luneler Lunéler Elias

Podemos estar sendo observados neste exato momento. Olhe pela sua janela! É possível que por traz daquelas cortinas que nunca mexem haja um atirador obsessivo e depravado.


Conto Para maiores de 18 apenas.

#atirador #obsessão #cortinas #veterano #guerra #rifle #assassinato #possessão
Conto
1
4.3mil VISUALIZAÇÕES
Completa
tempo de leitura
AA Compartilhar

Minha Dora

A frieza é relativa. Da janela do meu apartamento dava pra ver alguns dos andares do prédio ao lado. Morava lá fazia seis anos. Poderia ter saído depois da minha promoção a gerente de produção da minha empresa e ido pra um lar bem maior e confortável. Mas depois de um tempo no mesmo canto você se acostuma e cria raízes ali, se apega...

Não vou ser tão hipócrita... tinha algo além do costume. Havia uma mulher no prédio do lado que eu costumava ver aos fins da tarde. Talvez ela deixasse a cortina meio aberta por engano, mas meus olhos queriam crer que era proposital. Ela adorava ser consumida nos sonhos sexuais dos vizinhos. As venezianas da minha janela estavam sempre fechadas e, se algum dia ela pudesse me ver, não deixaria mais a cortina entre aberta.

Observei-a durante os seis anos que passei naquele apartamento. É quase como ter relações sexuais com quem você não conhece. Certamente sabia mais dela do que ela poderia imaginar e certamente ela sabia tão pouco de mim como eu mesmo não imaginaria. Sou uma pessoa bem reservada, poucos me conhecem, e não me sinto de forma nenhuma envergonhado por ser dessa forma. Esse estilo solitário, lobo das montanhas, desejoso de mais uma tarde na minha varanda, sozinho, faz-me sentir especial.

A mulher do outro prédio era loira, pele branca, lábios carnudos e corpo monumental. Era muito atraente e bonita, mas isso não era exatamente o que me chamava atenção nela. Quando você passa tanto tempo convivendo anonimamente com alguém, passa a apaixonar-se por suas manias, seu jeito, sua intimidade. Eu sabia que ela não recebia muitas visitas, exceto semestralmente de um casal que suponho serem os pais. Durante a semana a via sair para o trabalho na moto que ganhou de presente.

Embora eu tivesse me apaixonado por ela, nunca tive a coragem de bater a sua porta e iniciar uma conversa. Ser deficiente acaba por te privar de muitas coisas boas do mundo, mas fornecem outras que talvez sejam melhores ainda. Quando ela ligava a televisão no canal de receitas domésticas parecia estar querendo me provar que seria uma boa esposa, que se esforçava para aprender a cozinhar.

As pessoas acabam criando uma rotina, um ritual, uma sequência de ações tão enrijecida que poderia arrancar a pouca naturalidade que existe no dia a dia, transformá-la em mero conjunto de eventos sem muito propósito, tal qual a louca linha de produção de uma indústria a todo vapor. Religiosamente, todas os finais de tarde das quartas-feiras ela ia para cozinha e fazia um bolo de milho. Certamente não comia todo o bolo e boa parte do alimento acabava no lixo, o que, para ela, não representava nenhum problema ou desperdício financeiro.

Acordava sempre às seis e trinta da manhã com o toque do celular, que ela fazia questão de deixar embaixo do travesseiro. Espreguiçava-se adiando os compromissos diários, mas nunca por mais de dez minutos. Uma mania de esfregar os olhos no caminho para o banheiro às vezes me deixava irritado. Seu banho não costumava demorar muito, mas necessariamente devia ser quente, fosse inverno, fosse verão. Sempre que ela abria a porta, sua silhueta projetava-se por entre a fumaça do chuveiro. Era uma pena que a minha Dora saísse sempre com um pijama ou enrolada na toalha. Vê-la sair do banheiro nua seria excitante.

Todos os dias ela se maquiava na penteadeira. Do meu apartamento podia ver o quarto dela, seu ateliê de pintura, a porta do banheiro e parte da cozinha. Havia um cômodo na casa que eu não conseguia enxergar, que ficava num ângulo completamente inacessível para observação. A sala podia ser vista quase que por completo. A única varanda era a de seu ateliê, o que ajudava a dissipar o cheiro forte da tinta. Para quase todos os outros lugares era fácil encontrar pequenas frestas e reflexos que traziam vida aos detalhes observados, ao menos por traz da lente dos binóculos.

Minha Dora não gosta de assistir documentários, ela os acha entediantes e sempre que, mudando o canal, recai em um destes, muda para o próximo um pouco mais rápido que o normal. Não sei exatamente o que ela quer me dizer quando deixa as calcinhas penduradas no boxe no banheiro. Talvez seja um convite.

Arte! Isso tudo é uma arte! O que parecia ser seu pendor era segurar um pincel, lambuza-lo na tinta e deixa-lo correr por telas e mais telas... típica profissão de luxo, de quem não precisou legitimamente angariar os degraus para erguer-se financeiramente. Seu pai bancou boa parte da compra dos móveis e acessórios para construção de seu ateliê de pintura. Como ela é divina inclinando seu pescoço para direita, tentando adivinhar as curvas de sua mão para riscar a tela.

Eu a amo... e ela também me ama! A colherzinha de café que ela deixa todos os dias depois de tomar sua xícara... acho que é para me deixar seguro de que ela voltará. Fico com medo quando ela deixa a casa muito organizada, pois não é de seu feitio e me deixaria aborrecido se ela viajasse essa semana, como costuma fazer na páscoa. Engraçado como tive que estudar geometria para fazer o que eu faço. Precisei raciocinar sobre os muitos ângulos cegos, perspectiva, luminosidade... Com o passar dos anos a vida de Dora se tornou um livro aberto para mim.

Tudo era muito bonito e sadio, até o dia de ontem, motivo pelo qual resolvi relatar tudo nesta parte da minha parede – não o faria em uma situação de normalidade, pois sou cuidadoso com meu lar. Ontem vi, pela primeira vez, um intruso no apartamento de Dora. Eu teria de trabalhar naquele dia, mas ao vê-lo caminhar na calçada e tocar a campainha do prédio, suspeitei que fosse invadir a morada da minha Dora. Então não fui ao trabalho, até porque minha Dora também não tinha saído no horário previsto, e eu saio apenas depois que ela sair, precisamente.

Então fiquei ali e observei o homem alto, forte e com todos os membros chegar até o corredor de acesso para o apartamento de Dora. Ele bateu à porta e... Céus! Que ingenuidade, Dora! Não abra a porta para um estranho! Ele veio entrando, tocou o rosto dela com a ponta dos dedos e envolveu o pescoço para dar-lhe um beijo. Ela parecia reclinar a cabeça como se correspondesse com aquilo tudo, o que na verdade era um mecanismo de defesa de seu corpo. Como o agressor foi rápido, ela não teve tempo para pensar que se tratava de um ato violento.

Mas o que me deixou mais inconformado foi o fato das sucessivas aberturas que ela permitiu, deixando que ele entrasse e se sentasse ao sofá. Provavelmente ela estava com medo demais para manda-lo embora. Acho que isso é comum em situações de pânico. Vou ao meu escritório e pego a maleta da minha arma.

Ele sentou-se de costas para mim, não consegui fazer a leitura labial dele. Mas notei a expressão de constrangimento no rosto dela, e sabia que estava sofrendo uma ameaça. Ela deu-lhe um copo de água! Assim não, Dora! Ele vai pensar que você está cedendo às vontades dele. Você tem que manda-lo embora logo. Retiro meu rifle de precisão T-5000, 2011, modelo russo e rosqueio vagarosamente o aparelho silenciador que projetei para ela.

Dora permaneceu algum tempo de pé e o olhou. Em seguida ele a segurou pela cintura e a trouxe para perto de seu corpo. Tire as mãos dela, seu imundo! Ajusto o bipé da arma e o foco da luneta - o binóculo me traz menos precisão, as lentes da T-5000 me permitem ver até mesmo o suor escorrendo do rosto. Uma troca de carícias forçadas aconteceu... Ela está com medo demais para tirar a mão dele de seu seio direito.

Em mais alguns instantes, ele pareceu força-la a sentar-se no seu colo. Minha Dora, não me force a fazer isto! Carrego a arma com o cartucho calibre 7,62 mm, de fabricação belga. O som acusa que a agulha está pronta para atingir a espoleta e deflagrar a pólvora. Dora o beija, pois está vulnerável, com receio de mais ameaças. Espero ele tirar a calcinha preta dela. Céus, Dora! Você não usa a preta às quintas-feiras!

Repouso o dedo no gatilho e coordeno minha respiração, enquanto vejo aquele verme introduzir seu membro sexual nela. A paciência na espera do momento perfeito fez lembrar-me de quando eu era atirador da Legião Estrangeira, antes de voltar para cá e me tornar um mero funcionário. Faço o último ajuste no aparelho de pontaria da arma, o derradeiro... Fiz isso tantas vezes no Afeganistão que a luneta toma seu foco com poucos segundos de regulação.

Quando ela esboçou a primeira expressão de dor, fechando os olhos, enrugando a testa e abrindo a boca como se estivesse gemendo, não suportei presenciar a terrível cena de abuso e atirei. O tiro foi preciso e eficaz! O ângulo que tomei me permitiu dilacerar o pescoço dele, sem que atingisse minha Dora. Foi tão rápido que ela teve um delay para abrir seus olhos e ver que seu agressor se rebatia no sofá, com a cabeça no encosto e a garganta explodida. Como está cena me satisfaz!

Dora logo se levantou e começou a gritar em desespero. Ela deve ter saído do estado de transe que o estupro lhe impôs. Ai minha Dora! Odeio ter que fazer isso, mas ele a contaminou com o pênis infecto dele. Tenho de cauterizar suas entranhas. E então disparei sobre o ventre dela. O furo de entrada se deu exatamente sobre sua vagina, e o de saída, provavelmente no ânus.

Agora não tenho mais o que relatar e me lançarei pela janela do quarto. É impossível sobreviver desta altura.

5 de Maio de 2019 às 16:10 0 Denunciar Insira Seguir história
0
Fim

Conheça o autor

Comente algo

Publique!
Nenhum comentário ainda. Seja o primeiro a dizer alguma coisa!
~