sundaeplzz Pedro Suarez

Após dez anos morando na movimentada cidade de Portland, Ask Young volta para suas origens na pacata cidade de Tillamook, onde, após estranhos sonhos sobre seu avô, Sören, ele vai acabar por descobrir a verdade por detrás de sua origem e sobre a verdadeira cidade onde cresceu, desvendando antigos e desafiadores mistérios na sua demanda para salvar o mundo como ele conhece.


Fantasia Épico Todo o público.

#ação #aventura #slash #fantasia #saga #romance
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Uma nova vida.

Suas mãos eram ásperas, grandes e bondosas, assim como ele próprio, meu avô. Era de se esperar para alguém que passou a vida por entre a floresta.

Eu podia ouvir a fogueira crepitar ao meu lado, enquanto as suas fortes risadas enchiam a sala, enquanto contava as suas histórias. ‘’Contos de fadas’’ minha mãe os chamava, porém eu sabia que se tratava de muito mais que simples faz de conta. A maneira como ele as contava, de como repetia cada frase que lhe foi dita e como descrevia as terras que vira, tão bem que mesmo sem ter nunca visto, eu sei como deslumbrantes elas eram. Ele contava como havia conhecido gigantes, trolls, bruxas e até mesmo velhos deuses, hoje esquecidos por todos.

Ele me segurava em seu colo, enquanto mexia na madeira a queimar. Seus olhos eram profundos e brilhantes, com a mesma cor que os meus: um claro e brilhante âmbar. Seu longo e branco cabelo caía numa grande trança, e se misturava com sua comprida barba de mesma cor. Em seu rosto, rugas e cicatrizes de uma vida, que dançavam com as expressões que ele fazia, enquanto contava sobre suas aventuras.

— Um dia, será você a contar as suas próprias histórias, para seus próprios netos.—ele dizia— Então tenha certeza de que você não vai esquecer nada, nem mesmo os pequenos detalhes.

Então, escuto fortes batidas na porta da frente e minha visão se torna turva.

—Vô? — chamo, enquanto tudo à minha volta se tornava escuro e frio. Então acordo, do meu confortável sonho, com cutucadas da minha mãe:

—Estamos chegando, Ask. É melhor começar a acordar — disse, com uma voz baixa.

Estava sentada no assento do corredor. Pálida por natureza, seus longos cabelos castanhos corriam pelos seus ombros, e seus pequenos olhos verdes se fixavam em mim.

Aceno para ela com a cabeça. Quando eu havia fechado os olhos para dormir, estávamos presos num trânsito perto da saída de Portland, tudo o que eu podia ver eram carros e prédios. No entanto, agora que olho novamente pela janela, vejo uma estrada vazia, árvores e uma leve neblina por entre estas, com algumas pequenas casas espalhadas ao longo do caminho. Foi uma longa viagem.

A única diferença, é que desta vez não era uma viagem de férias onde íamos pescar com parentes que nem conhecíamos direito, ou festas de família que só íamos para nos fazer presentes. Desta vez, estávamos de mudança. Saímos de Portland, a maior cidade de Oregon e estamos no caminho de Tillamook, um lugar totalmente rural no meio do nada e aparentemente conhecido por seu queijo. Acho que a única coisa parecida entre os dois é que está sempre a chover.

— Isso é Tillamook?- pergunto, enquanto me espreguiçava – parece meio vazio.

— Eu disse que estávamos chegando, não que tínhamos chegado. —riposta — chegamos daqui uns dez minutos. Achei que seria melhor te acordar antes.

De um de seus muitos bolsos, tira uma barra de cereais e me entrega, fazendo sinal para eu a comer.

— Seu café da manhã — Ela diz, voltando a atenção a um livro que trazia em seu colo.

Abro a embalagem e começo a comer meu farto café da manhã, enquanto olho pela janela do ônibus, observando a pitoresca paisagem.

A vida na cidade grande havia se tornado demais para nós. O trabalho da minha mãe a esgotava e eu passava meus dias confinados em casa, escravo do tempo cinza e chuvoso de Portland. Decidimos então nos mudar para o interior. Depois de algum tempo, conseguimos vender a casa e então finalmente estávamos livres. Mudamo-nos para perto da costa chamada Tillamook. Meu avô, Sören, tinha uma pequena cabana na floresta que circundava a cidade, apenas precisava de uma boa limpeza e um pouco de amor para poder se tornar de novo habitável.

Eu estava ansioso para começar de novo. Nova casa, novo lugar, nova escola... O último era o que mais me preocupava. Sem dúvida era apenas mais uma escola normal, porém não podia evitar a ansiedade e nervosismo. Nunca tive muitos amigos e nunca fui muito extrovertido. Sou apenas mais uma pessoa normal. Chata para ser mais exato. Eu esperava poder mudar um pouco com a nova casa. No mínimo jardinagem. As garotas adoram caras que fazem jardinagem.

Durante mais algum tempo, o ônibus continuou a andar pela longa e sinuosa estrada e, logo, a paisagem se tornava mais urbana. Até que finalmente chegamos à estação de ônibus.

Saímos rápido, pegamos nossas bagagens, revezamos para ir ao banheiro e depois de tomar um café e pedir algumas informações. Logo estávamos novamente em movimento, desta vez num táxi do terminal de ônibus. Minha mãe indicou o lugar e fomos em direção á nossa nova casa. Enquanto andávamos, era possível ver as estradas vazias, os grandes campos com algum gado, a cidade não muito cheia, com algumas lojas de souvenires e restaurantes, além de várias lojas destinadas a venda de queijo, só queijo.

Eu tinha uma grande mistura de sentimentos em relação a toda a nossa situação: estava feliz por poder começar de novo num lugar agradável, porém, ainda tinha receio de que talvez as coisas não corressem muito bem. Sei que as maiorias das coisas nunca correm como planejado, mas mesmo assim não podia deixar de sentir algo como insegurança. Não posso esquecer o sono. Eu também continuava com muito sono. Não entendo como ainda podia ter sono.

Enquanto minha mãe conversava com o motorista, vi como a paisagem urbana de Tillamook lentamente se mesclava com a paisagem rural. Logo estávamos cercados por árvores e mais árvores. Podia ser só minha impressão, mas as árvores pareciam realmente selvagens como se dissessem ‘’tente acampar aqui e nós te fazemos comer a sua barraca’’. Eu apreciava a atitude das árvores (se é que elas tinham atitude), mas depois lembrei que ia viver aqui, e não estava a fim de ser obrigado pelas árvores a comer minha nova mobília.

Não demorou muito para chegarmos á uma bifurcação na estrada, em que a parte com asfalto seguia para a esquerda e uma nova estrada, essa de terra, seguia para a direita, para o interior da floresta. Um enorme carvalho se encontrava no meio das duas estradas. Uma pequena placa de madeira velha, presa por grandes e enferrujdos pregos na árvore, dizia: ‘’King’s Creek’’ com uma grande seta com tinta vermelha desbotada apontando para a direita. Descemos ali e pegamos nossas malas no porta-malas do táxi. Minha mãe pagou o motorista e logo estávamos apenas nós os dois ali.

Enquanto o caminho de asfalto era bem iluminado pela luz do dia e parecia ser muito mais seguro, o caminho de terra tinha grandes e curvas árvores na berma, formando assim um túnel natural, deixando o caminho mais sombrio e tenebroso. A neblina não ajudava muito a situação. Era sem dúvida um ótimo lugar para se gravar uma cena de filme de terror.

— Nós vamos pelo caminho assustador, eu suponho. — digo, percebendo que ia ser a única alternativa lógica.

— Exatamente — responde minha mãe, com um leve sorriso no rosto. — Não está com medo de um pouco de caminhada, não é?

— desde que não sejamos perseguidos por um serial-killer maluco, por mim está tudo ótimo. — declarei.

Ela soltou uma leve risada e começou a andar em direção á estrada. Como não queria ficar sozinho ali, decidi seguir ela.

Felizmente, não houve nenhum serial-killer maluco para correr atrás de nós. Após seguirmos mais 100 metros, as árvores começaram a ser mais direitas, deixando a estrada mais iluminada, que não era grande coisa, já que o céu se encontrava nublado.

Durante toda a caminhada, percebi que um novo sentimento se juntava com o receio, felicidade e o sono: medo. Por algum motivo, eu parecia sentir medo das árvores. De quão silencioso aquilo tudo era. Tentei respirar mais devagar. Talvez fosse porque eu não me lembrava de como uma floresta de verdade era? Eu não sei. Decidi apenas focar no caminho e nos passos que eu dava, evitando olhar para as sombras da floresta e guardar os sentimentos para mim.

Devo confessar que, mesmo tendo um leve sentimento de medo, aquele lugar era de certo modo encantador. O ar era puro, não se via ninguém e nem nada construído pelo homem naquele lugar. Se não fosse pela estrada e pela placa enferrujada e uma amarela que dizia: ‘’CUIDADO URSOS NA ÁREA’’ eu acharia que seria a primeira pessoa a andar por ali. Mas dá para perceber o porquê daquele lugar ser assim. Tudo parecia demasiado selvagem, como se a Natureza tentasse realmente fazer com que a floresta tivesse o menor número de visitantes humanos possível. A Natureza é realmente boa com isso, acreditem.

O chão daquela estrada era bem irregular, mas não havia problema, ambos estávamos acostumados com caminhada. Estávamos usando botas, calças jeans, eu usava uma camisa de flanela quadriculada vermelha e ela usava seu velho casaco roxo, além de nossas enormes mochilas nas costas. Éramos realmente parecidos no quesito de guarda-roupas. Andamos e passamos por uma ponte, depois por um grande portão enferrujado que dava para um lugar que certamente estava abandonado (assustados pelas árvores, aposto) e depois passamos novamente por uma ponte. A cada passo, parecia que a floresta ficava mais escura e densa, mas estranhamente menos aterrorizadora. Talvez eu realmente esteja a ficar paranoico com isso.

Depois de ver uns esquilos brigando e fazendo apostas para ver qual deles ia vencer (eu perdi a aposta), nós chegamos a casa. Não era grande, construído com toras de madeira escura, era um chalé de dois andares bem compacto com uma chaminé e telhado com um vermelho ocre, com uma janela no segundo andar. O chalé era um pouco elevado do chão, com uma base era feita de pedra, e na parte frontal havia um pequeno deck com uma mesa de pic-nic e um guarda sol velho e partido. Ao lado havia um pequeno telhado para oque parecia ser uma garagem com uma caminhonete vermelha embaixo. Não era novo, eu tinha certeza, mas o tempo até foi gentil com essa convidativa casa.

Até onde sei nasci em Portland e, com apenas dez dias, vim morar nessa casa. Depois de cinco anos morando aqui com meu avô e minha mãe, me mudei para Portland e agora eu havia voltado para cá. Com sorte eu não iria ter que voltar para Portland tão cedo.

Mesmo assim, toda essa coisa de casa é um conceito novo para mim. Não me lembro de muito quando era pequeno e o único lugar que realmente me lembro de é nosso velho apartamento, já que desde que cheguei á Portland eu morei em um apartamento perto do centro. Não era muito divertido.

Nós subimos o deck e paramos na porta da frente, onde colocamos as bolsas no chão enquanto minha mãe pegava as chaves. Enquanto ela remexia sua bolsa eu ficava a observar ao redor. Eu até podia me acostumar com o silêncio.

Com um som metálico, minha mãe destranca a porta e esta se abre com um alto ranger.

Como descrever a minha nova vida? Empoeirada. Muito empoeirada.

O interior da casa era feito de madeira de carvalho, que deixava o ambiente um pouco mais claro. Entrando pela porta da frente seguíamos direto para a sala de estar e jantar. A sala começava pela mesa de jantar redonda com quatro cadeiras á sua volta, um candelabro simples de duas lâmpadas se encontrava acima desta, provendo assim bastante luz para todo o ambiente, á frente da mesa havia uma cozinha americana. Á esquerda da mesa estava uma poltrona e um sofá num formato de L envolta da lareira.

Pude reconhecer a poltrona. Era ela onde meu avô se sentava no meu sonho do ônibus. O som de sua voz ainda estava no meu ouvido.

Dei mais alguns passos e olhei em volta. Uma pequena mesa de centro de madeira separava os móveis da lareira. Naquilo que parecia ser a divisa entre a zona de estar e a de jantar estava uma porta que deveria ser o banheiro. Ao lado da cozinha havia um corredor que levava para oque eu acredito ser um quarto. Num canto da sala estava uma escada que levava para o segundo andar, onde havia um corredor que seguia em frente.

Eu tinha certeza. Pelo menos 30% do ar que estávamos a respirar era pó. Aquele lugar devia estar fechado há muito tempo, porém, isso não o fazia menos interessante.

Minha nova vida não é assim tão ruim como eu pensei ser. Nós levamos nossas coisas para dentro e fechamos a porta.

1 de Agosto de 2019 às 21:52 0 Denunciar Insira Seguir história
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