sr.-artie Sr. Artie

A derrota pode ser um acontecimento arrasador e a dor da insuficiência e da incapacidade de atingir aquilo que mais se almeja, pode ser tão dolorido e tão avassalador quanto qualquer outra dor puramente física. Nesta noite, Oikawa estava experimentando exatamente isso. Movido pelo desalento de sua alma e pela necessidade de ser confortado, Tooru decide ir atrás da única coisa no mundo capaz de lhe devolver a paz para nessa noite melancólica e de acalmar seu coração — Oikawa vai buscar abrigo em Iwaizumi Hajime.


Fanfiction Anime/Mangá Todo o público.

#iwazumi #tooru #IwazumiHajime #OikawaTooru #iwaoi #amizade #drama #yaoi #romance #fluffy
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Capítulo Único: Juramento

Notas da História

Os personagens de Haikyuu não me pertencem, estou aqui apenas expondo o canon de IwaOi. O enredo dessa história é de minha autoria, plágio é crime.

História beta pela Rebel Princess (Nyah - Liga dos Betas)

História baseada na música Promise do Jimin (ler-se amor de minha vida)

História postada no Inkspired, Nyah e Wattpad

*IwaOi*


Notas do Capítulo

DEMOREI MAS CHEGUEI AAAA

Parabéns, @kixnara

Chris, meu anjo, obrigado pelos shitpost diários no facebook, estou sempre rindo graças a você. Obrigado por me fazer morrer de amores por IwaOi e me apaixonar um pouco mas por eles a cada dia. Obrigado por sofrer por Sheith comigo e falar mal da Hinata e NaruHina. E, por fim, obrigado por ser quem você é, essa pessoa maravilhosa e divertida.

Espero que goste dessa história, digitei cada palavra pensando em te fazer feliz.


Juramento

By: Sr. Artie

Capítulo Único


Para Oikawa, o aconchego de sua cama era um amparo bem-vindo todas as noites após um dia de treino exaustivo ou de um jogo desgastante, assim como a maciez dos lençóis, que envolviam o corpo atlético para uma noite proveitosa e merecedora de descanso; era o refúgio necessário para  apaziguar a mente agitada e descansar os músculos fatigados para o amanhã vindouro.

Contudo, não naquela noite específica. Certamente, como de praxe, a sua musculatura estava extenuada e, mais que nunca, os seus pensamentos se encontravam desordenados e frenéticos em virtude dos acontecimentos recentes, mas o colchão em que repousava e as peças de panos que embrulhavam o seu corpo já não provocavam algum efeito calmante sobre si.

Na verdade, Oikawa estava se sentindo sufocado, enquanto observava, no escuro, as paredes grossas que delimitavam seu quarto. A inquietação que consumia seu íntimo estava esgueirando-se para fora de si e ele conseguia sentir, sem dificuldades, a impaciência perpassando seus poros e se alojando sobre sua pele, atrelada a um arrastado moroso e irritante, causando um comichão incômodo responsável por exaurir as últimas gotas de tranquilidade que existiam ainda dentro dele.

Após horas deitado, testara uma série de procedimentos para conseguir dormir: contou carneirinhos, como sua mãe tinha lhe ensinado quando criança, e usara o telefone para reproduzir sons de chuva — o seu preferido era o barulho que as gotas d’água faziam ao se chocar contra o telhado — e, assim, conseguir se acalmar, mas nada surtia resultado. Mais cedo, aninhara-se na cama e trouxera para deitar-se consigo a insolência e, ali, tomado pela ansiedade e desassossegado, falhara em subjugá-la.

Não era necessário empenhar-se muito para descobrir o motivo de sua insônia, o ócio que antecedia o sono era um convite silente para a sua mente túrbida e, rapidamente, os pensamentos precipitados o dominavam, não lhe dando uma folga sequer para respirar, ao passo que o peso da derrota desabava sobre seus ombros e, mais uma vez, Oikawa se culpava pelo acontecido.

A sua memória continuava a rebobinar o momento fatídico em que a bola caía no seu lado da quadra, inevitavelmente, dando à Karasuno a vitória daquela partida pleiteada, enquanto buscava por falhas em suas jogadas e formas de contornar e mudar o final desditoso daquele jogo.

As tentativas frustradas para conseguir pensar em medidas capazes de corrigir o seu lapso pioravam o humor desconcertado. Nesse ponto, os sentimentos alojados em seu peito ardiam, inoportunos, as lágrimas acumulavam-se em seus olhos, na iminência de rolarem pelas bochechas lisas, e o choro permanecia preso na garganta, pressionando a faringe, em um lembrete do sofrimento que mantinha enclausurado dentro de si.

Sozinho, contemplando a monotonia dos tons de escuro que envolviam seu quarto, Tooru validou a insônia com um adversário aguerrido e, semelhante à Karasuno, fracassaria em derrotá-la.  Exausto de enfrentar um rival sobre o qual não triunfaria e soltando uma lamentação reprimida ao levantar-se da cama, caminhou, desanimado, em direção à janela larga, desfazendo-se, a cada passo dado, das vestes reais simbólicas que adornavam o corpo esguio, reconhecendo, enfim, o sentimento de insuficiência que o inundava, a mediocridade da qual era feito.

Ao abrir as cortinas, o rosto venusto fora iluminado pelo brilho da lua e o quarto fora acometido por uma penumbra, possibilitando que Oikawa estudasse a mudança gradativa da luz para sombra, enquanto anulava a insolência e altivez características de seu semblante presunçoso, permitindo que as lágrimas vertessem impetuosas pelas proeminências de sua face, desmanchando-se em um pranto desesperado.

Os olhos úmidos focaram, através do vidro sujo da janela, a lua que enfeitava o céu noturno e, ao estudá-la, Tooru concluiu que o satélite — embebido pelo excesso de tonalidades de prata que efluíam dele —, arremetia, facilmente, à sensação de frieza. O corpo celeste prateado, apesar da infinidade de estrelas que cintilavam ao seu entorno, deixava transparecer a solidão que o preenchia e o distanciamento que havia entre ele e os pontos luminosos.

Decerto, a cor prata poderia ser associada a prestígio e é disso que uma realeza mantém-se, no entanto, Oikawa constatou que a soberania que lhe era garantida como corpo celeste que governava a noite não era suficiente para sobrepujar o estado solitário em que a lua se encontrava. No fim, um rei torna-se o único responsável pelo destino de seu povo; sozinho, ele carrega a glória e a desgraça que recai sobre seu reino, então, Tooru compreendeu a solidão que a contornava. Não julgava como justo, mas entendia.

A mente cansada lembrou-se das aulas de física, sinalizando que as estrelas eram astros dotados de brilho próprio, enquanto a lua era um satélite que irradiava de si a luz solar por reflexão. Em outras palavras, sem o sol, a esfera não era nada além de uma formação rochosa fria e pálida, ordinária.

Involuntariamente, seu subconsciente criou um paralelo entre si e o globo iluminado, reconhecendo, em meio ao choro, as correspondências que os unia. Oikawa poderia ser descrito como um rei lunar em quadra, brilhava imperioso, cercado de companheiros reluzentes. Entretanto, exatamente como a lua que ornava solitária no céu, enquanto as estrelas conversavam e formavam conjuntos particulares entre si, Tooru carregava o fardo de ser líder, arruinando, ao cair aos pés de Kageyama, o trabalho em equipe de seu time, condenando-o à derrota.

Desfeito da pompa acerca de sua postura em quadra, de sua fisionomia arrogante e com os lábios crispados em uma tentativa falha de conter o choro, Oikawa não possuía brilho, era um ser pálido, de existência tênue, fadado a existir à sombra do protagonismo de Tobio, porque um gênio por excelência, com talento inato, jamais sucumbiria perante a um gênio do esforço duro e perseverança.

Um deles era o sol e o outro, a lua. Oikawa conseguia se reconhecer com facilidade, não havia luz alguma irradiando de si no fim.

Chegara a pensar, mais cedo, ao percorrer o trajeto para casa acompanhado de Iwazumi, que lidaria bem com o insucesso do jogo, ainda que perder para Kageyama machucasse seu ego. Ao soar do último apito, sinalizando o fim da partida, Oikawa, como um bom capitão, pensou em seus companheiros, agindo com uma muralha fortificada, íntegro, demonstrando-se conformado com o resultado final.

Manteve-se de pé diante do fracasso em seu último ano letivo e recolheu a insatisfação e o desapontamento que o assolavam naquele instante, prendendo ambos sentimentos desgostosos dentro de seu âmago. Reconheceu a vitória da Karasuno e parabenizou Tobio, escondendo o aborrecimento que sentia por trás de palavras pretensiosas e pedantes.

Permanecer na quadra para agradecer a torcida e cumprimentar os adversários vencedores não havia exigido muito de si, afinal, Oikawa sabia que seus sorrisos raramente eram genuínos. Talvez, o mais fácil de toda situação fora ter continuado com o ar de imponência estampando em seu rosto enquanto o sangue estava quente e a derrota era um acontecimento recente, que seu cérebro não havia processado ainda.

Todavia, o contexto mudou quando a circulação e a pulsação do corpo se acalmaram e a quentura que o acometia desvaneceu. Exigiu um controle enorme de sua parte para transparecer tranquilidade para os primeiranistas e secundaristas,  enquanto comiam ramém em uma loja, obrigando-se a engolir o choro oriundo da quebra de expectativas e manter uma fisionomia conformada, embora o sabor adstringente da derrota tivesse alastrado em sua boca e todos os músculos da face egrégia se contraíssem em renitência.

Demorou algumas horas para que, finalmente, pudesse sentir, na intensidade necessária, a soma de emoções confusas que consumiam o seu íntimo consternado. O grupo de jogadores dissipou-se após a refeição, e Tooru, acompanhado de Iwazumi, Matsukawa e Hanamaki dirigiram-se para o ginásio da Seijoh.

No início, o intuito era exalar a revolta através de um treino intensivo, mas sempre que a bola passava por cima da rede e mudava de lado, a raiva emergia, tornando as jogadas mais fortes e o incômodo em seu baixo ventre mais oneroso. As lágrimas chegaram furtivas e rolaram pelas bochechas rosadas — devido ao esforço físico empreendido — sem anúncio, permitindo que Oikawa e os demais terceiranistas, sem a presença de seus calouros, chorassem copiosos.

O pranto, aliado aos sentimentos inflamados, estava permitindo que os rapazes exteriorizassem o descontamento e a tristeza reprimidos. Todos os presentes ali sabiam que o choro não era motivado apenas pela derrota contra a Karasuno, mas pela insuficiência que permeava seus anos como atletas. Aquele fora o último jogo do Spring High em que defenderam a bandeira da Seijoh, por pouco, falhando em obter sucesso. Era nesse ponto em que estava a frustração: eram um bom time, mas não o suficiente para derrotar a Shiratorizawa ou para chegarem às nacionais.

A Seijoh era uma boa equipe, mas não o suficiente.

Os quatro terceiranistas eram bons, mas não o suficiente.

Oikawa era um gênio, mas não o suficiente.

Não o suficiente.

Quando as jogadas intensas e o choro farto mostraram-se incapazes de resolverem a raiva e o desespero que sentia, a barganha surgiu como um caminho a ser explorado. Oikawa negociou com seu consciente que, por mais que não houvesse conseguido dessa vez, no próximo ano, na faculdade, conseguiria sobrepujar a incapacidade latente que o importunava e sua perseverança seria reconhecida.

Um dia, ele seria o suficiente.

Para alicerçar a positividade impregnada nos novos pensamentos de Tooru, Hajime expressou-se com palavras certeiras, encorajando o setter a continuar perseguindo seu sonho. Por isso, confessou a Oikawa a admiração exacerbada que possuía por ele, além do desejo de enfrentá-lo eventualmente, afirmando que o derrotaria.

Iwazumi o havia desafiado e Oikawa gostava disso.

No final, apesar da derrota, as coisas estavam bem e Tooru mais obstinado em alcançar seu sucesso. Contudo, a confiança em si mesmo e a esperança nos dias melhores malograram logo quando se percebeu sozinho no escuro do seu quarto, tentando, inutilmente, dormir. A ficha caiu e ele percebeu o fracasso como uma mancha permanente, impossibilitando-o de superar a realidade infausta.

Ainda parado em frente à janela, os olhos avermelhados continuavam agarrados à imensidão estrelada acima de si, concluindo que, em uma noite sem lua, as estrelas se tornariam mais feéricas e, talvez, o satélite fosse apenas uma empecilho para camuflar o esplendor dos pontos luminosos.

Cansado de se lastimar e se autodepreciar, Oikawa decidiu abandonar a monotonia exaustiva do cômodo em que se encontrava, colhendo o celular em cima da cômoda e o colocando dentro do bolso da calça do pijama. Descalço, percorreu, o caminho curto entre seu quarto e a sala, sentido, a cada passada, a temperatura fria do assoalho contrastar com a pele calejada de seus pés, um suspiro baixo escapulindo pelos lábios finos em uma resposta involuntária.

A sala de sua casa era espaçosa e tinha uma quantidade exagerada de porta retratos seus de quando era criança espalhados por todo o cômodo, desde as paredes em tons pastéis aos móveis de cores escuras. Oikawa achava engraçado que, das inúmeras fotos dispostas ali, eram poucas as exceções em que ele estivesse sozinho, porque, na maioria delas, estava acompanhado de Iwazumi.

Tooru sabia que sua mãe era uma admiradora fiel de Hajime, talvez preferisse ele a si. Para a senhora, Iwazumi era um rapaz responsável e atribuía muito dele à construção do caráter e da personalidade de Oikawa, enxergando-o como um pilar firme e resistente que servia de apoio para o crescimento de seu filho. Apesar de contestar as palavras afeiçoadas da figura materna para seu vice-capitão, o setter reconhecia o valor e importância do outro para si e, de verdade, era muito grato por tudo.

Caso alguém, um dia, lhe perguntasse quem era a pessoa responsável por quem havia se tornado, Oikawa não precisaria pensar duas vezes para responder o nome de Iwazumi. Ambos estavam imersos em um relacionamento banhado por mutualidade e respeito; Hajime era sua rocha inabalável e a amizade que tinham erigido estavam bem arraigada, o suficiente para que o ás o salvasse quando a única coisa que conseguiria fazer era se apequenar em comparação a outros jogadores, especificamente, Kageyama e Ushijima.

Jogou-se no sofá largo e ligou a televisão, passando os canais impacientemente, procurando por algo que chamasse sua atenção. Oikawa estava implorando aos céus para que encontrasse algum de seus filmes favoritos sobre aliens ou  até mesmo um novo, apenas desejava encontrar algo capaz de fazer sua mente focar naquele instante e se esquecer do jogo perdido e do sentimento de inferioridade que o assolava.

Ele continuou apertando o botão do controle remoto e os canais reproduzidos na tela grande do aparelho continuaram mudando; o processo prolongou-se por um ínterim considerável, mas logo algo conseguiu atrair Oikawa, fazendo-o interromper sua ação repetitiva. Em um canal aleatório, no qual não se deu trabalho de checar a qual emissora pertencia, estava passando o filme do Godzilla e, com rapidez, seu cérebro lembrou-se de Iwazumi.

Nas memórias de sua infância, Oikawa era incapaz de recordar-se de um momento em que Iwazumi não estivesse ao seu lado, tão forte era o vínculo que os unia. A amizade estruturada ao longo dos anos concedia aos dois o privilégio de se conhecerem e se compreenderem perfeitamente, depreendendo as nuances de suas personalidades e as particularidades de seus gostos.

Em virtude disso, não era de se estranhar que reconhecesse o filme favorito de Iwazumi sem despender algum esforço, bastando visualizar uma cena aleatória. Igualmente, pressentia que Hajime tinha conhecimento sobre as suas películas preferidas, conseguindo distingui-las com a mesma facilidade que si. Oikawa admitia que rechaçavam as predileções que ambos possuíam para a sétima arte, porém a sinceridade e os comentários zombeteiros não serviam de impedimento para que, nos dias de folgas, se jogassem no sofá de sua casa para assisti-los.

Um ardor angustiante apoderou-se do seu peito e Oikawa sentiu o coração contorcer-se aflito. O incômodo iniciou-se naturalmente e, primeiro, o relacionou à constatação recente de sua mediocridade feita entre lágrimas, mas descartou a suposição precipitada quando atestou que, diferente de antes, o desconforto não tinha teor depreciativo. Sua segunda opção foi associá-lo a Iwazumi, embora estivesse no escuro acerca dos motivos pelos quais estavam ligados. Tentou descobrir que sentimento era aquele que estava crescendo dentro de si naquele instante, não obtendo êxito.

Não obstante ao insucesso de sua descoberta, Oikawa considerou todas as emoções que afloravam no seu íntimo quando a imagem de Iwazumi sorridente perpassava pelos seus pensamentos. Antes de qualquer coisa, discerniu os laços de amizade, embebidos de reciprocidade e estima, que os mantinha atados, dando-lhe a certeza que o póstero reservado para eles seria aquele em que estariam juntos, independente das escolhas e caminhos tomados.

Perdido, entre os cuidados e declarações entusiasmadas, havia um sentimento letargo, permeado em meio aos outros, que Oikawa ainda possuía dificuldade em nomeá-lo. No entanto, apesar do raciocínio turvo, conseguia compreender que os recortes das lembranças compartilhadas com Iwazumi despertavam em si a mesma comoção que o esporte para qual se dedicava com tanta diligência e tenacidade, constatando que, provavelmente, seria incapaz de viver sem Hajime, quase da mesma forma que acreditava não conseguir viver sem o vôlei.

Hajime e vôlei eram as duas coisas que mais apreciava no mundo.

Nesse momento, o rosto inchado pelo choro de antes ganhou uma coloração carmesim, corando ao descobrir, enfim, a fonte do calor excessivo em seu peito. O coração inquieto e angustiado estava carente, necessitado de atenção após o desalento que incidira sobre ele e, da multidão de pessoas que conhecia, Oikawa apenas desejou por Hajime cuidando de si, dando-lhe carinho e o tratando com esmero e zelo que ninguém mais faria.

A mão grande tateou o telefone por cima do tecido leve e folgado da calça que vestia, divagando se não existiria algum problema em contatar o Iwazumi naquele horário tardio. Os dedos compridos enfiaram-se no bolso largo para recolher o aparelho, seguro de que ligaria para o outro, abstendo-se, entretanto, ao checar, no visor, as horas e confirmar que já passava da meia-noite.

O olhar distraído manteve-se preso ao filme que ainda estava passando na televisão, ao passo que sua mente vagueava nos detalhes do semblante de Hajime, vez ou outra, soltando um murmúrio por notar o excesso apreço que tinha pelo cenho mal-humorado antes de gritar consigo ou pelas rugas que surgiam em torno dos olhos durante um sorriso.

Contemplar as minúcias da fisionomia alheia, percebendo o cuidado com o qual as resguardou na lembrança, ampliou a quentura que estava sentindo, obrigando Oikawa a concordar que ela não desapareceria com a mesma espontaneidade que despontara. Por isso, seguindo seus instintos e compelido pela carência, ignorando o bom senso, discou o número de Hajime — que sabia de cor, assim como o seu — e ligou para ele.

A impulsividade revelou-se fugaz quando, após o primeiro bip, encerrou a chamada, convencendo-se que o ideal era deixar Iwazumi quieto e que, provavelmente, o ás estaria dormindo. Surpreendeu-se, porém, ao atentar-se a brevidade que levara para ter a ligação retornada, assim que sentiu as vibrações e o toque do telefone uniu-se ao barulho proveniente da televisão.

Nervoso, admirando a foto de Hajime na tela do celular, Oikawa esperou alguns instantes, incerto de como proceder. Depois do terceiro bip, criou coragem para atender a ligação, suspirando pesadamente antes de levar o aparelho ao ouvido. Hajime não se demorou a respondê-lo, logo ouvindo a voz consistente e grossa chamar pelo seu nome.

— Oikawa…

— Iwa-chan, não está tarde para você me ligar? — Oikawa forçou o ar brincalhão de sempre, tentando manter escuso o desejo exagerado que tinha em encontrar o companheiro.

— Shittykawa, você que me ligou primeiro — o tom de reprovação fez Tooru sorrir e imaginar o aspecto carrancudo que havia tomado conta de seu rosto naquele momento.

— Eu estava vendo televisão e notei que está passando Godzilla, pensei em te avisar para que pudesse assistir — mentiu. — Sei que Iwa-chan adora esse filme.

Hajime estava em casa, abrigado do sereno noturno, enquanto se entretinha assistindo um filme que encontrara por acaso, não se espantando ao optar por um que tivesse sua história relacionada a aliens. Por essa razão, quando Oikawa o falou que havia lembrado de si ao deparar-se com o seu filme favorito, não estranhou.

Todavia, embora não se tratasse de uma anormalidade, o modo como ele se referiu ao filme, contido e sem os comentários trocistas, fez com que Iwazumi inferisse que Oikawa não estava sendo sincero. Vários momentos em que um sorriso bonito e totalmente enganoso ornava no rosto do setter acenderam em sua cabeça e ali, mesmo longe, Hajime sabia que Tooru estava mentindo para ele, tão bem se conheciam a ponto de conseguirem se desvendarem com destreza.

— O que você não está me contando? — Questionou direto. — Eu quase consigo visualizar a expressão mentirosa que você está fazendo agora.

— Nada passa despercebido para você, Iwa-chan — comentou cabisbaixo, reconhecendo que Hajime estava certo.

— Não quando se trata de você, Assikawa — falou sereno. — Agora, desembucha!

Oikawa admitia que existia um encanto na forma grosseira de Iwazumi agir consigo, o ás poderia apresentar um comportamento descortês, mas sabia até que ponto deveria pressionar Tooru. Existia um limiar tênue entre o cuidado rude e a perversidade e Hajime jamais o ultrapassou, sabendo dar-lhe amabilidade quando preciso.

— Acho que, por um breve instante, eu sufoquei — confessou em um sussurro baixo. — Fiquei pensando muito sobre tudo e, em companhia da insônia, confirmei que existe um abismo colossal entre a minha perseverança e o talento natural do Tobio-chan; talvez eu nunca consiga cruzá-lo.

O timbre quebrantado de Oikawa preocupou Hajime, incitando-o às recordações da época em que o setter afundou-se em sentimentos ruins erguidos sobre o seu complexo de inferioridade. Demorou um pouco e custou para que Iwazumi conseguisse emergi-lo daquela sensação de insuficiência e, por isso, negava-se a perdê-lo novamente.

— Você quer sair? — Perguntou simplista, escondendo por trás da causalidade a apreensão que estava nutrindo em relação a Tooru.

— Está tarde, Iwa-chan — esquivou-se por se lembrar do horário.

— Não passou tanto da meia-noite — rejeitou a resposta que lhe foi dada. — Sair pode te ajudar a espairecer.

— Para onde Iwa-chan quer me levar durante a madrugada? —  Questionou zombeteiro. — Eu posso correr perigo, sou muito bonito para me arriscar tanto.

As recusas de Oikawa eram tudo menos verdadeiras. Decerto, o horário podia causar uma leve preocupação, mas não o suficiente para impedi-lo de ir encontrar Iwazumi, principalmente, quando a carência e o desejo pelos seus afagos distintos emergiam de suas entranhas, tornando-o mais necessitado que o comum.

— Para o parquinho que brincávamos na infância — respondeu. — Não é longe de sua  casa, te vejo lá — sem esperar por qualquer réplica de Oikawa, encerrou a chamada.

Opondo-se às esquivas esfarrapadas, no instante em que Iwazumi findou a ligação, Tooru correu em direção ao seu quarto, trocando, às pressas, o pijama fino por roupas casuais e de tecidos mais espessos, saindo, em seguida, da moradia modesta. As passadas céleres denunciavam a ansiedade crescente dentro de Oikawa e a vontade incompreensível de encontrar Hajime, percorrendo, rapidamente, o trajeto pequeno entre a sua casa e o parque. A temperatura aprazível propiciava uma brisa amena, a qual soprava sútil contra a pele tépida.

Por morar mais perto que Iwazumi, chegou ao local marcado antes dele, admirando a luz prateada banhando, sorrateira, o logradouro destinado à diversão das crianças. Andou lentamente em meio aos brinquedos e sorriu com as memórias que inundavam a sua mente, enlevando-se com as situações divertidas e alegres vividas ali. Tomado pela nostalgia, sentou-se em um dos bancos suspensos atrelado ao balanço disposto pelo parque e inebriou-se com as reminiscências de sua infância, distraído com algumas recordações vagas e desvanecidas, enquanto uma, colorida e vigorosa, brotou em meio aos seus pensamentos.

Naquele mesmo lugar Oikawa brincou com sua primeira bola de vôlei, eufórico ao sentir a sua mão pequena, na época, chocar-se contra o objeto esférico. No início, fora difícil ter que optar em dividir a sua atenção entre o esporte e Iwazumi, que continuava a brincar com sua rede caçando insetos. No entanto, naturalmente, com o tempo Hajime começou a se interessar pelo voleibol, tirando de Oikawa o fardo de decidir entre ambos.

O fio que trazia luz à memória rompeu-se precipitadamente quando Iwazumi quebrou o silêncio da noite.

— Estranho te encontrar com um sorriso tão autêntico no rosto.

— Iwa-chan — excitou-se por encontrar a figura do outro escrutinando-o —, meus sorrisos são sempre belos — replicou.

— Belo e autêntico não são sinônimos, Assikawa — contradisse calmo, sentando-se no banco ao lado de Oikawa. — No que estava pensando?

— Em como eu me apaixonei pelo vôlei bem aqui — revelou animado, antes de cruzar o seu olhar com o de Iwazumi e, resoluto, questioná-lo: — Iwa-chan, o que despertou a sua paixão pelo vôlei?

— Você — respondeu rápido e direto, atento aos tons avermelhados que apossavam-se da face bonita.

— E-eu? — a voz estrídula doeu em seus próprios ouvidos.

— Eu senti ciúmes do vôlei, da forma como ele tinha toda a sua devoção e entusiasmo — esclareceu. — Sei que você tentava repartir seu tempo, mas seus olhos não brilhavam tão fortes quando você brincava comigo. Por isso...

— Mas eu me divertia caçando aqueles insetos nojentos com Iwa-chan — interrompeu, aflito com a possibilidade de Hajime pensar que não era bom o suficiente para diverti-lo.

— Cala a boca, Shittykawa, não me interrompa — reprendeu, embora a voz não expressasse nenhuma nota de censura. — Por isso, brinquei com a bola pela primeira vez com você, para enxergar o seu olhar referto de felicidade. E eu gostei da emoção ao acertá-la e da apreensão para não deixá-la cair no chão. Mais que isso — encarou Tooru com minúcia —, eu me apaixonei por jogar com você.

O rosto corado de Oikawa enrubesceu um pouco mais e Iwazumi soltou um suspiro contido por ter o direito de contemplá-lo naquele estado estonteante. Tooru era uma obra de arte largada, negligentemente, em um quadra para cair contra o piso liso ou esbarrar com algum jogador. Contudo, ao contrário do previsto, maculá-lo não retirava de si sua elegância, a perfeição que emanava dele era singular, única, e, devido a isso, adjetivos desagradáveis não cabiam nele, eram insignificantes.

Oikawa estava perdido entre as palavras afeiçoadas de Iwazumi, analisando-as com cuidado, ao passo que sentia o coração bater vertiginoso e a face torna-se cálida, perguntando-se o quão rubra ela estava. Os olhos castanhos, enfim, abandonaram o homem ao seu lado, encaminhando-se para o céu acima deles.

A imensidão enfeitada com os pontos luminosos e com a esfera prateada propiciou que o setter pensasse, novamente, em como a lua era sozinha e no paralelo que havia feito consigo. Sem demoras, a sensação de insuficiência o abraçou, afastando de si os sentimentos benévolos provocados por Hajime e coagindo que o batimento acelerado em seu peito normaliza-se.

— Iwa-chan, eu sou a lua — declarou, a tristeza palpável na voz outrora animada.

—  O que você quer dizer com isso? — Questionou, seguindo as ações de Oikawa e observando o céu.

— Às vezes, o luzir da lua é cativante, seduz o olhar de quem a observa e, como soberana na noite, esse é o dever dela — explicou. — Mas há momentos em que a cor prata está tão abundante nela que você consegue enxergar o quão solitária ela é, apesar de as estrelas resplandecerem ao seu entorno, semelhante a um rei. Eu sou o grande rei, Iwa-chan.

— Você não está sozinho, Oikawa — contestou brando, preocupado com tristura do outro. — Eu estou aqui, desde sempre e para sempre.

— Iwa-chan e os outros são as estrelas, astros que possuem luz inerentes a si, brilham por conta própria. Vocês são o povo e o nosso lado da quadra, o meu reino.

Não era preciso que Oikawa terminasse o seu raciocínio para Hajime entender em que ponto ele desejava chegar. De alguma forma, a melancolia provocada pela derrota havia conduzido-o por um caminho tortuoso e insalubre, coagindo-o a chegar a deduções levianas e inconsequentes, as quais exerceram forte poder sobre ele, levando Tooru a se culpabilizar pelo insucesso do time.

— A derrota da Seijoh não é um fracasso exclusivo seu, Oikawa — contrapôs, antes mesmo que o setter explicitasse aquilo que estava pensando. — Não deixe que um apelido suba a sua cabeça e o faça se achar importante demais para acreditar que os outros jogadores não tiveram relação com o resultado final do jogo.

— Iwa-chan só está sendo bom comigo.

O olhar de Hajime abandonou o céu e focou-se em Oikawa de novo, percebendo um sorriso fraco dirigido a si. Sabia que o companheiro não tinha o costume de sorrir verdadeiramente, mas aquele não era enganoso ou irônico, sequer feliz; apenas triste, sem fulgor, e doeu enxergá-lo tão pálido.

— Sabe, a lua não tem luz — retomou a fala, ainda ressentido —, a luminância dela é uma ocorrência atrelada ao brilho do sol; assim como eu, ela está destinada a ser um figurante, enquanto o sol é o protagonista. O Tobio-chan é o protagonista — sussurrou a última sentença em um tom extremamente baixo, quase impossibilitando a compreensão de Iwazumi.

— Com o tempo — Hajime começou, suspirando pesado —, me divertir jogando vôlei com você não foi o suficiente para me manter apaixonado pelo esporte; meu interesse foi fugaz à medida que o seu aumentava cada vez mais — contou. — Nesse ponto, tive inveja de seus calos, da aspereza de sua mão e da forma como você se sentia bem em possuí-los. Eles eram seus troféus, a razão de pela qual os seus sorrisos eram genuínos e tudo que eu queria era sentir essa sensação extasiante.

— Crianças são ingênuas e, naquela época, eu não compreendia o abismo que existia entre onde eu estava e o lugar que eu queria chegar.

— Não importa se você tem um caminho duas vezes maior que os outros para percorrer, Oikawa — levantou exasperado, pondo-se à frente do outro que mantinha-se sentado. — A questão é que você era uma cintilação pela qual me guiei por muito tempo e eu me recuso acreditar que o esplendor de seu brilho esvaiu-se como o clarão de um relâmpago.

Para Iwazumi, mediocridade era uma característica que não condizia com Oikawa, tão suntuoso e deslumbrante ele era. Contudo, a autoestima enlodada pelas comparações feitas com outras pessoas, somadas ao complexo de insuficiência, despertavam nele o hábito de destacar suas falhas na proporção em que todos os seus acertos dissipavam.

— Loserkawa, não há nada de modesto e ordinário em suas habilidades — elogiou. — Você não é a lua ou, muito menos, um clarão, mas o Sol, porque sua luz resplandece, quente e intensa, sobre mim sempre que você sorri.

As palavras ditas por Hajime não eram volúveis e impensadas; desde que se recordava, Oikawa era a estrela monarca que detinha o poder em seu próprio sistema planetário e ele, por sua vez, estava destinado a orbitá-lo. Os traços de luz que divergiam de Tooru, em direções variadas, eram amarelos impetuosos, denunciando o ego elevado e contagiando aqueles que percorriam uma trajetória circular ao seu entorno, transpondo-lhes confiança e otimismo.

Nos momentos que a fragilidade de Oikawa o assolava, Iwazumi desejava ser a luz que ele não conseguir enxergar irradiando dele, mas seria arrogância de sua parte colocar-se no patamar de alguém capaz de resolver os problemas de vulnerabilidade de Tooru. Todavia, cabia ao setter a responsabilidade de enxergasse-se como insubstituível, raro.

— Oikawa, você deveria perceber a claridade que exala de ti e se reconhecer como sua luz — a voz era branda à medida que se expressava. — Quando isso acontecer, as noites deixaram de ser o casulo de sua melancolia e, diferente dos sentimentos ruins que sentiu, ela passará a ser honrada contigo; honesta o suficiente para que seus pensamentos não te machuquem e a lua seja capaz de fazê-lo sorrir enquanto se deslumbra com o luzir dela.

Estava além da capacidade de Oikawa discernir o momento exato em que as lágrimas rolaram vultosas pelas suas bochechas. Havia ido ali porque o coração estava pedindo pelos cuidados de Iwazumi e, decerto, não se arrependia. Hajime sabia quais palavras Tooru necessitava ouvir e a forma como elas deveriam soar, compelindo o outro, senão, a concordar com ele.

— Iwa-chan, eu não te mereço — superestimou o amigo, forçando a voz a soar firme, no entanto, falhando quando o pranto intensificou-se.

— É óbvio que merece — replicou, ostentando um levantar discreto no canto de seus lábios.

Conforme o choro o tornava-se mais ameno, quase que cessando completamente, Oikawa usou as palmas das mãos para enxugar o rosto, fungando baixo. Desatento, absorto apenas em tentar melhorar o semblante vultuoso, surpreendeu-se ao se deparar com Iwazumi segurando uma bola em mãos, constatando, depois, que ele deveria estar carregando-a na mochila que descansava nas costas dele e que havia passado despercebida.

Tooru escrutinou o semblante despreocupado de Hajime, buscando entender o que ele desejava, ganhando um sorriso cândido em resposta a sua análise.

— Vamos jogar — Iwazumi propôs, oferecendo sua mão para ajudar o outro a se levantar do balanço.

Abraçando a mão que lhe foi oferecida, Oikawa alçou seu corpo para cima, colocando-se de pé, permitindo que o barulho de seu riso maculasse o silêncio noturno. Tentou tomar a bola da mão de Hajime, não obtendo êxito quando o ás agarrou o seu pulso, obrigando-o a parar. Os dedos calejados de Iwazumi envolveram a palma alheia em um aperto forte, enquanto mirava os olhos pardo-acinzentados.

— Você se lembra da promessa que te fiz no caminho para casa hoje? — Perguntou sério.

— Aquela em que você prometeu que, um dia, me derrotaria? — Hajime acenou com a cabeça, afirmativo.

— Não se esqueça dela ou das palavras que disse antes — pediu. — E todas as vezes que você se sentir insuficiente, prometa-me que você jamais vai se abandonar. Continue treinando e ganhando seu espaço no mundo com sua perseverança, fazendo qualquer um se curvar perante a ti; ser arrogante é um direito seu quando se é tão habilidoso.

Oikawa sentiu o aperto em sua mão afrouxar aos poucos até torná-la livre, ao passo que o olhar de Iwazumi vagava a esmo, precípite, levando-o a constar que ele estava envergonhado, só então percebendo a palma que, outrora estava agarrada a sua, suspensa no ar, com todos os dedos, com exceção do mindinho, recolhidos.

— De mindinho, Oikawa, jure comigo — pediu, tímido, assistindo o outro entrelaçar o mindinho dele ao seu, sorrindo pela satisfação que sentiu ao realizar um gesto tão bobo e sendo igualmente retribuído.

Depois do juramento singelo, começaram a jogar, sentindo-se embriagados de felicidade sempre que as mãos atingiam a bola, mantendo-a no ar. Oikawa sentiu um gosto adocicado espalhar-se pela sua boca, relembrando os momentos de plenitude compartilhados com Hajime quando crianças.

Compenetrados na bola e nos sorrisos radiantes que sustentavam, além do ruído alegre de seus risos, os dois continuaram ali, brincando, como se a infância não fosse um tempo passado, mas o presente desfrutado. As horas que compunham a madrugada consumiram-se, efêmeras diante do júbilo que sentiam, e logo a aurora apossou-se do céu, tornando-o rosado e levando para longe a luz das estrelas e da lua.

Em um certo momento, Oikawa acertou com força a bola e Iwazumi falhou em defendê-la, deixando-a cair no chão terroso. Feliz por ter ganho um ponto e ter conseguido abrir uma boa vantagem em cima do companheiro, Tooru sorriu, levantando os braços para cima em comemoração.

Hajime abaixou-se para pegar a bola, encantando-se, ao levantar o torso, com a visão de um Oikawa emoldurado com o despontar dos primeiros raios de sol atrás de si. Existia um certo fervor no crepúsculo matutino, uma beleza singular, mas, ali, ele apenas servia de fundo para Tooru, o verdadeiro sol.

Seduzido pelo luzir alheio, Iwazumi constatou que jamais desejaria orbitar em torno de outro astro, nenhum deles se comparariam ao fulgor de um sorriso autêntico de Oikawa.


28 de Janeiro de 2019 às 15:01 0 Denunciar Insira Seguir história
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