acredito nisto.

MULDER: - ...

SCULLY: - Você aceita melhor do que eu, porque você vivenciou isto. Você esteve com ele, embora eu o vi. Mas é algo que a minha racionalidade contrapõe... Mas... Deixa pra lá.

MULDER: - Scully, você é azarada, sabia?

SCULLY: - Sou, Mulder. A azarada mais feliz do mundo!

MULDER: - Podia ter tido mais sorte na vida se tivesse ficado longe de mim.

SCULLY: - Lembra o que Watkins disse. Eu não teria sido feliz, nossos caminhos estavam cruzados. Em todas as encruzilhadas ali estavam eles. Apenas tomávamos as direções erradas, eles se cruzavam novamente, mas a gente desviava... E aí está, Mulder. O inevitável. E o inevitável pode ser muito bom.

MULDER: - ... Concordo.

SCULLY: - Eu procurei errado. Nunca parei pra pensar que um homem simples, cheio de dúvidas, medos e incertezas pudesse me trazer tanta felicidade. Porque eu me reconheço nos olhos dele. Eu não sou aquela mulher que pensava. Eu sou mais caída e louca do que poderia imaginar. Por isso me descobri. Eu me descobri em você. Seus olhos foram o meu espelho. Sua dor a minha dor. Suas dúvidas as minhas. Suas lágrimas meu espírito. Suas preocupações a minha agonia.

MULDER: - ...

SCULLY: - Como posso me arrepender de ter o homem que eu tenho? Mulder, você pode ser carente, doido, extravagante... Mas você tem algo que eu nunca encontrei antes em homem algum.

MULDER: - E o que é?

SCULLY: - Sensibilidade.

MULDER: - ...

SCULLY: - Sensibilidade extrema. Você zela por mim, você sempre está atento às minhas necessidades. Muitas vezes nem eu sei do que preciso e você me diz o que é. Você me conhece mais do que eu me conheço. E eu sei que te conheço muito mais do que você conhece a si mesmo. É essa reciprocidade, essa simetria perfeita, essa sensibilidade de um para com o outro que torna nosso envolvimento algo transcendental... Já parou pra pensar que somos um casal diferente?

MULDER: - Já. Antes até me preocupava. Mas agora, eu entendo. E gosto disso.

SCULLY: - Me perguntei várias vezes o que havia de diferente em nosso relacionamento. Além desse nosso cuidado mútuo um com o outro, nós não tememos um ao outro. Sabe quando você teme a pessoa ao seu lado? Você cria muros. Todos criam muros. Ninguém quer mostrar fraqueza, falhas... Todos querem mostrar apenas as virtudes. Então aos poucos vão descobrindo as falhas. E nós dois? O que nós fazemos?

MULDER: - Bem, a gente já conhecia os defeitos um do outro antes das qualidades... Acho que mostramos nossas falhas e daí descobrimos as virtudes.

SCULLY: - E agora? Agora que sabemos os defeitos e qualidades?

MULDER: - Nós não temos muros.

SCULLY: - Sim, Mulder. Nós não tentamos ser o que não somos. Você sente vontade de chorar, você chora. Eu sinto vontade de ser doida, eu sou. Sei que você não vai rir ou criticar, assim com eu não faria isso. E não que sejamos iguais, nós somos muito diferentes. Mas não temos medo de mostrar um pro outro quem somos realmente. É como se nos completássemos. Eu já disse que você é a minha alma feminina e eu sua alma masculina. Você tem mais sensibilidade e eu tenho mais razão.

MULDER: - ... (SORRI)

SCULLY: - Eu queria há muito poder dizer isso pra você num lugar em que me sentisse livre pra dizer. Sei que não temos conversado muito sobre nós dois nos últimos tempos, até porque é difícil ser sincero diante de câmeras e escutas que sabemos existirem.

MULDER: - ...

SCULLY: - ... Mulder, você é mais que um sonho. Você é o meu anjo. Você caiu de uma nuvem. Nunca conheci um homem como você. Deve haver alguns por aí, escondidos também como você estava. Mas eu realmente me surpreendo por ter tido você no meu caminho. Só por obra do destino mesmo, Mulder, porque eu nunca teria conhecido alguém como você nos lugares que frequentava. Você me faz rir, você me faz chorar de emoção... Eu sei que pode entender além das palavras que digo, mas eu quero dize-las. Eu preciso dizer isto pra você, não porque tenha que dizer coisas bonitas. É porque você merece ouvi-las.

MULDER: - (EMOCIONADO) Scully, vai me fazer pagar o mico de chorar em público?

SCULLY: - (SORRI) Não...

MULDER: - ... Vem, vamos embora. Vamos arranjar um cantinho pra ficar nessa semana. Um cantinho em que a gente não precise ficar representando.

SCULLY: - Você se revelou um bom ator, Mulder, e eu levei o Oscar.

MULDER: - O que a necessidade não faz, Scully? O que o senso de proteção não faz? Eu me sinto culpado ao ver Skinner, o meu melhor amigo... Mas eu olho pra você, penso no nosso filho e... Eu me transformo num monstro hipócrita.

SCULLY: - Você não é um monstro hipócrita, Mulder. Você apenas quer ter o que ama. E infelizmente, pra isso, precisamos representar o papel de perdedores abatidos.

MULDER: - Scully, amo você. Amo nosso filho tanto que não me importaria de morrer pra salva-lo. Como eu sei que você também não. E esses caras não estão brincando. Eles vão toma-lo. E pouco importa pra eles quem vão ter que matar, se eu ou você. Apenas nós dois contra eles... Mas nós sabemos onde ele está, esta é a vantagem. Como eu disse, talvez um de nós acabe terminando sua jornada aqui mais cedo. Mas o prêmio maior é o nosso filho.

SCULLY: - ...

MULDER: - Nos amamos, Scully. Mas temos que ter em mente que ele é uma parte de nós dois. E se um de nós se for, um pedaço do que partiu vai estar ali... Junto ao pedaço do que ficou... Me promete que se algo acontecer comigo, você foge pra bem longe com a criança. Que nunca mais voltará pra cá, esqueça de mim, esqueça de me procurar. Quero que fuja. Me promete isso.

SCULLY: - ... Mulder...

MULDER: - Me promete.

SCULLY: - Eu prometo.

MULDER: - Você sabe que o mais provável é que dê errado pra mim, por isto estou me expondo. Eu fico na linha de tiro. Mas eu quero que olhe pro nosso filho e me veja nele. Veja um futuro nele, um futuro digno, num mundo mais leve. Não quero que diga pra ele: meu filho, seu pai morreu por você. Muito menos que diga: seu pai salvou o mundo. Eu só quero que diga uma única coisa pra ele: Seu pai te amou mais do que a si mesmo. Só quero que ele tenha a certeza absoluta de que foi amado por mim.

SCULLY: - (SORRI) Mulder...

MULDER: - Fala.

SCULLY: - Ele sabe.

MULDER: - (SORRI)

SCULLY: - Ele sabe, eu sinto que ele sabe.

MULDER: - Scully, vamos embora daqui. Eu quero sentir isto também.

Ela sorri. Os dois levantam-se. Mulder carrega as sacolas.


BLOCO 2:

3:11 P.M.

Cocoa para na frente do hotel. Um hotel estilo japonês, com jardins.

COCOA: - Aí mano. Eu prometi. Não é o lugar que eu ia indicar, mas acho que é melhor do que aquele. Não é lugar de branco, é lugar de amarelo, não dá pra dançar, mas eu tô desconfiado de que vocês querem mesmo é ficar isolados do mundo.

Mulder e Scully olham pela janela. Os dois sorriem.

COCOA: - Então mano? Não é um negócio de primeira? É daquelas coisas de hotéis temáticos. Acho que vocês vão gostar.

MULDER: - Nem sabia que tinha isso na Virgínia.

COCOA: - Importado de Nova Iorque mano. Coisa fina. Sabe que os japas são feras nessas coisas. Hotel, comida e eletrônica é com os caras.

Mulder olha pra ele rindo.

MULDER: - Você é americano?

COCOA: - Jamaicano, mano. Terra do melhor reggae, Bob Marley...

MULDER: - Tem família?

COCOA: - Três filhos pequenos e uma esposa.

Mulder abre a valise. Retira alguns bolos de dinheiro. O taxista arregala os olhos.

MULDER: - Acho que isso paga a corrida e o seu tempo.

COCOA: - (OLHOS ARREGALADOS) Quem você quer que eu mate?

MULDER: - (RI) Guarde o troco.

COCOA: -???? Mano, qual é a piada aqui que não entendi?

Mulder desce do carro. Scully desce atrás dele. O taxista olha pro bolo de dinheiro em suas mãos sorrindo.

COCOA: -... Você não é da máfia, não é mesmo?

MULDER: - Olha pra mim e vê se eu tenho cara de italiano.

COCOA: - Mas você tem cara de judeu, mano. Não é daqueles terroristas israelenses reivindicando a Palestina né?

MULDER: - (RINDO) Não.

COCOA: - Isso é dinheiro verdadeiro? É limpo? Mano, você não tá metido com roubo de banco? Tá?

MULDER: - Sou milionário excêntrico.

COCOA: - (SORRI) Mano, se precisar de um motorista particular, chama o Chocolatão aqui... A qualquer hora! Fica com o meu cartão.

Cocoa entrega o cartão pra Mulder. Mulder toma Scully pelo braço e entram no hotel. O taxista fica olhando pro dinheiro.

COCOA: - Cara... Isso é o que eu chamo de sorte! Tem uns cinco anos de salário aqui! Dá pra comprar meu próprio táxi!!! Vou mandar aquela velha turca pro inferno! Vai ter churrasco no final de semana. A molecada não sabe o que é carne na mesa há dias.

Corte.


O quarto estilo japonês. A porta se abre. Scully entra segurando a valise. Mulder entra atrás dela, cheio de sacolas e pacotes. Scully fecha a porta. Mulder atira tudo no sofá. Os dois ficam olhando para o quarto, impressionados. Mulder olha pra cama. Abre os braços num sorriso.

MULDER: - Eu te amo!

Scully olha pra ele, curiosa. Mulder se atira de bruços na cama. Fecha os olhos. Ela sorri.

SCULLY: - Credo!

MULDER: - Fui uma vadia na minha vida passada, Scully. Porque nessa eu só quero ficar na cama.

SCULLY: - É, Mulder, você é muito 'bom de cama' mesmo...

Ele, de olhos fechados, bate no colchão.

MULDER: - Vem... Vem aqui com o seu Mulderzinho...

SCULLY: - (RINDO)

Scully deita-se do lado dele. Mulder coloca o braço e a perna por cima dela, encostando o nariz em seu pescoço.

SCULLY: - Sai, seu monstro! Você é pesado!

MULDER: - Chame um guincho. Não consigo me mover.

SCULLY: - (RINDO) Que tal um banho, hein? Um banho bem gostoso pra você relaxar e conseguir dormir, ahn?

MULDER: - Passo. Deixo você sozinha nessa.

Ela afaga os cabelos dele ternamente.

SCULLY: - (SORRI) ... Tá cansadinho, não é meu amor?

MULDER: - (DEBOCHADO) Meu amor? Hum... Acho que o meu conceito tá melhorando por aqui.

SCULLY: - Então descansa bastante, relaxa, porque eu quero você bem relaxado pras coisinhas que estou matutando nessa minha cabeça depravada.

MULDER: - Prometo que quando acordar, serei um novo homem... Deixarei os problemas lá fora... E passaremos a semana toda trancados aqui dentro, em intensas orgias sexuais.

SCULLY: - Ah, Mulder, você só fala, fala...

MULDER: - Reserve o champanhe... Ou o saquê... Já que vai ficar acordada, busca uns incensos ou umas velas aromáticas...

SCULLY: - Hum... A coisa promete. Posso trazer calda de chocolate?

MULDER: - O que você quiser.

SCULLY: - Uma lingerie 'bem' sexy?

MULDER: - Não. Uma lingerie 'muito' sexy.

SCULLY: - Preservativos com sabor de quê?

MULDER: - Preservativos? Pra quê?

SCULLY: - Hum... Posso ficar com vontade de fazer alguma coisa diferente e assim fica mais fácil...

MULDER: - (SORRINDO) Não era você quem disse que doía?

SCULLY: - Hum, mas é bom.

MULDER: - Scully, você tá me assustando...

SCULLY: - Chicote?

MULDER: - Chicote???

SCULLY: - Roupas de couro com tachinhas?

MULDER: - ???

SCULLY: - Um vibrador!

MULDER: - Pra quê um vibrador???

SCULLY: - Pra você...

Ele olha pra ela em pânico. Ela começa a rir. Ele olha pra ela debochado, numa falsa seriedade. Ela ri mais ainda.

SCULLY: - Calma, Mulder... Brincadeirinha.

Ele fecha os olhos.

MULDER: - Scully, você não vai me fazer gostar da coisa. Desista.

SCULLY: - (RINDO)

MULDER: - Sem chances. Imagina se depois eu gosto? (VOZ AFEMINADA) Aí você tá ferrada, meu bem!

SCULLY: - (ELA TEM UM ACESSO DE RISO)

MULDER: - Então toda a noite eu vou olhar pra você e dizer: Scully, vai buscar um homem pra nós dois.

SCULLY: - (ELA CONTINUA RINDO)

MULDER: - (RINDO) Só você mesmo pra me fazer relaxar...

SCULLY: - Algum pedido em especial?

MULDER: - Por que não traz o sex shop inteiro?

SCULLY: - Hum... Não dá, mas vou tentar achar coisas diferentes...

MULDER: - ...

SCULLY: - Tem certeza de que não quer mesmo ir lá pro banheiro, lavar minhas orelhinhas e relaxar um pouquinho? Hum?

MULDER: - ...

SCULLY: - Mulder?

MULDER: - Zzzzzzzzz

Scully sorri. Fecha os olhos. Em segundos ela os abre. Retira o braço dele de cima de seu corpo. Sai da cama.

SCULLY: - Nunca vi uma coisa dessas: dormir vestido.

Scully tira os sapatos dele e as meias. Olha pra ele. Põe as mãos na cintura.

SCULLY: - E agora? Como é que eu vou fazer isso?

Scully o empurra, mas ele continua de bruços.

SCULLY: - Força... Ughhhhhhhh!!!

MULDER: - Zzzzzzzz

Scully coloca o pé contra a cintura dele.

SCULLY: - Força!!!!!!!!!!!!

Mulder vira-se. Continua dormindo. Ela sobe em cima dele. Desata a gravata.

SCULLY: - Não dá pra dormir desse jeito, todo amarrado... Vai ficar com falta de ar, vai começar a roncar no meu ouvido... Pronto.

Scully desabotoa a camisa de Mulder, a puxando pra fora das calças. Pega o pulso dele e desabotoa o punho. Faz o mesmo com o outro. Mulder continua dormindo, com os lábios semiabertos, ferrado no sono. Scully olha pra ele.

SCULLY: - Puxa vida, tirar isso vai ser impossível!

Scully se afasta. Desata o cinto e abre as calças dele. Puxa-as.

SCULLY: - (PUXANDO) Ahhhhhhhh!!!!!! Pronto. Pelo menos isso é mais fácil.

Scully olha pra ele. Puxa-o pelo braço.

SCULLY: - (COM FORÇA) Vem, Mulder! Ughhhhhhh!!!!!!!!

Mulder vira-se de bruços. Scully respira fundo.

SCULLY: - Prontinho, serviço feito.

Scully abre o armário. Retira um lençol e o cobre da cintura pra baixo.

SCULLY: - Melhor assim, Mulder. Nunca vi como você sente calor! Credo!

Ela começa a tirar a roupa.

SCULLY: - Vai, fica dormindo aí que eu vou relaxar num banho bem demorado...

Scully aproxima-se dele e o beija na testa. Vai para o banheiro.


10:11 P.M.

Scully sentada na cama. O quarto iluminado apenas pela TV. Assiste a um filme, comendo pipocas, com um copo enorme de refrigerante ao lado e doces espalhados pela cama. Arregala os olhos. Parece assustada com o filme. Acende a luz do abajur. Olha pra Mulder.

SCULLY: - Mulder?

MULDER: - ...

Scully larga as pipocas. Senta-se na cama, olhando pra ele.

SCULLY: - Mulder?

MULDER: - ...

SCULLY: - Mulder, isso... Não é normal... Não brinca comigo...

Scully começa a ficar assustada. Lentamente se aproxima e toma o pulso dele. Coloca a mão sob o nariz dele. Ri de si mesma.

SCULLY: - Deus, como eu sou boba!

Scully deita-se novamente. Mas fica olhando pra Mulder.


Sábado - 2:29 P.M.

A TV continua ligada. Scully vestida, anda de um lado pra outro, nervosa. Mulder vira-se na cama, abrindo os olhos. Ela olha pra ele, dando um suspiro de alívio. Disfarça.

MULDER: - (MEIO DORMINDO) Onde estamos?

SCULLY: - Em um hotel.

MULDER: - Puxa... Que horas são?

SCULLY: - Quase duas e meia.

MULDER: - Da madrugada? Ah, não! Dormi só isso?

SCULLY: - Da tarde do outro dia, Mulder.

Ele senta-se na cama, passando as mãos nos olhos.

MULDER: - Sem graça, Scully.

SCULLY: - É sério. Mulder você caiu aí na sexta e dormiu até o sábado!

Mulder olha pra ela.

SCULLY: - (NERVOSA) Mulder, eu quase tive um ataque! Você dormiu quase 24 horas direto! Já tinha até pensado que se até as três você não acordasse, eu ia buscar ajuda!

MULDER: - Desculpe... É que dormir sem nenhuma preocupação tem sido fato raro... Me vinguei da cama. Agora não tô mais sofrendo.

Mulder se deita na cama. Espreguiça-se. Ela sobe na cama, de sapatos. Fica de joelhos, olhando pra ele.

SCULLY: - Tá com fome?

MULDER: - Não.

SCULLY: - Que tal um lanchinho? Ahn?

MULDER: - Um micro sanduíche com duas folhas de alface.

SCULLY: - Não! Escolhe outra coisa, algo que você goste.

MULDER: - Eu gosto de um delicioso sanduíche entupido de maionese.

SCULLY: - Autorizo você a comer isto hoje.

MULDER: - Não. E depois eu não vou comer nada. Não tenta me enrolar hoje, Scully. Se eu comer alguma coisa agora, isto significa que vamos ficar vendo televisão, porque de barriga cheia...

SCULLY: - (SORRI) Mulder...

MULDER: - (DEBOCHADO) E aí? Pronta pro abate?

SCULLY: - (INCRÉDULA) Abate? Fox Mulder, eu não sou uma das suas galinhas pra ir pro abate!

Scully bate no ombro dele.

MULDER: - (MANHOSO) Au!

SCULLY: - Abate... Ahn! Você é quem vai ir pro abate!

MULDER: - Tá legal. Hoje eu vou me vingar, Scully. Vou ir pra aquele banheiro agora, tomar um bom banho, fazer a barba, ficar cheiroso... E aí nós vamos conversar bem de pertinho.

Ela ri. Ele levanta-se e vai pro banheiro, com uma cara deslavada. Scully sai da cama.

SCULLY: - Mulder, vou sair. Não demoro!


3:12 P.M.

Mulder tomando banho, cantarolando, com voz arrastada, "You are my Sunshine", de Johnny Cash.

MULDER: - You are my sunshine, my only sunshine,you make me happy when skies are gray...You'll never know, dear, how much I love you, please don't take my sunshine away...

(Você é meu sol, meu único sol, você me faz feliz quando os céus estão cinzas...Você nunca saberá, querida, quanto eu amo você,por favor não leve meu sol embora...)

Scully entra no banheiro, vestida num robe. Dançando. Mulder olha pra ela pelo vidro do box. Os dois cantam juntos.

MULDER E SCULLY: - You are my sunshine, my only sunshine, you make me happy when skies are gray... You'll never know, dear, how much I love you, so please don't take my sunshine away...

Scully aproxima-se do box. Mulder olha pra ela. Scully inclina-se apoiando a mão no vidro transparente, com os lábios semiabertos. Ele inclina-se também simulando o mesmo gesto fazendo um beicinho. Os dois trocam um beijo pelo vidro.

MULDER: - Que roupa é essa?

SCULLY: - (SORRI) Gostou?

MULDER: - Gostei. Queria um assim pra mim.

SCULLY: - O que acha que fui fazer? Comprar alguma coisa pra gente ficar mais à vontade. Comprei um igualzinho pra você. E comprei um pijama salmão que acho que vai ficar lindo!

MULDER: - (SORRI) Scully, o que seria de mim sem o seu bom gosto, my sunshine?

SCULLY: - (SORRI) Provavelmente ainda teria apenas alguns ternos no armário e meias furadas, 'my sunshine'...

MULDER: - Se tivermos uma filha, Sunshine seria um nome bonito.

SCULLY: - (RINDO) Sunshine é nome de cachorro!

MULDER: - (SORRI) Entra aqui, vem...

SCULLY: - Pra quê?

MULDER: - Entra vai. Eu só quero lavar as tuas orelhinhas.

SCULLY: - (RINDO) Sei...

MULDER: - Sério.

Ela tira o robe e entra no box.

MULDER: - Scully eu menti.

SCULLY: - (RINDO) Não quer lavar minhas orelhinhas?

MULDER: - Não. Quero fazer você revirar os olhinhos.

Mulder envolve a mão na nuca de Scully a puxando pra um beijo debaixo da água.


3:43 P.M.

Scully sai do banheiro, vestida no robe. Senta-se na cama, procura um canal na TV.

Mulder sai do banheiro, usando um robe igual ao dela. Escora-se na porta. Olha pra ela seriamente.

MULDER: - Temos tantas coisas pendentes entre nós que nem sabemos por onde começar.

Scully desliga a TV.

SCULLY: - Que tal fazendo amor?

MULDER: - (SORRI) Eu faria isso o tempo todo que estamos aqui na 'Índia'. Ou deveria dizer 'Japão'?

Scully percebe que Mulder está tenso.

SCULLY: - Senta aqui. Vamos resolver os problemas primeiro.

Mulder pega a valise e a coloca sobre a cama. Senta-se sobre a cama. Scully senta-se de frente pra ele, ajeitando o robe. Mulder abre a valise revelando muito dinheiro.

MULDER: - Primeiro assunto: esse.

Scully olha pra dentro da valise e põe as mãos nos lábios.

MULDER: - (NERVOSO) É, eu sei. E isso aqui foi o pagamento de apenas um serviço: Afastar Skinner da verdade. Imagine quando eu pegar Strughold.

SCULLY: - ...

MULDER: - Preciso colocar isso num banco. Mas não quero arriscar. Você sabe que dinheiro me tenta, não vou mentir, estamos num barco furado e cheios de dívidas. Mas não. Prometemos que não pegaríamos dinheiro sujo em causa própria. Faz assim: Abra uma conta pra você e fique com isso. Só há um destino pro dinheiro sujo do Sindicato: a vacina. E é pra isso que o usaremos.

Mulder pega um envelope de dentro da valise.

MULDER: - Aqui estão seus documentos, cartões de crédito falsos, passaporte e até uma passagem para a Suíça, caso alguma coisa dê errado... Todos em nome da senhora Mary Watkins.

SCULLY: - Tá.

MULDER: - Abra uma conta nesse nome e coloque esse dinheiro lá. Você vai precisar disso porque afinal de contas, essa coisa de vacina é seu departamento. Os dinheiros futuros que eles me derem, entregarei pra você diretamente e você fará o depósito em nome de Mary.

SCULLY: - Certo.

MULDER: - Retire qualquer dinheiro agora da sua conta e deposite na conta de Mary. Você tem que ter em mente que pode precisar, mas que Dana Scully não existe mais. Portanto, tudo que estiver em nome dela, Mary Watkins não pode mexer.

SCULLY: - Entendido.

Mulder fecha a valise. Olha pra ela.

MULDER: - Assunto dois, extremamente delicado. Eles não vazam informações de ações que não me envolvam. Posso ler a mente deles, mas estão sabendo disso e a bloqueiam. Só há uma pessoa em quem eu posso confiar pra me dar informações que não tenho acesso: Diana Fowley.

SCULLY: - ... Faz o que tiver que fazer. Confio em você.

MULDER: - Sabe que eu jamais magoaria você...

SCULLY: - Confio em você Mulder.

MULDER: - Assunto três: Não consegui descobrir quem são os Mulder. Consegui a confiança de Garganta Profunda, mas já percebi que ele não sabe a verdade toda. Nem aquele Lorde Inglês e muito menos o próprio Fumacinha. O que tenho são apenas fragmentos de uma verdade que se espalhou ao vento.

SCULLY: - Mas confirmou que sua mãe era judia?

MULDER: - Sim. Minha mãe tinha descendência de judeus por pai e mãe. Dos parentes dela só sobrou aquela tia na Pensilvânia. E a hora que eu quiser alguma informação é só ir até lá e prontamente sei que ela o fará. Depois de me fazer comer doce de figo.

SCULLY: - (SORRI)

MULDER: - Não sei nada sobre eles. Como te disse, não tenho orgulho de ser Mulder. Nunca tive. Nem sei quem são, que tipo de gente poderiam ser... Nunca encontrei nenhum Mulder nos catálogos telefônicos. Algumas vezes até penso se não foi mais uma mentira inventada.

SCULLY: - Por quê?

MULDER: - Bill Mulder falava muito pouco sobre seus pais. Parecia ter ódio deles. Scully, o que sei sobre Bill é que ele foi criado por um parente até os cinco anos de idade. Depois disso meu pai contava que um dia acordou na casa de uma família e eles o criaram.

SCULLY: - Como assim?

MULDER: - Ele sempre questionou. Dizia que seus parentes deviam tê-lo dado pra adoção. Como ele era muito pequeno, não se lembra de como isso aconteceu.

SCULLY: - E essa família que criou Bill Mulder chamava-se Mulder?

MULDER: - Não... Agora entramos na minha descoberta. Era uma família alemã, tradicional. Eles tinham apenas um filho legítimo de nome Conrad Strughold.

Scully senta-se na cama, incrédula.

SCULLY: - Mulder, eu não acredito! Strughold??? Bill Mulder foi irmão adotivo dele?

MULDER: - ... Só agora associei os fatos, Scully. Não quero saber essa verdade. Nem Bill queria saber. Ele tinha um ódio enorme de não saber quem eram seus pais verdadeiros. E por que se livraram dele. Talvez, assim como o Fumacinha, ele tenha sido dado pra experiências. Mas quem vai saber a verdade? Esses homens parecem que monitoraram a minha hereditariedade de alguma forma. Mas se tudo está no ponto em que está, teve um ponto de onde partiu. Mas como descobrir quem foi que começou isso?

SCULLY: - ...

MULDER: - De alguma maneira a família Strughold influenciou meu pai na carreira que ele tinha, foram eles que o colocaram no Departamento de Estado. E foi como eu conheci o Senador Matheson. Ele estudou com meu pai na universidade... Portanto, Scully, não posso te dizer se tenho bons genes. Não sei quem são os Mulder.

SCULLY: - E a família que criou Bill Mulder até os cinco anos?

MULDER: - Ele nunca lembrou o sobrenome. Mas não eram Mulder. Disso ele tinha certeza. Também eram alemães. Portanto, ainda tem uma incógnita: quem são os Mulder?

SCULLY: - Que estranho isso... Mulder, não vai falar com sua irmã?

MULDER: - Não tenho nada pra falar com ela.

SCULLY: - Mulder, talvez não tenha sido ela quem entregou meu paradeiro para o Fumacinha. Talvez tenha sido o clone que tomou o lugar dela. Ela estava na nave...

MULDER: - Eu não quero saber mais dela, Scully. Samantha não me faz bem. Dentro de mim ficou a lembrança da minha irmãzinha e aquela lá morreu. Essa outra eu não conheço.

SCULLY: - E seu sobrinho...

MULDER: - Não tenho sobrinho.

SCULLY: - ...

MULDER: - Samantha aceitou proteção do Fumacinha, Scully. Está vivendo às custas dele.

SCULLY: - Mulder, isso é melhor pra ela. Samantha precisa de proteção. Ela tem um filho agora. Eu posso entender o medo que ela sente diante de um mundo que não conhece.

MULDER: - Eu não posso entender isso, Scully. Se ela se importasse comigo, com minha busca por ela, teria ficado ao meu lado. Eu poderia ter conseguido um apartamento maior e tomado conta dela. Mas ela não quis. Ela escolheu o Fumacinha. Pois que seja feliz... Scully, vamos mudar de assunto. Eu não tenho irmã, tá legal?

SCULLY: - ...

MULDER: - Como eu disse pra você, eu prefiro pensar que ela é filha do Fumacinha, já que está ao lado dele. Me deixe com Bill Mulder mesmo. Ele era um canalha também, mas pelo menos estava do meu lado. Mentiu pra mim a vida toda e quando ficou arrependido, resolveu contar a verdade. E acabou morto. Algumas vezes penso que foi melhor assim. Talvez a verdade vindo dele seria mais dolorosa. Pense assim: nosso filho tem uma avó chamada Margaret Scully que é uma senhora muito distinta. E um avô já falecido chamado Willian Scully, que era um marinheiro e um bom pai de família. Essa é a família dele. Se algum dia perguntar pela minha família, acho que terei de dizer o que meu pai disse pra mim: não sei quem são. Nunca os conheci.

SCULLY: - ... Nem pela parte do Fumacinha... Você nem tem ideia de quem sejam seus avós...

MULDER: - Eu sei que não sou um Mulder. Nem um Spender. Meus pais não sabem de suas famílias. Ambos foram criados por outras. Scully isso me bate todo o dia na cabeça... Spender não é russo. Se realmente o Fumacinha é meu pai e é filho de russos, eu tenho origem russa, concorda?

SCULLY: - Sim.

MULDER: - Mas Scully, como posso ter traços judeus definidos se eu sou filho de um russo?

SCULLY: - Pela sua mãe.

MULDER: - Mas não seria mais fácil eu ser filho de um Mulder, que é judeu?

SCULLY: - ... Bem...

MULDER: - Tem alguma coisa nisso tudo que eu não sei ainda. Não acha muita coincidência que os meus dois supostos pais não tenham famílias?

SCULLY: - ...

MULDER: - Posso parecer maluco agora. Mas tenho uma teoria.

SCULLY: - Fale.

MULDER: - E se eu fosse filho dos dois?

SCULLY: - Como assim?

MULDER: - É possível você ter dois pais diferentes?

SCULLY: - Mulder, isso é praticamente impossível. Não há como fecundar um óvulo com dois espermatozoides diferentes e gerar apenas uma criança.

MULDER: - E se não fosse uma criança, Scully? Mas duas?

SCULLY: - ...

MULDER: - Agora você ficou preocupada. Confessa.

SCULLY: - Sim, duas podem. Mas uma só não pode ter dois pais.

MULDER: - E se por acaso misturassem genes diferentes e criassem uma só célula germinadora?

SCULLY: - Isso seria clonagem, mas só é feita a partir do óvulo.

MULDER: - Scully, ou tenho um irmão gêmeo por aí, ou tenho dois pais genéticos. Se eu tivesse um gêmeo, com certeza não estariam tão desesperados por meus genes. Resta então a última hipótese.

SCULLY: - Mulder, eles teriam de fazer uma só célula masculina germinativa com dois genes diferentes. Mas isso ainda é desconhecido!

MULDER: - E por isso não existe? Eles têm o mapa do genoma desde a segunda guerra, Scully.

SCULLY: - E se Bill Mulder fosse irmão do Fumacinha?

MULDER: - Não pensei nessa teoria... Teríamos então os mesmos genes.

SCULLY: - Exatamente. Mas não teríamos como explicar essa diferença de etnias. Só se seus pais descendessem de mães diferentes.

MULDER: - Então é possível que Spender e Mulder não soubessem realmente quem era meu pai?

SCULLY: - Saberiam, Mulder. Porque mesmo que eles tenham genes iguais misturados aos de sua mãe, haveria uma diferença genética por parte de sua avó. Eles precisariam ser filhos de mães diferentes, entende?

MULDER: - Ah, nem quero entender! Isso me dá dor de cabeça. Deixa pra lá, você conseguiu amostras de sangue do desgraçado do Fumacinha durante a cirurgia que fez nele. Vai ter tempo de sobra pra descobrir a cadeia genética dele e analisá-la com a de Bill Mulder.

SCULLY: - (SORRI) Sua teoria, Mulder, embora a menos provável é o que, racionalmente seria a mais certa: a criação de uma célula masculina germinativa com os genes dos dois. Não se tem notícias disso, mas vindo dessa gente, eu não duvido mais de nada.

MULDER: - Bom, pelo menos eu vou poder dizer pro meu filho: você só tem um pai... Exceto se sua mãe andou por aí pulando a cerca.

Scully fica de joelhos sobre a cama e acerta o travesseiro nele.

MULDER: - Au!

SCULLY: - (RINDO) Pois você vai ver, Mulder! Seu filho deve ter um narigão enorme como o seu só pra te jogar na cara!

MULDER: - (RI)

SCULLY: - ...

MULDER: - ... Eu ainda quero uma Scullyzinha...

SCULLY: - (RINDO) Para!

MULDER: - (PIDÃO) Ah, eu quero... Quero uma Scullyzinha...

SCULLY: - Você não diz que eu sou chata, ainda quer outra?

MULDER: - Eu quero! Quero sim!

SCULLY: - (RINDO) ... Quem sabe, talvez tenha sorte.

Ele a beija.

SCULLY: - Hum, mais alguma novidade?

MULDER: - Não. E você?

SCULLY: - Pausa pra um chá antes que eu conte as minhas?

MULDER: - Perfeitamente.


BLOCO 3:

4:36 P.M.

Os dois tomam chá, sentados na cama. Scully abre sua bolsa. Retira um envelope.

SCULLY: - Bem... Você comprou a casa. Não sei como vamos pagar aquilo, Mulder.

MULDER: - Eu só estou preocupado como vamos colocar móveis naquilo.

SCULLY: - Não brigue comigo.

MULDER: - O que você fez?

SCULLY: - Vendi meu apartamento, Mulder. Não precisamos dele.

Mulder suspira.

SCULLY: - E vendi meus carros.

MULDER: - (FRUSTRADO) Você vendeu aquele Porsche???

SCULLY: - Vendi. Mulder, não precisamos de um Porsche. Nós precisamos de móveis! Comprei móveis com esse dinheiro e ainda sobrou pra garantir algumas prestações que temos. Mulder, quando nosso filho chegar, precisamos ter em mente que crianças custam um bocado de dinheiro!

MULDER: - Eu não consigo dar nada pra você. Me sinto um péssimo marido tendo que pegar seu dinheiro.

SCULLY: - Deixa de ser machista, Mulder! Isso é coisa antiquada, de nossos pais, não da gente. Se vamos viver juntos temos que dividir tudo. Isso inclui o dinheiro.

MULDER: - Impressão minha ou este é o nosso primeiro orçamento familiar?

SCULLY: - (SORRI)

MULDER: - Você vai precisar de um carro.

SCULLY: - Tudo bem, eu sei. Mas você também não tem.

MULDER: - Eu me viro com os do FBI.

SCULLY: - Não. Chega. Já devia ter comprado um carro.

MULDER: - (INCONSOLÁVEL) Você vendeu aquele Porsche... Eu não acredito! Um Porsche!

SCULLY: - (RINDO) Tá bom, Mulder, eu confesso. Não vendi o Porsche.

MULDER: - Ufa!

SCULLY: - Não tive coragem, foi um presente. Então você fica com ele. Eu preciso de um carro mais família.

MULDER: - (RINDO) O que tem em mente?

SCULLY: - Uma camioneta... Onde caiba cachorro, crianças e compras.

Mulder olha pra ela. Pega a caneca de Scully e a sua e as coloca no chão.

MULDER: - Scully, tenho uma ideia muito legal pra fazer durante essa semana. Vamos pra nossa casa.

SCULLY: - (ABRE UM SORRISO) Sério?

Mulder se ajoelha na cama. Acerta o travesseiro nela.

MULDER: - (RINDO) Por que duvida de mim? Por que nunca acredita nas minhas loucuras, sua cética?

Scully fica de joelhos na cama também. Acerta o travesseiro nele.

SCULLY: - (RINDO) Por que você é louco, Mulder!

Os dois ficam brigando com os travesseiros aos risos feito crianças. Mulder puxa o travesseiro dela.

MULDER: - Solta!

SCULLY: - Não!

MULDER: - Solta...

SCULLY: - Larga, seu bruto!

Ele consegue puxar o travesseiro dela. Ajeita os travesseiros na cama. Ela o observa com olhos curiosos. Mulder levanta-se. Abre uma das sacolas de compras.

MULDER: - Agora posso falar porque comprei esses CDs. E fazer um comentário.

SCULLY: - Que comentário?

MULDER: - Impressionante como músicas que tem a palavra lady combinam com você. Cheguei a catar todas que eu podia me lembrar.

SCULLY: - (SORRI) Adoro quando você faz isso, sabia?

Mulder coloca o CD.

[Som: Kenny Rogers – Lady]

Mulder senta-se na cama. Scully puxa o edredom sobre eles. Mulder envolve o braço nela e a puxa pra perto de si. Com a outra mão, segura a mão dela.

MULDER: - Lady, I'm your knight in shining armor and I love you.You have made me what I am and... I am yours. (Dama, eu sou seu cavaleiro lustrando a armadura e eu a amo.Você me fez o que eu sou e... Eu sou seu).

Ela sorri. Faz carinhos com seu dedo na mão dele. Mulder beija-lhe a testa.

MULDER: - My love, there's so many ways I want to say 'I love you'.Let me hold you in my arms for... ever more. (Meu amor, há tantas maneiras e eu quero dizer 'eu te amo'.Deixe-me abraçar você em meus braços para sempre mais).

Mulder a abraça. Ela fecha os olhos. Ele passa as mãos pelos cabelos dela, admirando-a com ternura. Os dois sorriem.

MULDER: - Lady, for so many years I thought I'd never find you.You have come into my life and made me whole.Forever let me wake to see you each and every morning.Let me hear you whisper softly in my ear. (Dama, durante tantos anos eu pensei que nunca a encontraria.Você entrou em minha vida e me fez inteiro.Sempre me deixe despertar para ver você a cada e todas as manhãs.Me deixe ouvir você sussurrar suavemente em minha orelha).

Scully sorri. Levanta-se. Mulder a acompanha com os olhos, num sorriso. Ela senta-se do outro lado da cama. Ele vira o rosto pra ela e abaixa a cabeça, sorrindo. Scully aproxima seus lábios da orelha dele.

SCULLY: - (SORRI/ SUSSURRA) Quero ficar bem pertinho de você... A cada segundo... Sentindo esse cheirinho gostoso de Mulder...

MULDER: - (SORRI) ... Prefiro seu cheiro de canela.

Os dois olham-se sérios. Scully aproxima seus lábios semiabertos, colocando a língua na boca de Mulder, beijando-o com desejo. Eles devoram os lábios um do outro. Um beijo demorado. Afastam-se, olhos nos olhos. Mulder toma a mão de Scully e a beija suavemente, num gesto de paixão e respeito. Coloca a mão dela contra seu peito. Fecha os olhos. Scully olha pra ele com os olhos brilhando. Levanta-se e pega o balde de champanhe, servindo um copo.

SCULLY: - Que tal um brinde, meu cavalheiro? Não ainda à vitória, porque apenas começou a luta. E eu nem quero pensar nela, porque tenho medo de que o cavaleiro negro mate você nessa cruzada.

MULDER: - Minha lady, estou bem armado. Com o exército mais numeroso e poderoso atrás de mim. Se hoje eu tenho fé, foi porque você tomou a minha mão e me levou até seu templo.

SCULLY: - Oh, Mulder...

MULDER: - Queria que agora você tivesse fé.

Scully larga o copo e vai até a cama. Senta-se entre as pernas dele, de costas pra ele. Mulder a envolve pela cintura. Apoia seu queixo no ombro dela. Scully fecha os olhos.

SCULLY: - Eu te amo, Mulder.

MULDER: - Sério?

SCULLY: - Claro que sim. Eu direi isso mais vezes, prometo.

MULDER: - (SORRI) Mentira! Isso não é algo racional.

SCULLY: - (SORRI) Hum... Infelizmente a ciência não tem explicação para o que é o amor.

MULDER: - E por isso ele não existe?

SCULLY: - (SORRI) Então como explica o que sentimos?

MULDER: - Não explico. Apenas sinto. Me deixo levar.

Mulder começa a fazer massagem nos ombros dela.

SCULLY: - Hum... Isso é bom... São bons esses momentos sozinhos, longe de todos, de vida comum e normal...

MULDER: - (RINDO) Imagina a cara do Carter se soubéssemos onde estamos e o que estamos fazendo?

SCULLY: - (RINDO) Mulder, como você conseguiu enganá-lo? Meu Deus, eu ainda não acredito que ele caiu na história do homem macaco!

MULDER: - (RINDO) ...

SCULLY: - Skinner é outro cara dura! Ele não questionou você?

MULDER: - Eu disse pra ele que queria ficar sozinho com você. Não disse pra quê.

Scully fecha os olhos.

MULDER: - Você está tensa...

SCULLY: - Estou... Há um tempinho que não ganho uma massagem assim...

MULDER: - Relaxa... Solta os ombros... Respira fundo.

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - O que é?

SCULLY: - (SORRI) Já sei como isso termina... Mágico...

MULDER: - (SORRI) ...

SCULLY: - E confesso que tô carente. Quero me deixar envolver por você...

[Fade in]


[Fade out]

Os dois nus. Mulder sentado sobre a cama. Scully sentada sobre ele. Abraçados um ao outro, enquanto fazem amor suavemente.


Domingo

Virgínia – Local Ignorado – 8:11 A.M.

[Som: David Bowie – Absolute Beginners]

Mulder e Scully descem do táxi. Mulder carregando as sacolas e a valise. Param na calçada. Olham para a casa. Ficam em silêncio, olhando tudo, com medo nos olhos.

MULDER: - (TENSO) Eu confesso: tô assustado. Scully eu sonhei que estávamos nos casando, eu estou completamente apavorado, isso tudo é novo pra gente e eu não quero decepcionar você e eu não sei se eu sou domesticável, se eu sei brincar direito de casinha e...

SCULLY: - Eu ajudo você a se acostumar. Também estou nervosa...

MULDER: - ... Somos totais principiantes. Acha que precisa de pintura por fora? Quer mudar o amarelo?

SCULLY: - Não. Precisa apenas de mais flores no jardim.

Scully respira fundo, fechando os olhos. Mulder olha pra ela num sorriso, a admirando. Ela parece envolta em magia.

SCULLY: - Me diz que isso é nosso, Mulder. Que não é um sonho... Que é a nossa casa... O nosso ninho... Só nosso... Que vamos viver juntos, como um casal de verdade... Me diz que meu sonho de ser feliz se realizou...

MULDER: - (SORRI) Acorda Scully. 'O sonho não acabou'.

Scully abre os olhos. Inclina a cabeça para trás e olha pra ele num sorriso. Os dois caminham em direção a casa. Mulder coloca as sacolas no chão. Retira as chaves do bolso. Abre a porta.

MULDER: - Quero fazer uma coisa. Um ritual de boa sorte.

SCULLY: - Não vai pendurar uma ferradura na porta de entrada, não é?

Mulder a toma nos braços. Scully começa a rir. Ele entra com ela, chutando a porta. A coloca no chão. Os dois ficam admirando a sala vazia. Latas de tinta e papéis de parede amontoados num canto. Eles olham um pro outro rindo.

MULDER: - É... Acho que temos muito trabalho por aqui.

SCULLY: - Por onde começamos?

Mulder envolve o braço na cintura dela. Ela se abraça nele.

MULDER: - Nossa casa... Nem dá pra acreditar!

SCULLY: - Eu estou tão feliz que queria gritar.

MULDER: - Puxa vida, Scully, nem nos mudamos e já quer assustar os vizinhos?

SCULLY: - (RI) Vamos trocar de roupa, Mulder. Temos trabalho a fazer. Que tal começar por aqui?

Mulder caminha até a janela e afasta a cortina. Olha para fora. Scully anda de um lado pra outro.

SCULLY: - Meu Deus! Quero só ver depois do resultado final... Tenho que comprar cortinas, tapetes... Hum, tenho um tapete legal que combina com essa sala.

MULDER: - Não sei de nada, você que cuide disso. Decoração não é meu departamento.


9:34 A.M.

[Som: David Bowie – Absolute Beginners]

Close do aparelho portátil de CD sobre a lareira.

O foco desce para o chão, cheio de jornais e respingos de tinta.

Mulder de moletom e jeans, boné com a aba pra trás, todo borrado de tinta. Pinta a parede da sala com um rolo, dançando no embalo da música. Scully ajoelhada no chão, mede a parede. Está vestida de blusinha, um macacão folgado e tênis.

SCULLY: - Hum, acho que vai dar...

MULDER: - O que vai dar?

SCULLY: - O tapete.

MULDER: - Escuta, por que você não pega aquele pincel e continua me ajudando com os cantinhos? Hum? Realmente eu odeio pintar os cantinhos!

Ela levanta-se com um sorriso maldoso nos lábios. Passa por ele e o agarra por trás.

SCULLY: - Você está tão bonitinho de pintor, Mulder... Da próxima vez, me lembre disso. E de repetir a coisa do mecânico.

MULDER: - Onde está colocando essas mãos, senhora Mulder?

SCULLY: - Hum, estou procurando um pincel...

MULDER: - (DEBOCHADO) Se dissesse uma brocha ia estar encrencada.

Scully beija as costas dele e se afasta. Pega um pincel.

SCULLY: - Essa cor está linda. Vai combinar com os estofados que eu vi. Imagina depois de tudo pronto? Quero que a próxima reunião da família seja aqui.

MULDER: - Tudo bem, eu tenho aquele paiol lá no fundo do quintal pra me esconder... Acho que vou trazer meu sofá pra colocá-lo por lá...

SCULLY: - (RINDO) Bobo!

Mulder larga o rolo de pintura. Põe as mãos na cintura. Olha pra parede.

MULDER: - Ficou legal?

SCULLY: - Ficou.

MULDER: - Sabe que isso é uma terapia antidepressiva? Pintura pode ser algo muito divertido. Mas não conte que eu vou me prestar como uns se prestam por aí a pintar meu bumbum em algum quadro...

SCULLY: - (RINDO) E rolar na tinta?

MULDER: - Com você? Eu rolaria até na lama imitando um porquinho.

SCULLY: - Você já tá virado num porquinho, Mulder...

Scully aproxima-se dele e passa o pincel sujo de tinta no nariz de Mulder.

SCULLY: - Mulder, meu porquinho travesso... Parece um palhacinho.

Mulder pega o pincel da mão dela. Ela tenta fugir, mas ele a segura pelo pulso. Ela vira o rosto.

SCULLY: - (GRITANDO/RINDO) Não! Para Mulder!

Mulder consegue passar o pincel na bochecha dela. Ela se solta dele.

SCULLY: - Mulder, seu atrevido! Me dá esse pincel aqui!

MULDER: - Não senhora.

Scully pega o rolo de tinta. Mulder sai correndo, ficando atrás da escada de pintura. Ela o persegue.

MULDER: - (RINDO) Não!!! Para Scully! Isso é covardia!

SCULLY: - Covardia? Covardia é você se aproveitar de uma baixinha indefesa como eu!

MULDER: - Indefesa??? Você? Hahahahahaha!!!!

Ela continua correndo atrás dele, os dois dando voltas ao redor da escada. Ela tenta pegá-lo, mas ele foge.

SCULLY: - Mulder, vem aqui!

MULDER: - Tá achando que sou bobo é? Parece minha mãe quando dizia: Fox Mulder, venha já aqui que você vai apanhar! Você acha que eu ia?

SCULLY: - (RINDO)

MULDER: - Quem é bobo de ir apanhar???

Scully o agarra pelo moletom, tentando passar o rolo nas costas dele. Ele desvia, bate na escada e derruba o balde de tinta em cima dele. Scully se afasta de costas, pondo as mãos nos lábios, rindo alto. Mulder olha pra ela, com a tinta escorrendo pelo boné. Tira o boné e o sacode. Ela ri. Ele olha pra ela debochado.

MULDER: - Ri. Pode rir.

Mulder tira a tinta dos olhos. Scully ri sem parar. Ele olha debochado pra ela, limpando a tinta dos lábios com o braço.

MULDER: - Você se considera minha mulher?

SCULLY: - (RINDO) Por quê?

MULDER: - Só responde.

SCULLY: - Claro que sim.

MULDER: - Ótimo! Pois quero ver você lavar a minha roupa.

Scully sai atrás dele com o rolo, acertando sua cabeça.

MULDER: - Au!

SCULLY: - (RINDO) Atrevido! Tá me chamando de doméstica é?

MULDER: - (DEBOCHADO) Mucama!

Scully acerta o rolo em Mulder novamente.

MULDER: - (RINDO) Au! Para de bagunça, Scully! Você tá sujando tudo!

SCULLY: - (RINDO) Você não é meu marido?

MULDER: - Claro que sou!

SCULLY: - Então você vai pintar tudo! Isso é serviço de homem!

MULDER: - Eu??? Eu inventei de pintar isso? Devia me ajudar, sabia?

SCULLY: - Ajudar?

Mulder olha atrevido pra ela.

MULDER: - Pelo menos podia pegar no pincel.

SCULLY: - Seu tarado, sem vergonha!

Scully sai atrás dele pela sala. Mulder foge rindo alto.

MULDER: - Para sua louca!

SCULLY: - Seu cachorro!

MULDER: - Só quero te ensinar a mergulhar o pincel...

SCULLY: - (RINDO) Mulder, seu atrevido desbocado!

MULDER: - Você é que tem a mente suja!

Ela o puxa pelo moletom, passando o rolo sujo de tinta no rosto de Mulder. Mulder revira os cabelos dela.

SCULLY: - Para! Não, deixa meu cabelo em paz! Mulder!

MULDER: - Me solta!

SCULLY: - Não!

Ele puxa o sutiã dela, soltando. Estala nas costas. Ela grita.

SCULLY: - (RINDO) Cachorro! Isso dói!

MULDER: - Não senti nada!

Batidas na porta. Os dois param. Olham um pro outro, sérios e assustados. Mulder aproxima-se do coldre pendurado na escada da sala e pega a arma. Scully fica nervosa. Os dois se olham tensos. Mulder fica atrás da porta com a arma em punho e sinaliza pra ela abrir. Scully caminha nervosamente até a porta. As mãos dela tremem. Scully abre parcialmente a porta e espia pra fora. Nancy, a senhora magra e sisuda, segura um prato coberto. Abre um sorriso forçado.

NANCY (OFF): - (TENTANDO ESPIAR PRA DENTRO) São os novos vizinhos?

Mulder solta um suspiro e abaixa a arma. Dá um sorriso aliviado.


BLOCO 4:

10:49 A.M.

Mulder e Scully sentados na escada. Ele com os cabelos já lavados e sem tinta no rosto. Ela segura o prato da vizinha e alterna o garfo ora em sua boca, ora na de Mulder.

SCULLY: - Admita, foi engraçado. Sua cara de pânico é engraçada.

MULDER: - O que faz a neurose! Já pensei que fosse um deles atrás de nós...

SCULLY: - Hum, pelo menos temos uma vizinha que cozinha muito bem. Gentil da parte dela nos trazer algo pra comer.

MULDER: - Disse que ela podia fazer isso sempre?

SCULLY: - Hum, adoro torta salgada. Mas Mulder, a mulher olhou pra mim com o rosto sujo de tinta, com os cabelos revirados e deve ter ficado assustada!

MULDER: - Melhor ela ir se acostumando, Scully. Ela nem viu nada!

SCULLY: - (RINDO)

MULDER: - Vai ficar me dando comida na boca? Não me acostuma mal.

SCULLY: - Não vicie. Só estou achando romântico comer no mesmo prato.

MULDER: - Ah você alega isso desde que dormiu comigo pela primeira vez.

Ela o chuta.

MULDER: - Au!

SCULLY: - Para!

MULDER: - (RINDO) ... Bom, a sala ficou legal. Agora tem a sala de jantar.

SCULLY: - Não. Quero colocar um papel de parede lá.

MULDER: - Ok, dona Scully. A senhora é quem manda. O que mais você quer mudar de cor além da sala e de mim?

SCULLY: - Hum... Acho que o nosso quarto precisa de uma cor nova.

MULDER: - Que tal uma cama com espelhos e vibratória?

SCULLY: - (RINDO) Mulder, isso é uma casa de família! Imagina quando nosso filho estiver aqui? O que vou dizer pra ele?

MULDER: - Que ele tem pais tarados um pelo outro.

SCULLY: - (RINDO) ...

MULDER: - E daí? Ou vai querer parar com as "coisinhas" depois que tudo estiver calmo?

SCULLY: - Hum, não... Aliás, Mulder, estou atrasada com as "coisinhas". Depois quero recuperar esse tempo perdido.

MULDER: - Tadinha de você, Scully... Eu estou virado em brasa. Só me aguarde.

SCULLY: - Hum, quando começamos a nos descobrir sem culpa... Tivemos que dar uma pausa...

MULDER: - Espera... Espera que você vai ver que valeu a pena.

SCULLY: - Que tal deixar a sala pra amanhã? Ahn?

MULDER: - Vamos dormir? A essa hora?

SCULLY: - (MANHOSA) Tô cansadinha... Você não me deixou dormir essa noite... Ficou me molestando...

MULDER: - Eu??? Eu que te molestei??? Você ficou a noite toda me acordando! (IMITA A VOZ DELA SUSSURRANDO) Mulder? Oh, Mulder... Mulder... Hum, Mulder...

SCULLY: - (RINDO) Ai, mas eu tava com desejo.

MULDER: - (RINDO) Mas nem televisão tem aqui.

SCULLY: - Pra que televisão, Mulder? Você não é nada criativo mesmo. E quem falou em dormir?

MULDER: - Eu vou te mostrar quem não é criativo por aqui.

SCULLY: - (RINDO)

MULDER: - Ah, vamos brincar de pintar mais um pouquinho, vamos? Vai tia, deixa!!!

SCULLY: - Só se você pintar o quarto.

MULDER: - E o que acha que eu ia fazer? Hein? Depois diz que eu não sou criativo... Eu só quero fazer você segurar no pincel e trepar na escada a tarde toda.

SCULLY: - (RINDO) Seu monstro nojento! Mulder como você é tarado! Vulgar!

Mulder se aproxima dela. Cheira seu pescoço.

MULDER: - Eu gosto de ser tarado.

SCULLY: - (RINDO) Para!

Ele vai deitando ela nas escadas.

SCULLY: - Mulder! Temos serviço pra fazer. E temos os móveis pra resolver!

MULDER: - ...

SCULLY: - Ai, o que você tá fazendo?

Mulder vai beijando-a.

SCULLY: - (RINDO) Sai seu monstro, eu vou virar o prato na escada! E você tá me sujando de tinta!

MULDER: - Eu quero te sujar com outra coisa...

Ela deixa o prato cair nos degraus da escada e o agarra como louca, tentando despi-lo.


3:45 P.M.

Um quarto vazio. Apenas um colchão de casal no chão, lençóis dobrados, um edredom, dois travesseiros. Uma pilha de caixas. Mulder observa a parede pintada. Passa a mão na testa, retirando o suor. Scully entra no quarto, trazendo uma bandeja com um copo e uma jarra de vidro. Coloca sobre uma caixa. Serve o copo. Entrega pra Mulder.

SCULLY: - Limonada geladinha?

MULDER: - (SORRI CANSADO) Ah, eu te amo!

Mulder pega o copo e começa a beber. Scully olha pra ele, tirando-lhe o suor da testa com seus dedos.

SCULLY: - Admita Mulder. Você gosta de brincar de casinha.

MULDER: - Admito Scully. Eu gosto. É divertido.

SCULLY: - (SORRI) Ficou lindo... Até que você é rápido nisso, sabia?

MULDER: - Vou virar pintor quando deixar o FBI... Ainda tem mais duas paredes... E o quarto do nosso filho? Já decidiu afinal?

SCULLY: - Acho que amarelo. É uma cor linda. Tenho um catálogo com faixas decorativas... Bom, mas deixa pra depois. Primeiro a pintura.

MULDER: - Você comprou a tinta?

SCULLY: - Sim, está na garagem.

Mulder coloca o copo na bandeja.

MULDER: - Está faltando algo nessa parede.

SCULLY: - Quadros. Mas vamos ter que esperar. Tenho quadros bonitos.

MULDER: - Scully, você está com a chave do depósito?

SCULLY: - Estou.

MULDER: - Não começa a tirar muita coisa do seu apartamento ou vai chamar atenção desnecessária.

SCULLY: - Só tirei coisas que não iriam notar. E levei pro depósito.

MULDER: - Semana que vem vou mandar você incinerar meus livros em voz alta. Você os pega e traz pra cá. Assim vamos ter menos coisas pra carregar depois.

Mulder olha pra um quadro no chão, encostado na parede, entre as caixas.

MULDER: - Scully, o que é aquilo? Um quadro?

SCULLY: - O presente da Yoko.

Mulder sorri maquiavélico. Scully arregala os olhos.

SCULLY: - (RINDO) Mulder, não! Não vai colocar isso na parede!

MULDER: - Por que não?

SCULLY: - Mulder estamos deitados numa cama e completamente nus nessa foto!

MULDER: - E daí? Nu artístico.

SCULLY: - E se mamãe vê isso?

MULDER: - O que tem?

SCULLY: - (RINDO) Mulder!

MULDER: - Nova York inteira já nos viu assim numa exposição assinada por Yoko Ono.

SCULLY: - Mas não a minha mãe. O que ela vai pensar de nós?

MULDER: - Bem, de mim nada, ela já deve saber quem sou. Agora de você... Ela vai ver que a filhinha pura e inocente dela é uma tarada.

SCULLY: - (RINDO) Mulder!

Mulder pega o quadro e o coloca contra a parede.

MULDER: - Veja se não fica lindo. A cama ficaria aqui.

SCULLY: - Hum... Mulder, essa foto é linda, é um quadro lindo, mas e a mamãe?

MULDER: - Ora, como se mamãe não soubesse o que um homem e uma mulher fazem.

SCULLY: - (RINDO) Mulder!

MULDER: - Se ela não soubesse você não estaria aqui. Scully não menospreze a Meg... Quem puxa aos seus não deve a estranhos... Aposto que Meg não vai ficar apavorada.... Aliás, lembrei de um versinho sacana... Minha sogra é uma rosa, meu sogro um jasmim. Os dois brincando na cama, fizeram você pra mim.

SCULLY: - (RINDO) Mas e o nosso filho?

MULDER: - Ele só vai ter a certeza de que os pais dele se amam loucamente. Ou você vai criar o moleque dentro de normas morais rígidas? Vai dizer pra ele que um casal nu numa foto romântica dessas é pornografia pesada? Ou vai dizer que nu é pecado? Quem vai rir será eu se você fizer isso.

SCULLY: - ... Ok, você me convenceu.

Scully ri. Ele a envolve pela cintura.

MULDER: - Que tal uma pizza? Ahn?

SCULLY: - Hum... Topo.

MULDER: - Já temos telefone nessa casa?

SCULLY: - Sim.

MULDER: - Ótimo. Você pede a pizza. Eu vou pendurar o quadro.

SCULLY: - Podemos parar hoje não acha?

MULDER: - Sim. Amanhã pintamos o quarto do moleque.

SCULLY: - (RINDO) Não acredito! Eu ainda não acredito que fizemos essa loucura!

MULDER: - Hora da gente ser feliz. Ou acha que vou carregar essa aliança na mão pra enfeite? Eu te prometi, não te prometi? Estou cumprindo aos poucos.

Os dois trocam um beijo.

SCULLY: - Eu estou muito, mas muito feliz! Eu nunca fui tão feliz na minha vida.

Scully pega a bandeja. Caminha até a porta. Vira-se pra Mulder.

SCULLY: - Eu não acredito em muitas coisas. Mas em você eu acredito.

Mulder sorri. Scully sai do quarto.


4:32 P.M.

Close da frente da casa. O foco desvia para o jardim. Scully molha a grama. Olhar de contemplação. Mulder aproxima-se com uma fatia de pizza na mão.

MULDER: - Ei, ei, ei, ei! O que pensa que está fazendo?

SCULLY: - Molhando a grama... Hum, trocou sua roupa de pintor?

Mulder tira a mangueira da mão dela. Coloca a fatia de pizza na boca de Scully.

MULDER: - Coma. É isso que deveria estar fazendo. Quero você bem gorda.

SCULLY: - (RINDO) Hum... Está gostosa...

Mulder começa a molhar a grama.

MULDER: - (DEBOCHADO) Coisa feia... Uma senhora, mãe de família pegando numa mangueira desse tamanho na frente da casa...

SCULLY: - (RINDO) ...

Scully põe a mão no quadril, comendo a pizza. Olha para o jardim.

SCULLY: - Estava pensando...

MULDER: - No quê?

SCULLY: - Que flores eu poderia colocar aqui?

MULDER: - Adoro jasmins.

SCULLY: - Hum, também gosto do perfume...

MULDER: - Camélias...

SCULLY: - Hum, não sei. Só tem uma flor que me vem à mente.

MULDER: - Qual?

Scully termina a pizza. Lambe os dedos.

SCULLY: - Amor-perfeito.

Mulder sorri.

SCULLY: - É, Mulder. Vou encher isto aqui de amor-perfeito. (SORRI) Aliás, tudo aqui tem amor perfeito.

Mulder envolve o braço na cintura de Scully, inclinando-se sobre ela. Scully inclina-se pra trás, envolvendo a mão nele e o beijando no rosto.

MULDER: - Eu amo você... Fico feliz com esse festival de sorrisos que você tem me presenteado.

SCULLY: - Hum, Mulder... Só espera até você resolver entrar com os pés sujos na sala. Aí não vai mais me dizer isso.

MULDER: - (SORRI) Me dá um beijo?

Os dois trocam um beijo. Mulder deixa a mangueira cair. A mangueira molha os dois, mas eles ficam agarrados, trocando um beijo de língua.

Corta para a casa ao lado.


Nancy espia os dois pela janela, mal humorada, de bobs nos cabelos. Fecha as cortinas.

NANCY: - Pouca vergonha, George! Isso é um absurdo! Como presidente do conselho de moralidade do bairro, vou tomar providências imediatas!

O homem calvo, de uns 50 anos, aproxima-se da janela, calmamente, segurando uma revista.

GEORGE: - O que foi?

NANCY: - Esses vizinhos novos, os Watkins! Isso é uma indecência! São dois imorais! Acredita que ela abriu a porta pra mim, com os cabelos revirados e sujos de tinta? Sabe Deus, Nosso Senhor, as orgias que fazem naquela casa! Indecentes!

GEORGE: - Puxa vida, mas até o nome deles você já sabe? Bem que eu devia ter cancelado a compra da parabólica. Já tenho uma em casa!

NANCY: - O nome dela é Mary. O dele não sei. Não estava ali quando levei a torta... Sei não, George, mas eu acho que ele deve ser casado. Ela tem cara de amante... Ah e eu nunca me engano! Nunca! Você se lembra dos Carlson...

GEORGE: - (SUSPIRA) Nancy...

NANCY: - Não me admiro que daqui algum tempo andem nus pelo jardim! Aposto que são mais pervertidos e indecentes que aquele arquiteto que morava aí.

GEORGE: - Deixa o casal em paz, Nancy. Devem ser recém-casados!

NANCY: - Como sabe disso?

GEORGE: - Basta olhar pra eles e pra nós e verá a diferença de 30 anos de casamento! ... Que inveja!

Nancy olha pra ele emburrada e vai pra cozinha. George olha pela janela.

GEORGE: - (COÇA A CARECA) Realmente... Que inveja! Se eu tivesse me casado com uma ruiva assim... Mas não, eu tinha que tomar um porre e dizer 'sim, padre, aceito'... Me casei com o noticiário do bairro...


8:14 P.M.

Scully caminha na sala, de um lado pra outro, entre os móveis. Passa a mão pelo sofá, num sorriso. Ajeita a alça do macacão que lhe cai pelo ombro. Mulder entra, fechando a porta.

SCULLY: - Estava pensando: Eu poderia ter assinado o contrato com a imobiliária...

MULDER: - (DEBOCHADO) Não. Scully, fique longe de contratos. Você, um contrato e uma caneta na mão significam perigo pra todo mundo...

Ela olha debochada pra ele.

MULDER: - Bem, pelo menos um terço das coisas chegaram. Quase que assino a nota de entrega como Fox Mulder...

Scully abre os braços, de olhos fechados. Sorri. Mulder escora-se na parede. Admira Scully com os olhos.

MULDER: - (IMPRESSIONADO) Meu Deus... Eu nunca vi tanta felicidade estampada nesse rostinho. Se eu soubesse disso antes, eu teria feito há muito tempo o que só fiz agora.

Ela desce os braços, abrindo os olhos. Sorri. Mulder a contempla.

SCULLY: - (FELIZ) Quero desembrulhar isso tudo hoje.

MULDER: - ... (OLHA PRA ELA ARREPENDIDO)

SCULLY: - Quero essa casa em ordem! Estou empolgada, Mulder! É brinquedo novo pra mim.

Scully coloca as mãos na cintura. Mulder caminha até a lareira e liga o aparelho de CD. Aproxima-se de Scully.

[Som: Joe Esposito – Lady, lady, lady]

Mulder a toma pela mão. Scully sorri. Os dois se abraçam. Começam a dançar juntinhos, suavemente, ao embalo da música. Scully recosta a cabeça no peito dele, fechando os olhos, num sorriso de felicidade. Mulder apoia o queixo no ombro dela. Rostos e corpos colados, embalando-se. Mulder apoia o queixo na cabeça dela. Começa a derrubar lágrimas. Ela fecha os olhos, aconchegando-se mais nele.

SCULLY: - (SUSSURRA) Eu te amo.

Mulder morde os lábios segurando o choro.

Scully ergue a cabeça. Percebe que Mulder está chorando. Ela toma o rosto dele em suas mãos. Mulder olha pra ela, tentando conter o choro. Scully começa a encher os olhos de lágrimas.

SCULLY: - Por que está chorando?

MULDER: - (DERRUBA LÁGRIMAS) Por que eu não acredito que eu tenho você.

SCULLY: - (DERRUBA LÁGRIMAS) Não chora...

MULDER: - (DERRUBA LÁGRIMAS) Mas você também está chorando.

SCULLY: - (DERRUBA LÁGRIMAS) Por que eu também não acredito que eu tenho você.

Mulder sorri entre lágrimas.

MULDER: - Isso dói.

Ela afirma com a cabeça, enquanto uma lágrima corre por sua face.

MULDER: - (DERRUBA LÁGRIMAS) Por que dói tanto?

SCULLY: - (DERRUBA LÁGRIMAS) Não sei. Mas dói... Não sabia que se podia chorar de felicidade.

MULDER: - (DERRUBA LÁGRIMAS) Nem eu... Nunca fui feliz antes. Será que isto é o que as pessoas chamam de felicidade?

Os dois se afastam rapidamente. Mulder fica assustado. Scully põe as mãos nos lábios, derrubando lagrimas de incredulidade.

SCULLY: - ... Sentiu a confirmação?

Mulder começa a chorar. Ela o abraça. Mulder chora convulsivamente, abraçado nela. Scully afaga seus cabelos, com carinho. Chora com ele.


9:21 A.M.

[Som: No one like you - Sarah Brightman]

Mulder, apenas com uma calça de pijama, dorme no colchão que está no chão do quarto. Scully entra no quarto, vestida com o casaco do pijama dele, trazendo uma bandeja de café da manhã. Coloca sobre o colchão. Deita-se de lado, apoiando o cotovelo no travesseiro. Observa-o dormir. Lhe sorri, com os olhos já cheios de lágrimas. Scully aninha-se nele. Envolve seu braço no corpo de Mulder. Fecha os olhos num sorriso.


10:07 A.M.

Mulder abre os olhos. Vê Scully deitada ao lado dele, com o cotovelo no travesseiro, apoiando a cabeça na mão, o observando. Mulder dá um sorriso.

MULDER: - Sabe que é feio ficar olhando a pessoa dormir?

SCULLY: - Sabe que você é lindo quando dorme?

MULDER: - Sabe que você é uma mentirosa convincente?

SCULLY: - Sabe que você é um doce de pessoa?

MULDER: - Sabe que posso acreditar nisso?

SCULLY: - Sabe que eu te amo?

Mulder cruza os pés. Olha pra ela. Rapidamente envolve um dos braços nela, a agarrando com força. Ela deixa o braço cair por sobre o colchão, pega de surpresa. Mulder envolve a outra mão nos cabelos dela e a puxa pra um beijo que chega a estalar. Ela segura no braço dele. Mulder olha pra ela.

MULDER: - Ei, café na cama?

SCULLY: - Hum, acho que há muito tempo eu devo isso pra você... Só faltou a rosa. Seus croissant estão aí. Mas acho que o café já está frio. Eu não calculo muito bem essa coisa de horários como você faz comigo. Portanto, permaneço em débito.

MULDER: - (SORRI)

SCULLY: - Meu café da manhã sempre chega quentinho... Agora eu quando faço pra você, termina aí nesse desastre... Eu vou buscar outro e...

MULDER: - Não... Não quero café.

Mulder a puxa, abraçando-a contra seu peito.

MULDER: - Eu quero é ficar assim com você.

Scully se aninha nele. Sorri.

SCULLY: - Hum, isso é gostoso... Gosto disso.

MULDER: - Hoje é segunda, não é?

SCULLY: - Vamos começar bem a semana. Que tal ficarmos aqui na cama até mais tarde?

MULDER: - Scully, eu adoro suas ideias.

Scully sorri. Brinca com o lacinho da calça do pijama dele.

SCULLY: - Gostou do pijama?

Ele percorre os olhos pelo corpo dela, numa fisionomia sacana.

MULDER: - Gostei dele em você...

SCULLY: - Atrevido.

Scully desliza a mão pra dentro da calça do pijama dele.

SCULLY: - Sabe, não consigo acreditar que podemos dormir de janelas abertas! Eu ouvi passarinhos cantando esta manhã e a brisa que entrava pela janela me acordou com um carinho no rosto... Uma sensação de paz. Sentia o calor do seu corpo e ao mesmo tempo aquela brisa fresca...

MULDER: - (SORRI) E...?

SCULLY: - E foi uma sensação tão boa... Uma tranquilidade, uma espécie de realização interior... Eu nem sei explicar... Até coloquei uma música, queimei um incenso... E você dormindo... Dormia tão tranquilo... Mulder, você nem teve pesadelos esta noite!

MULDER: - Sério?

SCULLY: - Sério! Você não teve pesadelos, não acordou assustado... Parecia um bebê dormindo. Foi um sono tranquilo como há tempos você não tinha.

MULDER: - Sabe, Scully, desde que pisamos aqui, senti uma coisa tão boa nessa casa... Aposte que não teria comprado ela se não fosse assim... Até verifiquei o histórico do terreno por via das dúvidas...

SCULLY: - (SORRI) ...

MULDER: - Há amor aqui dentro.

SCULLY: - E assim será Mulder.

MULDER: - Acha que seremos felizes?

SCULLY: - Só depende de nós dois.

MULDER: - E a rotina? E a vida a dois? E o casamento? E aquela coisa chata e monótona, diferente do namoro, da conquista, do novo todo o dia?

SCULLY: - Mulder, casamentos se vão porque as pessoas veem o casamento como conquista realizada e fim de jogo. Mas não, Mulder, o casamento é apenas estar junto de quem a gente ama. A conquista continua. O namoro continua. Esse é o segredo dos casais felizes.

MULDER: - Scully, mas e aquela coisa de 'casaram e viveram felizes para sempre'? Não é uma fábula?

Scully olha pra ele sorrindo. Beija-lhe o peito.

SCULLY: - Mulder, isto é fábula sim. A realidade é 'enamoraram-se e viveram felizes namorando para sempre'.

Os dois trocam um beijo. Scully recosta a cabeça no peito dele e fecha os olhos, enquanto Mulder a envolve nos braços.


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20/06/2001

18 de Agosto de 2019 às 07:28 0 Denunciar Insira Seguir história
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Fim

Conheça o autor

Lara One As fanfics da L. One são escritas em forma de roteiro adaptado, em episódios e dispostas por temporadas, como uma série de verdade. Uma alternativa shipper à mitologia da série de televisão Arquivo X.

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