lara-one Lara One

Relax da mitologia. Depois de assistir 'X-COPS', acho que estou devendo uma pro CC, afinal eu não sou a única a comer tomates híbridos por aí... Amigas leitoras: Scully está com uma vontade enorme de conversar com alguém. O que ela teria a dizer pra vocês?


Fanfiction Seriados/Doramas/Novelas Para maiores de 18 apenas.

#x-files #arquivo-x
0
5.1mil VISUALIZAÇÕES
Completa
tempo de leitura
AA Compartilhar

S03#08 - HOMENS...

INTRODUÇÃO AO EPISÓDIO:

Fade in.

Apartamento de Mulder - 6:49 P.M.

[Som: Sinnead O’ Connor - Nothing compares 2 U]

Plano americano (foco do peito pra cima).

Scully, vestida numa blusa de malha, com uma camisa por cima, sentada ao micro. Ela olha pra tela, muito atenta. Scully digita alguma coisa. Percebe a câmera. Olha pra câmera. Sorri, simpática.

SCULLY: - (FELIZ) Oi!!!

Scully enlaça os dedos entre si e apóia os braços sobre a escrivaninha, como se fosse uma apresentadora de telejornal.

SCULLY: - Meu nome é Dana Scully. Sou médica e agente do FBI. Quando não estou trabalhando, perseguindo coisas nas quais muitas vezes eu não acredito, gosto de entrar na rede e ficar descobrindo coisas novas, conversando com pessoas que não conheço...

MULDER: - (GRITA) Scully!!!!

Scully, olhando pra câmera, suspira. Vira o rosto.

SCULLY: - (GRITA) Já vou!

Scully volta a olhar pra câmera. Dá outro sorriso.

SCULLY: - Onde eu parei? ... Ah! Estava falando sobre a minha pessoa. Bem, eu gosto...

MULDER: - (GRITA) Scully!!!

SCULLY: - Me desculpe... (VIRA-SE PRA TRÁS/ GRITA) O que foi, Mulder?
MULDER: - (GRITA) Esqueci de pegar minha toalha! Pode fazer o favor de trazer pra mim?

Scully olha pra câmera.

SCULLY: - Acho que teremos um bom papo esta noite. De mulher pra mulher. Fico me perguntando se, quando não estávamos juntos, quando ele esquecia a toalha, quem ele chamava. O síndico?

Scully levanta-se. Abaixa-se e olha pra câmera.

SCULLY: - Me dê licença, eu já volto. Não vou demorar, eu prometo.

VINHETA DE ABERTURA: NÃO PROVOQUE... É COR DE ROSA CHOQUE!


BLOCO 1:

CAPÍTULO 1:

HOMENS SÃO CRIATURAS INÚTEIS

[Som: The Cardigans – Lovefool]

Scully sentada à escrivaninha. Olha pra câmera.

SCULLY: - Se você disser que nunca teve de levar uma toalha ou uma roupa pra ele no banheiro, estará mentindo. Os homens, depois que estão com você, costumam se esquecer (FAZ SINAL DE ASPAS COM OS DEDOS) das coisas que antes não esqueciam. Primeira regra: A primeira vez passa. Depois, você também pode se esquecer (FAZ SINAL DE ASPAS COM OS DEDOS) de fazer esse favor.

Mulder entra na sala, de cuecas boxer pretas e camiseta cinza. Atira-se no sofá. Liga a TV. Fica mudando de canal, sem parar.

Corta pra Scully.

SCULLY: - Homens não assistem TV. Eles brincam de controle remoto. Teoria do caçador, lembra-se? Eles caçam os canais... Em menos de 30 segundos, ele vai abrir a boca... Como eu sei? Ora, o jogo ainda não começou...

MULDER: - Scully, que tal umas pipocas?

Scully olha pra Mulder, maquiavélica.

SCULLY: - Boa ideia, Mulder. Quero as minhas sem sal.

Mulder olha pra Scully.

MULDER: - ... Pensei que você ia fazer.

SCULLY: - Mulder, o microondas está lá, é todo seu.

Mulder suspira.

MULDER: - (PIDÃO) É que... Eu não me acerto com aquilo.

SCULLY: - (INCRÉDULA) Você, o inteligente e extraordinário agente Fox Mulder, que resolve enigmáticos casos no FBI, não consegue apertar a tecla que diz 'pipocas'?

MULDER: - É que... (PIDÃO) As suas pipocas ficam diferentes, sei lá. Você tem jeito pra fazer pipocas. Você é ótima com pipocas.

Scully levanta-se. A câmera a acompanha. Scully fica olhando pra câmera, enquanto prepara as pipocas.

SCULLY: - Segunda regra: Nunca caia no truque de 'você faz pipocas melhor do que eu'. Quando você fizer o primeiro mousse de sua vida pra agradá-lo, pode ter certeza de que depois vai ouvir: puxa, sua lasanha é melhor do que a minha, que vontade de comer aquele bifinho que só você faz, meu arroz não fica no ponto, etc, etc, etc... Então, é tarde, amiga. Você já foi eleita a cozinheira da casa!

Scully retira as pipocas. Coloca numa travessa de plástico. Vai pra sala. Entrega pra Mulder. Olha pra câmera.

SCULLY: - Agora vem o segundo pedido... Quer ver?

MULDER: - ...

SCULLY: - ... (AGUARDANDO EM PÉ, OLHANDO PRA CÂMERA)

MULDER: - Scully, poderia fazer um favor?

SCULLY: - (SORRI CÍNICA) Claro, Mulder.

MULDER: - Traz uma cervejinha gelada?

SCULLY: - (SORRI CÍNICA) Com certeza, Mulder.

Scully olha pra câmera. Volta pra cozinha.

SCULLY: - Só estou fazendo isso hoje pra provar cientificamente pra você a inutilidade de um marido. Não faço essas coisas sob pretexto algum... Bem, sendo sincera, às vezes faço. Mas você, às vezes, também não faz?

Scully abre a geladeira. Leva a cerveja pra Mulder.

SCULLY: - Mais alguma coisa ou posso sentar e pensar em mim?
MULDER: - (IGNORANDO-A) Vá descansar, Scully.

Scully senta-se na cadeira. Olha pra câmera.

SCULLY: - O termo 'vá descansar, Scully' equivale a 'cale a boca e não me atrapalhe porque o jogo começou'. Você deve compreender que o cérebro masculino tem 75% do espaço preenchido com mulheres. Os outros 25% é com esportes que envolvam esferas. Bem, durante algum tempo vou conseguir ficar aqui no computador, pensando em mim. Mas é só até o jogo acabar. Enquanto isso, vou ficar gastando a conta telefônica dele, porque ele não gasta em nada mesmo, esse miserável, mão de vaca.

Scully vira-se pro computador.


8:30 P.M.

[Som: Catatonia – Mulder and Scully]

Scully, de braços cruzados, escorada na pia da cozinha, observa Mulder. Scully faz beiço de quem segura o riso, erguendo as sobrancelhas. Mulder pega a torradeira com raiva e atira no lixo, irritado.

MULDER: - Amanhã eu compro outra. Essa droga não presta mais mesmo!

Mulder sai furioso da cozinha. Scully respira fundo, olha pra câmera. Vai até o cesto do lixo e pega a torradeira. Pega uma chave de fenda e abre o plug da torradeira.

SCULLY: - (CALMA) Terceira lição: Antes de escolher um marido, verifique se ele entende de consertos comuns, tipo pregar um prego, encanamentos, tomadas enguiçadas, troca de lâmpadas... E se ele tem capacidade de percepção pra descobrir que a torradeira não funciona porque simplesmente o fio está solto dentro do plug.

Scully emenda o fio no parafuso do plug. Fecha o plug. Liga a torradeira na tomada. Coloca duas fatias de pão. As torradas saem tostadas. Scully ergue as sobrancelhas.

SCULLY: - Uau! Nada como a santa paciência do sexo frágil... (GRITA) Mulder, suas torradas estão prontas!

Mulder entra na cozinha. Coça a cabeça.

MULDER: - (INCRÉDULO) Como conseguiu isso?

SCULLY: - (DEBOCHADA) Mágica, Mulder. Coloque isso nos Arquivos X. Não tem explicação científica.

Mulder pega as torradas com as mãos.

SCULLY: - Mulder... Coloque num prato.

Mulder pega um prato, contrariado. Coloca as torradas e vai pra sala. Scully olha pra câmera.

SCULLY: - Eles nunca sabem o quanto é chato ficar pisando de pés descalços em farelos espalhados pelo chão. Não são eles quem limpam a casa mesmo. Se tivessem que sair corcundas, carregando um maldito tapete pesado nas costas pra sacudi-lo, e ficar espirrando por três horas consecutivas devido ao pó acumulado, eles dariam um pouco mais de atenção aos farelos. Ah, dariam!

Scully vai pra sala. Senta-se ao computador.

SCULLY: - Quarta regra: Daqui à pouco ele quer que você sente-se ao lado dele pra ver televisão. Pouco importa se você está ocupada com lidas domésticas, se está tirando um tempo pra você ou se está ajudando os filhos nos deveres de casa. Ele, o 'rei Leão', quer as atenções pra ele.

MULDER: - Scully, vem ver TV comigo. Vai passar um filme legal.

Scully olha pra câmera. Suspira. Levanta-se. Senta-se ao lado dele. Mulder põe o braço sobre ela.

SCULLY: - Que filme é esse, Mulder?

MULDER: - Ação.

SCULLY: - Tem algum romance?

MULDER: - (INCRÉDULO) Romance? Que coisa mais chata!

Scully olha pra câmera.

SCULLY: - Isso me lembra uma piada: Um sujeito maluco por filmes de ação entrou numa locadora, ao lado da romântica namorada. Perguntou ao balconista: Tem algum filme onde um cara, enquanto fala dos seus sentimentos pela namorada, sai quebrando e explodindo tudo por aí?


11:21 P.M.

[Som: The Cardigans - Lovefool]

Scully senta-se novamente na frente do computador.

SCULLY: - Acha que agora eu vou conseguir fazer isso? Negativo. Ele foi deitar, mas não vai levar alguns segundos pra voltar e sentar naquele sofá. Vai fazer cara de criança carente, dizendo que tá preocupado, que não consegue dormir e que quer ficar perto de mim.

Mulder entra na sala. Senta-se no sofá. Cara de criança carente. Scully olha pra ele.

SCULLY: - O que foi?

MULDER: - Não consigo dormir. Tô preocupado.

SCULLY: - Vá pra cama, Mulder. Eu já vou deitar.

MULDER: - ...

Scully olha pra câmera, erguendo as sobrancelhas.

SCULLY: - Você tem que fingir que não está se importando. Embora não adiante nada.

MULDER: - ... Scully, eu vou buscar um travesseiro e vou dormir aqui perto de você. Tô sozinho, quero ficar com você...

Scully olha pra câmera.

SCULLY: - Eu não disse?

Scully levanta-se.

SCULLY: - Vá pra cama, Mulder. Vamos dormir.


1:21 A.M.

Scully na cama, deitada de lado. Mulder agarrado nela, dormindo de boca aberta, fungando no pescoço dela. Scully olha pra câmera.

SCULLY: - Ele não é um mal amante. O pior é o depois. Quando ele tá cansado desse jeito, fica fungando e babando no meu pescoço. Regra 5: Aprenda a conhecer seu homem. Vai poder reagir antes dele manifestar-se.

Scully cutuca Mulder.

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - Zzzz...

SCULLY: - Mulder?

MULDER: - Zzzz...

SCULLY: - Mulder!

MULDER: - Ahn? (SONOLENTO)

SCULLY: - Tô sem sono.

MULDER: - Zzzz... Dorme, Scully.

SCULLY: - Regra 6: Somente eles podem ficar sem sono e querendo atenção. Pra passar o tempo, enquanto o imbecil dorme e sonha e você fica sem dormir, brinque com ele. Principalmente, se quando cansado, ele fala dormindo... Quer ver? ... Mulder?

MULDER: - Zzzz...

SCULLY: - Mulder, você ama a Scully?

MULDER: - ... Amo... Zzzz...

SCULLY: - Mulder, qual a mulher mais quente que você já teve?

Scully olha pra câmera, erguendo as sobrancelhas.

SCULLY: - Tome cuidado com essa pergunta. Não tente fazer isso em casa, pode ser perigoso... Mulder?

MULDER: - Ahn???...

SCULLY: - Qual foi a mulher mais quente que você já teve?

MULDER: - Você, Scully...

Scully sorri.

SCULLY: - Eu fiz isso porque já sabia da resposta... Mulder, você ainda gosta de mim?

MULDER: - ... Zzzz... Sim...

Scully olha pra câmera.

SCULLY: - Ele já está no estágio do sim. Agora é que fica mais divertido... Mulder, você é imprestável?

MULDER: - Zzzz... Sim.

SCULLY: - Mulder, você é gay?

MULDER: - ... Sim...

SCULLY: - Mulder, tenho um amante, sabia? Ele é melhor que você.

MULDER: - ... Sim...

Scully olha pra câmera rindo.

SCULLY: - Tá vendo? O tempo passa tão depressa! É melhor do que contar carneirinhos. Você se diverte, esquecendo as preocupações e pega rápido no sono. Mas eu não quero dormir, quero continuar o que estava fazendo.

Scully tira o braço dele de cima de seu corpo. Levanta-se. Põe um robe e vai pra sala.


CAPÍTULO 2:

HOMENS SÃO TODOS IGUAIS

Apartamento de Scully - 3:23 A.M.

[Som: Isaac Hayes – Shaft Theme]

Mulder ajeita-se na cama. Scully dorme, cansada. Mulder liga a TV.

MULDER: - Scully.

SCULLY: - Zzzz...

MULDER: - Scully, acorda!

SCULLY: - (SONOLENTA) Hum? Fala.

MULDER: - ... (EMPOLGADO) Me responde quem é uma máquina de sexo, hum?

SCULLY: - ... (SONOLENTA/ CANTANDO) Shaft!

Mulder lança um olhar incrédulo pra Scully.

MULDER: - (INCRÉDULO) Shaft???

SCULLY: - (CANTANDO) ... You're damn right!

MULDER: - Não estou falando de séries de TV, Scully! (INDIGNADO) Shaft...

SCULLY: - Zzzz...

MULDER: - (EMPOLGADO) Que nota você dá pra mim?

SCULLY: - Ahn? Do que está falando?

MULDER: - Vamos. Que nota você daria pra essa noite?

SCULLY: - ... Zzzz...

MULDER: - Scully?

SCULLY: - Ahn? Mulder, me deixa dormir! Estou um caco!

MULDER: - ... (EMPOLGADO) Vai, me diz.

SCULLY: - (SONOLENTA) ... Diz o quê, Mulder?

MULDER: - (EMPOLGADO) Que nota você daria pra mim?

SCULLY: - (SONOLENTA) ... Nove e... meio.

[Corte da música] Mulder faz cara de pânico. Senta-se na cama, preocupado.

MULDER: - (PÂNICO) Nove e meio? Por que nove e meio? Por que o ‘meio’?

SCULLY: - ... Zzzz...

MULDER: - Scully!

SCULLY: - (SONOLENTA) ... Hum, o que é?

MULDER: - (PÂNICO) Por que nove e meio?

SCULLY: - Sei lá, Mulder, me deixa dormir!

MULDER: - (ANGUSTIADO) Não, eu quero saber! O que faltou pra esse 'meio' aí?

SCULLY: - Ah, Mulder, eu disse por dizer! Me deixe dormir!

Mulder olha pra TV. Fisionomia de intriga. Cutuca Scully.

MULDER: - Scully, o que faltou pra dez?

SCULLY: - Zzzz...

MULDER: - Scully!

SCULLY: - (INDIGNADA) O que é, Mulder?

MULDER: - (IRRITADO) Eu quero saber por que foi nove e meio e não dez!

SCULLY: - Eu sei lá! Eu disse por dizer.

MULDER: - (NERVOSO) Não, você falou porque achava que eu mereci só nove e meio. Quero saber o que faltou!

SCULLY: - (IRRITADA) Cala a boca, Mulder! Me deixe dormir, tenho que acordar cedo... Vá dormir!

MULDER: - (NERVOSO) Dormir? Como posso dormir se você me deu nove e meio?

SCULLY: - (SONOLENTA) Dez, Mulder. Eu me enganei.

MULDER: - (ANGUSTIADO) Não, não tem engano não! Você disse nove e meio e eu quero saber por que me deu nove e meio!

Scully abre os olhos. Olha pra câmera.

SCULLY: - Diante de uma situação dessas, onde você agiu sem pensar, não adianta querer desfazer o que disse. Homens são inseguros quanto ao sexo. Portanto, mesmo que seja um 4 ou 3, diga sempre 10, porque senão você não conseguirá dormir. Ele vai sentir que sua virilidade de macho está decaindo. E isso afeta a sua auto-estima de maneira que o homem fica arrasado e pode sucumbir até a morte. Se o rendimento dele cai, ele cai junto.

Scully senta-se na cama, sonolenta, com a maior paciência do mundo.

SCULLY: - Mulder, eu não sei porque disse nove e meio. Estava dormindo.

MULDER: - (PARANOICO) Não me engane, Scully... Eu sei porque disse isso. Hoje é nove e meio, amanhã é 8 e até o final do ano vai ser zero!

Scully olha pra ele. Mulder está cabisbaixo, abatido.

MULDER: - (NERVOSO) São os 40 se aproximando, eu sei disso! Depois vem os 50 e... (DESESPERO) A minha vida sexual acabou!

SCULLY: - (INCRÉDULA) Por causa de um nove e meio?

MULDER: - (NERVOSO) Eu não sou mais o mesmo!

Scully vira-se pra câmera.

SCULLY: - Se quiser se vingar de um homem, basta dar nota nove e meio.

Scully olha pra Mulder.

SCULLY: - Mulder, você foi ótimo. Você sempre é ótimo.

MULDER: - Não, eu não fui, você me deu nove e meio! Faltou alguma coisa!

Scully olha pra câmera.

SCULLY: - ... Nessas horas, amiga, o sono está vencendo você, então você perde a paciência e começa a ficar cruel. Muito cruel mesmo.

Scully vira-se pra Mulder.

SCULLY: - Mulder, o que importa seu desempenho? Ahn? Você sabia que as mulheres são responsáveis por seus próprios orgasmos? Que não são os homens quem nos dão orgasmos, mas nós mesmas? Em nós não é algo mecânico como em vocês. Sabia disso?

MULDER: - (PÂNICO) Você mentiu pra mim! Scully, você mentiu pra mim durante todo esse tempo! Como pôde, Scully? Por que vocês mulheres são tão cruéis e insensíveis? Primeiro nos usam e depois nos deixam de lado, como meros objetos? Aproveitam-se da gente, isso sim! Das nossas fraquezas!

Scully olha pra câmera.

SCULLY: - Diante de uma situação dessas, você propõe uma nova tentativa e depois, finaliza dizendo: Dez! Dez! Oh, meu Deus, Dez! Ahhhh.... Dez! Você é o melhor! ... Então você conseguirá dormir em paz.

Scully olha pra Mulder.

SCULLY: - Mulder, vou te dar uma chance. Me mostre que pode merecer um 10.

MULDER: - (FELIZ) Sério?

SCULLY: - Sério. Então descobriremos o meio ponto que faltou.


BLOCO 2:

3:22 A.M.

[Som: The Cardigans – Lovefool]

Scully na cozinha, bebendo um chá. A câmera se aproxima.

SCULLY: - Oi, amiga! Você de novo? Como pode ver, perdi o sono. Ele tá lá, acabado, dormindo, roncando que nem um porco, e eu aqui, acordada, tomando um chá.

Scully puxa uma cadeira e senta-se.

SCULLY: - Ao contrário dos homens, as mulheres se despertam depois do sexo. A não ser que estejam cansadas também. É como uma guerra. Eles caem e a medalha é sua... Ele é um ótimo marido, amante, companheiro, amigo e colega de trabalho. Mas tem essas coisinhas, esses mínimos detalhes, que só a convivência mostra.

Scully toma um gole de chá.

SCULLY: - Antes de dividir a cama com eles, eles são incríveis em tudo. Depois, você vai descobrindo os defeitos... E vai se perguntando onde eles estavam quando você o conheceu. Algumas mulheres dizem que os homens são peritos em esconder seus defeitos. Não acredito. Se assim fosse, sempre que você chegasse de surpresa no apartamento dele, antes de casar, encontraria tudo sempre arrumadinho. Eu tenho uma teoria: os defeitos estavam lá, mas você não enxergava, porque seus olhos estavam preocupados demais em brilhar enquanto você olhava pra ele e sonhava com o Superman. Você dizia pra si mesma: Ele é diferente! Ele é o meu príncipe encantado! Ele é lindo, ele é maravilhoso, ele é tudo o que eu poderia querer, nós combinamos tanto, ele é moderno, não é machista, ele parece um artista de TV, ele sexy, ele é bonito, ele tem senso de humor!

Scully suspira.

SCULLY: - Mas acredite, depois você descobre que ele é maravilhoso, mas ronca. Que ele não tem senso de humor, mas uma ironia ferina. Que ele é sexy e bonito, mas é um inútil nas lidas domésticas. Embora sirva pra desfilar do seu lado, pra você fazer inveja pras outras mulheres. Que ele é moderno e não é machista, mas prefere que você cozinhe e pede pra passar a camisa dele antes do trabalho.

Scully suspira novamente.

SCULLY: - Bom, acho que agora vou dormir.

Scully sai da cozinha. Vai pro quarto. Mulder está dormindo atirado, ocupando toda a cama. Scully olha pra câmera.

SCULLY: - Quando uma atitude grosseira como esta acontecer, faça como eu.

Scully tenta empurrá-lo com as mãos. Ele nem se move. Ela então coloca o pé sobre a cama e o empurra. Mulder nem sai do lugar.

SCULLY: - O problema de homens mais altos e grandes do que você é esse... (TENTANDO AFASTÁ-LO) Argh!!! Força! ... Droga... (DESISTE) Você não consegue empurrá-los da sua cama facilmente. Apele pra algum tipo de tortura.

Scully começa a fazer cócegas no pé de Mulder. Ele ri, mas nem se move. Scully o belisca. Ele ajeita-se na cama. Scully deita-se. Olha pra câmera.

SCULLY: - Boa noite, amiga!

Scully apaga a luz do abajur.


7:37 A.M.

[Som: Catatonia – Mulder and Scully]

Scully, com cara de sono, olha pra Mulder, que está de moletom.

SCULLY: - (SONOLENTA/ INCRÉDULA) Correr? A essas horas, Mulder?

MULDER: - Scully, precisa manter a forma. Nada como esportes.

SCULLY: - Me deixa dormir, Mulder!

Scully enfia-se embaixo do edredom. Mulder senta-se na cama.

MULDER: - Ah, Scully... Vamos fazer exercícios juntos, respirando a mãe natureza...

Scully tira a cabeça de debaixo do edredom. Olha pra câmera.

SCULLY: - Quando ele disser isso, você deve reagir instantaneamente com algo do tipo: se não me deixar dormir, além de ir pra mãe natureza, vai voltar pra casa de sua mãe! Numa caixa como encomenda expressa e sem retorno.


9:57 A.M.

[Som: The Cardigans – Lovefool]

Na lavanderia, Scully, de luvinhas, revira a terra de um vaso de folhagens. A câmera aproxima-se.

SCULLY: - Adoro plantas. Não fazem sujeira e não pedem ração. Se esquecer de dar água, elas custam a morrer... Bom, como toda a mulher que trabalha fora, eu gosto de no final de semana cuidar da minha casa, das minhas plantas... Acho que isso é uma terapia, sabe? ... Você fica aqui, revirando a terra, esquece seus problemas... Até esquece quem é você. Nós, mulheres modernas, temos uma vida muito agitada. Desde que deixamos o escravagismo do sutiã e partimos pra luta, muitas vezes nos pegamos estressadas, cansadas... E sem contar que ainda por cima, se somos casadas ou temos filhos, as coisas ficam mais complicadas. Você é mãe, mulher e trabalha fora.

Scully coloca adubo na plantinha.

SCULLY: - Eu não tenho filhos ainda, literalmente. Porque o grandão, que agora está lendo o jornal lá na sala, é um filho também. Tenho uma teoria interessante: Acho que toda mulher é mãe por natureza. E todo o homem é filho. Pode parecer uma coisa meio Freudiana, mas acho que é assim. Os homens sempre querem atenção, como as crianças. Se você se descuida, eles fazem besteira. Você tem sempre que estar atenta. Eles não sabem se virar sozinhos.

MULDER: - (GRITA) Scully!!!!

SCULLY: - Eu não disse?

Scully tira as luvinhas e vai pra sala.

SCULLY: - O que foi?

MULDER: - Eu podia jurar que deixei as chaves do carro aqui na estante!

SCULLY: - Sei. Mulder, já olhou em seus bolsos?

Mulder põe a mão nos bolsos. Tira as chaves.

MULDER: - Viu onde coloquei minha jaqueta?

SCULLY: - Na poltrona do quarto.

MULDER: - E aquele livro que o Frohike me emprestou?

SCULLY: - Dentro da gaveta da cômoda.

MULDER: - Sabe onde estão meus óculos escuros?

SCULLY: - Acredito que onde você os deixou, sobre o balcão da cozinha.

Mulder vai pra cozinha. Scully olha pra câmera.

SCULLY: - Quando isso acontece, não fique furiosa. Não é intencional. Eles não têm massa encefálica pra lembrar de detalhes. É um defeito genético, não os culpe. Já viu um homem fazer comida e passar roupa ao mesmo tempo? Não. Porque podem causar um incêndio.

Mulder volta pra sala.

MULDER: - (IRRITADO) Acho que vou sair. Eu ia arrumar aquela porta do armário da cozinha. Mas você, pra variar, não podia me ajudar. Estava ocupada com plantas...

SCULLY: - Então vá arrumar. Eu te ajudo.

MULDER: - Onde estão as chaves de fenda nessa casa? Por que eu não encontro nada por aqui? Você deixa tudo espalhado, fora de ordem... Isso é um absurdo!

Scully olha pra câmera.

SCULLY: - Nem vou dizer nada. Não vale a pena. Definitivamente não vale a pena.

Scully olha pra Mulder, calmamente.

SCULLY: - Mulder, na lavanderia tem uma maletinha com ferramentas...

MULDER: - (CORTANTE) E daí? Quando preciso de um martelo, ele está dentro da gaveta da cozinha. Quando preciso de uma colher, está na maleta.

SCULLY: - Se está na gaveta da cozinha, Mulder, é porque eu tenho de usar o martelo toda a vez que preciso fechar a maldita porta do armário!

MULDER: - Que horror! Não se presta nem pra consertar uma maldita porta de um maldito armário?

Scully olha pra câmera.

SCULLY: - Nada a declarar. Absolutamente, nem merece comentário.

Mulder sai resmungando até a lavanderia. Scully o observa. Mulder volta com a maleta, indo pra cozinha.

MULDER: - (INDIGNADO) Pode ao menos segurar a porta do armário pra mim? Ou é pedir demais?

SCULLY: - (RINDO) Tá.

MULDER: - Ainda por cima fica rindo da minha cara.

Scully vai pra cozinha. Segura a porta do armário. Mulder sobe numa cadeira. Observa a dobradiça da porta.

MULDER: - Pode segurar essa droga direito? Cadê a lanterna? Essa casa nem iluminação têm!

SCULLY: - ... (ASSOVIANDO)

Mulder olha pro lustre.

MULDER: - Também pudera! Tem um bocal quebrado, precisa trocar aquela droga.

SCULLY: - (ASSOVIANDO)

MULDER: - Quem é o infeliz que faz os serviços de elétrica e consertos pra você?

SCULLY: - (ASSOVIANDO)

MULDER: - Preciso de um alicate.

Scully pega um alicate na maleta. Entrega. Mulder devolve.

MULDER: - Esse não. Não sabe que esse é de corte? Quero um pra apertar.

Scully pega outro alicate. Mulder devolve.

MULDER: - (IRRITADO) Isso é um alicate jacaré!

Scully olha câmera e ergue as sobrancelhas.

SCULLY: - É, eu, médica, tenho que ser perita em ferramentas de carpintaria...

MULDER: - Eu quero aquele do cabo azul!

SCULLY: - (REVIRANDO A MALETA) Não tem nenhum de cabo azul aqui.

MULDER: - Mas que droga! Essa porra tava aí dentro! Onde você colocou?

SCULLY: - Mas eu não peguei!!!

MULDER: - Scully, odeio quando você mexe nas ferramentas! (DEBOCHADO) Vá ver se não deixou na gaveta de lingeries!

Scully olha pra câmera.

SCULLY: - Diante dessa largada, amiga, você não pode deixar de fazer o gol. Não pode mesmo!

Scully olha pra Mulder.

SCULLY: - Não, Mulder. Não uso OB. (DEBOCHADA) Entretanto, acho que deixei na cômoda. Precisei usar o alicate ontem à noite. Tive de puxar pra fora algo que estava encolhido dentro das suas calças...

MULDER: - (OFENDIDO) Vai, vai fazendo piadas. Isso nem teve graça. Nem isso, nem o Shaft!

Mulder desce da cadeira.

MULDER: - Agora, onde vou achar essa droga? Eu odeio isso! Odeio mulher mexendo em ferramentas! Vocês pegam as coisas e depois deixam por aí, socadas em qualquer gaveta!

SCULLY: - (ASSOVIA) ... Mulder, você não usou o alicate ontem, enquanto consertava o carro?

MULDER: - (SEM GRAÇA) ... Acho que deixei no porta malas... Me dá o martelo. O martelo resolve.

Scully segura o riso. Entrega o martelo. Mulder começa a martelar. Scully assovia. Mulder entrega o martelo pra Scully.

MULDER: - Me passa a chave de fenda.

Scully passa a chave de fenda. Mulder fica tentando achar a fenda do parafuso.

MULDER: - Mas que droga... Essa maldita luz...

O parafuso cai no chão. Scully segura o riso, mordendo os lábios. Mulder desce da cadeira e fica procurando.

MULDER: - Droga, droga, droga! Onde voou essa merda?

SCULLY: - ... Eu te ajudo.

MULDER: - Ah, agora você me ajuda. Se tivesse segurado direito essa droga, o parafuso não tinha caído no chão.

SCULLY: - (SUSPIRA) Mulder...

MULDER: - O que é?

SCULLY: - Ouvi um estalo. Acho que você pisou no parafuso.

Mulder levanta o pé. Pega o parafuso. Sobe na cadeira. Bate com a cabeça na porta do armário.

MULDER: - Eu desisto!

Mulder arranca a porta fora. Scully fica olhando, boquiaberta.

MULDER: - (NERVOSO/ IRRITADO) Chame um marceneiro. Eu sou psicólogo!

SCULLY: - ... Quem diria... Você realmente entende de explosões do subconsciente... Tem tanta paciência pra ser psicólogo!!!

Mulder atira a porta do armário no chão. Pula em cima da porta. Sai da cozinha. Scully olha pra câmera.

SCULLY: - Além de não saberem fazer nada sozinhos, eles não têm paciência. É... Acho que vou ter de chamar o marceneiro mesmo. O bom disso é que o marceneiro vem aqui sem camisa, de jeans justos que ressaltam a polpa do bumbum... Ele tem olhos azuis e corpo sarado! Colírio, amiga, colírio! Acho que vou arrancar todas as portas do armário...

Mulder entra na cozinha. De óculos escuros, segurando a chave do carro.

MULDER: - Vou fazer compras. Queria que fosse comigo.

Scully olha pra câmera.

SCULLY: - Amiga, nunca deixe um homem ir sozinho ao super mercado, ou vai beber cerveja o mês inteiro e comer porcarias. Eles nunca se lembram de frutas e verduras. Acham que 'não sabem escolher as boas'. Mas de 'melões' eles entendem. Pode acreditar!


CAPÍTULO 3:

HOMENS NÃO SABEM FAZER SUPERMERCADO

[Som: Madonna – Material Girl]

Mulder empurra o carrinho. Vai colocando coisas. Scully vai tirando. Olha pra câmera.

SCULLY: - Artigos de primeira necessidade masculinos você pode tirar: 10 pacotes de sementes de girassol, bebidas alcoólicas, salgadinhos, cereais com flocos de açúcar e chocolate, bolachinhas recheadas e waffers, carnes com gordura e todo o tipo de porcaria que engorda. Pilhas, ferramentas que ele nunca vai usar, cera pro carro, caixa pra guardar as ferramentas que ele nunca vai usar, limpador de pneus, flanelas, mais pilhas... O que ele quer com tantas pilhas? ... Vai ver se esqueceu que já tinha pegado as pilhas... Lâmpadas, pregos, parafusos... Velas aromáticas... Ops, as velas ficam... Então você vai trocando por artigos de primeira necessidade: esmaltes, tintura e cremes pro cabelo, cremes de beleza, sabonetes e xampus hidratantes... Ah, meu Deus! Um novo creme pra celulite? Esse eu não levei ainda...

Mulder continua empurrando o carrinho. Scully olha pra câmera.

SCULLY: - Geralmente, homens são exagerados. Compram tudo em excesso. Por exemplo, este exemplar da espécie aqui, acha que duas pessoas, que trabalham e almoçam fora, comem mais de 30 quilos de arroz por mês, 10 quilos de macarrão... Homens não são bons em matemática e economia doméstica. Isto deve-se ao fato de que homens são guerreiros, portanto, o inconsciente masculino está impregnado de guerras e subsequentemente, em guerras, você precisa ter um estoque de alimentos em casa.

Scully vira-se pra Mulder.

SCULLY: - Mulder, vai levar mais açúcar? Já temos um estoque em casa. Se houver uma guerra, teremos açúcar por dois anos! Posso até abrir uma confeitaria!

MULDER: - Nunca é demais, Scully. Açúcar não estraga... Cinco quilos de sal dão pra um mês?

Scully põe as mãos no rosto e suspira.


BLOCO 3:

CAPÍTULO 4:

HOMENS SÃO PREVISÍVEIS

[Som: The Cardigans – Lovefool]

Scully lê um livro, sentada no sofá. Mulder também lê um livro, sentado na poltrona. Câmera de aproximação em Scully. Scully desvia os olhos do livro.

SCULLY: - Oi, você ainda está aí? Bom, este é um raro momento onde compartilhamos de silêncio... O que estou lendo? Bom, estou lendo um livro sobre o comportamento humano... Ele? Deve ser algo sobre paranormalidade. Mas isso não é uma característica dos homens, nem todos gostam disso. Isso é característica dele. Depois que terminar a página, ele virá com uma teoria que você já conhece, mas, por sensibilidade, vai se fazer de burra, pra não ferir os sentimentos do 'macho sabe tudo'.

Mulder abaixa o livro. Olha pra Scully.

MULDER: - Ô, Scully, você sabia que os chimpanzés têm 98% de seu DNA igual ao do ser humano?

SCULLY: - (CÍNICA) Sério? Nossa, Mulder, eu nunca imaginei isso.

Mulder volta a ler o livro. Scully olha pra câmera.

SCULLY: - Tadinho! Deixa ele achar que sabe tudo. Hoje não estou a fim de discutir.


Posto de Gasolina - 6:11 P.M.

[Som: The Cardigans – Lovefool]

Scully come um gelado de arroz integral, enquanto observa Mulder lavando o carro.

SCULLY: - Você se pergunta: Com todo o progresso da era tecnológica, por que ele insiste em lavar o carro? Muito simples: Homens gostam de mulheres, carros e esportes. Não necessariamente nessa ordem.

Scully aproxima-se de Mulder.

SCULLY: - Mulder, acho que vou dar uma olhada no shopping, ver as vitrines, aproveitar as ofertas...

MULDER: - Tá.

Scully percebe que duas garotas se aproximam, usando vestidos curtos e justos, rebolando os quadris e conversando uma com a outra. Scully olha pra câmera.

SCULLY: - O bicho homem é completamente previsível. Mesmo que ele tenha em casa, algo melhor ou igual, ele precisa dar uma olhadinha na despensa do vizinho. Só pra 'conferir'.

As garotas passam. Mulder ergue a cabeça e as acompanha com os olhos. Esboça um sorriso cínico com um olhar de lobo mau.

MULDER: - (ASSOVIA)

Scully olha pra câmera.

SCULLY: - Esse nem disfarçar sabe. Ele é o tipo que elas esperam. Não controla seus impulsos e faz papel de velho babão. Mesmo que aquelas duas ali tenham a metade da idade dele, isso não importa. Se fosse a filha dele, ele faria um estardalhaço pro primeiro que agisse feito um idiota babão. Mas a regra é: se não é filha ou parente, uive pra lua e babe feito um cão selvagem. Isso é ser macho.

Mulder começa a secar o carro com uma flanela.

SCULLY: - Agora ele vai ficar aí passando cera por meia hora e depois vai levar mais duas lustrando, lustrando, lustrando. E lambendo, até ver seu reflexo na lataria... Queria que fosse caprichoso assim com o apartamento dele.

Scully sai caminhando em direção ao shopping.

SCULLY: - Na verdade, eles não se preocupam com o apartamento porque não é algo visível. Já o carro, eles estão sempre por aí circulando, precisando impressionar. O pior é que ele impressiona com um carro que nem dele é... Não que ele não possa comprar um carro. A questão é: Por que Mulder não compra nada pra ele?

Scully continua caminhando e falando com a câmera.

SCULLY: - Não, não é um Arquivo X. Eu já descobri o que Mulder faz com o dinheiro. Está economizando pra comprar uma propriedade numa cidade do interior. É um sonho dele. Então, tenho agora a certeza absoluta de que vou passar minha velhice numa cabana, vendo vacas e porcos e passando miséria ao lado de um maldito judeu pão duro!

Scully entra no shopping.

SCULLY: - Acho que vou comer alguma coisa, enquanto ele fica lá comendo carros e mulheres com os olhos.


7:33 P.M.

[Som: Catatonia – Mulder and Scully]

Mulder caminha com Scully pelo shopping. Carrega um monte de sacolas.

SCULLY: - Bom, falarei das sacolas em outro capítulo. Agora vamos falar sobre as roupas que ele comprou. Claro, tive que fazer um escândalo pra ele comprar roupas novas. Na filosofia masculina, dois ternos, três camisas, três cuecas e três pares de meia é tudo o que um homem precisa pra viver. Mesmo que elas não combinem.

Mulder para na frente de uma vitrine. Os olhos brilham. Scully olha pra câmera.

SCULLY: - Não, não deve ser uma loja de roupas.

Scully aproxima-se.

SCULLY: - Como eu disse, não poderia ser. Homens e aparelhos de som e vídeo têm uma atração intensa. Amor antigo. Ele fica babando por esse hometeatre, mesmo que não tenha espaço algum pra colocá-lo dentro de casa. Homens não têm senso de espaço. Nunca compram móveis do tamanho certo... Com exceção de decoradores e arquitetos...

Scully puxa Mulder pelo braço.

SCULLY: - Vamos Mulder.

MULDER: - Vou comprar um desses. Ah eu vou! É meu sonho de consumo.

SCULLY: - E onde o colocaria?

MULDER: - No quarto.

SCULLY: - No quarto? Mas se colocar isso no quarto vai ter que tirar a cama!

MULDER: - Imagine ficar deitado o final de semana todo na frente de uma coisa dessas? Acho que teria de comprar um frigobar pra pôr do lado da cama...

SCULLY: - Incrível...

Mulder olha pra frente. Abre um sorriso.

SCULLY: - O que foi?

MULDER: - Exposição de carros antigos! Uau!

Mulder sai feito criança boba, puxando Scully, que suspira.

SCULLY: - Bem, agora terei de ouvir nomes, modelos, ano de produção e funcionamento de motores por algumas horas, mesmo que eu não saiba nada sobre motores... E mesmo que eu odeie carros antigos!

Mulder pára na frente de um carro. Larga as sacolas nas mãos de Scully e fica analisando o carro com as mãos, estudando, fazendo carinhos, dando a volta pelo carro.

SCULLY: - Mulder, tem uma exposição de quadros ali e...

MULDER: - (APAIXONADO) Não, Scully, você precisa ver isso. Olha, não é uma belezinha?

SCULLY: - Não é nada estético, Mulder!

MULDER: - Tá brincando? Eu queria ter um desses na minha garagem. Pra fazer o motor funcionar, você tinha que girar a manivela. Esse é um Ford, ano...

Scully olha pra câmera.

SCULLY: - Já que o estupro auditivo é inevitável, relaxe e goze.

Um garotão bem vestido e muito bonito passa por ali.

SCULLY: - Quer ver uma coisa, amiga?

Scully vira o corpo acompanhando o jovem que passa. Mulder olha pra ela, desviando a atenção do carro.

SCULLY: - Uau! (ESTALA OS DEDOS)

MULDER: - Você não tem senso do ridículo, não é? Esse cara tem idade pra ser seu filho! Acha que vai olhar pra você? Acha que tá com essa bola toda?

Scully olha pra câmera.

SCULLY: - Ah, 'eu' não tenho senso do ridículo. Ele tinha, enquanto olhava pras garotas mais novas do que ele... Amiga, você 'nunca tá com a bola toda para os outros', mas ele mesmo assim, tem ciúme. Se puder colocar você abaixo do tapete do porão, ele fará. Mas não se preocupe com isso. Não é que você seja feia ou desinteressante. Ele é que é inseguro. Aceite isso como um elogio. Ele não quer te dividir com ninguém. Sinal de que você é gostosa!


8:13 P.M.

[Som: Madonna – Material Girl]

Mulder, carregando mais sacolas, já com uma cara de poucos amigos.

MULDER: - Mas que droga, Scully! Já estou há mais de duas horas zanzando nesse lugar! Não tem nada mais útil pra fazer? Qual é a graça de ficar caminhando num lugar fechado, esbarrando num monte de gente e olhando vitrines?

SCULLY: - Ainda não vi todas as lojas.

MULDER: - Pelo amor de Deus, isso é um tédio! Se não vai comprar, por que olha?

SCULLY: - Porque gosto.

MULDER: - Mulheres... Blergh! Quanta futilidade!

Scully olha pra câmera.

SCULLY: - Tem uma loja ali na frente que eu vou entrar e aposto com você que ele não vai dizer uma palavra contra.

Scully caminha mais um pouco. Mulder murmurando palavras nada sensíveis. Scully para na frente da loja. Mulder suspira. Olha pro letreiro: Lingeries.

SCULLY: - É. Mulder, tem razão. Acho melhor irmos pra casa.

MULDER: - Não, faça suas compras, eu não me importo.

Scully olha pra Mulder, debochada.

SCULLY: - Mulder, como você é compreensivo... Por falar nisso, acho melhor entrar comigo, porque você vai comprar as cuecas que esqueceu de comprar.

MULDER: - Puxa, não é mesmo que eu esqueci?

Scully sorri, olhando pra câmera.

SCULLY: - Amiga, sempre lembre seu homem de comprar cuecas. Eles nunca se lembram. Depois dizem que não sabem escolher. Você sempre termina comprando as cuecas dele. É melhor, porque assim você compra artigos bons e bonitos. Eles não sabem comprar cuecas. Pra eles, tudo é a mesma coisa. O mesmo com as meias. Acredite, isso deve ser genético. Acho que vou fazer uma tese científica sobre o assunto. Vou verificar qual missomia acontece no cromossomo Y que causa essa disfunção genética de retardamento mental... Hum, e acho que vou escolher artigos da minha preferência...


9:02 P.M.

Scully sentada num banco, bebendo um refrigerante.

SCULLY: - Oi. Deve estar se perguntando por que estou sentada aqui, sozinha... Bem, eu não esperava que tinha uma sessão de autógrafos de um escritor de ufologia. Agora, vou ter de relaxar, até que Mulder compre o livro, peça autógrafo e fique discutindo as teorias dele com o autor... E você deve saber que quando Mulder discute as teorias dele... Não pára mais de falar. Mulder é tagarela quando encontra algum semelhante entendido em conspirações e ocultamento de provas. Bom, acho que até a meia noite eu estarei em casa... Assim espero. Minhas pernas doem, e daqui à pouco acabo dormindo nesse banco como uma indigente... Mas a culpa foi minha.


CAPÍTULO 5:

CASA DA MAMÃE...

Apartamento de Scully - 11:59 P.M.

Mulder sentado no sofá. Irritado.

MULDER: - Não! Definitivamente, não!

Mulder cruza os braços. Scully suspira.

MULDER: - Scully, por favor... Custamos tanto a ter um tempo pra nós, pra ficar juntos, pra fazer coisas juntos, que todos os casais fazem... Não! Domingo não. E ainda por cima tem a corrida de Fórmula 1. Definitivamente, não! E o seu irmão vai ficar me enchendo o saco com golfe, crianças correndo pela casa e gritando... Não. Não mesmo.

Scully olha pra câmera.

SCULLY: - Bem... No momento estamos tendo uma discussão sobre o almoço de Domingo na casa da mamãe... É uma vez por mês, mas ele nunca quer encarar minha família... Mas tudo bem.

Scully levanta-se. Vai pro quarto. Abre o armário.

SCULLY: - Você já deve ter enfrentado problemas semelhantes, não é? De você querer ir num lugar, mas ele fazer birra e se negar a realizar o seu desejo.

[Som: Madonna – Material Girl]

Scully sai com algumas peças de roupa debaixo do braço. Entra no banheiro. Tranca a porta.

SCULLY: - Bom, quando isso acontecer, quando você quiser algo que ele se recusa a lhe dar, faça como eu. Acredite, isso funciona. Se funcionou com homens como Júlio César, Marco Antônio, Napoleão, Alexandre o Grande... Funcionará com esse que está dormindo na sua cama... Que muitas vezes não é um conquistador, um guerreiro, e nem deixará seu nome na História... Mas e daí? Você o ama pelo que ele é, não pelo que poderia ser... Embora você sempre espera que ele pudesse ser um pouquinho mais daquilo que você sonhou... Bem, não adianta brigar, discutir. Aja com sutileza. Afinal você gosta dele e não quer criar tensão dentro de casa. Faça como eu. Lembre-se: 'mulher nova, bonita e carinhosa, faz um homem gemer sem sentir dor'. Parece brega, mas é filosofia pura. Acredite!


12:34 A.M.

Scully, dentro do banheiro, vestida num robe de seda curto. Passa um batom nos lábios.

SCULLY: - ... Amiga, tome um bom banho, com o sabonete mais perfumado que tiver... Aquele que você guarda pra ocasiões especiais... Passe um bom hidratante no corpo todo, coloque sua lingerie mais sexy... Passe um batom. Mas clarinho, tá? Se usar algo muito berrante ele vai perceber que isto é uma chantagem. Ou, na melhor das hipóteses, vai pensar que é uma fantasia sexual sua... Você não pode deixá-lo desconfiar de que ele é a presa e você a caçadora.

Scully esfrega os lábios. Pega a escova e escova os cabelos.

SCULLY: - Faça uma escova no cabelo, fique linda e sinta-se mulher. Não, não me recriminem. Tem um único problema no feminismo exagerado. Algumas feministas reclamam das ditas 'peruas'. Dizem que a mulher submete-se ao capricho do homem quando apela pra sedução para conseguir as coisas... Ora, isso é bobagem. Sabemos que nós somos sedutoras por natureza e isso não nos deixa inferiores ao homem. Muito pelo contrário, é uma arma poderosa! Somos superiores nisto! E é gostoso, porque você está seduzindo quem você ama. E deixando ele cada vez mais apaixonado... Ele nunca sabe que mulher vai encontrar em casa quando chegar. Um dia ele encontra uma garota inocente, outro dia uma mulher fatal, uma amante insaciável, uma dona de casa, uma trabalhadora, uma Mata Hari... Use a imaginação. Eles adoram isso.

Scully larga a escova, ajeita o cabelo e se admira no espelho. Dá um sorriso.

SCULLY: - Estou pronta pra guerra. Vamos ver quem vai pedir trégua. Será um combate, corpo a corpo, com momentos de tensão e suspense. A luta não será desigual em armas... Ele também te provoca, você sabe disso. Mas não se esqueça do seu intento, quando entrar no ringue. (RESPIRA FUNDO) Pronta para o abate. Entenda por 'abate', o 'abate' dele. Ah! O sapato de salto é de vital importância. Homens são malucos por sapatos de saltos com lingeries... Entenda isso... Acho que deve significar: esteja sexy, faça amor comigo, mas fique de sapatos pra ir embora quando acabar... Algo do gênero. Não sou especialista no assunto, não posso afirmar a veracidade da minha teoria.

Scully sai do banheiro. Caminha até o quarto.

[Som: The Cardigans – Lovefool]

Mulder está deitado na cama, lendo o livro que comprou.

SCULLY: - Não chame a atenção dele. Faça-o perceber. Você é uma pobre ovelhinha indefesa, que só queria dormir sentindo-se bonita. O malvado aqui é ele.

Scully caminha até a janela e fecha-a fazendo barulho. Mulder afasta os olhos do livro. Arregala os olhos, impressionado. Scully finge que ele não está ali. Nem presta atenção nele. Mulder larga o livro na cômoda, dirigindo toda a atenção pra ela. Scully, continua o ignorando. Cantarola baixinho, olhando pra parede. Desamarra lenta e sensualmente o robe. Deixa-o cair no chão, revelando a camisola curta, preta, de rendas. Vai pra cama, cabisbaixa. Mulder olha empolgado pra ela. Ela senta-se na cama, esfregando o tornozelo.

SCULLY: - Detesto isso, Mulder. Toda vez que compro sapatos altos, tenho que colocar hidratante dentro dele e desfilar pela casa pra ele se moldar aos meus pés.

MULDER: - ...

SCULLY: - Assim não fica mais apertado e também não fica grande. O problema dos sapatos altos é que nunca se encaixam em seus pés. Ou ficam grandes, ou apertados. Então, você se obriga a ter de fazer isso.

Scully olha pra câmera.

SCULLY: - É uma boa desculpa pra ele não perceber a intenção. Mas é verídico. Só que este sapato, eu já tenho há meses! Mas ele vai saber? Homens não são detalhistas...

Mulder apóia o braço no travesseiro e fica olhando pra Scully, feito lobo mau.

SCULLY: - (TRISTE) Mas tudo bem. Melhor tirá-los. Afinal não vou usá-los mesmo. Tinha comprado pra ir no almoço da mamãe amanhã...

MULDER: - Não, não tira. Pode usá-los pra trabalhar.

SCULLY: - É. Tem razão.

Scully olha pra câmera.

SCULLY: - Não subestime a inteligência do macho. Argumente. Aí entra sua arma secreta.

Scully deita-se na cama, de sapatos.

SCULLY: - Vou ficar alguns minutos com ele nos pés, mas depois tenho que dormir.

Mulder aproxima-se dela, apagando seu abajur.

MULDER: - Como você é cheirosa... Pele macia...

SCULLY: - Hum, Mulder... O que quer?

MULDER: - Adivinha? Você vem desse jeito aqui e não pode imaginar o que eu quero?

SCULLY: - ... Eu tô cansadinha. Eu faço tudo por você mesmo. Você é que nunca faz nada por mim...

MULDER: - Como pode dizer isso, Scully?

SCULLY: - Nem minha mãe eu posso ver mais...

Scully vira-se de costas pra ele. Mulder fica olhando pra ela, comendo-a com os olhos.

MULDER: - Scully...

SCULLY: - Não!

Scully olha pra câmera.

SCULLY: - Apele pra aquele monte de adjetivos maus que você conhece. Eles ficam loucos!

Mulder se encosta nela. Scully o empurra.

SCULLY: - Sai, Mulder... Seu monstro! Asqueroso! Vil! Tarado!

MULDER: - Scully, não me enlouquece.

Scully apaga o abajur. Mulder vem pra cima dela, acariciando suas coxas.

SCULLY: - Não, Mulder. Não toca em mim.

MULDER: - Scully, eu não aguento mais!

SCULLY: - Não. Malvado! Insensível! Egoísta! Tô bravinha... Tô de mal. Seu oportunista, depravado, aproveitador...

Mulder a agarra. Começa a beijá-la.

MULDER: - Scully, que vinho eu levo pra Meg?

SCULLY: - Hum, mamãe gosta de vinho tinto.

MULDER: - Tá, agente compra no caminho...

SCULLY: - Vai ir na casa da mamãe?

MULDER: - Vou.

Scully se agarra em Mulder, subindo no corpo dele, beijando-o desesperada.

SCULLY: - Mulder, eu te amo!!!!!!!

MULDER: - Ai, Scully, não me agarra com tanta força...

SCULLY: - Hum, vou te encher de beijinhos porque você é um menininho tão bonitinho...

MULDER: - Ah, Deus! Acho que vou enfartar hoje!

SCULLY: - Enfarta, desgraçado! Quero que tenha um enfarte dos grandes! Contanto que me dê um grande também!

MULDER: - Que 'grande' você quer?

SCULLY: - O enfarto. E esse daí que você tá me oferecendo... Embora eu não ache assim tão 'grande'.

MULDER: - Ah, é?

SCULLY: - É.

MULDER: - Vou te mostrar se não é grande...

SCULLY: - Não quero ver.

MULDER: - Ah, sua menininha malvada...

SCULLY: - Malvada por quê? Só estou convidando você pra brincar de amor...

MULDER: - Ah, Deus! Scully, por que você me deixa louco desse jeito? Isso é uma afronta! Isso é desumano! Isso é tortura sexual! Olha os direitos humanos!

SCULLY: - Que direitos, Mulder? Que ilusão a sua! Você não tem direitos nessa cama. Só tem deveres!

Scully vira-se pra câmera.

SCULLY: - Tá vendo? Ele cedeu. Porque sabe que quando cede, eu fico 'agradecida'... Agora, com licença... Mas eu vou me divertir!


BLOCO 4:

7:39 A.M.

[Som: Madonna – Material Girl]

Scully deitada na cama, coberta pelo edredom. Mulder não está ali.

SCULLY: - Bem, depois de uma noite quente e maravilhosa, além de ganhar a luta pra conseguir almoçar na casa da minha mãe, ainda vou ganhar café na cama! Traçando um paralelo com uma guerra, é como se eu bombardeasse a cidade dele e ele ainda viesse me agradecer por isso.

Mulder entra no quarto trazendo o café.

MULDER: - Não achei nenhuma rosa, mas fui buscar pãezinhos de queijo e croissants fresquinhos pra você.

SCULLY: - Mulder, eu amo você.

Os dois trocam um beijo apaixonado. Scully olha pra câmera.

SCULLY: - Aproveite e tome o café com ele. Você pode descobrir coisas interessantes pra se fazer com pãezinhos de queijo, croissants e geléia... Use a criatividade, mulher!


CAPÍTULO 6:

O BICHO HOMEM EM AMBIENTE HOSTIL

(OU O BICHO HOMEM FORA DE SEU HABITAT)

Scully ajuda Meg a preparar algumas saladas.

SCULLY: - Ao contrário do que se pensa, o bicho homem pode perfeitamente se adaptar em território hostil. Desde a época das cavernas, quando o homem passou a andar ereto, e parece que daí a palavra 'ereto' passou a ser a mais importante do seu dicionário, o homem tentou sempre se adaptar a qualquer ambiente, por mais hostil que fosse. Do paleolítico ao neolítico, à idade dos metais, o homem, o sexo forte, o macho, sempre pensou que era o caçador. E nós, as coletoras. Na verdade, coletoras podem ser bem mais 'caçadoras', porque podem escolher a melhor presa... Mas você já conhece essa teoria, então não vou me detalhar nela. Sabe que os homens só prestam atenção em uma coisa, enquanto as mulheres fazem tudo ao mesmo tempo.

Scully olha pela janela da cozinha. Bill e Mulder discutem quem acende o fogo e faz o churrasco.

SCULLY: - Devo confessar que o Bill tem mais experiência com churrasqueiras e Domingos... Mas o Mulder precisa aprender. Nem que coloque fogo no jardim, mas ele tem de aprender. Um dia, poderemos ter filhos, e mesmo que não os tenhamos, o cachorro que ele me prometeu, vai querer um churrasco. Ou os nossos amigos.

Scully começa a decorar as saladas.


CAPÍTULO 7:

O 'SEXO FRÁGIL' SERVE PRA ALGUMA COISA

[Som: Madonna – Material Girl]

Scully deitada na cama. Mulder massageando seus pés.

SCULLY: - Bom, lembra-se da sacola? Pois é. Homens servem pra carregar sacolas, levar e buscar você de compromissos, lhe dão um certo respeito quando você passa na rua, porque daí os outros não ficam assoviando e dizendo besteiras... Fazem massagens... Pode usá-los até como tapete, se quiser. Eles podem ser ótimos animais domésticos. Por exemplo: Seu cachorrinho. Você pode fazer ele deitar, rolar, babar, fingir de morto... Seu peixe: você pode dar uma festa e exibir o exemplar raro da espécie e deixar as outras babando. Seu gato: ele pode te arranhar toda, afiar as unhas em seu corpo, revirar o edredom pra dormir, brincar com você... Seu papagaio: ele pode ficar horas falando palavrões em seu ouvido, te deixado excitada, ou até mesmo, ficar horas falando sem parar, o que é chato. Tudo isso depende do seu gosto e extravagância. Algumas pessoas preferem animais exóticos. Mas isso não é problema, visto que ele pode ser sua cobra, sua onça, seu urubu, seu leão, seu iguana ou até mesmo...

Scully olha pra Mulder.

SCULLY: - Mulder, vem cá minha raposa... Hum? Vem enrolar sua pele no meu pescoço...

Mulder sobe em cima dela. Scully olha pra câmera.

SCULLY: - Qualquer bicho, desde que não seja um 'condor'. No meu caso, eu sou médica, não tem problema.


CAPÍTULO 8:

DIFERENÇAS BÁSICAS ENTRE HOMENS E MULHERES

(FORA DA TEORIA DO SAPATINHO AZUL OU ROSA)

Scully sentada no sofá, observa Mulder no computador.

SCULLY: - Existe uma diferença básica entre homens e mulheres, além da física: A mental e a biológica. Há algumas particularidades nessa espécie. Uma delas é que os homens são todos iguais. Eu já falei disso, mas deixei o melhor para final. Homens têm medo de não agradar: para qualquer homem, não há rejeição que mais ofenda do que a sexual, porque o atinge naquilo que a maioria dos homens consideram a própria concepção do que é ser homem. Ele não é uma máquina. Mas pensa que é.

Scully espreguiça-se.

SCULLY: - Tem algumas coisas engraçadas também: Por que o homem coça o saco? Conheço uma teoria científica sobre isso: Para verificar se não perderam partes importantes ligadas a seu cérebro... Você já percebeu que todo o homem costuma dar apelidos pro seu pênis? Bem, eu acredito que isso é uma maneira de tratar mais intimamente a parte responsável por 90% das decisões deles.

Mulder continua no computador. Scully olha pra câmera.

SCULLY: - Claro que eles sempre dizem que seu pênis não tem apelido. Mas tem. E mesmo que você use todas as armas que tiver, ele nunca vai falar. Adotei outra estratégia: se eu não sei o apelido verdadeiro, vou dar pra ele um apelido por minha conta. Mas aviso: quando fizer isso, nunca use expressões em diminutivo, mesmo que pareçam mais íntimas e carinhosas. Ele pode ficar furioso. Aí você já entra no maior drama dos homens. O tamanho.

Mulder levanta-se.

MULDER: - Quer café?

SCULLY: - Quero.

Mulder vai pra cozinha.

SCULLY: - Os homens costumam se preocupar com o tamanho. Bobagem. Com raras exceções, quase todos são iguais. O que pode parecer pequeno acaba grande e o que parece grande, cresce tanto quanto o pequeno. Mas eles não sabem disso. Fico furiosa porque me parece que os estudiosos de sexo tiram só a mulher pra ser a pesquisada. Os homens ficam em segundo plano. Por isso as mulheres cada vez mais sabem sobre sua sexualidade, enquanto eles ficam perdidos em tabus que escutam há gerações.

Mulder volta com duas canecas. Entrega uma pra Scully. Senta-se ao computador.

SCULLY: - Bom, voltando aos apelidos... Algumas mulheres também dão apelidos, mas eles não sabem disso. Tenho uma amiga que quando tem algum problema ginecológico diz que a 'Derci' está doente. Outra que a 'Doralice' não sabe o que é diversão há meses... A 'Sônia Braga' tá de greve... Ainda tem a minha amiga Ellen que diz: preciso levar a 'Sinnead O'Connor' ao banheiro... Eu nunca dei apelido pra minha, mas, quem sabe um dia... Talvez seria algo como 'a noviça rebelde' ou 'a Poliana'... sei lá.

Scully deita-se no sofá. Observa Mulder.

SCULLY: - Sei que eu já perguntei e ele não diz. Então, agora, resolvi colocar um limite no assunto. Já que temos um sério problema pra ficar juntos e precisamos usar códigos, achei por bem que esse também seria um código.

Scully larga a caneca no chão.

SCULLY: - Mulder.

MULDER: - O que é?

SCULLY: - Como vai o meu Raposão?

Mulder dá uma risada.

SCULLY: - Viu? É simples. Ah, meu Deus! Agora você entendeu o que eu queria dizer com 'tô com saudades do meu Raposão'! Bom, agora é tarde. Você sabe que não me referia ao Fox Mulder. Era só uma parte dele que eu gosto muito.

Scully senta-se no sofá.

SCULLY: - Qualquer mulher espera do sexo mais do que algo mecânico, mais do que um orgasmo. A mulher quer um contato mais humano, mais carinhoso, mais bonito, mais mágico, mais denso, mais compreensivo. Ela anseia por um encontro íntimo com outra pessoa. Emoções, sentimentos, afetividade e delicadeza. Isso é uma mulher. E também, no fundo, um homem gosta disso. Alguns não dizem, porque sentem sua austeridade e força de homem caírem se declararem a beleza de sua fragilidade. Se eles soubessem o quanto, nós mulheres, temos a dar a homens assim... Aposto que veríamos mais casais felizes pela rua. Mas o dogma do machão permanece, nos tornando infelizes e também, os deixando infelizes.

Scully aponta pra Mulder.

SCULLY: - O que não é o caso desse aí. Mas se toda a mulher quer um relacionamento maravilhoso, também não deve esperar que isto aconteça. Não. Isso não ocorre. Isso é uma conquista. E de ambos. Ambos são culpados pela decadência de seu relacionamento. Essa coisa de só fazer amor à noite, mecanicamente, porque você está cansado do dia estressante que teve, de trazer trabalho pra casa, de só falar em problemas de família, de criticar, de não respeitar o outro, seu espaço, sua vida... Nós mulheres temos a maldita tendência de aprisionar. O que é nosso é nosso, e deve sacrificar sua existência pra nós. Não, isso é desrespeito. Deixe-o sair, viver, ver os amigos. Você também quer fazer isso, não quer? Ou você não confia em sua feminilidade, por isso tem medo de que ele vá caçar outras por aí? Confie em você, menina. Você é mais. Você é a melhor. Afinal, ele não está com você?

Scully suspira, olhando pra Mulder.

SCULLY: - Bem, observando as pessoas, me parece que carecemos todos de instrução. Mulheres e homens são seres completamente diferentes. Isso é biológico. Devemos entender como biologia. É algo científico. Portanto não adianta brigar porque ele olhou para outra. Não adianta resmungar que ele não consegue cozinhar e passar roupa tão rápido quanto você. Não adianta gritar e dizer que ele só pensa em sexo. Ou você terá de admitir que ele concentra-se mais do que você em qualquer coisa, que ele é melhor em tarefas que necessitem de força, que ele pode comer doces sem engordar e que não desenvolve estrias! É biológico, respeite isso. Vai ser divertido achar as diferenças. São tantas! Aprendam um com o outro, é estimulante. Joguinhos... Até os animais fazem joguinhos, usando charme para conquistar... Jogue com ele, amiga. Aposto que vai descobrir um cara novo na sua cama.


CAPÍTULO 9:

HOMENS, AMADOS HOMENS...

[Som: Sinnead O’ Connor - Nothing compares 2 U]

Mulder sentado no tapete. Scully deitada nos braços dele. Os dois assistem TV.

SCULLY: - Bem, amiga... Depois de divagar sobre tantas diferenças, sobre características masculinas e também femininas... Chego a seguinte conclusão: Adoro esse homem. Por mais diferenças que possam existir entre a gente, por mais desafios que possam se instalar a cada dia... Eu o amo. Ele me completa. Talvez Deus, em sua infinita sabedoria, tenha feito a mulher para completar o homem e o homem para completar a mulher. Essa é a razão. Que tipo de ser vivo pode subsistir sozinho, sem partilhar nada, sem nada para acrescentar, para aprender, para ensinar... Brincamos sobre eles, assim como eles brincam sobre as mulheres. Homens reclamam de mulheres, mulheres reclamam dos homens. Mas a verdade disso é que um não vive sem o outro. Este aqui pode depender de mim, mas não imagina o quanto eu dependo da dependência dele. Na verdade, eu dependia dele muito antes.

Scully se aconchega nos braços dele. Mulder acaricia os cabelos dela.

SCULLY: - É muito bom ter alguém que fique do seu lado. Até naqueles momentos de 'não tenho nada pra fazer'. Vocês podem fazer nada juntos. E também podem fazer muitas outras coisas. Dividir seus problemas, seus medos, suas angústias, aspirações... A dois sempre é mais fácil. Quando um cai, o outro o ajuda a levantar-se... Comer pipocas juntinhos debaixo do edredom, assistindo um filme, enquanto a chuva e frio estão lá fora... Alguém pra esquentar seus pés... Alguém que você possa afagar e dar carinho sem se preocupar como ele interpretará isso, se é um momento de queda ou de alegria... Sentir-se protegida, amada, valorizada... (SUSPIRA) Portanto, por mais difícil que seja conviver com ele, você deve se lembrar de como e porquê isso tudo começou. Então olhará pra dentro de si e verá que tudo era tão perfeito. Por que não pode continuar sendo assim? Afinal, ele é ou será o pai dos seus filhos, o seu companheiro de todas as horas, ele vai levar uma vida a seu lado. Pense bem no termo vida: ele vai ficar a existência dele aqui do teu lado. Ou o tempo que for possível. Se não durar, não chore, não se entregue. Talvez o que vocês tinham pra viver juntos fosse temporário. Deve haver outra pessoa que precise de você e que você vai precisar dela também. Não seja egoísta. Amar não é pegar, ter, segurar, guardar. Amar é sentir, é libertar, é compartilhar. Lembre-se da Gestalt: 'Eu faço as minhas coisas e você faz as suas. Não estou nesse mundo para satisfazer as suas necessidades, nem você as minhas. Eu sou eu, você é você. E se por acaso um dia nos encontrarmos, será maravilhoso. Se não, não há nada a fazer.'

Scully levanta-se. Puxa Mulder pela mão. Olha pra câmera.

SCULLY: - Agora, me desculpem. Mas tá na hora de comer pipoca e ver um filme, debaixo do edredom. A chuva começou a cair. E eu quero ficar quentinha nos braços desse homem. Pro resto da minha vida. Ou que seja eterno enquanto dure.

Os dois vão abraçados pro quarto.

SCULLY: - Mulder, faz as pipocas hoje?

MULDER: - Faço. Você as fez da última vez... Contanto que ponha a fita no vídeo.

SCULLY: - Faz um chocolate quente?

MULDER: - Como faz isso?

SCULLY: - Use um pudim de caixinha mesmo. Fica até mais gostoso.

MULDER: - Scully, pode me ajudar com isso?

SCULLY: - Tá bom, Mulder. Nada como fazer tudo juntinho, não é mesmo? Não sei quanto tempo vamos ter pra poder fazer chocolate quente juntos.

MULDER: - Espero que o façamos até morrer.

SCULLY: - Ah, Mulder... Nada mais brega do que o amor. Nada mais humano do que ele. Porque é a condição que nos torna iguais.

Fade out.

XX XY

01/06/2000

4 de Agosto de 2019 às 22:07 0 Denunciar Insira Seguir história
1
Fim

Conheça o autor

Lara One As fanfics da L. One são escritas em forma de roteiro adaptado, em episódios e dispostas por temporadas, como uma série de verdade. Uma alternativa shipper à mitologia da série de televisão Arquivo X.

Comente algo

Publique!
Nenhum comentário ainda. Seja o primeiro a dizer alguma coisa!
~