olsen-vini1550862006 Olsen Vini

A história intrigante de um personagem bastante intrigante, que se vê numa situação incomum, preso num ciclo vicioso de arrependimentos e alegrias.


Conto Todo o público.

#drama #fantasia #ficção
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O lado sombrio de uma alma



Enquanto eu acabava de escovar meus dentes, no banheiro, escuto um arranhão no espelho. Estava tão desanimado que nem me dei ao luxo de olhar o que era e o que deixou de ser, enquanto eu parado olhando a pia, gotejando água, sentia minha vida se esvaecer junto com as gotas que caiam sobre o ralo. Senti naquele momento que minha alma havia acompanhado o ritmo da gota, se indo, me senti tonto, um pouco alegre porque tantas coisas negativas haviam acontecido comigo nessa vida.

Mas então ouvi um sussurro! Que me despertou curiosidade. Procurei em todos os lugares do banheiro mas não encontrava, percebi que podia ser outro truque da minha mente, que sempre me pregou peças, que me fazia acreditar que era até um super humano, um herói,  um tipo de adivinho, um sensitivo, mas no final era apenas a luxúria, e o tédio de se viver num mundo quadrado. 

Mas me deparo de frente ao espelho, me encaro, mas percebo que não tenho aquele sorriso, aquele olhar cativante, aquela pose tão intrigante, que seria de alguem com tanta confiança. Então me vejo frente a frente, comigo mesmo, uma versão diferente, uma feliz.

Ele olha pra mim com um olhar de pena, mas logo volta o sorriso perfeito em seu rosto, então ele me fala o que tanto precisava escutar, o que eu precisava fazer! Então ele começou a me dizer, que essa era a chance, a chance de falar a mim mesmo o que eu queria e precisava me falar, que essa era a hora de mostrar o meu lado sombrio, meu lado sincero.

Então me vejo alegre, porque era isso que precisava, me sentia engasgado com tantos problemas, e logo comecei a falar, nem precisei pensar no que iria dizer então comecei a declarar.

Apontei meu dedo indicador no meu rosto, dando ordens a mim, comecei a dizer; que eu não podia ser tão ingênuo, não podia abaixar a cabeça pra ninguém, que eu era fraco, mais fraco que um bebê recém-nascido, que precisava crescer, que eu era louco, que minha mente fora criada e projetada como um servo disposto a sempre olhar e levar o negativo.

Que na infância deveria ser mais forte, mais adulto e confiante, que brigasse com qualquer um que tirasse sarro, que não se calasse por causa de uma fala de uma tia tão cheia de si, que nunca mais a viria, senão de ano em ano, e com muito custo. Que não se decepcionasse fácil com um namoro que não valeria a pena, nem se tivesse dado certo, que essa fraqueza que havia no coração iria se estender a vida inteira. 

E eu repetia várias e várias vezes, o chamava de fraco, inútil, tentava iludi-lo de que a morte seria mais fácil, que ele não iria longe. E quando de repente, aquele sorriso e aquela pose iam se desfazendo aos poucos, e eu não me continha nas palavras, as julgavam ali, sem nenhum remorso, seu sorriso agora se tornava em choro, seus braços agora se abraçavam, enquanto cada palavra que dizia, marcava o seu corpo, como um chicote. Estava eu ali jogando palavras malditas a mim mesmo, a cada palavra que saia da minha língua seu corpo era violentamente machucado, era minha língua, um chicote bem afiado, se diz o ditado: A língua é o chicote do corpo!

  Me vendo todo ensanguentado, nu, pelos chicotes que rasgavam a minha roupa, me via ajoelhado no chão, eu, ali, me calei por um minuto, enquanto me via no chão de cabeça baixa esperando que eu falasse que me rendia, que eu falasse algo que fosse me fazer ver o melhor de mim. 

Mas como um ser possesso, me vi erguendo a cabeça, com um sorriso diabólico no rosto, me implorava por mais, pedia mais palavras, mais mágoas, mais arrependimentos. Aquele era o alimento do meu lado sombrio! Comecei a entender, esse sentimento que me fazia mal, mas que tomara tanto minha alma, que me viciou nesse ato, mas não hesitei! Com meu corpo trêmulo, não sabia o que fazer, comecei então a praguejar em voz alta e sorridente, me praguejava ordem de tristeza, de confusão e amargura, me punia e me amaldiçoava, mais era de um prazer tão enorme sentir essa dor e essa liberdade de me auto julgar, que não via o espelho começar a rachar!

Meu mundo e o mundo ao qual eu me via começaram a se interligar, via aquele espelho se espatifar totalmente ao chão, nossos mundos tremiam, o dia virava noite e a escuridão se fazia presente, e quando olhei pro lado me vi ali, ao meu lado, todo ensanguentado, feliz, então percebi que ele iria me acompanhar.

Então vivi, vivi cada dia da minha vida envolto dessa criatura, que era eu, esse lado que eu amava e odiava, perdi tudo o que já não tinha, virei o que eu tinha falado pra deixar de ser, me sentia livre de uma liberdade que não era feliz, eu me tornava cada dia mais desprezável.

Vivi assim, com cada palavra que me falavam, os faziam se arrepender do que foi dito por eles, me sentia completo e incompleto.

Medo, raiva, ódio e tristeza me acompanhavam!


Numa manhã de domingo, me pego de novo na pia, com o mesmo sentimento, então escuto de novo! Cansado de tudo eu arranho o espelho, e me vejo de novo no espelho, parado, olhando pra pia do banheiro. Ele não olhava pra mim, então resolvo sussurrar bem baixo o que o faz chamar a atenção dele, então ele vem, me faço de inteligente, me coloco em uma posição de autoridade e confiança, abro um sorriso enorme. Olho pra ele com um olhar de pena, mas logo tomo um sorriso enorme.

Então eu o digo que essa é a sua chance de dizer o que sentia, o que precisava desabafar consigo mesmo, então ele nem demora um milissegundo e começa a praguejar palavras pesadas, horríveis, e logo me vejo perdendo aquela confiança, aquele sorriso e pose. Começo a me perguntar como eu posso fazer isso comigo mesmo! Como posso me rebaixar tanto, como posso me achar tão desprezível assim, então começo a chorar e sentir uma ardência enorme nas costas. Estava eu ali chorando, cada palavra que ele dizia era como uma chicotada na minha pele, profunda, tão profunda que doía tanto, e como doía, pensei até que fosse desmaiar.

Não aguentando ficar mais de pé, caio ao chão de joelhos, como não conseguia dizer uma palavra eu apenas chorava, desapontado comigo mesmo, impressionado de como me tornei tão amargo, me perguntava o que minha mente havia feito comigo. Então entendi que não era minha mente que havia feito aquilo comigo, que minha mente era só um peça desse quebra-cabeça, era eu ali, era tão impressionante, me relembrei de como eu fiz aquele ser que era eu mesmo, ter tanto medo de tudo, de como eu me enfraquecia com ideias erradas, me julgava o tempo inteiro, me fazia acreditar que eu era, mas que de fato eu era, um super humano, não com super poderes, mas com dons inimagináveis, eu era humano, com laços incríveis com cada ser humano que existe no universo, com cada átomo e elemento do universo, o que explicaria tal dom, tal naturalidade.

Era eu ali, o subconsciente do meu próprio consciente, cheio de medos e felicidades, cheio de negatividades, só bastava atravessar o espelho!

Mas era meu fim, me dei por mim e ainda estava ajoelhado chorando, ouvindo maldições de mim mesmo. E o espelho se quebrava, senti que dessa vez não escaparia, que ali era o fim, eu tinha conquistado a proeza do suicídio.

Então eu ergo a minha cabeça, olho pra mim, e me dou um sorriso, de que tudo vai ficar bem, que depois que tudo acabar nos uniremos e teremos a percepção que seremos um só, subconsciente e consciente. Ele olha pra mim, fixado em meus olhos, ele sente a confiança em mim, me diz mentalmente que se eu ficar com ele tudo vai dar certo, e me esforço pra levantar, gemendo e chorando me dou as mãos, olho nos meus olhos, e sinto um orgulho enorme, de não ter sido aquilo em que eu me tornei, que não iria ser tão desprezível pros outros, senti orgulho de não ter me tornado eu mesmo ali, ensanguentado. Era de um orgulho e felicidade enorme, estar ali segurando minha mão, sentindo a minha própria pulsação, era tanto orgulho que não continha as lágrimas, então pensei naquele último instante. O espelho acabara de se quebrar por completo, vejo que é a chance de fazer a coisa certa, então começo a esbravejar, sorridente, que eu era precioso, um diamante, carinhoso e bondoso com todo mundo, me enchia de palavras e pensamentos bons, me elogiava como nunca havia antes, era como ter um filho, e sentisse tanto orgulho.

Passo positividade, agradeço por tudo, olho nos meus próprios olhos e me vejo os dois, sorrindo, cheio de orgulho e alegria, e vejo que é o fim, um fim bom dessa vez.

E parados ali tenho a ideia de me abraçar, quando no ato ali abraçados, sinto como se fosse um vidro estourando entre meio a nossas barrigas, olho pra baixo e vejo nossos estômagos sangrarem, juntos ali caímos juntos ao chão, olhando nos olhos, me sinto desaparecendo, me sinto sendo puxado.

Quando tudo começa a rebobinar, os cacos do espelho se juntam e voltam perfeitamente, me vejo sendo puxado pra dentro do espelho. Me deparo com a escova de dentes em minha mão, eu estava ali, olho pro espelho e o vejo quebrado, olho pra minha mão e vejo somente a escova de dentes, ergo a minha outro mão, toda ensanguentada com um caco de vidro na mão.

E caio ao chão, tentando amenizar aqueles últimos segundos, tentando estica-lo ao máximo, tentando trazer ele de novo, o fazendo sofrer, com minhas palavras, me punindo com minhas próprias palavras, um ciclo vicioso, rindo e chorando, tendo orgulho de mim mesmo, mas no final eu me amava, mas eu não estava lá mais, não meu consciente, mas apenas eu, me arrependendo do que fiz a mim mesmo, me perguntando porque faria tal ato, e sentindo uma solidão. E acabamos nós deitados, mortos ali.

Eu e eu. 

1 de Março de 2019 às 02:20 0 Denunciar Insira Seguir história
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