Notas da autora: Conto para o São Valentin 2019.
Capítulo Único.
Desejo meio amargo.
Ela rolou sobre o lençol de cetim em coloração bege. O quarto estava escuro, um breu noturno e refrescante, abafado pelo vapor que surgia do banheiro. A mulher não conteve o sorriso ao se lembrar de mais uma noite de sexta-feira, no qual lhe proporcionou uma paixão intangível, bem como uma prata que não reluz.
A voz dócil dela se misturava majestosamente com os grunhidos roucos dele. Suavemente, o ar exalava o perfume de homem urbano, mais forte que a simples existência e tão frio como o gelo. O aroma adocicado da amante era um pedido silencioso para deleita-la, como uma implicância ingênua, ou talvez a urgência de ser contemplada pelo dono dos olhos verdes que causavam calafrios na pele macia e feminina.
Na primeira noite em que trocaram olhares sem intenções no bar, ela descobriu que desejava desvendá-lo. A troca de palavras, alguns sorrisos cordiais e o fascínio que ela sentia aquecê-la, pareciam mais sossegos quando o tom em rouquidão dele denunciaram o seu próprio desejo.
Ele era um predador, um amante protetor e possessivo.
A imperfeição que vicia.
Naquele instante ela teve a certeza de que gostaria de libertar a mulher presa em si, ao se jogar no abismo que eram os lábios dele, os mesmos que formavam um sorriso sacana. Não foi difícil passar de garota curiosa a amante daquele homem, de vê-lo apoiado nos lençóis, sem a imagem formal, tão condizente com um documento de identidade.
Ela sentou na cama, arrepiando-se quando o assoalho frio acariciou a pontos dos dedos dos pés. As mãos acariciaram o roupão branco que ela usou para cobrir a pele nua, pincelada com vestígios de um desejo vital do amante, contrastando perfeitamente com os longos cabelos negros.
Aquela relação não era mais do que convencional, no entanto, a mistura de shampoo masculino e sabonete a fizeram desejar mais. Era uma vingança crua, doce e perfeita por ter se viciado na essência daquele homem, perdido em sua ducha pós-sexo. Ela precisava dele ao menos uma outra vez. Com os dedos entre os cabelos, formou-se um coque casual.
A voz gutural era uma ordem, e ela estava se tornando uma mulher que girava em torno do desejo dele. Embora estivesse enfeitiçada pelas promessas de um ápice devastador que a fazia estremecer, a amante sabia que ele pagaria um bom preço por tê-lo desvendado.
Ele era a amargura em pele de lobo. O olhar tomado pela obsessão materialista de fazê-la uma de suas conquistas pessoais, a deixava sem chão. Era o tipo de encarada escurecedora, tomando-a em sua indecência pessoal.
Ele não era do tipo que sorria para agradar, mas fazia questão de levá-la a um conto de fadas ao sorrir diante de suas piadas sem graça. Ela sabia que ele se demorava ao olhá-la, perdido em seu olhar, ocultando uma chama indecente.
Os beijos ternos e serenos pelo amanhecer eram um segredo deles, e a forma que ele sussurrava promessas indecentes com o nome dela, eram delirantes.
Ele preferia os sabores afrodisíacos e doces, e ela os amargos. Ela respirou profundamente, extasiada com o cheiro de café, biscoitos e acompanhamentos na mesa de canto.
O sorriso tomou os lábios da mulher ao ver a xícara de café cheia do companheiro. Talvez o café não estivesse adoçado, mas amargo, como ela gostava. E ele, bom, era o sabor favorito dele, quando doce nos lábios dela.
14 de Fevereiro de 2019 às 22:00 0 Denunciar Insira 2Obrigado pela leitura!
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