(NOTES FOR I REMEMBER YOU)
‘I don't believe in many things, but in you… I do.’
(Simple Red)
INTRODUÇÃO AO EPISÓDIO:
[Som: For Your Babies – Simple Red]
Scully, sentada no sofá preto de couro, observando os peixes no aquário. Segura um livro aberto sobre as pernas. Veste uma blusa frente única e saia.
SCULLY (OFF): - ... Eu gostaria tanto de dizer todas as coisas que penso sobre você... Retratar o homem que eu vejo... O justo, o vingador, o bem humorado, o menino... Algumas vezes eu tenho tantas coisas pra lhe dizer, mas acabo me calando. Não sei por que nunca as digo. Talvez eu me sinta como um peixe, nadando de um lado para outro, presa num aquário...
Ela vira-se pra frente. Observa Mulder digitando algo no computador. Ele está com uma calça social preta, camisa preta desabotoada, mangas longas, mostrando seu peito nu. Está concentrado. Nem percebe que ela o observa. Ela o admira. Ele digita mais alguma coisa. Olha pra tela. Fisionomia de seriedade e compenetração.
SCULLY (OFF): - Fico olhando para as suas mãos. Seus dedos, suas unhas... Suas mãos fortes, porém suaves e macias... De toques suaves. Delicados... Braços, articulações, veias, pelos... Sua pele...
Ela sorri.
SCULLY (OFF): - Sério... Sério e compenetrado. Sabe que também fica lindo quando fica assim?
Mulder respira fundo. Recosta-se na cadeira, olhando para o monitor. Parece frustrado.
SCULLY (OFF): - Seus olhos de bandido, puxadinhos... Seu nariz... Lábios grossos e bem delineados. Barba mal feita... Essa pintinha no rosto... Observo você. E cada detalhe em você me deixa mais apaixonada... Com desejo. A franja sobre a testa... O ar de preocupação... Sim, Mulder, eu te admiro com desejo. Eu mesma me excito com você. Não precisa me tocar Mulder. Ficar na minha frente já me desperta desejo... Desde o início foi assim... Desde o primeiro momento... Desde o primeiro toque... (SORRI) E desde que percebi a reciprocidade desse sentimento...
Mulder abre os punhos da camisa. Suspira. Apóia o cotovelo na plataforma do teclado. Apóia o rosto na mão, olhando pra tela. Com a outra mão, batuca os dedos no teclado, nervoso.
SCULLY (OFF): - Procurando seus homenzinhos cinzas... Porque acha que assim, encontrará nosso bebê...
Ele pressente que ela o observa. Vira o rosto e a flagra olhando pra ele. Sorri.
MULDER: - (CURIOSO) O que está fazendo?
SCULLY: - Estou ‘sentada e pensando’.
MULDER: - Não gostou do livro?
SCULLY: - Gostei, é que estou sem vontade de ler. Encontrou o que procura?
MULDER: - Estou tentando. Mas há mais de 4.657 páginas sobre o assunto. Boa sorte pra mim...
Ele volta sua atenção para o monitor.
SCULLY (OFF): - Voz arrastada... Parece que fala com preguiça... (SUSPIRA)... Obstinado... Teimoso... Também sou obstinada e teimosa... Preciso fazê-lo relaxar. Ele não desiste. Percebo que algumas vezes ele fica desanimado. Mas olha pra mim e retira forças. Como se me devesse isso. Mulder sente que me deve algo, que está sempre em débito comigo. No entanto, eu estou em débito com ele. Tentando aos poucos sanar meus erros, minha falta de paciência e minha incompreensão.
Ela levanta-se. Caminha até Mulder. Ele olha pra ela, erguendo a cabeça.
MULDER: - O que foi?
Ela afasta os braços dele da mesa. Senta-se no colo dele, de frente para o micro. Olha pra tela. Coloca sua mão sobre a mão dele que está no mouse.
SCULLY: - Vou ajudar você.
Ele envolve os braços nela. Começa a digitar alguma coisa. Ela aperta outra tecla.
MULDER: - (SORRI) Pára, Scully!
SCULLY: - (SORRINDO) Aqui tem ‘s’... ‘S’ de Scully!
MULDER: - (SORRI) Não têm ‘s’ de Scully. Não fica colocando letras onde não existem. Que mania da ver plural em tudo!
Ela aperta continuamente a tecla, estragando o documento dele.
MULDER: - (RINDO) Scully!
SCULLY: - Ah, depois é só deletar.
MULDER: - (RINDO) Vai ficar me chateando? Não tem mais nada pra fazer?
SCULLY: - Estou te chateando?
MULDER: - Hum... Não.
Mulder aproxima seu nariz da nuca de Scully. Inspira o perfume dela. Ela sorri. Encolhe-se toda, arrepiada.
SCULLY: - (RINDO) Para!
MULDER: - (MURMURA) Não gosta de sentir a minha respiração quente no seu pescoço?
Ela mostra o braço.
SCULLY: - Tá vendo?
MULDER: - (DEBOCHADO) Tá com frio?
SCULLY: - É, vai ver isso é arrepio de frio mesmo, Mulder...
MULDER: - Scully, a minha experiência com você me diz que está querendo algo mais do que simplesmente me ajudar.
SCULLY: - Não. Sou apenas altruísta.
MULDER: - E eu sou filho do Bob Marley.
SCULLY: - (DEBOCHADA) Jura? Semelhança notável!
Ele abaixa a cabeça rindo, encostando a testa nas costas nuas dela. Ela se arrepia de novo.
SCULLY: - Para Mulder! Sou muito sensível! Esta vendo como você me deixa?
MULDER: - (SÉRIO) E está sentindo como você me deixa?
Ela fecha os olhos.
SCULLY (OFF): - Sim, eu sinto. Sinto sua excitação. Você responde rápido a qualquer provocação que eu faça. Parece sempre pronto. Mas espera sempre que eu diga sim... Eu sinto seu nariz percorrer minhas costas, acariciando-me. Suas mãos deslizarem em carícias pelas minhas costas... Hum... Mãos grandes, macias... Seus lábios a percorrerem minha pele, procurando a minha nuca. Seus dentes, seus lábios molhados, sugando meu pescoço com desejo, mordendo-me, molhando-me de saliva... Suas mãos, que agarram meus seios por sobre a blusa. Ergo meu corpo. Levanto a minha saia. Eu sei o que você quer. Eu também quero. Não me canso de querer... Sento-me sobre você, mordendo meus lábios, sentindo-o dentro de mim. Então me segura pela cintura, pedindo num gesto, para que me mova sobre você. Eu me inclino, apoiando-me na mesa e o faço. Você geme. Continua a sugar meu pescoço... Sua respiração quente, segurando-me firmemente pela cintura. Eu deliro. Solto um gemido, movendo-me sutilmente, apoiando minhas mãos por sobre a escrivaninha. Empurro mais o meu corpo contra o seu e você solta outro gemido. Agarra-se aos meus seios, movendo seu corpo contra o meu. Eu grito extasiada. Sinto-o morder meu ombro com desejo. Inclino minha cabeça para trás e te procuro para um beijo. Colamos nossos lábios. Devoramos nossas bocas... Ops! E eu acabo apertando sem querer a tecla ‘esc’...
VINHETA DE ABERTURA: JUST ABOUT YOU...
BLOCO 1:
Scully, sentada em frente ao computador, digitando alguma coisa. Para. Olha pela janela. Desvia o olhar para o sofá. Mulder cochila nu, atirado entre travesseiros e cobertor. Ela sorri. Fecha os olhos.
FLASH BACK:
[Som: For Your Babies – Simple Red]
Na casa da praia de Ellen, Scully está sentada no sofá. Chora calada. Mulder entra na sala.
MULDER: - Tenho uma coisa pra te mostrar.
Ela olha pra ele. Ele empolgado senta-se ao lado dela, segurando uma folha de papel. Abre-a e mostra.
MULDER: - Dá uma olhada nisso.
SCULLY: - (SEGURANDO AS LÁGRIMAS) O que é ‘isso’?
MULDER: - Meus planos. Nossos planos.
SCULLY: - ... (COM MEDO) Mulder...
MULDER: - Tá. Dá uma olhada. Estou ou não estou certo?
Ela pega o papel e lê com atenção.
MULDER: - (PREOCUPADO) Esqueci alguma coisa? Algum detalhe...
SCULLY: - ... Acho que não, Mulder.
MULDER: - Então, o que me diz?
Ela olha pra ele.
SCULLY: - Minha ideia a respeito dessa loucura toda, você já sabe.
MULDER: - (ABAIXA A CABEÇA)... Scully, eu só queria ganhar deles uma vez.
SCULLY: - ...
MULDER: - Mas tudo bem, se você não quer, eu esquecerei isso tudo.
Ela lê o papel.
SCULLY: - (ANGUSTIADA) Mulder não é que eu não queira. Eu quero. Mas tenho medo. Nós estamos arriscando muito alto, não entende? E se eles descobrirem tudo? Já pensou que seu plano pode dar errado? Já pensou nas consequências disso?
MULDER: - Scully, isto não vai dar errado. Eu sinto. Tá na hora da gente ganhar uma, Scully. Temos que derrotar aqueles homens. Temos muita coisa pela frente. O momento é esse. Eles não vão desconfiar de nada. Se esperarmos mais tempo, as suspeitas poderão surgir e...
SCULLY: - ... Tá, Mulder. Eu disse que pensaria, depois disse que aceitava, agora estou indecisa... Me dá mais um tempo. É algo grande demais pra que eu me atire de cabeça.
Ele sorri. Pega a folha das mãos dela. A beija. Vai até a estante e pega a caixa de fósforos ao lado do incensário. Coloca fogo no papel. Joga-o no cinzeiro.
MULDER: - Todo o cuidado é pouco. Sem pistas.
Scully olha pra ele preocupada. Ele olha pra ela ternamente. Percebe sua preocupação.
SCULLY: - ... Mulder, eu sei que você reluta, mas... Faça os exames que pedi.
MULDER: - Eu tô bem, Scully. Nunca me senti melhor. Acha que vou deixá-los vencerem? Não, de jeito nenhum. Agora é guerra!
SCULLY: - ...
MULDER: - O que pode acontecer de pior?
SCULLY: - ... Você morrer.
MULDER: - Não vou morrer Scully.
SCULLY: - Mas e se morrer?
MULDER: - Pelo menos você vai rir deles. Vai gargalhar alto de felicidade.
SCULLY: - Eu não me importo com mais nada. Eu não quero rir deles. Eu quero você vivo. Só quero ter você. Mulder, não vê que estou preocupada? Tenho medo de que esteja passando pelo que passei. As desconfianças me assombram. E você não quer confirma-las ou nega-las. Simplesmente age como se nada estivesse acontecendo.
MULDER: - Preocupada com o que não existe. Tá. Mude de assunto.
TEMPO PRESENTE:
Scully sentada na sala. Relembrando.
SCULLY (OFF): - Me calei e mudei de assunto. Embora minha cabeça estivesse prestes a explodir e meu coração acelerasse. (OLHA PRA ELE) ... Você finge que não sabe o quanto me dói vê-lo sofrer. Desde que o pesadelo começou, com um filho que eu não estava preparada para ter, num momento errado, numa espécie de quebra do destino, eu tenho tido dias desgastantes e vivendo uma eterna agonia. Tento cuidar de você como posso. Acho que fiz certo ao ouvir meu coração pedindo pra viver do teu lado. Você precisa de mim como nunca precisou antes. Mas você é um homem teimoso. Resiste tirando forças de onde nem eu sei se poderia tirar. Pensamentos assombrosos passam por minha cabeça: até quando o terei aqui, vivo, ao meu lado, Mulder?
Scully suspira.
SCULLY (OFF): - Algumas vezes ainda me pego acordando com você se revirando na cama... Murmurando coisas que não entendo e eu fico acordada por um bom tempo, esperando que seu pânico noturno termine. Finjo que não vejo as coisas que acontecem. Olho pra você agora e sinto que age como se nada estivesse acontecendo apenas para me poupar.
Scully sai de suas lembranças subitamente, sentindo a mão de Mulder tocar seu ombro.
MULDER: - Ei, onde estava?
SCULLY: - Longe... Bem longe...
MULDER: - (SORRI) Estou fazendo um café. Interessada?
SCULLY: - Hum... Estou.
Eles trocam um beijo. Mulder volta pra cozinha.
MULDER: - Não dormiu ainda?
SCULLY: - Dormi, mas perdi o sono.
Ele volta pra sala.
MULDER: - (DEBOCHADO) Acho que estou grávido Scully.
SCULLY: - (DEBOCHADA) Como eu consegui essa proeza?
MULDER: - (RINDO) Ah, Scully, você não se lembra? Eu ainda tô sentindo o teu perfume na minha nuca e você já se esqueceu daquela noite?
SCULLY: - (RINDO)... Problema seu. Não vou assumir nada.
MULDER: - (SORRI) Tá, é sério. Eu tô com desejo de comer croassaints. Me dá uns 10 minutinhos pra ir buscar?
SCULLY: - Só se me trouxer uma bomba de chocolate.
MULDER: - Tá, eu trago.
Ele pega a carteira e sai. Ela suspira. Começa a divagar. Olha pra porta da cozinha.
FLASH BACK:
[Sem áudio da voz das personagens]
[Som: For Your Babies – Simple Red]
Mulder, deitado na cama. Ela deitada de frente pra ele. Mulder faz sinal de que pode ter escutas no apartamento. Ela afirma que entende. Mulder rabisca algo num papel. Ela observa.
Close do papel onde se lê as palavras: apartamentos, Arquivos X, sala do Skinner, carro. Ela o escuta atentamente. Fala alguma coisa. Ele responde. Ela ergue as sobrancelhas olhando para o papel. Ele continua falando. Ela olha pra ele, aflita. Responde alguma coisa. Ele presta atenção. Ela continua falando. Senta-se na cama, imitando o Canceroso fumando. Mulder acena negativamente com a cabeça. Ela fala outra coisa. Ele afirma. Rabisca algo no papel. Ela pergunta algo. Ele continua rabiscando e respondendo pra ela. Larga a caneta. Senta-se na cama. Os dois de frente um para o outro. Olham-se nos olhos. Ele segura as mãos dela nas suas. Fala alguma coisa. Ela fica tensa. Abaixa a cabeça. Ele fala. Ela escuta. Ele ergue o queixo dela delicadamente. Fala. Ela respira fundo. Olha nos olhos dele. Fala alguma coisa. Ele sorri. Ela retribui o sorriso. Ele segura as mãos dela com força, as sacudindo. Ela sorri. Ele confirma algo com a cabeça. Ela também. Os dois começam a rir. Ela se abraça nele. Ele fecha os olhos, afagando seus cabelos.
BLOCO 2:
TEMPO PRESENTE:
Scully recosta-se no sofá. Mulder entra. Ela percebe e liga a TV.
MULDER: - Trouxe sua bomba de chocolate.
Ela sorri. Ele vai pra cozinha.
SCULLY (OFF): - Tento distraí-lo pra não perceber no que estou pensando. Olho pra TV como se visse alguma imagem, mas eu não vejo nada. Cada amanhecer tem sido um presságio de medo. É horrível ir dormir sem saber se vou acordar com você do meu lado. Fico rezando todas as noites, pedindo para que Deus o proteja, para que eles não o levem de novo. E para que nada do que estou pressentindo seja verdade... Eu não posso contar nada a ninguém, você não quer. Nem mesmo nossos amigos sabem disso. Encontrei Byers no mesmo consultório do dentista que frequentamos. A vontade que tinha era de dizer a ele: Byers, estamos aqui porque Mulder vai retirar mais um dos tantos chips que colocaram em seus dentes, que o faz ter sangramentos e gritar de dor... Não sei por que diria, talvez pra ter com quem compartilhar essa angústia. Esse medo.
Scully segura as lágrimas.
SCULLY (OFF): - Você finge. Finge que seu nariz não sangra, que suas dores de cabeça são de causas naturais. Talvez a negação seja a maneira que tenha encontrado para sofrer menos.
Scully sai subitamente dos seus pensamentos. Vê a bandeja de café sobre a mesa e uma rosa vermelha. Ergue os olhos. Mulder está parado, olhando sério pra ela.
MULDER: - Scully... Por favor.
Ela sorri. Mulder desliga a TV. Ela abaixa a cabeça. Ele senta-se ao lado dela. Segura sua mão e a beija.
MULDER: - Pare de pensar bobagens. Pode ser?
Ela sorri. Olha pra bandeja.
SCULLY: - Hum... Temos café feito pelo Mulder... Sabe que adoro o seu café?
MULDER: - Nem começa. Ou serei eleito o fazedor de café da casa.
Os dois sentam-se no chão.
SCULLY: - Vai fazer café pra mim quando eu tiver 50 anos?
MULDER: - Com direito a rosas na bandeja.
SCULLY: - E aos 60?
MULDER: - Também.
SCULLY: - E aos 80, se chegarmos lá?
MULDER: - Ainda farei café pra você. E ainda terá as rosas.
Ela aperta a bochecha dele.
SCULLY: - Hum... que bonitinho!
MULDER: - Tá feliz?
SCULLY: - Tô. Muito feliz. E você?
MULDER: - Não tô mais sofrendo. Agora eu tenho motivos pra isso. Vingança. Vingança é um prato servido frio. E eu e você vamos banquetear em cima deles. Acredite. Confie em mim. Sou filho daquele velho asqueroso. Se ele pode mentir, eu também posso. Se ele pode armar planos complexos, envolvendo quem ele queria, eu também posso. Vou justificar meu sangue Scully. Sabe que me sinto tão bem? Nesse momento chego a ter orgulho do pai bastardo que tenho. Ele me mostrou a verdade. Ele me ensinou o caminho. Se eu pensava que ele era um omisso, agora vejo que não era. Agora eu entendi. E vejo como fui um bobo nas mãos dessa gente por tantos anos! E se tiver de seguir essa sina com meu filho, eu a seguirei. Mas de maneira diferente. Quero meu filho do meu lado. Nunca vou negar minha paternidade e meu nome pra ele. Vou defendê-lo, protegê-lo. Nem que tenha de matar pra isso. Tudo pela minha cria.
4:23 P.M.
Scully recostada no sofá, sentada no tapete. Mulder deitado com a cabeça no colo dela. Ela afaga os cabelos dele. Beija-o na testa. Ele senta-se ao lado de Scully. Envolve seu braço por trás dela.
MULDER: - Sabe que é bom estar assim, despreocupado, sem nada pra fazer...
SCULLY: - Fazia muito isso sozinha.
MULDER: - É mesmo! Ô, Scully, quando éramos apenas bons colegas de trabalho, o que você fazia em casa quando estava sozinha?
SCULLY: - Hum... Ouvia música, cuidava das minhas plantas... Lia, assistia TV... Pensava em você e no que poderia estar fazendo... Olhava pro telefone, com tédio, esperando que você ligasse, nem que fosse pra caçar marcianos. Pelo menos ficaria do seu lado. E você?
MULDER: - Eu? Bom, eu ia caçar marcianos sem você. Não queria tirá-la da sua vida particular tão atribulada.
SCULLY: - (RINDO)
MULDER: - Assistia TV... Ia pro computador... Sexo virtual...
Ela o belisca.
MULDER: - Au!
SCULLY: - Isso não foi engraçado.
MULDER: - Era engraçado sim. Quando eu dizia que tinha 1,60 m e pesava 80 quilos, elas sumiam!
SCULLY: - (RINDO) ...
MULDER: - (DEBOCHADO) Bom... Todo mundo sempre diz o que não é em namoros virtuais. Eu não ia quebrar a regra, né?
Ela sorri, cabisbaixa. Ele olha pra ela, colocando o cabelo dela pra trás da orelha. A olha apaixonado.
MULDER: - Sabe de uma coisa?
SCULLY: - Hum?
MULDER: - Já estava escrito. A gente ficaria junto. Nisso, eu acredito no destino. Quando descobri que era você... Quando admiti dentro de mim que te desejava...
Ela ergue a cabeça. Eles se olham nos olhos.
MULDER: - E sabe de outra coisa?
Ela abaixa a cabeça. Ele a ergue pelo queixo, suavemente.
MULDER: - Ei, olha pra mim. Tem medo de encarar a verdade?
Ela sorri. Olha pra ele.
MULDER: - Eu te amo. Essa é a única verdade.
Ele aproxima seus lábios dos dela e lhe dá um beijo suave.
7:21 P.M.
Scully deitada na cama. Mulder ajeita o cobertor sobre a cama. Deita-se. A abraça. Fecha os olhos.
MULDER: - Tá, Scully. Se isso te deixa mais calma eu vou fazer os exames. Me parece que você não pára de pensar nisso há meses! Vou mostrar pra você que não há nada de errado com a minha cabeça, que meus miolos estão funcionando. Quer dizer, se é que meus miolos funcionavam antes.
Ela sorri.
MULDER: - Ou acha que eu morreria e deixaria você para esses oportunistas tarados? De jeito nenhum! Você é só minha.
Ela se abraça nele.
MULDER: - Entendeu? Só minha. Todinha minha. E não vou dividir com ninguém.
SCULLY: - Eu amo você.
MULDER: - (A BEIJA NA TESTA) Também te amo.
Ela senta-se na cama. Mulder senta-se e a abraça.
MULDER: - Saiba que você me ensinou a confiar em Deus. E eu confio que Ele nos quer juntos. Pra sempre. Por toda a eternidade. Ou não teria nos colocado juntos novamente nesta vida.
SCULLY: - ... Você sabe que não foi Deus quem nos colocou juntos nesta vida, Mulder. Foi seu pai. Você sabe que não é o único aqui a ser diferente.
MULDER: - Não vamos falar desse assunto. Eu não tenho pai. Nasci de uma abóbora.
Ela se afasta. Olha pra ele.
SCULLY: - Vamos. Há alguma coisa de errado comigo, eu sinto.
MULDER: - Não entre na minha paranoia, Scully.
SCULLY: - Então por que eu?
MULDER: - E-eu...
SCULLY: - Mulder, você sabe. Eu te falei. Não tenho provas, mas eu sei que eu e você temos algo ‘especial’ por aqui. Você seu cérebro. E eu? O que será?
MULDER: - ... Scully, isso é paranoia e...
SCULLY: - Não me poupe, Mulder. Sabe quantos mais de nós devem existir? Acha que aqueles arquivos que encontramos há vários anos atrás não significam nada? Vacina contra varíola? Ora, Mulder, eles fizeram alguma coisa conosco! Injetaram alguma proteína que eu não consigo descobrir para quê.
MULDER: - Primeira tentativa de imunologia ao vírus?
SCULLY: - Pode ser. Sabe que seu nome estava lá. Na vasta lista. E se tivéssemos acesso àqueles arquivos novamente, veria que o nome de todas as pessoas abduzidas estão lá.
MULDER: - Talvez a vacina fosse uma espécie de código genético para saber quem estava na lista?
SCULLY: - Eu acredito que era um código genético, mas acho que estou errada. Era a proteína. E não deu certo, pois como você me falou, essa forma de vida muta-se rapidamente. Eu nem sei mais no que pensar Mulder. O que importa é que... (OLHA PELO QUARTO) ... Estamos com ela.
Ele deita-se, fecha os olhos.
MULDER: - Eu sei que sou eu quem eles querem. Mas me pergunto se não há outros como eu. E me pergunto sempre e você faz questão de ignorar: E Gibson? Onde estará Gibson?
SCULLY: - ... Mulder...
MULDER: - Ele é meu filho, Scully. Eu sinto que tem alguma coisa errada por aqui. E se não for meu filho, ele é meu irmão, meu clone... Sei lá! Mas ele é alguma coisa minha, entende?
SCULLY: - Eu sei, Mulder, eu também acho isso... Mas não sei se há outros como você e... Se houvessem, Mulder, eles não tomariam apenas você. E não fariam as coisas horríveis que fizeram.
MULDER: - E Gibson? Não levaram o menino?
SCULLY: - (SUSPIRA) Eu sei. Fizeram o mesmo com ele.
MULDER: - Sabe que penso que o meu nascimento foi intencional? O Fumacinha sente é remorso pelo que fez.... Eu acho que fui uma cria de laboratório. É horrível você saber que não estava nos planos de ninguém. Que não foi acaso do destino. E mais ainda, Scully. Estou começando a ter algumas idéias estranhas.
SCULLY: - Sobre o quê?
MULDER: - Se eu tivesse sido concebido em laboratório... Como posso ter certeza de que minha mãe era realmente minha mãe? E como ele teria essa certeza? E afinal, onde Bill Mulder entra nessa história?
SCULLY: - Ai, Mulder, não começa a pôr mais neuroses em sua cabeça.
Ela deita-se. Recosta a cabeça em seu peito.
SCULLY: - Mulder, não vamos mais falar disso. Ou vamos ficar aqui fazendo hipóteses o resto da noite, como tantas vezes já fizemos. Eu não quero saber o que há. Eu vou lutar contra, mas não me interessa essa verdade. Talvez porque ela seja grande e velha demais para se revelar.
Ele a beija.
MULDER: - Eu podia ter alugado um filme pra gente ver.
SCULLY: - Eu não quero filme. Eu quero ficar aqui com você, nem que não tenhamos nada pra conversar.
Ela vira-se de costas pra ele.
SCULLY: - Me abraça, Mulder. Quero sentir seu calor.
MULDER: - Não.
Ele levanta-se. Senta-se na cama. Pega o travesseiro. Ela vira-se pra ele.
SCULLY: - O que foi?
MULDER: - Já disse que estou bem. Você fica matutando besteiras nessa mente doentia. E fica me fazendo raciocinar demais. Quero brigar com você. Está me deixando triste. E eu não gosto mais de ficar triste.
Ele mete o travesseiro em cima dela. Ela puxa seu travesseiro e os dois começam a brigar com os travesseiros, rindo, como duas crianças. Ela consegue roubar o travesseiro dele e o empurra na cama. Os dois se olham. Ela solta os travesseiros. Mulder ergue a cabeça e olha sério pra ela.
MULDER: - Já sabe como isso vai acabar.
SCULLY: - Sei.
Ela sobe sobre o corpo dele. Ele a observa. Deita a cabeça no colchão. Ela vai subindo as mãos e levantando a camiseta dele, beijando seu abdômen. Ele ergue a cabeça olhando pra ela. Ela sobe seus lábios. Os dois trocam um beijo. Mulder passa as mãos pelo corpo dela. Scully sai de cima dele. Pega os travesseiros e ajeita. Recosta-se na cabeceira da cama, batendo no colchão.
SCULLY: - Vem.
Ele arrasta-se e fica ao lado dela. Recosta-se na cabeceira da cama. Ela o beija. Ele não corresponde. Ela afasta os lábios. Recosta-se em seu ombro. Olha ao longe, soltando um suspiro.
SCULLY: - Por que não relaxa, Mulder?
Ele olha pro nada. O silêncio se estabelece.
MULDER: - ...
SCULLY: - ...
MULDER: - ... Scully?
SCULLY: - Fala, Mulder.
MULDER: - ... Eu... Estou preocupado.
SCULLY: - ...
MULDER: - Não que eu tenha medo de morrer. Mas sei o quanto eu amo você e sei o quanto você me ama. O medo que tenho é de deixar você. Porque eu entendo o quanto vai sofrer. E é disso que eu tenho medo.
SCULLY: - ... Mulder...
MULDER: - É por isso que eu não estou doente. E nunca estarei. Porque a única coisa que nós dois temos é um ao outro. Nunca conseguiram nos separar. E se eu morrer, eles vão triunfar em cima da gente mais uma vez.
Ela o abraça. Ele se deixa abraçar, entregando-se pra ela, pedindo carinho. Ela afaga seus cabelos, beija sua testa. Ele fecha os olhos.
SCULLY (OFF): - Eu estava longe, viajando com suas palavras e não havia percebido. Foi quando abaixei minha cabeça e ao olhar pra você, você estava chorando. Senti sua tristeza entrar em mim rapidamente. Por que chorava? Eu sabia o porquê. E ficava triste de ver alguém como você chorar. Mulder, você não deveria nunca chorar. Não merecia derrubar lágrimas. Apenas sorrisos... Então, você se virou pra mim e me deu um sorriso, entre as lágrimas. Realmente parecia ler o que eu pensava. Ainda derrubando lágrimas, olhou em meus olhos.
MULDER: - Scully... Me abraça forte... Eu preciso do teu abraço pra poder dormir...
Scully olha para ele sem esboçar gesto algum. Fecha os olhos.
SCULLY (OFF): - Tudo que eu mais quero é poder devolver toda a felicidade, proteção e amor que você me dá, Mulder. Sei o que te aflige. Mas vai dar certo. Eu confio em você e só cheguei até aqui por confiar em você...
Mulder sorri, derrubando lágrimas.
SCULLY (OFF): - Então você me sorriu e recostou-se no meu peito. Eu afagava seus cabelos, tomada de ternura e compaixão. Beijei seus cabelos com carinho e o abracei contra o meu corpo. Pensei: Chora, Mulder. Eu vou cuidar de você como você cuidou de mim. Agora eu serei a sua força. Porque você foi a minha quando eu precisei... Então você chorou. E eu o confortei, não com palavras, mas com meu toque... Chorou até dormir ali, nos meus braços. Enquanto dormia, eu tentava raciocinar todas as coisas que vimos e tentava encaixa-las dentro da minha cabeça. Mas não havia como. Você estava certo em muitas coisas. Mas isto não mais importava. Eu só queria que a gente saísse vivo disso. Ilesos seria impossível. Mas pelo menos vivos... Esta seria a grande vitória. E agora eu tinha a certeza absoluta. Nós íamos vencer. Eu esperaria com paciência. Sei que muita amargura ainda viria, que o pior estaria por vir, mas a vitória estava em nosso caminho. E chegaria logo. A questão seria ter paciência. As coisas que conquistamos aos poucos e com sacrifício, quando chegam é pra ficarem. E nós dois merecíamos muito ganhar uma vez na vida. Afinal, agora entendo os sonhos que tive, embora me lembre muito pouco deles... Talvez fosse um presságio do nosso destino. Você morreria, mas num futuro muito longínquo. É... Eu precisava acreditar nisso. Naqueles sonhos... Eles eram a minha esperança... Embora eu não fosse uma pessoa de acreditar em sonhos... Eu precisava só esperar pelo destino. Era melhor acreditar nele...
7:41 A.M.
Scully sentada na cama, recostada na cabeceira. Olha pro nada. Mulder sai do banheiro, usando camiseta e jeans. Cabelos molhados. Barba por fazer. Ajeita o travesseiro e recosta-se na cabeceira ao lado dela. Olha pro nada. Brinca com os dedos.
MULDER: - (COM TOM DE MENINO TRISTE) Scully, você está me deixando triste.
Ela olha pra ele.
MULDER: - Eu já te falei que não gosto mais de ficar triste. Você se tornou minha fonte de vida, minha inspiração pra viver. Por que não fica agindo como uma adolescente, dizendo bobagens, pensando em sacanagem, me excomungando e me chamando de cachorro?
Ela olha pra ele e sorri meiga.
MULDER: - Eu gosto mais dessa Scully. Essa outra aí eu não gosto. Ela é muito triste.
SCULLY: - Mulder, me perdoa. Eu prometo que vou relaxar e não vou mais pensar nessas coisas.
MULDER: - Tá bom.
SCULLY: - Mulder vá até a cozinha e me traz um suco. E feito na hora, tá ouvindo? Vai, anda! Inútil, imprestável, cachorro, sem vergonha...
Ele sorri. Sai do quarto.
SCULLY: - (GRITA) E se colocar açúcar eu te mato! Seu viado cretino!
Scully sorri. Mas fica séria novamente.
SCULLY (OFF): - Você tem razão. Eu não consigo me desligar. Nem tenho certeza de nada, não posso associar a sua magreza, o nariz sangrando... Estou preocupada. Mas como me disse uma grande mulher, aproveite todos os momentos. Cada segundo. Você é um homem forte, só precisa de uma mulher que acredite nos seus sonhos e planos. E eu vou fazer isso. Por você. Sei que ando numa fase triste, mas se ficar mais triste vou acabar o entristecendo. E eu prometi a mim mesma que o faria feliz. E prometi a você que seria seu ponto de fuga. E o que estou fazendo?
Mulder entra no quarto segurando um copo. Ao vê-la pensativa, esmorece.
MULDER: - Tá pensando de novo, né, Scully?
SCULLY: - Tô... Pensando em sacanagens.
MULDER: - Não me engana não, Scully.
SCULLY: - Deita aqui, vem?
Ele entrega o suco. Senta-se ao lado dela, recostando-se na cabeceira. Ela toma um gole do suco.
SCULLY: - Hum... Até que enfim serviu pra alguma coisa. Aliás, você não serve pra nada, Mulder.
MULDER: - (PIDÃO) Faz amor comigo? Eu quero fugir um pouquinho do mundo... Eu realmente estou sofrendo.
SCULLY: - Mulder, você sabe como me convencer com essa carinha de cachorrinho abandonado...
Ela aproxima seus lábios dos dele. Ele olha pra ela.
SCULLY: - (MURMURA) Você me deixa doida quando fala assim... Vem, Mulder, vamos fugir um pouquinho do terror e partir pro amor... Vamos ser normais por hoje, tá?
Os dois trocam um beijo. Scully vai aumentando a intensidade, devorando os lábios dele. Mulder corresponde. Ela segura o rosto dele com as mãos. Mulder fecha os olhos. Língua na língua. Ela lambe os lábios dele, descendo pra seu pescoço, enquanto senta-se sobre ele. Delicadamente ele desce suas mãos pelo corpo dela, erguendo a blusa. Ela afasta os lábios dos dele. Ele lhe tira a blusa. Ela ergue o corpo, agarra seus seios e os oferece a ele. Mulder os devora com desejo, deslizando as mãos pelas costas dela. Ela inclina a cabeça para trás.
SCULLY (OFF): - Eu comecei a gemer… Você sabia me deixar zonza, me convencer de qualquer coisa e me fazer virar uma pervertida. Realmente me transformou de santa em bruxa pagã... Aquela sua maldita camiseta cinza e as calças jeans me deixavam maluca... Hum... Desci minhas mãos e segurei as suas, fazendo com que você tomasse meus seios nelas. Você os agarrou, sugando-os. Envolvi minhas mãos em seus cabelos, puxando-o mais de encontro ao meu peito. Eu te amo... Amo essa necessidade de conforto que você precisa, essa carência... Eu sei o que você teme. Eu sei por que tenta fugir dos problemas comigo... Eu também faço isso... O sexo é nossa fuga... Hum, sentir sua boca, sua língua, sua barba áspera... Eu não vou resistir, sinto meu corpo se entregar... Mas eu não quero me entregar... Eu quero hoje, que você se entregue.
Scully afasta os seios dos lábios de Mulder. Eles trocam um beijo. Ergue a camiseta dele, tirando-a. Senta-se a seu lado. Desliza as mãos pelo peito dele. Mulder afaga os cabelos dela, observando-a brincar com a língua e os lábios em seu peito. Mulder pega a mão dela.
SCULLY (OFF): - De súbito, você segurou minha mão, interrompendo a carícia. Ergui meus olhos e olhei pra você. O que se passava? Então, lentamente, você deslizou minha mão para dentro de suas calças jeans. Fechou os olhos. Sua reação me surpreendeu. Então você olhou pra mim. Olhei em seus olhos com surpresa, enquanto sentia sua mão pressionando a minha, contra seu corpo. Você estava me entregando a culpa. (SORRI) E eu a queria! Novamente, Dana, a menina má tomava conta da séria Scully... Comecei a massageá-lo em movimentos suaves. Você retirou sua mão, fechou os olhos e se entregou aos meus toques. Eu estava adorando aquilo. Sua pele arrepiada... Você se agarrando nas grades da cama... Todinho meu... Suspirando baixinho... Depois de algum tempo, retirei minha mão. Comecei a afaga-lo por sobre as calças, sentindo que você já estava completamente excitado. Então desci meu corpo pela cama, afagando você com meu rosto. Pude ouvir você murmurar alguma coisa que não entendi... Então, com o auxílio das duas mãos, lentamente abri suas calças. Você continuou de olhos fechados. Senti seu abdômen contrair-se... Culpa? Desejo? Eu estava adorando a ideia... Agora era você quem estava sucumbindo...
BLOCO 3:
9:22 A.M.
Mulder assiste desenhos na TV. Cookie deitado por sobre o colo dele. Scully ao lado de Mulder. Olha pra TV. Sorri.
SCULLY: - Impressionante.... Acho que hoje tirei o dia pra pensar em sacanagens... Lembrar coisas engraçadas entre nós dois... Como éramos bobos!
MULDER: - O que foi? Por que está rindo?
SCULLY: - Estou lembrando de coisinhas.
MULDER: - Isso é muito bom. Quer falar?
SCULLY: - Não. Vá assistir seu Scooby Doo aí e me deixa com minhas lembranças...
Ele sorri.
SCULLY (OFF): - Era uma noite quente de verão e ainda éramos apenas parceiros de trabalho. Nada havia entre nós. Estávamos investigando um caso e eu havia prometido que passaríamos a noite no seu apartamento, trabalhando... Como isso era difícil! Bom, tomei um banho gostoso e fui correndo pra lá, como sempre. Bastava você ligar: - Scully, temos um Arquivo X. E eu: - Mas que droga, Mulder, é fim de semana! Eu tenho uma vida! ... E ficava vários minutos reclamando. Depois desligava, dava um sorriso safado e colocava a roupa tão rápido que parecia o The Flash! (SORRI) Ia cantarolando e rindo sozinha dentro do carro. Quando chegava à frente do prédio, fazia minha cara sisuda e séria. (SORRI) ... Ficar perto de você me bastava. Chamei-o pelo interfone, o prédio estava trancado. Você abriu a porta lá de cima e eu subi. Quando entrei não o vi.
FLASH BACK:
Scully entra no apartamento de Mulder.
SCULLY: - Mulder?
MULDER: - (GRITA) Estou no banho!
Ela ergue a sobrancelha. Anda pela sala. Inclina o corpo para ver a porta do banheiro. Pára. Morde os lábios, meio sem jeito.
SCULLY (OFF): - Confesso que fiquei doida pra ir até aquele banheiro... Quando dei por mim, estava parada na porta! E a porta estava semiaberta... Eu observava o vapor do chuveiro. Hum, queria entrar. Mas minhas pernas não se moviam... A razão não as deixava. Fechei meus olhos, perdida em devaneios. Imaginava-o tomando banho, imaginava seu corpo nu, cheiroso, molhado, com a espuma percorrendo aquela silhueta... De súbito abri meus olhos, ao ouvir o chuveiro sendo desligado. Voltei rapidamente pra sala, disfarçando alimentar os peixes.
Mulder entra na sala, vestindo apenas uma toalha.
MULDER: - Vou colocar uma roupa, não demoro.
SCULLY (OFF): - Eu disfarçava olhar pro aquário, mas olhava com o rabo dos olhos pro seu corpo gostoso... (RI) Minha vontade era de arrancar aquela toalha e descobrir realmente quão maravilhosa e grande era a verdade! Ora, eu também sou uma safada. Só não admito... Me sentei no sofá, observando cada detalhe do apartamento, por minutos. Então você saiu do quarto, vestido. Ai, Mulder! Você me chamava a atenção por ter um corpo bem definido que teimava em se esguiar dentro de sua calça social justa no bumbum, delineando uma silhueta gostosa de se olhar... E quem sabe um dia... Sentir? Ai como eu queria sentir! Você era sexy e... (RI) Algumas vezes, disfarçadamente eu perdia meus olhos curiosos pras suas calças, tentando adivinhar o tamanho... (RI) ... Eu olhava. Não vou mentir, porque eu olhava. De cantinho, mas olhava. Todas as mulheres olham... (SORRI) Bom, realmente minha expectativa estava certa... Percebi então que meus mamilos estavam ficando duros e puxei o blazer por sobre o peito. Levantei-me e fui conversar com você sobre o caso... Uma desculpa para sentir seu perfume Hugo Boss de perto... E você não parava de me olhar... Que tensão sexual! Continuávamos a discorrer sobre o Arquivo X, mas eu percebia o seu olhar pra mim. Era um olhar diferente... Disfarçadamente você colocou as mãos no bolso, e eu fingi não perceber que tentava esconder uma ereção que começava a surgir... Eu sabia que me desejava, mas e depois? Com que cara nos olharíamos? Dei as costas e falei que deveríamos começar imediatamente a investigação. Eu tinha medo de que, você, por ser mais espontâneo, (RI) assim eu achava... Poderia acabar um dia me agredindo... Medo e vontade de que fizesse isso. Afinal, beijinhos você se atreveu. Cantadas também, disfarçadas de ironia. Minha esperança é que se atrevesse a me agarrar. Aí eu não resistiria! Mas, seu cretino, você só me atiçava. Parecia fazer por gosto!
TEMPO PRESENTE:
Scully sai de seus devaneios e pega Mulder olhando pra ela com um sorriso descarado.
MULDER: - (DEBOCHADO) Lembrança quente, não? Você parecia estar fora de órbita.
SCULLY: - (RINDO) Coisas tolas, deixa pra lá.
Mulder volta a atenção pra TV.
SCULLY (OFF): - Depois de tê-lo conhecido, não consigo me lembrar de ter me sentido tão excitada por um homem. Perco a razão com você. Faço coisas que eu nunca faria com outro. Me sinto livre, sei lá. Eu não tenho medo de que você vá falar algo ou pensar algo, me desmoralizando... Você sempre chega com um cheiro maravilhoso, eu não resisto à sua boca, vou logo em cima de você, já começa a rolar um clima. Mas qual mulher não viraria uma tarada louca com um homem como você, tão meigo, compreensivo e carinhoso, todinho pra si? Eu sei que sou uma mulher séria, mas entre quatro paredes com esse monumento de deus grego não dá pra ser racional! Louca é quem pensa que eu teria de ser séria! Por isso mesmo é que quase sempre sou eu quem começa, embora ultimamente, você tenha se sentido mais à vontade pra fazer isso... (OLHA PRA ELE) Você foi o melhor homem que eu tive, em todos os sentidos... O mais lindo, cheiroso e maravilhoso... Não diria isso, você já tem um ego tão grande quanto o seu... (RI) ... Hum, Dana... Me lembro... Era uma segunda-feira atribulada! O Skinner tinha passado a tarde toda confinado em reuniões orçamentárias e não estava de bom humor. Levamos uma bronca por nada. Ainda por cima, pouco antes das cinco, resolveu nos dar trabalho. Ficamos no FBI até a meia-noite e logo a seguir, você me levou até em casa... Pelo caminho comecei a olhar pra você. Meu corpo já se arrepiava. Eu estava num daqueles dias de tesão incontrolável... Quer dizer ... A vontade era tanta... Então você estacionou na frente do prédio. O mau humor era visível.
FLASH BACK:
Mulder estaciona o carro. Está sério e irritado. Esmurra o volante.
MULDER: - Toda essa trabalheira! Toda essa maldita trabalheira pra achar um maldito dado, de um maldito caso, que nem da gente era! Maldito Skinner!
SCULLY: - Mulder... Não quer subir? Pode dormir esta noite aqui...
Ele irritado, nem a escuta.
MULDER: - (ESMURRANDO O VOLANTE) Fuck me, fuck me, fuck me!
SCULLY: - (DEBOCHADA) Mas Mulder, eu não posso fazer isso.
SCULLY (OFF): - Você começou a rir. Ficava tão lindo quando sorria. Iluminado. Essa é a palavra. Você fica iluminado quando sorri. Então, abaixou a cabeça. Acho que meu olhar sério o constrangeu. Eu repeti o convite pra que ficasse comigo naquela noite. Já estávamos juntos, mas ainda às escondidas... Imagine se alguém soubesse disso? ... Bom, você aceitou. Colocou o carro na garagem e subimos. Depois de fazermos um lanche, nos deitamos pra assistir TV. Coloquei apenas uma camisola, mas você tirou a camisa, gravata, sapatos e cinto e se deitou. O sono tinha se perdido. Confesso que ficava olhando pra você, deitado só de calças... Novamente, as malditas calças sociais que o deixavam tão sexy! Comecei a provocá-lo, passando a mão na sua virilha... Você se fazia de bobo, olhando pra TV, indiferente. Então abri de leve o seu zíper para ver sua reação... Como não reagiu, esse era o nosso sinal particular. Significava: consentimento. Então continuei... Abri todo o seu zíper... (RI) Coloquei o seu raposão para fora e comecei a acariciá-lo... Agora você reagia. Fechou os olhos, estava indo ao delírio... Não resisti... Eu não resistia ao meu raposão... Tão grande, perfeito, rijo e bonito... Comecei a chupa-lo... Nossa! Eu pensando essas palavras... Hum, dane-se! Quando eu quero, eu encarno a Madonna muito bem! Eu o chupava mesmo. E daí? Como nunca havia chupado antes! Eu o ouvia gemendo baixinho, agarrado aos meus cabelos... E continuei a chupar com mais intensidade... Eu estava louca... Completamente molhada... E seguida por esse impulso me afastei. Fiquei deitada, olhando pro teto... Esperando a reação... E ela veio com você subindo por sobre o meu corpo, levantando minha camisola, me beijando toda... Doido de desejo... E abrindo as minhas pernas.... Resolvi jogar, provocar uma reação... Fechei as pernas, como se relutasse... Para minha surpresa, você as abriu violentamente e entrou em mim... Nossa, me contorci de prazer... Eu o sentia todo dentro de mim e só de imaginar, eu ficava mais excitada e queria mais. Você arriscou um beijo, correspondi. Sua língua me deixava alucinada... Eu passava as minhas mãos em suas costas, enquanto a minha boca estava com a sua... Meu corpo colado em seu corpo... Hum... Tão gostoso... Então eu sussurrei no seu ouvido que era sua. (RI) Tem coisas que funcionam bem quando faladas ao seu ouvido... Você olhou pra mim, com aquela cara safada, me perguntando se eu realmente era sua. Eu confirmei. Esse era outro código nosso... (RI) O ‘sou sua’ ou ‘sou seu’ significa ‘estou a fim de ser seu objeto de prazer, faça o que quiser comigo, não vou reagir. Tire a minha culpa!’... Então aquela noite foi uma loucura completa... Foi a minha primeira aula do Kama Sutra! Mas eu jamais admitiria que você era criativo. Ia continuar a dizer que não. Quem sabe completaríamos o Kama Sutra mais rápido, já que você adora desafios...
TEMPO PRESENTE:
Scully abre os olhos saindo de seus pensamentos. Percebe que Mulder desligou a TV e está olhando pra ela, rindo.
SCULLY: - (ENVERGONHADA) Mulder!
MULDER: - (DEBOCHADO) Desculpa Scully. Mas estou assistindo a você. Me parece mais interessante do que a TV.
Ela sorri, corada, colocando as mãos no rosto.
MULDER: - (RINDO) Vai, um dedo pelos seus pensamentos. Aposto que eram obscenos e sacanas.
SCULLY: - Nada. Não estava pensando...
MULDER: - Nada? Scully, sua menina má... Por que não escreve um diário com seus pensamentos sacanas, hein?
SCULLY: - Meninas boas escrevem diários. As más não. Não tem tempo.
MULDER: - Isso me diz que você é uma menina má. Porque não tem diário...
SCULLY: - (SORRI)
Mulder aproxima-se dela.
MULDER: - Que tal um banho, hein?
SCULLY: - Não! Não tomo mais banhozinho com você. Você só quer lavar minhas orelhinhas... Malvadinho!
Ele aproxima-se dela e começa a beijar seu pescoço. Murmura no ouvido dela.
MULDER: - Vai, fala assim, fala... Sabe que eu adoro quando você faz isso.
SCULLY: - Ai, Mulder! Pára! Só beijinho, tá? Você tá me dando chupadinhas e vai me deixar toda marcadinha...
MULDER: - Você me enlouquece, Scully...
Ele coloca a mão por debaixo da blusa dela.
SCULLY: - Ai! Mulder tira a mãozinha daí!
Ele desce o rosto pelo peito dela, afagando-a com o nariz. Ergue o resto da blusa, agarrando-lhe um dos seios e aproximando sua língua.
SCULLY: - Mulder! Aqui não! O cachorro tá olhando!
MULDER: - Não tá não, ele tá dormindo... Além do mais, ele já tá acostumado... Com os donos malucos que tem... E tá chamando seu cachorro de voyeur, é?
SCULLY: - Não, Mulder... Me leva pra cama. Eu não quero o cachorro nos olhando!
Mulder levanta-se. Olha pra Cookie. Ele dorme profundamente no sofá. Olha pra ela.
MULDER: - (DEBOCHADO) Chata! Mas não pensa que vai me atiçar todo e dar o fora.
Ele a pega nos braços.
MULDER: - (DEBOCHADO) Cama pra você, mulher! É um dos seus direitos nessa casa.
SCULLY: - (DEBOCHADA) E um dos seus deveres, seu florzinha!
MULDER: - Vou te mostrar o quanto eu sou florzinha... Você vai ver só.
SCULLY: - Florzinha, florzinha!!!! Você é florzinha, nina nina nina... Você não gosta de mulher, Mulder. Ainda não percebeu isso?
MULDER: - (DEBOCHADO) Claro que já, Scully. Eu tenho nojo só de sentir cheiro de mulher... Chego a ficar ‘nervosa’.
SCULLY: - (DEBOCHADA) Então como vamos fazer?
MULDER: - (DEBOCHADO) Tá, Scully, eu dou pra você hoje. Afinal eu sou gayzão mesmo. Não vivem dizendo que você precisa de um homem? Que eu não sou homem pra você... É, realmente tem que ser muito homem pra aplacar esse seu fogo!
SCULLY: - Mulder?
MULDER: - O que é?
SCULLY: - (DEBOCHADA) Vai buscar um homem pra gente?
MULDER: - Hehehe... Você vai ver só o que te aguarda, Scully... Vai aprender a não blasfemar.... Hora de revirar os olhinhos!
SCULLY: - (RINDO) Mulder, todo homem tem um lado mulher.
MULDER: - Scully, eu tenho uma péssima notícia pra te dar. Sabia que o meu lado mulher é lésbica?
SCULLY: - (RINDO) Não!!!!
Ele a leva pro quarto, rindo. Coloca-a sobre a cama. Tira a camiseta.
MULDER: - Ok, Scully, vamos brincar do quê hoje?
SCULLY: - Hum... (CHUPANDO O DEDO) Do que você quiser.
Mulder pula na cama, caindo deitado ao lado dela.
MULDER: - Adoro ouvir isso.
Ele vira-se pra ela.
MULDER: - (DEBOCHADO) Onde eu estava? Bom... Acho que lembrei... Estava provando que sou homem pra você.
SCULLY: - Hum... Mulderzinho...
Mulder começa a beija-la. O corpo parcialmente sobre o dela.
SCULLY (OFF): - Sinto sua língua fazendo contornos nos meus mamilos, tentando enrijecê-los... Hum... Fecho meus olhos, sentindo sua língua quente... Sua saliva... Sua boca, que devora meus peitos... Começo a ficar excitada... Então você, sem parar suas carícias, desce uma das mãos por entre minhas pernas.
SCULLY: - Mulder! Menininho levado! Tira a mãozinha daí...
MULDER: - (DEBOCHADO) Diz que não gosta e eu tiro.
SCULLY (OFF): - Claro que eu não vou dizer!... Sou louca, é? Nós trocamos um beijo intenso. Começamos a brincar com nossas línguas, enquanto eu remexo meu corpo, enlouquecida com suas carícias entre as minhas pernas. Você as intensifica, subindo mais pra cima de mim, mordendo minha língua, me lambendo toda... Hum... Roçamos nossas línguas. Então você tira sua mão do meio das minhas pernas e segura meu rosto, me dando um beijo que parece que vai entrar pela minha boca. Eu o afasto. Limpo meu rosto.
SCULLY: - (PROVOCANDO) Mulder, você tá lambuzando e sujando euzinha!
MULDER: - (RINDO SAFADO) Tô a fim de fazer muita ‘sujeirinha e lambança com euzinha’ por aqui hoje...
SCULLY (OFF): - Então, pra minha surpresa você sai da cama. Eu o fito, desconfiada. Você se ajoelha no chão, puxando-me rapidamente, abrindo as minhas pernas e as erguendo, puxando-me mais pra si e mergulhando seu rosto entre elas... Hum... Em poucos segundos você me faz ver ‘estrelinhas’... Deixo-o brincar comigo, mas eu vou querer revanche depois... Oh, Mulder... Estou gemendo baixinho. Mas não consigo mais me conter... Eu não quero resistir! Então apoio minhas pernas sobre os seus ombros. Ergo minha cabeça e o observo... Oh, céus! Você tem um jeito de fazer isso... Que me deixa zonza... Você faz suave... Com cuidado... Recosto a cabeça contra o colchão, meu peito respira descompassadamente, a ponto de me fazer respirar pela boca. Fecho meus olhos. Sinto os seus dedos que me abrem delicadamente, sua língua que me explora com desejo... Que brinca com meu ponto sensível... Ora relaxada, ora rija... Algumas vezes dentro de mim... Sinto que fico rapidamente mais molhada... Acho que lambuzada seria o termo ideal... Estou gozando... E você parece adorar isso... Eu começo a gemer mais alto... Reviro meu corpo, mordo meus lábios... Agarro-me aos lençóis... Continuo gemendo. Você morde suavemente as minhas coxas, apertando-as com as mãos, sugando-me vagarosamente, deixando-me tão excitada a ponto de me fazer implorar pra parar. Estou me revirando de tanto prazer... Mas você não para. Murmura que quer que eu enlouqueça... Oh, meu deus, eu estou enlouquecendo... Sinto o suor escorrer pelo meu corpo... Você me ergue, colando sua boca. Eu solto um gemido sentindo seus lábios e sua língua... Você me encosta contra o colchão. Sinto minhas pernas tremerem de tanto desejo... Mas você não pára! Oh, Mulder, não pare... Hum... Sinto que estou molhando o colchão de tanto prazer... Meu corpo está pegando fogo por completo... Eu reviro minha cabeça de um lado para o outro, murmurando que o quero. Então o sinto entrar deslizante dentro de mim, de olhos fechados, ofegante, a franja caída pela testa, molhada de suor, segurando minhas pernas. Eu grito. Me agarro mais forte aos lençóis, movendo-me contra seu corpo também. Escuto seus gemidos. Você inclina-se por cima de mim e posso sentir em minha pele o suor que lhe escorre... O calor do seu corpo, tão quente quanto o meu. Apoio meus pés na beirada do colchão, contorcendo-me de prazer. Você me empurra mais pra cima usando seu corpo, dobrando sua perna. Eu solto um gemido extasiada, sentindo meu corpo molhado de suor e prazer, a deslizar pelo colchão. Seus lábios me procuram pra um beijo. Devoramos nossas bocas, eu sinto em minha pele sua respiração quente e ofegante. Você enlaça minhas mãos e ficamos ali, por um bom tempo, movendo-nos um contra o outro... Você geme enlouquecido. O suor em seu corpo brilha contra luz e eu fico mais excitada. Desço minhas mãos e agarro seu bumbum, puxando-o mais ainda contra mim. Você solta um gemido e move-se mais rapidamente... Eu quero você inteiro... Sentindo o impacto de seu corpo, repetidas vezes, a ponto de fazermos a cama balançar... Estou tão sedenta de você e ao mesmo tempo, tão fora de mim, cega de desejo, que nada mais é barreira... Meu desejo é incontrolável e parece não ter fim. Chego a ponto de empurra-lo. Então você sai de cima de mim, ofegante, olhando-me com os olhos parados de quem está ainda em estado de prazer total. Eu apenas lhe dou um olhar e me viro de bruços. Fico de quatro pra você...
BLOCO 4:
11:47 A.M.
Scully sai do banheiro, enrolada em uma toalha, com outra na cabeça. Senta-se na cama. Suspira. Ergue a cabeça. Mulder sai do banheiro, enrolado também em uma toalha. Atira-se na cama.
SCULLY: - Mulder...
MULDER: - Fala...
SCULLY: - Preciso de um cigarro. Isso tudo merece um cigarro!
Mulder sorri. Estende-se na cama e abre a cômoda. Tira um maço de cigarros e acende um pra ela. Ela olha-o incrédula.
SCULLY: - Onde conseguiu isso?
MULDER: - (DEBOCHADO) Tem pra vender, sabia?
SCULLY: - Mulder...
MULDER: - Não é não. Aquele eu devolvi pra ele dizendo que era ele quem iria precisar.
SCULLY: - (RI) Falou isso?
MULDER: - (RI) Fui sincero. Se ele acha que fumava em demasia, pois se prepare agora pra fumar o dobro. Nós dois não estamos pra piadas.
Ela pega o cigarro, dá uma tragada. Ele vira-se na cama e apóia o cotovelo no colchão, olhando pra ela. Scully joga o corpo pra trás, caindo no colchão. Fecha os olhos, soltando a fumaça. Ele a observa, apaixonado.
SCULLY: - ... Estou tão relaxada que se abrisse a janela poderia voar...
MULDER: - (DEBOCHADO) Viu? Nada como um bom exercício físico para acabar com preocupações e estresse.
SCULLY: - Perdi dois quilos... Mas depois repus tudo de volta.
MULDER: - (DEBOCHADO) Não mando ser gulosa, Scully. Eu já disse que não sou diet. Você que é. E sorte sua, porque se não fosse...
SCULLY: - (SORRI) Aposto que nunca mais olharia pros meus pés de novo. Teríamos um time de futebol!
MULDER: - Scully... A coisa tá séria. Eu tô brincando, mas é sério.
Ela olha pra ele.
SCULLY: - Mulder, pára de se preocupar com isso. Você é homem! Você tem todas as chances que quiser. Eu não! Eu perdi todos os óvulos que tinha e nunca mais vou ter nenhum! Você ainda pode ter chances. Você tem milhões de possíveis bebezinhos por aí...
MULDER: - Reduz isso pra dezenas agora, Scully.
SCULLY: - ...
MULDER: - Acho que fiquei diet.
SCULLY: - (SORRI)
MULDER: - Pior seria se além de diet tivesse ficado light.
Scully senta-se na cama e começa a rir. Ele ri com ela.
SCULLY: - Light? Essa foi boa, Mulder.
MULDER: - É, mas imagina se eu nunca mais conseguisse levantar o seu sorvete preferido?
SCULLY: - E daí? Eu iria continuar amando você.
MULDER: - Sério? Puxa, Scully, quer dizer que realmente sexo não é nada diante do amor?
SCULLY: - (DEBOCHADA) Não. Quer dizer que pelo menos você ainda teria sua língua...
MULDER: - Scully, sua safada miserável!
Os dois continuam rindo. Mulder levanta-se.
MULDER: - Vamos dar uma volta?
SCULLY: - Aonde vamos?
MULDER: - Precisa de destino?
SCULLY: - Mas, Mulder...
Mulder a puxa pelo braço. Completamente empolgado.
MULDER: - Vem!!!
SCULLY: - Mas vamos sair assim, enrolados em toalhas?
MULDER: - Que tal uma colônia de nudismo? Hein?
Ela ri. Ele pega uma roupa no armário e veste uma bermuda rapidamente. Ela apaga o cigarro.
SCULLY: - (RINDO) Mas aonde vamos?
MULDER: - Dar uma volta.
Ela fica olhando pra ele. Ele coloca umas meias e pega os tênis.
SCULLY: - Uma volta? Vamos caçar marcianinhos?
MULDER: - Não, vamos caçar sorvetinhos e um luar maravilhoso quando anoitecer.
SCULLY: - Oba! Tô levando um cobertor...
MULDER: - Tô cansado de ficar em casa. Isso é um tédio!
SCULLY: - Concordo. Acho que vou levar algum lanche, a gente pode fazer um piquenique.
MULDER: - Nem me lembro mais como é um piquenique!
SCULLY: - Tanto tempo assim?
MULDER: - Cadê aquele cachorro? Onde se escondeu? Ô, seu orelhudo filho da Scully...
Scully sorri. Ele vai pra sala, vestindo a camiseta. Ela o escuta falando com o cachorro.
MULDER: - Vamos lá, ô pulguento. Sai daí, sai! Levanta, cara! Anda! ... Mas que cachorro preguiçoso!
Scully pega uma blusa e uma bermuda. Começa a se vestir.
MULDER: - Vamos dar uma volta de carro. Você também tá me parecendo abatido. Precisa de um ar ou vai virar uma jamanta de tão gordo... Scully, já percebeu que esse bicho tá crescendo? Parece um touro, não um cão. Me garantiram que ele seria pequeno.
SCULLY: - Não se preocupe, Mulder. Essa raça não cresce muito.
MULDER: - Sei não... A impressão que tenho é que daqui mais um tempo ele vai começar a dar ordens por aqui e eu é que vou ficar quietinho. Ele nem faz mais festa quando me vê.
SCULLY: - Ele nunca fez festa pra você. Ela faz festa é pra mim.
MULDER: - Scully está acostumando mal esse cachorro.
SCULLY: - Por que diz isso?
MULDER: - Se viesse até aqui ia se surpreender. Ele acaba de me entregar as chaves do carro.
SCULLY: - Isso é mal?
MULDER: - Não entendi a dele. Se está louco pra sair ou está me mandando embora...
1:23 A.M.
[Som: Simple Minds – Don’t You Forget About Me]
Madrugada. O céu estrelado. Mulder dirige o porsche de Scully. Scully ao lado dele. Cookie apoiado com as patas no banco traseiro do carro, as orelhas ao vento, olhando pra paisagem. Scully não fala nada. Está pensando.
SCULLY (OFF): - Passamos o dia na rua... Fizemos um piquenique num lugar lindo... Mulder ensinou basquete ao Cookie... (RI) Na verdade, o Cookie deu um banho de roubar bola no Mulder... Deixou o pobre esparramado na grama, sem fôlego. O puxava pela bermuda, mas Mulder havia desistido. Entregou o jogo. Acho que mais um tempo e o Cookie acaba fazendo cesta... A madrugada aproximava-se, mas não queríamos voltar pra casa... Acho que nem o Cookie queria. Mulder era muito maluco mesmo. Tomamos uma estrada sem fim, cabelos ao vento, rindo e trocando beijos. Eu estava mais feliz do que alguém que ganhou na loteria. Afinal, eu havia ganhado no amor. O mais difícil de todos os jogos. Aquele que quando a gente perde, não amassa simplesmente e joga fora, pronto pra tentar de novo... Estávamos parecendo dois adolescentes. Eu amo esse homem... Olho pra ele e vejo tanta felicidade entre a gente e me pego, sem querer, derrubando lágrimas que o vento seca. Por que, Deus, por quê? Por que a gente nunca consegue realmente viver? Só viver? Nós somos felizes, dentro de todas as nossas desgraças. Mas eu não sei por que Deus tinha de deixar as coisas ruins acontecerem. Tantos casais que se odeiam, e a gente que se ama tanto...
Mulder olha pra ela.
MULDER: - Deixa Deus fora disso, Scully. Nada e nem ninguém vai afastar a gente. E quer saber de uma coisa? O primeiro que morrer segue o outro.
SCULLY: - ... Mas se eu me matar, não vou pro inferno? E daí, se você for pro céu?
Ele olha seriamente pra ela.
MULDER: - Vou ao inferno te buscar. Ou fico por lá com você.
SCULLY (OFF): - Eu olhei pra você e daí sim comecei a chorar.
MULDER: - Scully... Para com isso. Não estou doente e mesmo que estiver, eu vou vender a minha alma pra eles, mas não vou morrer. Não que eu ligue pra isso... A bem da verdade eu ligo. Porque eu não quero ficar longe de você.
Mulder para o carro. Desce.
SCULLY: - O que vai fazer?
Mulder abre o porta malas. Tira uma latinha de spray e sacode.
MULDER: - (SORRI) Lembra-se disso? Nosso primeiro caso?
SCULLY: - (SORRI) Como isso está aí?
MULDER: - Eu coloquei.
Ela desce. Os dois vão pro meio da estrada. Ele tira a tampa do spray.
SCULLY: - Mulder... (OLHA PRO CÉU/ ASSUSTADA) ... Sente que eles estão aqui?
MULDER: - Vou marcar o lugar, Scully. Isso é um fato muito importante pra ser esquecido.
Ela olha para o chão. Ele escreve as iniciais deles.
SCULLY: - (RINDO) Mulder! Seu vândalo.
MULDER: - (RINDO) Pronto. M e S.... Não... Não gostei... Falta um coração aqui!
SCULLY: - Mulder, não! Isso é propriedade federal...
MULDER: - (DESENHANDO) E daí? Somos ‘federais’.
SCULLY: - Mulder... Pensei que faria um X.
MULDER: - Essa letra me dá até arrepio, Scully. É a letra mais amaldiçoada do alfabeto. Nada de bom vem dela.
Ele fecha o spray. Olha para o chão.
MULDER: - Que tal?
SCULLY: - ... Mulder, isso tá lindo...
Mulder olha pra cima. Grita.
MULDER: - Estão vendo, desgraçados? Essa é a diferença entre as nossas raças!
SCULLY: - ...
MULDER: - Podem me ferrar! Mas eu não me entrego!
SCULLY (OFF): - Olho surpresa pra ele. Parece irredutível nas palavras. Pela primeira vez, depois de tudo que nos aconteceu, eu consigo ver o velho Mulder. Ele estava de volta. Um Mulder forte. Disposto a ir até o fim. Revitalizado. Mas ao mesmo tempo, eu vejo o Mulder vingativo, com uma sede de justiça implacável. E eu tenho medo disso.
Mulder abre os braços e olha para o céu.
MULDER: - Venham desgraçados! Eu tenho uma coisinha pra vocês... Eu sou o filho bastardo!!! E dessa vez eu vou vencer! Podem colocar chips onde quiserem! Podem me retalhar o quanto quiserem! Vamos ver quem vai se ferrar dessa vez!
Mulder olha pra ela.
MULDER: - Scully, mesmo que me retalhassem todo, como uma maldita cobaia, e tirassem fora o meu coração, ele ficaria pulsando durante toda a eternidade... Por você. Chamam isso de milagre. E chamo isso de vitória.
Ela cerra a fisionomia, fazendo um beiço de quem vai chorar. Caminha até ele.
SCULLY: - ... Mulder...
Os dois se abraçam. Ficam abraçados por um bom tempo, dentro do coração desenhado por ele no asfalto.
2:16 A.M.
O carro parado no meio de um campo. Ao lado, Mulder e Scully deitados num cobertor. Ele com a cabeça apoiada nos braços, um capim na boca, olhando para o céu. Ela, ao lado dele, olhando para o céu também. Cookie, com as patas por sobre a barriga de Scully, está dormindo. Scully faz carinhos nas orelhas dele.
MULDER: - Não parece tão calmo visto daqui? E de pensar que há uma guerra se travando lá em cima pra ver quem fica com a experiência chamada Terra.
SCULLY: - ... Mulder, eu tenho medo disso. Medo de pensar que não há um Deus lá em cima, mas... Apenas astronautas. Então somos todos cobaias de Deus? Só isso?
MULDER: - Deus, Scully, é a energia toda que move o universo. O criador é que é astronauta. Não confunda Deus com criador.
SCULLY: - Eu... Eu ainda não consigo assimilar isso...
MULDER: - ... Utriculária.
SCULLY: - O quê?
MULDER: - Lembrei o nome. Utriculária. Você é uma utriculária.
SCULLY: - ???
MULDER: - Uma espécie de planta carnívora.
Ela sorri. Olha pra ele, curiosa. Ele continua olhando para as estrelas.
MULDER: - Armadilhas de sucção são utilizadas por todas as espécies de utriculária. Elas consistem de pequenas vesículas, cada qual com uma diminuta entrada cercada por gatilhos que, quando estimulados, provocam a abertura desta entrada. Devido à diferença de pressão entre o interior e o exterior da vesícula, quando a entrada é repentinamente aberta, tudo ao redor é sugado para dentro, incluindo a presa que estimulou o gatilho.
Ela começa a rir. Dá um tapinha nele. Ele dá um sorriso debochado.
MULDER: - Diferentemente das flores mais comuns, as deste gênero são zigomorfas. O cálice é formado por apenas duas sépalas; a corola é formada por dois labelos e a espora. (RI) A espora tem a função de armazenar o néctar para atrair agentes polinizadores, ou insetos, se preferir. Eles precisam separar os dois labelos, normalmente usando o peso do corpo sobre o labelo inferior, baixando-o para enfiar a cabeça ou língua dentro e então chupar o néctar.
Ela se levanta, acordando o cachorro. Senta-se ao lado dele. Belisca sua barriga.
MULDER: - Au!
SCULLY: - Seu asqueroso! Eu entendi, tá? Utriculária foi a sua mãe!
MULDER: - (RINDO)
SCULLY: - ... Safado.
MULDER: - Vem aqui, minha Utriculária.
Ela deita-se, colocando a cabeça no peito dele. Ele a envolve com o braço.
SCULLY: - Mulder...
MULDER: - Fala.
SCULLY: - Eu sei por que sempre sou eu quem começa as brigas. Eu sou a culpada, sou sempre eu que me afasto.
MULDER: - ...
SCULLY: - É a tal coisa de dois pólos iguais não se atraem. Somos diferentes, por isso nos atraímos. Mas ao mesmo tempo, eu nos afasto. É a teoria da força de interação molecular, chamada de Força de Van der Walls... Mantida certa distância, pólos diferentes se atraem fortemente. Mas uma vez superada essa distância, seja pra menos ou para mais, a força diminui drasticamente, no caso de haver afastamento exagerado ou gera total repulsão no caso de proximidade exagerada. Culpa do pólo positivo. Eu sou o pólo positivo. Te quero tanto pra mim que uso de mais e mais ‘força’ pra atraí-lo e isso só me joga pra mais longe de você.
MULDER: - ... Só tenho uma coisa pra te dizer.
SCULLY: - ...
MULDER: - E é uma letra, uma verdadeira poesia.
SCULLY: - ...
Ele vira-se. Olha pra ela, enquanto brinca com os cabelos ruivos por entre seus dedos. Fala pra ela, olhando-a nos olhos.
MULDER: - Lembra de mim, dos beijos que escrevi nos muros a giz. Os mais bonitos continuam por lá, documentando que alguém foi feliz... Lembra de mim, nós dois nas ruas provocando os casais, amando mais do que o amor é capaz. Perto daqui, há tempos atrás... Lembra de mim, a gente sempre se casava ao luar, depois jogava os nossos corpos no mar... Tão naufragados e exaustos de amar. Lembra de mim, se existe um pouco de prazer em sofrer, querer te ver talvez eu fosse capaz... Perto daqui ou tarde demais... Lembra de mim*.
Ele aproxima os lábios e a envolve num beijo.
(*Ivan Lins)
4:21 A.M.
Scully, sentada na grama, observa Mulder dormir. Cookie está dormindo, ao lado de Scully.
SCULLY (OFF): - Lindo... Tão lindo... (SUSPIRA) ... E eu perdi meu sono. Nem o Cookie serve pra fazer companhia, esse dorminhoco... Nada pra fazer e isso me dá medo. Porque vou começar a pensar e vou acabar chorando... (RESPIRA FUNDO) Melhor lembrar... Como se eu escrevesse notas para relembrar você... Tantas maluquices que vivemos. E quase a maior parte envolveu sexo. Por que o sexo é tão engraçado entre a gente?
Scully sorri. Olha pra Mulder.
SCULLY: - A primeira vez que fizemos isso foi tão séria... E foi tão fantástica... Mas aquele dia... Você tem um senso de humor impressionante... (RI) ... Só você, Mulder...
FLASH BACK:
Apartamento de Mulder. Silêncio completo. Até que este se quebra por um grito.
Câmera de aproximação pela sala vazia.
Escuta-se apenas a voz deles.
SCULLY: - Nãoooooooooo!!!!!!!
MULDER: - ...
SCULLY: - Ohm, meu Deus! Não! Não! Nãooooooooo!!!!!!
MULDER: - Tá, bem. Eu paro.
SCULLY: - Se parar você morre Mulder!
MULDER: - Decide de uma vez!
SCULLY: - Para! .... Não! Esquece! Hummmmmm.... Não, não para... Ai, minha noooooossa!!!!
MULDER: - (GRITA) Não, Scully!!!!!! Não faz isso!!!!!!!!
SCULLY: - Então o que eu faço???
MULDER: - Faz isso sim... Assim... Oh, meu deus!... Ai, Scully.... Hummmmm... Assim, Scully... Assim...
SCULLY: - E assim?
MULDER: - Ai, assim também!!!
SCULLY: - Oh, céus!!!!!!!! Mulder, eu não posso mais!!!!!!!! Eu vou morrer! Eu tô com falta de ar!!!!!!!!
MULDER: - Deixa de ser manhosa! Isso não dói.
SCULLY: - Ah, é? Não dói porque não é com você!
MULDER: - Tá......
SCULLY: - Não, agora não!!!! ... Ai, assim, assim.... assim...... Oh, Mulder...... Hummmmmmm
Batidas na porta.
MULDER: - Droga! Deve ser o Skinner...
SCULLY: - Não!
MULDER: - Para de gritar!
SCULLY: - Se eu parar vou engolir a minha voz....
Ele sai correndo do quarto, fechando as calças. Todo atrapalhado.
MULDER: - Esqueci dessa reunião... Ai! Droga! Quase que faço uma circuncisão involuntária!!! (GRITA) Já vai!!!!
Ele enfia a camisa pra dentro das calças, coloca o sapato, quase perdendo o equilíbrio.
SCULLY: - (GRITA) Mulder, me tira daqui!!!!!
MULDER: - Não posso, tô atrasado!
SCULLY: - Mulder eu não consigo me mover!!!
MULDER: - Quer que eu traga um pé de cabra pra tirar suas mãos da cabeceira da cama?
SCULLY: - Mulder isso não tem graça!!!!
MULDER: - Ah, tem sim. Você gostou.
SCULLY: - (MANHOSA) Eu nunca deveria ter confiado em você, Mulder!
Ele ri, abotoando a camisa.
SCULLY: - (SE FAZENDO DE VÍTIMA) Isso foi... Foi um abuso!
MULDER: - Ora, eu não sou criativo, não é?
SCULLY: - Você é um mentiroso, isso sim! Estou começando a ficar assustada com você!
MULDER: - Ah, não faz drama. Foi você quem topou.
Ele pega o casaco. Abre a porta. Skinner está parado ali.
SKINNER: - Algum problema? Ouvi gritos...
MULDER: - (CÍNICO) Não, nenhum. Só uma pequena discussão.
SKINNER: - Discussão?
MULDER: - (CÍNICO) É, ela está doente, com dor de garganta. Acredita que a grande Dra. Scully faz um tremendo escândalo pra levar uma injeçãozinha de benzetacil no bumbum?
Mulder sai, fechando a porta. Scully sai do quarto, com a mão esfregando as cadeiras, mancando.
SCULLY: - (MANHOSA) Ai... Ai... Por que eu fui topar isso? ... Ai... Doente com dor de garganta. Hahn!! ... Injeçãozinha de benzetacil... Você não me deu uma injeçãozinha... Aquilo era um injeçãozão! Benzetacil uma ova! Seu mentiroso! ... Não doeu por que não foi no seu, né?... Hum... Gostoso... Ai!
TEMPO PRESENTE:
Scully tem um acesso de riso. Põe a mão sobre os lábios.
SCULLY (OFF): - Mulder... Nós somos dois malucos, completamente sem cura... Mas acho que isto é o que mantém nosso relacionamento longe da rotina. Nosso sexo como se fosse sempre a primeira vez... A gente se conhece, mas parece que sempre um dos dois tem uma carta na manga... Me lembro daquela vez em que eu e você estávamos no seu apartamento. Hora do almoço. Decidimos que ‘almoçaríamos’ juntos. (RI) Eu estava completamente molhada e cheia de tesão... Passava as minhas unhas em suas costas e amarrotava sua camisa... Agarrava forte em sua bunda e o forçava contra mim... Quero enlouquecer!!!! – Gritava. E pulei em cima de você, quase derrubamos um móvel. Começamos a nos agarrar feito dois animais selvagens, nos batendo contra as paredes. Eu estava fora de mim. Você me encostou na parede e quando entrou em mim, eu comecei a gritar. E você, seu sacana, agitador, ficou mais empolgado ainda, gritando junto e me estimulando, pedindo pra que eu gritasse. Bom... Não demorou muito e começou o vizinho de baixo a bater com o cabo da vassoura, fazendo barulho de estalos no assoalho... Outro gritava do apartamento próximo. Em 3 minutos o síndico estava na porta, batendo como louco. E nós, o que fizemos? (RI) Continuamos! Ele não chamaria a polícia, porque éramos a polícia... (RI) O único lado bom de ser policial... A vizinhança já estava toda em pânico. Batendo na porta. Olhei pro relógio e percebi que iríamos chegar atrasados na reunião. Mas estávamos encrencados: Como sair dali, com tanta gente lá fora? Onde eu ia meter minha cara? Apesar de que ninguém me conhecia ali, a não ser o síndico. Então você pegou suas algemas e me algemou. Puxou a arma. Abriu a porta e me empurrou pra fora. Os vizinhos todos olhando. E você cinicamente olhou pras pessoas e falou: - Essa ladra safada. Tem mais que tomar uns tabefes. Estava tentando assaltar meu apartamento. Não se preocupem, vai agora mesmo pro xadrez...
Scully ri.
SCULLY (OFF): - O síndico ficou olhando descaradamente pra nós dois. Todos ali acreditaram na história, menos ele, obviamente. Então baixou a cabeça e saiu rindo pelas escadas. E nós saímos rapidamente dali. Não posso nem olhar mais pra aquele homem, Mulder. De tanta vergonha! ... Aliás, passamos muitos momentos difíceis naquele apartamento. Mas também passamos momentos muito bons. E alguns frustrantes... Lembro que tínhamos feito cinco meses de namoro. Eu ia bastantes vezes ao seu apartamento e ambos sabíamos que mesmo usando o termo namoro, as coisas entre nós eram sérias demais para ficarem assim. Ou eu o procurava, ou você me procurava, mas não dormíamos um sem o outro. Estávamos mais para um casal do que para quem tem apenas um caso. Começamos com o coração e não sabíamos nada a respeito da química de pele entre nós dois. Mesmo em cinco meses, ainda pouco nos conhecíamos em matéria de sexo. Eu havia deixado a marca de que estava disposta a tudo com você, desde a primeira vez. (RI) Que por sinal, foi naquele apartamento... Que mulher em seu estado mental perfeito iria desprezar você? Negar alguma coisa... Não, eu sei que às vezes posso parecer rude demais com você, mas eu não sou doida, eu sei bem o que tenho... Mas você ainda pouco se entregava e eu não tinha mais ideia de quem era o homem Mulder, se aquele que pouco se entregava ou o tarado que guardava filmes e revistas eróticas... Então, combinamos tudo. A noite prometeria ser inesquecível. Eu cheguei a me produzir toda pra você, comprei lingerie novo, você encheu o quarto de velas e com direito a champanhe. Estávamos prontos pra ter uma noite inesquecível... Quando seus amigos bateram na porta. Você acabou por sair com eles para não me deixar a noite toda no quarto, escondida. Mas eu não fui embora. Você se livrou deles rapidinho. Voltou. Então estávamos realmente frustrados nessa noite. E doidos de desejo. Você apagou as luzes, desligou o celular e ficamos quietinhos no quarto. Tão quietinhos, com medo de alguém bater, que, de tanto cansaço e com as luzes apagadas, acabamos dormindo... Tempos difíceis aqueles...
Ela olha para o lado. Começa a cantarolar baixinho.
Apartamento de Mulder - 10:18 P.M.
[Som: For Your Babies – Simple Red]
Mulder deitado no sofá. Scully, de costas, aninhada nos braços dele. Assistem TV.
SCULLY (OFF): - Já é final de domingo... Amanhã a rotina começa novamente e só podemos ser quem somos depois de fechar essa porta. O dia parece que não tem fim naquele porão. Ficamos fingindo, porque nos permitiram fingir. Essa foi a condição para continuarmos juntos no trabalho. Mas algumas vezes tenho vontade de não fingir mais. Mas não posso fazer isso agora. Nós dois temos uma busca. Alguém que nos é caro. Alguém que representa o nosso amor... E enquanto não o achamos, ficamos aqui, tentando levar nossa vida, um colando os cacos do outro. Como dois cúmplices. Traçando planos em silêncio, com os olhos... Medo de escutas em todos os lugares... Principalmente aqui... (SUSPIRA) Bom, nada como um final de domingo perfeito: Tomamos um gostoso banho, comemos algo e ficamos assistindo a um filme de suspense, juntinhos, agarradinhos. Algumas vezes trocando beijos onde nossas línguas se enroscam. Você me encosta em seu peito e assim eu posso sentir o calor do seu corpo todo. Um calor terno. Um calor de pele. Um calor de amor. Mas acima de tudo, um calor de alma. (DERRUBA LÁGRIMAS) Como quando você me flagrou cantarolando no banheiro e roubou minha canção, cantando-a pra mim. Me dizendo que aquelas palavras seriam uma promessa e que eu teria meu bebê. E ainda cantaria pra ele dormir a mesma canção. Mesmo que o pai dele já não estivesse mais aqui... Mulder, você cantou a canção... Mas o refrão era uma coisa minha. Particular e própria. Só eu poderia cantar pra você. Como ainda canto: Eu não acredito em muitas coisas, mas em você eu acredito.
Ela fecha os olhos, aninhando-se mais nos braços dele.
X
11/07/2000.
Obrigado pela leitura!
Podemos manter o Inkspired gratuitamente exibindo anúncios para nossos visitantes. Por favor, apoie-nos colocando na lista de permissões ou desativando o AdBlocker (bloqueador de publicidade).
Depois de fazer isso, recarregue o site para continuar usando o Inkspired normalmente.