Ela me beijou e disse que precisava ir.
Foi isso que nosso início e final significou: Um maldito beijo.
Nós não dissemos nada em seguida, quis acreditar que foi a carência de uma noite sozinhos naquela sala pequena e fria, a curiosidade de saber como um ou o outro ficava de boca fechada.
As coisas ficaram estranhas depois disso, o clima continuou horrível, ainda que nossas brigas passaram a diminuir gradativamente e, isso incluía seus xingamentos e palavras jogadas em minha cara.
Passei a perceber que sentia falta dela me chamando de cretino ou qualquer outra coisa que lembrou na hora.
Porém, eu não queria sentir, eu não podia sentir.
Fingir era algo que me ajudou em diversos momentos de minha vida, ignorar era quase um hábito da qual não abria mão de jeito nenhum. Era orgulho, uma maneira de me convencer que aquela maldita situação não era nada, ou melhor, não fazia diferença em minha vida.
No entanto, quanto mais eu afastava a existência dela, mais podia sentir. Todas as malditas vezes que tentava apagar da minha memória aquele único beijo, eu falhava miseravelmente.
Não sabia se a culpa havia sido minha ou nossa, se o orgulho que temos era maior que qualquer paixão que sentimos; o problema é que a Hime gosta de fugir de mim, de todos os jeitos possíveis. E então, novamente minto pra mim mesmo afirmando que somos diferentes demais, sendo que não somos.
Em um determinado momento, resolvi ser otimista, uma grande piada a qualquer um que me conheça muito bem; não que fosse alguém que roga praga em qualquer coisa, sou realista o suficiente para não me iludir com qualquer coisa. Porém, por causa desse demônio em forma de mulher, resolvi levar as coisas de maneira diferente…
Se recebesse um sorriso seu, era uma esperança cultivada.
Um comprimento, talvez um sinal para ficarmos bem.
Confesso que isso durava pouco, principalmente quando ela chegava acompanhada ao trabalho; minha cabeça ia longe o suficiente para imaginar o que havia feito na noite anterior. Sexo? Alguns beijos? Um novo romance? Não, não podia ser. Eu devo ser otimista, foi o que meu irmão disse.
“Ela te ama, vai ficar tudo bem”. Piada e no fundo eu sabia.
Hashirama sempre foi um cretino idealista cheio dos devaneios românticos dos quais sempre quis ignorar.
Enquanto isso, mantinha a mesma pose turrona de sempre desejar que tudo caísse do céu, ou melhor, que Hime demonstrasse algum sinal sequer de que aquele beijo significasse algo para nós.
Por isso, tento sorrir quando nos cruzamos nos corredores, escolho reviver um assunto já morto a algum tempo e falho. Decido, então, algum clichê possível em uma tentativa de conversa.
“Será que irá chover hoje?”
“O café está ruim?”
“Como está o trabalho?”
Qualquer coisa, um mísero pedaço de atenção que tento mendigar, engolindo meu ego e a vontade de perguntar que porra posso fazer para que tudo mude de uma vez.
Os meses passaram, junto com a inquietação dentro do meu peito; esperando a oportunidade perfeita para que, finalmente, conseguisse colocar para fora tudo que queria sair. Me enganei com algumas pessoas, beijei outras bocas, fiquei envolvido em outros corpos enquanto pensava nela. Busquei em mim mesmo compreender o que aconteceu e qual foi a parte que me perdi, se foi nos olhos ou no cabelo vermelho fogo.
Até uma fatídica noite de hora extra.
Hime intercalava entre olhar para o relógio e os documentos em suas mãos, a tensão se espalhava dentro da sala juntamente com a agonia que cultivei por três meses.
- Por que está me olhando assim, Tobirama? - Perguntou, e eu apenas respirei fundo.
- Está querendo ir embora? Não para de olhar para o relógio. - Uma desculpa horrível, eu sabia muito bem.
Silêncio, um dos piores que já presenciei.
Que merda, isso era uma das piores experiências que tive anos.
Me tornei um garoto confuso, que não conseguia dizer a mulher que gostava como me sentia e muito menos cogitar uma aproximação. Vi a minha confiança indo embora no momento que seus olhos me encaravam em busca de respostas, uma que por mais que soubesse de cor, não queria dar.
- Ficou surdo, cretino? Estou te fazendo uma pergunta! - Exclamou, com a sua voz irritantemente bonita.
- Não é nada. - Disse, tentando mais me convencer que fazê-la enxergar que não existia uma explicação. - Nada que te diga respeito.
- Não? - Maldita. - Como não? Você está me olhando a horas sem dizer uma palavra, isso deve significar algo.
- Quer saber, Senhorita Uzumaki. - Falei, em um tom de deboche. - Não consigo entender qual é seu problema em me beijar e fingir que nada aconteceu.
Ela aquietou, largando a caneta de lado e se encostando na cadeira. Vi seu rosto se voltar para o teto, sua respiração começar a ficar mais rápida, seus dedos apertaram os braços da cadeira e, finalmente, um sorrisinho brotar em seus lábios.
- Por isso você vem agindo igual uma pessoa civilizada perto de mim? - Foi impossível não revirar os olhos. - Anda, cretino, para de fazer mistério.
- É. - Soltei, mesmo que algo dentro de mim me mandasse calar a boca. - Mas eu nunca…- Ia continuar, mas os dedos dela foram de encontro aos meus lábios.
- Tudo bem, chegamos na parte que iremos falar sobre sentimentos? - Maldita petulante de língua grande e boca insolente. - Acredito que seu silêncio seja um sim, então me escute. - Virou a cadeira em minha direção, aproximando-se da mesa e me encarando. - Saiba que beijar você não foi ruim, inclusive, achei incrível que essa sua boca ordinária seja capaz de ficar muito linda quando você está em silêncio.
- Tudo isso para dizer que gostou do meu silêncio quando ele juntou com o seu? - Ergui uma sobrancelha, vendo seu rosto adquirir uma coloração avermelhada e seus olhos revirarem.
- Pela primeira vez em sua vida, Tobirama Senju, você está certo.
Ficamos quietos, apenas nos olhando a espera de uma atitude um do outro. Não queria ceder, ou melhor, não deveria; mas quem sabe se desta vez, as coisas dessem certo.
Me levantei da cadeira, parando próximo a ela e a vendo se levantar. Ficamos frente-a-frente nos observando; meu coração bateu mais rápido, e o resquício de otimismo que guardei desses árduos dias falaram mais alto.
Levei minha mão direita até o rosto dela, acariciando com a ponta dos dedos sua pele macia e a vi fechar os olhos e sorrir, enquanto isso, a esquerda tratou de segura-la na cintura, trazendo para próximo a mim e juntando nossos corpos. Seus dedos passaram levemente por cima da minha blusa, em um carinho silencioso e delicado. Vi seus olhos se fecharem, enquanto nossos rostos se aproximavam cada vez mais. Seus lábios se juntaram aos meus ficando parados até finalmente, um beijo cheio de significados iniciar.
Nunca fui a melhor pessoa do mundo para falar sobre otimismo e pensamento positivo, sempre gostei de ser realista e adepto da razão que cultivo a tanto tempo. Entretanto, dessa vez, sou obrigado a agradecer meu irmão pelas palavras de algum tempo atrás.
Obviamente, ele jamais saberia que virei um Mr.Otimismo por causa dela.
Não sei o que o futuro me reserva, só desejo que a Hime esteja nele daqui para a frente.
Obrigado pela leitura!
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