sundellier Maria Souto

Depois de um casamento fracassado, Bakugou estava bem em ser apenas um pai solteiro e se manter longe de relacionamentos. Mas depois de conhecer um cara interessante no escritório da ex-mulher, ele começa a pensar que namorar alguém poder não ser tão ruim


Fanfiction Todo o público.

#kiribaku
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Serendipity

Uma vez Uraraka falou para ele que ser advogado era como ser uma espécie de psicólogo. Você escuta os problemas das pessoas e, baseado no que você ouviu, tenta ajudá-las a resolver as dificuldades. Às vezes você consegue, às vezes não. Às vezes a pessoa aceita bem, outras vezes quer jogar a culpa de toda em você. Mais um dia normal.

Bakugou seria um péssimo advogado.

Ele não gostava de escutar os problemas de outras pessoas, de ajudar outras pessoas, de ser irritado por outras pessoas. Ele não gostava de pessoas em geral. O que era sempre problema quando ele tinha que ir ao escritório de advocacia dela. Ele pensou que, tendo sido casado com ela um dia, o mínimo que ela poderia fazer era atendê-lo de forma preferencial.

Mas não, claro que não.

— Você vai ter que marcar um horário e esperar como qualquer outra pessoa. — Ela disse pelo telefone.

— Qual é Cara de anjo, eu sou o pai da tua filha, você não deveria se importar um pouquinho mais comigo? Pra que ter uma posição de poder se você não vai usar o bom e velho nepotismo?

— Nepotismo é para pessoas ricas, eu tenho contas pra pagar e um horário sexta pra você.

Então ali estava ele, Bakugou Katsuki, no escrito de sua ex-esposa, esperando ela dar o ar de sua graça. Porquê é claro que ela tinha escolhido um dos horários mais tarde para ele. É claro que ela iria se atrasar. E é claro que, enquanto ele estava sentado na sala de espera, ia aparecer uma mulher irritante para chorar no ouvido dele.

— VOCÊ CONSEGUE ACREDITAR QUE ALGUÉM SERIA TÃO CRUEL??? E DEPOIS DE TANTOS ANOS? –– A voz da mulher ecoou no cômodo.

Ele não sabe exatamente quando ela começou a falar sua história de vida. Alguma coisa sobre o marido dela ter traído ela, ou ela traiu ele? Ele estava tentando ignorar ela o máximo que podia, tentando transmitir a ideia de que ele não poderia ligar menos para o assunto, mas ela simplesmente não parava.

Ele queria dar uns berros, mandar ela calar a porra da boca. — NINGUÉM LIGA PRA CARALHA DOS SEUS PROBLEMAS AMOROSOS DESGRAÇADA. — Mas ele conseguia escutar a voz da Uraraka dizendo “Você tem que se comportar pelo menos aqui. Esse é meu trabalho”. E ele não ia dar para ela a satisfação de jogar isso na cara dele. Não que ela tivesse o hábito de fazer isso, mas ela teria o direito de fazer, e isso seria tão ruim quanto.

Em vez disso, ele olhou ao redor, tentando se concentrar em qualquer coisa que não fossem os gritos. Na sala onde eles estavam, além dele e da mulher irritante, havia um homem que parecia ter a idade de Bakugou. Ele conversava animado com alguém no telefone e parecia totalmente ignorar a cena, como se aquela mulher fazendo um show não desse o mínimo desconforto.

Ele estava irritantemente feliz, e sua expressão suave não combinava muito com seu cabelo exageradamente vermelho. Mas certamente combinava com o par absurdamente horrível de crocs vermelhos que ele estava usando. Katsuki podia jurar que apenas médicos e pessoas velhas sem o mínimo de noção usavam crocs. Ou pessoas que já desistiram da vida, é claro.

Mas eles não estavam em um hospital para ser o primeiro, o cara à sua frente não tinha idade para ser o segundo, e o terceiro caso estava fora de questão. Na verdade, apesar dos sapatos ridículos, ele tinha uma boa aparência; era bonito, muito bonito, e pelo que se via com sua camisa de manga curta, ele tinha braços musculosos, talvez fosse mais definido embaixo também...Não que isso importasse para Bakugou. Ao contrário do que a ex-esposa dizia, ele não precisava de romance na própria vida.

Desde o divórcio ele estava indo muito bem, trabalhando como animador em um desenho famoso, fazendo sucesso e é claro, tomando conta da própria filha. A última coisa que ele precisava era algum tipo de drama romântico para trazer problemas. Ele estava muito bem, obrigado, de nada.

Não percebeu que tinha passado tanto tempo o encarando até que ele se virou e seus olhos se encontraram. Estavam apenas alguns metros de distância um do outro, então ele podia ver seu rosto com clareza, Primeiro o ruivo pareceu confuso como se estivesse tentando entender porque Bakugou estava o encarando. Mas então seu rosto relaxou e ele desligou o telefone, dando um pequeno sorriso para o loiro.

Katsuki não desviou os olhos. Desviar o olhar significa sempre culpa ou vergonha, e se ele tinha alguma coisa dentro dele, era orgulho. Ele mirou com uma expressão séria, que ele iria manter até o outro desviar o olhar. Isso, se a mulher não tivesse interrompido, segurando seu braço, chacoalhando ele como a merda de um par de maracas.

— MAS É TÃO DOLOROSO! EU NUNCA IA ESPERAR TER ME CASADO COM A MERDA DE UM VIADO! CONSEGUE ACREDITAR? ELE LARGOU EU! EU! POR OUTRO HOMEM! COMO ELE OUSA FAZER UMA COISA DESSAS E…— Ela esbravejava em seu ouvido.

Bakugou fez uma cara de nojo. Tudo bem, agora chega, ele pensou.

— ESCUTA AQUI SUA VA…

— Com licença? — Os dois viram a cabeça em direção ao ruivo, que agora estava de pé ao lado deles. — Ela acabou de me chamar pra entrar, mas eu acho que a senhora na sua situação pode ir no meu lugar.

A mulher se levantou rapidamente, nem parecia mais tão afetada como nos minutos anteriores — Obrigada, é tão bom ver pessoas gentis hoje em dia, se sensibilizando com a dor alheia. — Ela olhou vagarosamente para Bakugou, como se ele não ter se jogado aos pés dela por das besteiras que ela falou fosse algo revoltante, e depois foi basicamente correndo para a sala.

O ruivo, se é que aquele tom de cabelo gritante poderia ser chamado de ruivo, sentou do lado dele, e Bakugou percebeu que ele tinha um forte cheiro de perfume de bebê. Fofo ele pensou, e em seguida se repreendeu, que porra! Não tem nada de fofo nisso. Cala a boca.

Bakugou estava prestes a apreciar o silêncio que a velha deixou quando saiu quando o ruivo perguntou.

Então… você também se sentiu sensibilizado com a pobre história da senhora homofóbica? –– Ele perguntou, sarcasmo transbordando em sua voz

Era uma ótima maneira de iniciar uma conversa com Bakugou, ele adorava xingar à Deus e o mundo

— VACA IRRITANTE, não sabe a hora de calar a boca, devia ter ficado esperando até apodrecer.

— Verdade, mas eu deixei ela ir na frente pra te ajudar, o olhar de desespero no seu rosto... parecia que ia matar alguém. — Então ele achava que era por isso que o Bakugou estava encarando ele.

Primeiro ele se sentiu ofendido. Eu não preciso da ajuda de ninguém, muito menos de um desconhecido. Então ele percebeu que isso era provavelmente melhor que achar que estava secando ele. O que o loiro não estava, obviamente.

— Ha! Isso seria bastante eu, vir aqui resolver um problema e levar outro de brinde.

— Veio aqui resolver algo muito sério? — O Ruivo indagou.

–– Isso já não é da sua conta. –– Bakugou respondeu de reflexo, achando que isso iria calar o ruivo.

Mas ele apenas levantou os braços, como se estivesse se rendendo. –– Calma cara, não precisa me engolir, você não matou alguém ou algo assim né?

Bakugou curvou o canto da boca em um sorriso.

— É, acabei de cometer um assassinato sabe? Vim aqui saber se eu posso recorrer em liberdade, eu tinha uma boa razão pro meu crime.

Quando o desconhecido arqueou uma sobrancelha Bakugou precisou admitir, ele era fofo.

–– E qual era a razão?

— A pessoa tinha me dado de presente um desse grotescos sapatos crocs. Foi uma questão de limpar minha honra. –– E Bakugou abriu um sorriso.

O outro fez uma expressão indignada, e imediatamente se curvou para tocar os próprios sapatos.

–– HEY! Não tem nada de horrível em sapatos crocs! Eles são super estilosos!

–– Não, eles são asquerosos.

–– Nós definitivamente não podemos ser amigos!

–– No problema, compadre! –– Bakugou respondeu, se sentindo bem mais humorado.

Essa foi a melhor escolha de palavras, pois depois disso se criou um silêncio entre eles, que ele apreciou. O ruivo parecia não saber como continuar a conversa, então começou a bater as mãos nos próprios joelhos.

Bakugou não gostava de ficar de conversa fiada, ele achava ridículo tentar criar assunto onde não tem, algo extremamente sem sentido. Se não há nada de produtivo a se falar, então o silêncio é a melhor opção.

Mas o ruivo parecia agoniado pelo silêncio, e isso estava começando a irritar Bakugou.

–– Na verdade eu vim aqui lidar com um problema ridículo.

–– Oh –– Ele virou para Bakugou animado, como se falar com ele fosse algo extremamente animador. Ele não sabia porquê, o loiro não era exatamente alguém social –– Você tá sendo processado por alguém ou…?

–– Processando. Eu sou produtor e animador. Eu faça aquele desenho Ground Zero, que passa no cana...

–– AHA! –– Exclamou o ruivo, dando o susto em Bakugou. –– Eu sabia que te conhecia em algum lugar! Você é o cara por trás de Ground Zero! Minha filha adora esse desenho!

Bakugou sentiu a boa e velha arrogância passar por ele e sorriu. –– O desenho com maior audiência do canal UA, ele mesmo. –– Ele fez uma expressão séria –– Uns idiotas decidiram usar personagens dele pra fazer campanha anti-vacina, e ainda espalharam boatos de que eu apoio eles. Então obviamente, eu vou processar eles até não sobrar dinheiro pra sair falando merda.

Kirishima assobiou.

–– Wow, acho que você não gosta muito deles.

–– A única coisa que eu sinto de anti-vax além de desprezo é inveja, porque eles morrem cedo enquanto eu tenho que esperar o doce sopro da morte –– E ele levantou a mão para dar ênfase, como se estivesse segurando uma caveira invisível na mão.

O ruivo ficou encarando, e por um momento Bakugou achou que tinha ido um pouco longe demais. "Você sempre faz essas piadas de humor negro, as pessoas acabam tendo uma impressão ruim de você." Sua ex-mulher disse uma vez.

Mas então o rosto dele mudou, e ele começou a gargalhar desesperadamente. Legal

–– Ai meu deus. –– Ele disse entre uma risada e outra – Isso é m-muito errado!

Bakugou se sentia triunfante com a resposta.

–– Mas é verdade, eu não aguento gente idiota.

O outro ainda tentava recuperar o ar –– P-poxa...então não sei com....–– ele riu de novo –– c-como você ta mantendo essa conversa comigo.

–– Você é fofo, isso compensa a burrice –– Ele falou sem pensar.

O outro parou de rir. E por um momento que pareceu longo demais, ficaram apenas se encarando.

Então ouviram um grito da porta.

— MAS VOCÊ VAI SE ARREPENDER SUA IGNORANTE! EU IA TE RECOMENDAR PRA UM MONTE DE PESSOAS AGORA VOCÊ NÃO VAI TER MAIS NINGUÉM QUE VAI QUERER TEU TRABALHO!

Era a mulher reclamona de antes. Ela saiu bufando e marchando para fora do local. Ochako se mantinha na porta, com uma cara de cansaço. — Essa foi boa… — Ela olhou para eles, e se endireitou, uma tentativa de manter a boa pose. — Senhor Kirishima Eijirou, pode entrar. — E então ela passou pela porta.

Bakugou então percebeu que não tinha perguntado o nome do ruivo ou falando seu próprio nome até aquele momento. Kirishima. Soa bem, combina com ele.

Kirishima se levantou e andou até a porta, mas antes de entrar, acenou para bakugou.

Ele já tinha entrado quando Bakugou acenou de volta

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Katsuki agora se encontrava dentro da sala da Uraraka. Era uma sala simples, com uma mesa branca, uma prateleira de madeira, e uma janela que ficava atrás dela para que a luz do sol entrasse e mostrasse que ela era o ser superior. Ela estava avaliando a situação.

Durante o tempo que ficou esperando, ele pensou se ele deveria pedir o número do Kirishima, mas então concluiu que isso era idiota. Por que ele pediria o telefone de alguém com quem tinha conversado por uns 20 minutos? E só porque ele riu das suas piadas não quer dizer que ele está afim de você.

Quando o cara realmente reapareceu e deu um tchau, Bakugou o ignorou, e percebeu que o ruivo tinha feito uma expressão de decepção. E Katsuki havia chegado ao nível de ser uma decepção até para si mesmo, incrível.

— Então esses caras usaram o seu desenho para uma campanha, sem sua autorização, e ainda espalharam mentiras ao seu respeito. — Uraraka quebrou o silêncio — É basicamente uma causa ganha, podemos só obrigar eles a desmentir tudo e tirar seu desenho da campanha deles. Ou podemos também exigir uma compensação em dinheiro por danos morais. Que tal?

Bakugou não realmente tinha que pensar no assunto. — Tira tanto dinheiro deles que a única que vai sobrar neles vão ser as doenças que eles carregam.

— Tudo bem. — Então ela estalou os dedos e deslizou na cadeira. Claro que se fosse qualquer outra pessoa ela teria que manter a compostura, mas era só o Bakugou. Ela podia ficar à vontade. Era legal que ela ainda se sentisse confortável estando com ele, mesmo depois de tanto tempo. — Como você vai?

Ele considerou a pergunta.

— Eu vou bem, e por incrível que pareça, parece que minha vida está mais tranquila que a sua. Qual foi aquela da mulher berrado?

A lembrança da mulher pareceu deixar ela levemente irritada, mas Cara de anjo tinha um rosto redondo e infantil, então ela ficava parecendo uma criança que não conseguiu o doce que queria.

— Ah, o de sempre, casos de família. Ela traiu o marido, aí ele se divorciou e arranjou um namorado. Ela fez uma penca de comentários homofóbicos no facebook achando que ali era terra sem lei e agora tá sendo processada. — Ela jogou as mãos para o alto. — E ela ainda queria que eu fizesse de graça, por amor a minha profissão sabe? Por que sou sempre eu que acabo com esse tipo de cliente? — Ela parecia indignada.

Bakugou ponderou. — Pessoas legais sempre atraem pessoas com o diabo no corpo. Foi assim que a gente acabou casado. — Ela fechou os olhos e jogou a cabeça para trás, usando a cadeira de apoio.

— É verdade, mas isso tá me cansando demais.

— E foi assim que a gente se divorciou. — Ela relutantemente deu um sorriso. Vitória, ele pensou.

Ochako parecia não querer falar mais nada sobre o trabalho, então Bakugou se perguntou se valia a pena fazer a pergunta. Sua curiosidade venceu no fim das contas.

— E o outro cara?

— Que outro cara? — Ela continuava na mesma posição

— Você sabe. — Ele se sentia desconfortável — O que veio antes de mim, o ruivinho fofo. Era Kirishima o nome.

Ela abriu os olhos e quase pulou da cadeira. Ela era exageradamente espalhafatosa às vezes.

— Que diabos, Cara de anjo?

— Você acabou de chamar meu cliente de ruivinho fofo? — Ela disse com um olhar penetrante.

— Que? Claro que eu não falei isso!

Ela entrelaçou os dedos e botou na frente da boca — Oh meu Deus, é a primeira vez que você fala algo sobre uma pessoa que não seja um xingamento! — Ela ficou quieta por um momento, e então apontou na direção dele. — Pera aí! Vocês estavam flertando? Não acredito que meu marido estava flertando enquanto eu trabalhava duro para trazer o dinheiro pra casa.

— Ex-marido — Ele corrigiu — E meu Deus Ochako! Eu tava só curioso sobre ele! Não aconteceu nada. NADA! Então abaixa a bola.

Ela fez biquinho, não parecia feliz com a resposta.

— Eu não posso falar sobre o processo dele. Maaaas, eu posso te dar o número dele. — Ela deu uma piscadinha.

Bakugou estava começando a realmente se sentir incomodado, o que queria dizer que ele ia começar a responder à situação da forma mais rude possível.

— Poxa obrigada pela proposta Ochako, vou ligar e falar pra ele que consegui o contato com minha ex doida que sai por ainda dando informação pessoal dos clientes pros outros.

Ela fechou a cara. Ótimo.

— Ai, eu só queria ajudar. — Ela disse, emburrada. Realmente como uma criança.

— Ajuda negada, e agora eu tenho que ir pra casa. — E ele se levantou. Ela se levantou junto

— Espera, eu ainda não te dei o endereço da escola de ballet da Natsuki, planeja buscar ela como?

Bakugou não entendeu. — Como assim buscar ela? Minha vez começa só semana que vem.

Era assim que eles dividiam a guarda da filha, depois da separação. Duas semanas ela passava com o pai, e duas com a mãe. Eles viviam relativamente perto, então não era trabalhoso manter esse esquema. Claro que eles tinham que organizar diferente quando se tratava de feriados específicos como natal e ano novo, ou quando um deles estivesse muito ocupado. Mas isso era algo que eles se organizavam com uma mínima antecedência.

O que não era o caso no momento.

— Eu falei que eu ia viajar esse final de semana! — Ela se defendeu. — Mandei mensagem.

— Não, você não mandou. — Pegou o celular e colocou ele, praticamente batendo, no rosto dela. Ochako inclinou rosto para trás em reflexo, e então pegou o telefone e procurou a conversa que não existia. Quando não achou, devolveu o celular, coçou a cabeça e olhou para o chão.

— Ok, talvez eu tenha esquecido de comentar esse detalhe. –– Ela parecia envergonhada.

–– Bom, agora que resolvemos tudo eu posso ir embora!

Ela revirou os olhos.

–– Bakugou é sério, preciso que fique com ela. Não é como se você tivesse algo de importante pra fazer

— Ei! Eu poderia ter alguma coisa importante! –– Ele não tinha.

Ela deu um sorriso torto, e se virou para pegar uma bolsa roxa que ele sabia ser da Natsuki. Ali provavelmente teria o básico: Alguns livros, cadernos, e o stitch de pelúcia que a menina amava com todas as forças.

–– Claro que sim, não esquece que ela começou as aulas de ballet essa semana, é toda quarta e sexta.

Ele fez uma careta.

–– Não seja rude. –– Ela estendeu a bolsa. –– Obrigado por ficar com ela, te amo viu?

–– Flertando com seu ex? Se continuar assim vou te pedir em casamento hein.

Ela respondeu com desânimo. –– Honestamente bakugou, eu tô num momento da minha vida que eu aceitaria só pelo bolo.

–– Nossa, deprimente. –– Ele puxou a bolsa da mão dela.

–– Pois é. Mas falando em coisas não deprimentes, por que você não leva ela naquela feira perto da praia amanha? Pode ser interessante pra alguém que nunca tem nada o que fazer finais de semana.

Ela sempre tinha que tentar se meter na vida dele. Ele se dirigiu até a porta irritado. –– Eu vou pra onde eu quiser! –– E então abriu a porta.

–– Tchau pra você também seu ogro.

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A verdade é que Bakugou não se importava de esperar pela filha. Era a sua primeira vez vindo nessa nova escolinha de ballet e ele ficou perto da porta, junto com um monte de outras mães. Ele ainda achava que ballet não era algo que combinava com a pequena, que ela se daria melhor com artes marciais, ela já tinha uma mão pesada. Mas Uraraka convenceu ele dar uma chance, poderiam botar ela em outro esporte mais tarde. Ele acabou cedendo.

Depois de certo tempo pensando, ele percebeu algumas pessoas cochichando e encarando-o. Ele encarou de volta, e elas desviaram o olhar. Supôs que era por causa de sua aparência, cabelo arrepiado, jaqueta de couro e diversos piercing nas orelhas. Além de uma feição nada agradável. Era mais a imagem que teriam de um delinquente que de um pai de família.

As portas da escola se abriram, e um exército de mini-pessoas saiu de dentro dela. Entre todas aquelas cabeças agitadas, uma cabeleira dourada se destacava. Seu coque estava praticamente destruído, e ela pisava com força para fazer o pisca-pisca de seus sapatos brilharem.

Bakugou se ajoelhou e abriu os braços.

–– Ei princesinha! –– Ele a chamou.

Natsuki viu ele e foi correndo em sua direção. Seu tutu balançando contra o vento. –– Papaiiiiiiiiiiiiiiii –– Ela então pulou em seus braços, e subiu em seu colo –– Oi!

–– Oi! –– Se tinha uma coisa que ele adorava em ser pai, era isso. Não importava a situação, Natsuki sempre fazia ele ficar feliz só por vê-la, com um sorriso de orelha a orelha. –– Vamos pra casa?

Ele a botou no chão e segurou em sua pequena mão, indo em direção ao carro. Ela andava saltitando. Quando era pequena, não conseguia pular de jeito nenhum, agora parecia compensar o tempo perdido pulando em todos os momentos.

–– Papai, hoje foi tão legaal. A gente usou tinta e eu pintei todo muito, você, mamãe, tio Deku, tia Tsu, tio Deku, tia Momo, você… –– ela fez biquinho e olhou para mão como se estivesse usando ela para fazer alguma conta. –– e o tio Todo…. e aí a gente dançou e eu fiz plié… e aí eu fiquei giranduu –– Ela gostava de puxar as vogais, como se estivesse cantando.

Ele abriu o carro e a prendeu na cadeira, mas antes de fechar ela puxou seu braço.

–– STITCH!

Desde pequena, por alguma razão ela adorava o alien da Disney, então bakugou comprou para ela um boneco de pelúcia. Quando ela era mais nova eram inseparáveis, ela chorava e gritava se alguém tentasse pega-lo. Sempre. Mas uma vez um menino tentou roubar-lo da mão dela, e ela o mordeu até sangrar. Depois desse "acidente", uma regra de não levar o stitch para o colégio foi estabelecida.

Quer dizer, Uraraka chamava de acidente, Bakugou chamava de orgulho.

–– Tá em casa. –– Na verdade ele estava na bolsa, mas ele não ia contar isso. Ela fez uma cara emburrada. Todos diziam que ela tinha nascido cuspida e escarrada do pai, o que era verdade, ainda mais quando ficava mal-humorada. A personalidade alegre dela definitivamente não veio dele.

Quando chegaram em casa, ela pulou de cara no sofá sem tirar os sapatos e ficou batendo os pés no tecido.

––Ei ei, cuidado pra não sujar o sofá.

Ela se sentou e pegou o controle remoto.

–– Eu quero ver Lilo e Stitch! –– Ela disse animada.

Uma coisa que Katsuki aprendeu com o tempo: Você só está preparado para ser pai se você for mentalmente capaz para assistir o mesmo filme diversas vezes, por horas consecutivas, durante anos da sua vida.

–– Nada disso princesa, a senhora vai tomar um banho.

Ela abraçou o controle. –– Filme!

Bakugou usou sua arma secreta. –– Se não tomar banho, não vai poder dormir com o Stitch. Ele só gosta de meninas limpinhas. –– É, nem um pouco chantagista

–– Ele não se importa com isso! –– Falou a maior expert em Stitch da cidade.

–– Você já viu a Lilo andando suja? O filme começa com ela tomando banho.

Ela o encarou, como se fosse começar uma briga, e então pulou do sofá foi correndo em direção ao banheiro.

–– BANHO!

Ele foi atrás dela.

Ao entrar na banheira, ela fez questão de jogar água para todos os lados.

–– Ei, você vai me molhar assim –– E ela deu outro tapa na água, deixando bakugou encharcado. Ele suspirou e abriu a tampa do shampoo –– Fecha os olhos.

O cabelo de Natsuki ia um pouco depois dos ombros e era extremamente liso e macio, como fizeram para transformar ele em um coque estava além de seus conhecimentos. O máximo que ele era capaz de fazer era prender em rabo de cavalo e colocar varia presilhas coloridas.

–– Eu tô com fome –– Ela disse enquanto passava sabonete em um dos patos de borracha e seu pai passava condicionador em seu cabelo. –– Eu quero pão com ovo.

Bakugou tentou invocar uma imagem mental da geladeira.

–– Acho que não tem ovo. Mas tem macarrão, que tal?

–– Mas eu queria ovo… –– Ela fez uma cara de decepção, com direito a um biquinho. E Bakugou infelizmente era um pai coruja que queria fazer todas as vontades da filha, na medida do possível.

Ochako tinha dito algo sobre uma feira não era?

–– Que tal a gente fazer o seguinte: Hoje a gente janta macarrão com queijo, amanhã a gente vai na feira e compra vario ovos. Você vai comer tanto ovo que vai virar uma galinhazinha.

–– Galinhas comem ovos?

Bakugou pegou a toalha. –– Eles comem agora.

De banho tomado e barriga cheia, não havia mais desculpas para não assistir ao filme.

Natsuki mantinha os olhos vidrados na tela, quase não piscando. Como se ela já não tivesse assistido esse filme um milhão de vezes. Mas quando bakugou tentou pegar o celular, ela percebeu.

— PAI! Stitch! — Ela nunca deixava ele simplesmente não ver. Bakugou era capaz de recitar a coisa toda de cor.

–– Ohana quer dizer família...-–– Disse Lilo da tela da televisão.

––...e família quer dizer nunca abandonar ou esquecer! –– Natsuki completou, sentada no sofá do lado de seu pai, agarrada feito cola em seu próprio Stitch.

Bakugou não gostava de filmes da Disney. Eles eram muito melodramáticos e irrealistas. E a Disney rejeitou o roteiro do desenho dele, então havia ali um rancor ali. Mas considerando que ele poderia estar vendo Branca de Neve infinitamente, ficava feliz da escolha de filme de sua filha. Pelo menos tinha alguma mensagem.

As vezes ele se também se perguntava o que família significa. E então ele olhava para sua pequena Natsuki assistindo seu filme preferido, encostando a cabeça no braço dele, e ele tinha a resposta.

———————

A feira não estava tão cheia, o que já era uma grande vitória para Bakugou, que odiava contato humano. O sol batia forte, então ele deu um banho de protetor solar em Natsuki, que usava uma versão miniatura dos óculos escuros que ele usava.

Eles eram uma família com estilo.

Haviam coisas demais para se comprar ali, a maioria eram tipos de comidas como frutas, verdura ou peixes. Mas havia também algumas barracas na entrada vendendo decorações como mini esculturas de madeira. Natsuki ficou nas pontas do pé até achar uma caixinha de madeira com um sol desenhado, e então olhou para o pai com olhar pidão.

–– Só porque seu nome é Natsuki não quer dizer que você tem que comprar tudo relacionado com o verão.

Ela botou o coelho de volta, mas pegou uma pedra roxa de um pote na barraca.

–– Olha pai! –– Ela botou a pedra na testa com uma mão e colocou o outro braço para cima –– NÓS SOMOS AS CRISTALS GEEEMS!

–– Lindo filha, agora bota de volta.

Ela fez biquinho

–– Mas eu quero…

–– Na volta compra. –– Pegou a pedra da mão dela colocou no lugar.

Ele talvez tenha cometido um erro de cálculo ao trazer a filha, uma vez que ela tentava correr para longe dele o tempo todo, além de pedir por tudo que via. Apesar da dificuldade, ele conseguiu comprar alguns legumes e frutas, que ele tinha encarregado a criança de segurar, já que estava leve. Ela cumpria sua missão muito seriamente para alguém que tinha tão poucos centímetros de altura.

E então aconteceu. Ele viu seu cabelo vermelho primeiro. Em uma das barracas ao longe, com uma faixa na cabeça, e oferecendo uma caixa de morangos para uma mulher, estava ele, o cara do dia anterior. Kirishima

Maldita Cara de Anjo!

Ele avaliou se valia a pena ir falar com ele ou se ele deveria dar meia volta, ao mesmo tempo em que tentava impedir Natsuki de derrubar alguma coisa no chão. Decidiu que não havia motivos para não dar pelo menos um oi para o ruivo.

Pegou na mão da filha e seguiu em frente. Ele estava atendendo um senhor quando chegaram perto

–– Como assim não deixa eu pegar fiado? Eu não vou ficar devendo! Você não confia em um homem de Deus?

–– Não –– Ele parecia cansado. –– Se não for pagar não vai levar. A palavra de Deus não paga minhas contas. –– O senhor fez um barulho de indignação e foi para a barraca ao lado e deu de cara com Bakugou.

Pelo menos ele o reconhecia. Katsuki tinha uma leve preocupação de que o ruivo simplesmente não lembraria dele, o que pensando bem seria ridículo, afinal ele havia o reconhecido por causa do desenho.

De qualquer forma não era o caso, pois quando ele o viu seus olhos se arregalaram, mas logo ele abriu um sorriso. Na opinião do Loiro, aquele cara sorria demais. Ele também era fofo demais. Droga!

–– HEY! Você de ontem! –– Ele disse amigavelmente.

–– Yeah, eu de ontem. –– Ele não tinha muito o que dizer, então levantou a mão da filha –– Vim trazer a filha para fazer compras. Dê oi pro moço, Natsuki.

Ela soltou a mão dele. –– Oi tio. Por que seu cabelo é vermelho tio?

––Ah isso… –– Ele olhou para cima, como se para ter certeza que o cabelo continuava lá. –– Eu pinto meu cabelo com tinta vermelha pra atrair fadas! –– Então ele botou o dedo nos lábios, como se estivesse pedindo para ela não falar nada, e deu uma piscadinha –– Mas isso é meu segredo, hein?

Natsu olhou para ele espantada, e puxou a blusa do pai.

–– EU QUERO PINTAR MEU CABELO TAMBÉM!

Bakugou riu da ideia da filha de 7 anos com cabeleira escarlate –– Tá bom, pergunta pra sua mãe.

Kirishima fez uma expressão que Bakugou não conseguiu entender. Talvez tenha feito parecer que estava debochando do cabelo dele ou algo do tipo, e o deixou irritado. Mas seu sorriso voltou e ele ofereceu uma maçã para Natsu, que rapidamente aceitou.

Katsuki se preocupava demais com detalhes.

––Então, conseguiu resolver o seu problema dos anti-vacinas ontem?

–– Meu problema com anti-vacinas só se resolver quando eles pararem de existir –– isso fez Kirishima rir –– mas sim, resolvi o básico

–– Isso é bom...er… desculpe eu não lembro seu nome –– Ele parecia envergonhado com isso.

–– Claro que não, eu não falei ele pra você –– Suave como uma lixa. –– Meu nome é Bakugou Katsuki. O seu?

–– Kirishima Eijirou. –– Ele colocou os cotovelos na mesa da barraca e se inclinou para frente. –– E então, o que posso fazer por você?

Que tal me dar seu número?

–– Que tal me dar uma dúzia de ovos? –– E em outras notícias, Bakugou definitivamente não sabe flertar.

Kirishima abriu os braços. Entrando no que parecia ser um modo vendedor –– Você tem certeza que quer só isso? Eu tenho as frutas mais frescas da feira, modéstia parte, tem morangos, uvas, maçãs –– Ele apontou para Natsu –– E meus preferidos, os kiwis kiwishima, de altíssima qualidade!

–– Você acabou de chamar eles de kiwi kiwishima? –– Bakugou perguntou incrédulo –– Minha nossa essa deve ser a coisa mais cafona que eu já ouvi. Mas você usa crocs por opção, nada menos que o esperado.

–– Ei! Eu chamo isso de poder do marketing! –– Ele ponderou –– Meus crocs são perfeitos. E de que outra forma alguém usaria eles sem ser por opção?

–– Como alternativa para pena de morte.

–– Você sabe, pra alguém que odeia tanto crocs você bota bastante eles na conversa. Seria esse um amor enrustido?

–– Urg, como você ousa falar isso. Se eu comprar essa porcaria de kiwi, você vai calar a boca?

–– Não! Mas você terá kiwis deliciosos.

–– Bom, eu não tô vendo nenhum kiwi delicioso, nenhum kiwi pra falar a verdade

Ele olhou para a própria barraca. –– Ah, deve ter mais alguma guardada aqui. –– Ele se abaixou, provavelmente para pegar kiwis de alguma caixa ou algo assim.

Katsuki usou a pausa para pensar. Ele se perguntou o que estava fazendo ali, o que queria fazer ali. Pensou de novo em pedir o numero dele. Um pensamento estranho. Ele era um cara interessante, talvez valesse a pena manter contato com ele, certo? Tinha alguma maneira fácil de fazer isso?

O único problema era a total falta de experiência dele nesse assunto. Ele nunca flertou com ninguém. Ele, Ochako, Deku e Todoroki estudaram juntos no ensino fundamental. Ochako e Deku tiveram alguma coisa, mas depois terminaram e quando Todoroki e Deku ficaram juntos, Katsuki simplesmente estava ali para a Uraraka. Uma opção avaliável.

Depois disso simplesmente nunca houve ninguém, eles se casaram, tiveram uma filha, viram que o casamento deles era uma falha completa e assinaram divórcio. Não que ele estivesse reclamando, foi algo bom enquanto durou. Mas ele simplesmente não sabia como criar outro relacionamento, e um parte dele ainda acha que só está aqui pela insistência doida da Uraraka de que ele precisa de alguém.

Natsuki puxou sua calça, interrompendo sua linha de pensamentos.

–– Pai! –– Ela olhou para ele com a expressão mais preocupada que uma criança de 7 anos com bochechas redondas conseguiria fazer. Ele agachou ao lado dela.

–– O que foi querida?

Ela apontou.

–– Aquele moço pegou o ovo do tio sem pedir, isso é errado né?

Bakugou olhou para onde ela estava apontando. Era aquele mesmo senhor, que estava na barraca ao lado de Kirishima, e enquanto a senhora da barraca atendia outro cliente, colocou uma caixa de morangos na sacola sem cerimônia.

Filho da Puta. Cometendo um crime bem na minha frente.

Bakugou levantou e foi atrás dele.

–– Ei seu merda –– Ele segurou o braço do homem –– QUE PORRA VOCÊ TÁ FAZENDO ROUBANDO??

Ele gritou alto o suficiente para atrair a atenção das pessoas. O homem ficou pálido, mas puxou o braço e começou a se defender.

–– COMO VOCÊ OUSA ME ACUSAR DE UM CRIME? EU SOU UM HOMEM DE DEUS ENTENDEU?

Bakugou puxou a bolsa dele, enfiou a mão, pegou a caixa de morangos e deu na mão da senhora dona da barraca, que olhava toda aquela situação com um olhar curioso. Ele se virou de volta para o homem que agora parecia um camarão de tão vermelho.

–– ISSO É UM ABSURDO! ALGUÉM FAZ ALGUMA COISA! OLHEM O QUE ESSE FILHO DO DIABO ESTÁ FAZENDO! –– Ele olhou de um lado para o outro, como se esperasse receber apoio ou ajuda. Ninguém se mexeu. Até que a senhora dos morangos falou:

–– Desculpa aí amigo, ninguém aqui quer defender crente ladrão.

Então, enquanto Bakugou pegava uma caixa de ovos de dentro da bolsa, o velho partiu para cima dele, tentando recuperá-la. Mas Bakugou era muito mais rápido e forte, e por reflexo ele deu uma paulada no velho com a mão que segurava os ovos, que explodiram em seu rosto. Com a força do impacto, o homem, caiu no chão.

–– Eu...eu vou chamar a policia pra te prender seu maluco!

Bakugou fez cara de deboche.

–– Minha esposa é advogada, tenta qualquer coisa ela te bota na cadeia por furto amigão.

Ele adorava usar a carta "esposa advogada". Usava desde que eles eram casados para se livrar de problemas, e mesmo depois do divórcio, não conseguia se livrar do hábito. Ele poderia dizer "ex-esposa", mas honestamente, onde estaria o impacto?

O homem deve ter decidido que não valia a pena continuar ali, então se levantou e foi embora, deixando até a sacola que ele havia usado para furtar. Ali tinha um cacho de bananas e uma manga que Bakugou decidiu dar para a moça de antes. Não é como se ele fosse adivinhar de quem eram. Ela agradeceu

As pessoas continuavam o encarando.

— Vocês também! O que foi?? Perderam alguma coisa?

As pessoas rapidamente voltaram com suas atividades, e ele sentiu algo puxar sua perna.

–– Papaaai, isso foi tão legaaal! –– Natsuki estava agarrada em sua perna, ainda segurando as compras. Ele a botou no colo, na confusão tinha até esquecido que pequena estava ali vendo tudo. Não deveria ter feito isso na frente dela. Ele se auto censurou e sentiu um pouco de raiva de toda aquela situação. Então ele lembrou de outra pessoa que também estava ali.

Kirishima parecia surpreso e ao mesmo tempo irritado com aquele tumulto. Aparentemente arranjar confusão no trabalho de alguém não consta no livro de 100 melhores maneiras de flertar com alguém. E honestamente, Katsuki já estava puto o suficiente para não se importar.

Ele não se arrependia de nada.

— Os ovos eram seus, eu vou pagar por ele –– Falou enquanto tentava pegar as notas do bolso.

Kirishima parecia surpreso de bakugou falar com ele, como se tivesse saído de um transe.

— Que? Ah, não precisa pa...— Mas bakugou já havia botado o dinheiro na mesa.

— Tudo bem, eu tenho que ir agora— Ele disse já se virando.

— Tchau tio! — Natsuki acenava alegremente.

Depois que eles já tinham saído da feira, Bakugou percebeu que, no fim das contas, não estava levando nenhuma caixa de ovos para casa.

———————-

Ele estava sentado em um banco de frente para um parquinho, um pouco depois da feira, com Natsuki ao seu lado se deliciando de algodão doce.

É por isso cara de anjo. Ele pensou. Que eu não tento namorar ninguem, sempre dá merda. Será que houve sequer tentativa da parte dele? Bom, pelo menos dessa vez a bagunça não era sua culpa, e sim do ladrão crente.

Tudo bem, Bakugou pode ter exagerado um pouco em sair de lá daquele jeito. Talvez pudesse voltar amanhã, conversar com o cara. Mas ele tinha algo sobre o que conversar? Não tinha ido no trabalho dele fazer confusão, só estava impedindo alguém de cometer um crime, nada demais. No fim, decidiu que toda a ideia de tentar ir falar com ele tinha sido besteira desde o início.

Ele sentiu uma mão tocar em seu ombro.

— Aha, sabia que estaria aqui. — A voz era familiar.

Ao seu lado, estava Kirishima Eijirou, ele não usava mais a faixa na testa, mas seu sorriso continuava ali. Junto dele, havia uma menina um pouco mais alta que Natsu. Ela tinha cabelos bem negros e olhos vermelhos, e segurava uma caixa de papelão. Estava usando crocs branco cheio de enfeites da frente. Definitivamente pai e filha.

— Sabia? — Bakugou respondeu cético.

— Quer dizer… não! Mas eu imaginei que estaria. Você tem uma criança, aqui tem esse parquinho, matemática básica.

— Você não parece o tipo que é bom em matemática. — Bakugou deu um sorriso presunçoso.

— Ah, qual é! — Ele olhou para a menina — Essa é a minha filha, Ameko. Diz oi filha.

A menina agarrou a perna do pai.

— Oi.

Natsuki pulou do banco.

— Oi, sou Natsu! Quer algodão? — Ela ofereceu. Ameko olhou para o pai esperando confirmação, depois soltou a sua perna e pegou o doce. Natsu parecia satisfeita em ter compartilhado sua comida, até que a caixa chamou sua atenção.

— Que isso?

Ameko voltou a olha para o pai, que acenou a cabeça.

— Mostra pra ela filha.

A menina deu um passo para frente e abriu a caixa. Dentro delas haviam diversas pedras de diferentes tamanhos. — Essa é minha coleção de pedras. Papai disse que eu podia vir aqui achar mais pedra enquanto ele fala com o moço.

Natsuki ficou imediatamente animada.

— Legaaaaal. Papai posso e brincar com ela?

–– O que nós dizemos?

–– Por favoooor.

— Claro, vai lá.

A loira pegou a mão dela e puxou ela para perto do escorrega, onde elas sentaram na grama. Bakugou olhou para Kirishima enquanto ele se sentava ao seu lado.

–– Então, o que você quer? –– Bakugou sentia seu mau-humor voltando, se é que ele algum dia foi embora.

Kirishima lhe entregou uma sacola. –– Trouxe pra você, as frutas e os ovos que você esqueceu.

Bakugou ficou confuso. –– Eu não paguei por isso, e não preciso que ninguém me dê nada de graça.

–– Tecnicamente você pagou. Me dando aquela quantidade de dinheiro por uma caixa de ovos. Depois eu não sei matemática...e também, eu queria te agradecer pelo que você fez hoje, aquilo foi incrível.

Ok, ele não estava esperando essa.

–– Desculpa, foi incrível por quê…?

–– Você ta brincando? Aquilo foi irado! Tão másculo! –– Ele botou os punhos para frente para dar ênfase –– Já faz tempo que aquele cara não deixa ninguém em paz, vive pedindo fiado e não pagando, se fazendo de vítima. A gente já tava desconfiado, mas não tinha nenhuma prova...aí você veio e nossa, lavou nossas almas.

Bakugou sentiu o ego inflar.

–– Eu não fiz isso pra ajudar ninguém, só que o cara fazendo aquilo na cara dura, podia ser uma má influência na menina. –– Bakugou olhou para a direção da filha, que agora empurrava sua nova amiga na gangorra. –– Apesar que a mãe dela provavelmente acharia uma má influência eu brigar com alguém na frente dela. Bem, ela precisa aprender a se defender.

O sorriso de Kirishima falhou um pouco, como se ele estivesse se decepcionado.

–– Ah, você mencionou...sua esposa né? Advogada e tals.

Ah é, ele tinha falado isso, não é?

–– Bem, aquela parte pode ter sido um pouco de blefe. –– Seu rosto se iluminou. –– Quer dizer, eu tenho uma advogada, mas no caso ela é minha ex-esposa. Você conhece, é a Uraraka.

–– Pera, a Doutora Ochako é sua ex-mulher?

Ele estava surpreso. Isso era normal, ninguém consegue imaginar duas pessoas tão diferentes como eles dois formando um casal. Como ficaram juntos por tanto tempo é um mistério.

–– É, a gente foi casado por um tempo, mas não deu certo. Sabe como é. Nós continuamos amigos, acho que todo esse negócio de ódio entre pessoas que foram casadas bem idiota.

–– Oh, legal...quer dizer não é legal que você tenha se divorciado, imagino que tenha sido uma situação bem chata, mas é legal que ainda tenha um bom relacionamento com ela! E com sua filha também, ela é adorável. –– Ele estava falando rápido, como se quiser se explicar, mas não soubesse como.

–– É. Ela é adorável mesmo, mas é uma pestinha, acredita em mim. Tive que vir aqui hoje correndo pra comprar os ovos.

Kirishima parou para observar a filha. –– Ameko gostou dela, e ela geralmente não gosta muito de brincar com outras pessoas.

Bakugou assentiu. Eles conversaram sobre mais algumas. Kirishima contou a história de outros clientes atrevidos, e Bakugou passou raiva por causa de pessoas que ele nunca viu. Era estranho, mas falar com ele era simplesmente fácil. No fim, parecia que eles tinham coisas sobre o que conversar.

Bakugou levantou a cabeça e percebeu o céu escurecendo.

— Acho que é melhor eu ir, já tá ficando tarde.

— Quê? — O ruivo olhou ao redor — Ah, é mesmo.

Bakugou se levantou do banco, seguido por Kirishima.

— Escuta — Ele começou — Se você quiser, eu posso te passar meu numero.

O loiro levantou as sobrancelhas. — Seu número, é?

O rosto do ruivo começou a ficar vermelho, quase combinava com o cabelo, mas não com as crocs. Nada combina com aquela coisa terrível.

— Pra facilitar sua vida! Você pode me ligar e eu levo meus produtos pra você, simples e fácil!

— Como...um delivery de frutas?

— Isso!

Ele em silêncio por um momento. Depois começou a rir.

— Nossa, você é pior que eu flertando.

— Ei — ele soltou um som indignado. — Pessoas realmente fazem isso, ok? Trabalho é trabalho.

— Mas você não está oferecendo isso por trabalho. –– Constatou Bakugou, os risos diminuindo até sumir.

–– Ok, é verdade. Talvez eu queira te conhecer melhor.

–– E qual parte te interessou, os gritos ou o acesso de raiva?

–– Tudo. –– E ele tinha uma expressão sincera.

Bakugou suspirou.

––Tudo bem, pode me dar seu telefone se quiser.

Ele se preparou para pegar o telefone e gravar o número, mas antes disso Kirishima tirou uma caneta do bolso (quem guarda canetas no bolso?) e pegou a mão dele para escrever.

Bakugou poderia dizer “eu tenho telefone seu idiota, não precisa sujar minha mão". Mas ele gostou do toque de Kirishima contra sua mão. Sua palma era morna, e quando ele soltou, parecia que Bakugou havia perdido algo importante.

— Então…eu já vou, não esquece de ligar.

— Eu vou ver na minha agenda se isso é possível.

Kirishima sorriu, e depois foi em direção a filha no meio do parquinho. Quando ele saiu, Bakugou pegou a sacola, e percebeu que além das frutas, a faixa dele estava ali. Quando virou o rosto, viu o ruivo dando a mão para sua filha e indo embora. Ele podia chamá-lo e devolver, mas ele tinha uma desculpa para encontrá-lo de novo. Gostava disso.

Natsuki voltou correndo para ele. Ela gostava de correr, sua filha.

–– Deu tchau pra amiga nova?

Ela esticou os braços para cima, um pedido silencioso.

–– Dei sim, a gente pode brincar com eles de novo?

Bakugou sorriu, e pegou a menina do colo.

–– Da próxima, agora vamos pra casa.

24 de Maio de 2019 às 01:48 0 Denunciar Insira Seguir história
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Conheça o autor

Maria Souto Maria E. Souto. Eu to o tempo todo tentando lutar contras as forças a procrastinação e matéria acumulada pra escrever minhas coisas. Leiam ai. Ou não. Sou só uma pessoas aleatória da internet não é como se eu pudesse te forçar :v

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