yewoon hye

A vida nunca fez sentido para Min Yoongi, um garoto de dezessete anos apaixonado por Arctic Monkeys, fatos estranhos e que tem o sonho de descobrir o que há por trás das montanhas. Mas tudo parece ainda mais confuso e fora de ordem quando, Jeon Jeongguk, um garoto cheio de traumas, passa a fazer parte de seu caos particular. yoonkook | 18+ | angst | long!fic


Fanfiction Bandas/Cantores Para maiores de 18 apenas.

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Capítulo Um

Min Yoongi



É incrível como você consegue encontrar uma quantidade absurda de coisas na internet em apenas um clique. Quero dizer, quem precisa de enciclopédias ou dicionários ou assistir à aulas chatas e entediantes se pode encontrar o que procura em milésimos de segundos?


Mas parece que meus pais não concordam comigo, muito menos o governo e aquele tal de Estatuto da Criança e do Adolescente, porque continuam me obrigando a frequentar o colégio, mesmo que eu já esteja no terceiro ano e já tenha quase dezoito anos, o que, teoricamente, implica que eu já tenha mentalidade e maturidade suficientes para tomar esse tipo de decisão e que muito provavelmente eu já tenha aprendido tudo de relevante que deveria aprender.


Mas tento não me importar — pelo menos na maior parte do tempo —, porque estar em um lugar com várias pessoas significa que não tem ninguém me vigiando, o que significa que posso fazer o que eu quiser — dentro dos limites do bom senso, é claro, como matar aula e sair de carro por aí. Já aconteceu tantas vezes que nem o diretor nem a coordenadora ligam mais para a minha casa. Acham que sou um caso perdido.


Deslizo o dedo pelo scroll do mouse quando acabo de ler o primeiro parágrafo de uma matéria fodasticamente fodástica sobre as dez doenças mais raras do mundo, porque, novamente, repito: o que você encontra na internet é um milhão de vezes mais interessante do que aprender a como construir um gráfico ou fazer uma função — que na minha opinião são a mesma droga.


Nesse exato momento, sinto um desconforto dentro de mim e então me lembro.


Respire.


Então eu inspiro e expiro e sinto os meus pulmões serem preenchidos por ar novamente, e repito o mesmo passo várias vezes até que as coisas se normalizem. É uma sensação de alívio enorme, como quando você pensa que o professor vai te pegar colando na prova, mas ele apenas passa reto e então você pode soltar todo o ar acumulado dentro de si. A diferença é que a minha intenção é exatamente o contrário. Acumular o quanto possível.


Sei que pesquisar esses fatos curiosos é legal e que são super interessantes. Por exemplo, quem poderia imaginar que uma doença chamada urticária aquagênica existe?


Pois é, ninguém.


Mas ela existe, e, basicamente, é como ter alergia à água. Erupções cutâneas aparecem e estouram em qualquer lugar da pele em que a água toca, o que deve ser extremamente doloroso e bizarro, o que ao mesmo tempo também é bem intrigante e curioso. Meus olhos brilham enquanto leem as pequenas letras na tela do computador e de repente tenho vontade de estudar sobre.


Mas apesar de interessante, não é tão fodástico assim quando acontece com você, e é por isso que reviro os olhos e entorto a boca quando a vejo bem ali.


E é nesse momento que me lembro de respirar de novo, porque meus pulmões não fazem isso involuntariamente, como deveria acontecer.


Síndrome ou Maldição de Ondine — como prefiro chamar, porque ao mesmo tempo que é uma praga que atrasa a minha vida, soa bem mais maneiro —, é o nome que dão à doença genética que ocasiona uma desordem no sistema nervoso central, levando à apneia.


Resumidamente, eu não tenho controle sobre a minha própria respiração, o que significa que eu tenho que ficar me lembrando de respirar quase o tempo todo, o que é um saco. Não posso correr mais de dez metros sem me cansar e começar a tossir e passar mal, porque meu coração começa a bater tão rápido e forte que parece que vai sair pela minha boca e começar a voar por aí. Tenho que dormir com um ventilador ligado perto da minha cara para ajudar na ventilação, e isso quando consigo dormir, porque na maioria das vezes meu sono é interrompido pela sensação de queimação em meus pulmões e garganta, como se eu estivesse asfixiando, e então prefiro ficar acordado mesmo que meu cérebro esteja quase desligando à força — o que explica as minhas olheiras profundas e assustadoras e o meu mau humor frequente e todas as coisas que a falta de sono causa.


A parte boa — porque mamãe sempre diz que temos que ver os pontos positivos — é que eu não preciso ficar correndo igual barata tonta na aula de Educação Física e posso sempre usar a desculpa de estar passando mal para fugir de lugares em que não quero estar. Todos sempre pensam que eu tenho algum problema cardíaco, ou algo bem próximo de claustrofobia — mesmo quando alertei meu pai sobre a minha síndrome, ele riu e disse que não havia quase um por cento de chance de eu ter uma coisa tão bizarra sim. Tipo, uma em um milhão. Acontece que eu sou o um em um milhão, mas ninguém realmente se importa, então tento lidar com isso sozinho. Me pergunto se eu deveria me sentir muito importante ou só muito azarado.


O meu conselho para quem quer se matar é: por favor, não tente um método que envolva ficar sem ar até a morte porque, acredite, é péssimo. É por isso que eu procuro outras formas de suicídio que sejam melhores e mais convidativas do que essa, do tipo que não tenha muita dor e mesmo assim possa ser mencionada de uma forma honrosa.


Algo como oh, todos venerem Min Yoongi. Ele foi o herói que se sacrificou por todos nós.


Mas sei que não vai acontecer, porque todos acham que eu sou uma aberração ou só um esquisito com cara de drogado em abstinência.


Então continuo me concentrando na minha busca pelo método de suicídio perfeito; eu poderia até escrever um roteiro de filme — me sinto um agente da CIA trabalhando sozinho num caso, porque sempre que compartilho meus planos com alguém, me olham como se eu precisasse de ajuda psiquiátrica ou só fosse um garoto problemático. Desconfio dos dois.

Ouço a porta do meu quarto se abrir atrás de mim e de repente Donna passa como um furacão, e eu me seguro para não levantar, gritar e expulsá-la, porque odeio que entrem sem permissão e ela sabe muito bem disso.


É por isso que tem uma placa na porta dizendo cuidado, entrada estritamente proibida. Mas acho que minha irmã de oito anos ainda não aprendeu o significado dessa palavra — conseguem entender por que a escola é inútil?


Levo os dedos à ponte do nariz e respiro fundo.


— O que você quer? — Abro o meu melhor sorriso, mas ela parece perceber o meu desconforto em tê-la ali, porque sorri com acidez, o que me faz revirar os olhos.


— Estou procurando a minha boneca, a Sunny — Tenho quase certeza de que ela tirou esse nome de algum grupo de k-pop, porque tudo o que sabe fazer é escutar isso o dia inteiro e ficar dançando na frente da TV da sala.


— E o que te faz pensar que ela estaria aqui? — Pergunto, mas ela ignora. Se aproxima de mim e sobe nos pés da cadeira giratória, apoiando as mãozinhas em meus ombros e o queixo em cima da minha cabeça. Quase a atiro para longe.


— O que você ‘tá fazendo?


— Procurando novas formas de homicídio. E lugares para esconder os novos corpos — Sorrio de um jeito quase doentio, então ela desce, cruza os braços e me encara.


— Vou contar pra mamãe que você anda fazendo coisas estranhas de novo — Ameaçou, com um bico maior do que a própria boca.


—  E o Superman disse: para o alto e avante! — Grito, em êxtase, com os braços estendidos para cima, e ela me olha com desgosto como se eu fosse um legume em seu prato e não entendesse a referência. É aí que eu percebo que essa geração está mesmo perdida, gostando de desenhos idiotas como Barbie e A Princesa Sophia. Então adiciono mais um item à minha lista mental de coisas que deveriam ser ensinadas em escolas: (aprender a) ler histórias em quadrinhos. ‘Tá aí uma coisa importante.


— Vou procurar a Sunny — Diz subitamente e caminha até a porta, e novamente pouso meus olhos na tela do computador, que está escurecendo devido à inatividade. — Mamãe disse que o jantar estará pronto em meia hora — Então abre a porta e sai, saltitando como a criança de oito anos que é. Me pergunto se ela ouviria e me ajudaria com meus planos suicidas  — e parcialmente diabólicos — se eu a chantageasse com brinquedos, mas desisto da ideia porque sei que ela contaria tudo aos nossos pais.


Então me concentro de novo na minha pesquisa, e acabo passando por uma doença que se chama “síndrome complexa da dor regional”, e começo a ler.


Formalmente conhecida como síndrome complexa de dor regional, a SCDR é uma doença sistêmica crônica que se manifesta como uma queimação extremamente dolorosa, alterações nos ossos e na pele e inacreditável sensibilidade ao toque. É uma das doenças raras mais dolorosas do mundo, classificada acima do parto e da amputação no Índice de Dor McGill, um método de avaliação da dor desenvolvido no início de 1970.


Inicialmente, acreditava-se que ela era uma falha sistêmica do sistema nervoso simpático. Atualmente, porém, pesquisadores acham que é desencadeada por trauma na região, especialmente nas extremidades. Por enquanto, esta é apenas uma suposição, o que é uma das razões pelas quais não há cura.


Vários tratamentos têm alcançado um mínimo de sucesso, incluindo um trazido até nós pela sabedoria do suporte técnico – “Você já tentou desligar e ligar de novo?”. Em 2003, uma menina de quatorze anos de idade passou por um tratamento que consistia em um coma induzido com a intenção de dar um “reset” nas conexões de dor em seu corpo. Este é geralmente considerado um último recurso, uma vez que traz enorme risco e vários potenciais efeitos colaterais.


Caramba, penso, seria incrível se eu pudesse dar um reset nos meus pulmões também. Ou no meu cérebro. E fazê-lo funcionar como todos os outros.


Lembro que, quando eu estava no ensino fundamental, uma vez, voltei chorando para casa.  Quando a minha mãe perguntou o que tinha acontecido, eu respondi:


— Estão me zoando porque sou esquisito.


Então ela deu um beijinho na minha testa e disse:


— Ora, querido. Você não é esquisito, é especial — Que é um jeito mais gentil e solene de dizer que sim, você é esquisito. Eu até já cheguei a pensar que tinha autismo ou algum outro transtorno mental, mas acho que é só defeito de fábrica. Quando pergunto a mim mesmo porque ainda não me colocaram em adoção, penso que devo ser fruto de alguma promoção de mercado, do tipo, olhe, está quebrado, então sai pela metade do preço!


Paro de ler a matéria e fecho a página quando escuto a voz de minha mãe me chamando, distante, dizendo que é hora do jantar.


Então me levanto, passo as mãos pelos cabelos recentemente tingidos de verde piscina e caminho até a porta esmaltada em azul onde escrevi, de caneta preta e em letras garrafais, ‘LEMBRE-SE DE RESPIRAR’ — porque não é tão difícil assim esquecer, e a abro.


Ando pelo corredor com os pés descalços e penso que Hoseok me daria uma bela de uma bronca se me visse desse jeito, porque ele é, tipo, o maníaco da limpeza e odeia germes e essas coisas.


— Filho — Minha mãe me chama e eu a olho, me sentindo um pouco estranho, como se de repente todos os meus sentidos estivessem distantes. — Estou te chamando há uns quinze minutos. — Às vezes eu simplesmente perco a noção do tempo.


— Desculpe... — Digo distraído enquanto me sento, ao lado de Donna. Quase choro de emoção quando vejo uma panela de bulgogi bem à minha frente, e não espero nenhum dos três se servirem antes de pegar o meu prato e começar a colocar carne nele.


Sinto minha mãe me olhar de um jeito repreensivo e ouço meu pai tossir de propósito, tentando chamar minha atenção, mas não dou a mínima e começo a comer na primeira oportunidade.


— O que você fez hoje, princesa? — Meu pai pergunta para a minha irmã e ela abre o maior sorriso possível, porque adora ser tratada assim. Meu pai anda meio ausente por causa do trabalho, e por isso ele nunca sabe onde estamos ou com quem e o que estamos fazendo. Acho que ele nem perceberia se eu fosse um traficante de drogas ou um assassino em série.


— Mamãe e eu fizemos alguns desenhos, eu brinquei de boneca e fui à casa da Solji — Então ela magicamente tira um desenho de baixo da mesa e mostra ao meu pai.


— O que é isso? — Ele pergunta, tentando ser gentil, e eu mastigo um pedaço de carne enquanto observo a cena calado e espero por uma resposta por parte de Donna. Minha mãe está colocando alguns vegetais nojentos no prato do meu pai.


— Um passarinho — Responde como se fosse óbvio.


— Parece mais a versão animada do demônio ou a readaptação de um desenho do Tim Burton — Digo e minha mãe arregala os olhos enquanto meu pai tenta segurar o riso.

— Min Yoongi!


— Fiz pensando em você — Ela diz e eu fico quase impressionado. Posso sentir o gosto do veneno escorrendo pelos seus lábios.


— Vocês dois, parem — Minha mãe pede. — Yoongi, você não tem mais onze anos. E mocinha, — Olha pra minha irmã. — não pode falar assim com seu irmão mais velho.


— E desde quando tem idade pra falar a verdade? — Resmungo, mas todos parecem não me ouvir ou fingem que não escutam.


— Eu fiz um e entreguei pra Solji — Minha irmã diz, espetando o ovo cozido com o hashi.


— É mesmo? O que você desenhou? — E lá vai o meu pai, novamente.


— Nós duas brincando no parquinho — Responde simplesmente. 


Não lembro muito bem dessa amiga dela, mas sei que ela tem uma doença chamada anemia falciforme. Está, aliás, na lista que eu li das dez doenças mais raras do mundo, e é bem complicada. Parece que ela está esperando pelo transplante de medula óssea há quase dois anos, e imagino que deve ser bem desesperador, principalmente sendo uma criança de apenas oito anos. 


Minha irmã normalmente vai pra casa dela depois da escola e fica lá até o anoitecer, o que sinceramente é um alívio, porque quando está em casa fica entrando no meu quarto e brincando com as minhas coisas.


Meu pai apenas sorri e então direciona o olhar para mim, e começo a implorar — mentalmente — para que ele não faça nenhuma pergunta. Então eu sinto uma dor no peito e meus pulmões imploram por ar e eu tenho que repetir todo o processo de sempre — inspirar, expirar, inspirar, expirar, num ciclo infinito.


Me sinto inflando como um balão à gás hélio e então tudo parece normal novamente.


— E você, Yoon? O que fez hoje?


— O mesmo de sempre — Respondo, seja lá o que “o mesmo de sempre” signifique.


Termino de comer, levanto, recolho os pratos da mesa e os levo para a cozinha. Então lavo a louça, apenas porque sei que depois vão ficar jogando na minha cara que não faço nada, e não porque tive a boa vontade de fazê-lo.





O despertador toca exatamente às seis e quarenta e cinco, mas já estou acordado há aproximadamente duas horas, porque tive mais uma daquelas crises em que passo muito tempo sem respirar e acordo com a sensação de que estive bem à beira da morte, mais uma vez. Mas, ao invés de pensar, wow, essa passou perto, penso, preciso encontrar um meio de ir embora logo.


Mal levanto e já sei que estou com olheiras ainda mais escuras, porque passei a noite navegando na internet e tentando sobreviver a mim mesmo. Às vezes, parece que o meu eu físico quer me matar mais do que o meu eu psicológico.


A primeira aula só começa às oito, o que significa que eu tenho pelo menos meia hora livre antes de ir para a escola. É claro que se eu pudesse eu dormiria até meio dia, como imagino que adolescentes normais fazem, mas não conseguiria mesmo se tentasse.


Quando saio do quarto, todos ainda estão dormindo, exceto pelo meu pai que deve ter saído para trabalhar há uns quinze ou vinte minutos. Trabalhar como executivo não deve ser nada fácil, aposto que eu não aguentaria ficar nem vinte minutos sentado com a bunda numa cadeira dura, só digitando e digitando...na frente do computador.


Tudo bem, isso é tudo o que eu faço no meu tempo livre, mas não é como se eu pudesse ficar pesquisando sobre doenças e formas de suicídio e fatos extremamente curiosos no meio do trabalho. Mas é exatamente o que eu faria, então talvez eu fosse despedido um dia depois de ser contratado.


Quando desço as escadas, já estou vestido com o uniforme e com a mochila em mãos. Tenho que descer devagar para não ficar cansado, sempre repetindo a mesma coisa em minha cabeça: respire, Yoongi, respire. Nunca pare de respirar.


Às vezes, é uma porra ser diferente das outras pessoas.


Não como nada porque raramente tenho fome pela manhã, então apenas saio, abro a porta do carro e entro. A sensação de dirigir é ótima, porque posso colocar no último volume do rádio e me imaginar num filme indie, onde o protagonista dirige em direção ao horizonte, no final do filme.


Sempre me perguntei aonde eles pretendem ir quando isso acontece, ou o que tem do outro lado, quando atravessam as montanhas — porque é sempre para lá que estão indo, e quero poder descobrir um dia.


A rua onde eu moro é pacata e silenciosa, e gosto disso porque odeio lugares cheios e sufocantes, mais sufocante do que estar preso ao meu próprio corpo. É tudo tão silencioso que posso ouvir cada cada órgão do meu corpo trabalhando dentro de mim.


Às vezes, tenho um pouco de medo de ficar sozinho e em silêncio comigo mesmo. Tenho medo do que a minha mente pode pensar enquanto estou assim, mas na maior parte das vezes é bom.


Donna estuda na mesma escola que eu, mas nunca a levo comigo, porque sempre acorda mais tarde e de manhã eu só quero ficar em paz, sem ter que ouvir uma criança tagarelando no meu ouvido.


Quando chego, estaciono o carro no estacionamento dos estudantes e saio, as mãos nos bolsos da calça azul marinho do uniforme e a mochila pendurada em apenas um dos ombros. Eu pendurei vários bottons de bandas nela.


As pessoas me olham como se quisessem o mínimo de proximidade possível, mas não me importo porque estou ocupado demais cantarolando 'You’re So Dark' do Arctic Monkeys, que é uma das minhas músicas favoritas deles — além de 'Knee Socks', que, convenhamos , é a melhor de todas. Tento controlar a minha respiração e sincronizá-la com as batidas da música.


Uma vez li em uma página que suas batidas cardíacas são ritmadas com as batidas da música que você está escutando, e eu acho isso extremamente legal. Não sei se é verdade, mas tento fazer com a minha respiração, pensando que provavelmente ninguém tentou o mesmo e que sou o gênio da nova geração.


Diferente de todos os dias, quando chego e subo até o terraço e fico lá ouvindo músicas até o sinal tocar, entro no enorme prédio do colégio e passo pelo corredor em direção à minha sala, onde vários armários estão dispostos nas duas paredes ao meu lado e grupinhos conversam encostados neles.


Não sei quem são, porque não converso com ninguém por ali, mas sei que me conhecem porque eu sou a “aberração do colégio” — mas felizmente (ou não) não estou sozinho nessa.


Avisto Taehyung e Hoseok perto do laboratório e me aproximo deles, com um sorriso de canto na boca. São os únicos que sabem da minha síndrome e acreditam nela, embora o Taehyung ache que eu sou totalmente pirado.


— E aí — Digo. — O que estão fazendo?


— Só conversando — Tae diz, e quase sinto que ele não quer minha presença ali. — Já se cansou de morar no terraço da escola?


Alargo o sorriso.


— Só por hoje — Troco a mochila de ombro. Respire. — Os pombinhos já se resolveram? — Pergunto e vejo as bochechas de Hoseok enrubescerem. Eles tentam fingir que não, mas todos sabem que se gostam e estão juntos há, pelo menos, dois meses. Até então Hoseok namorava uma garota um ano mais nova, mas tenho quase certeza de que ele já gostava do Kim nessa época.


A verdade é que esse tipo de assunto não me interessa, mas não me vejo tendo uma conversa interessante ou profunda com eles dois. Acho que nunca tivemos um momento assim.


Talvez as pessoas tenham níveis diferentes de profundidade. Ou talvez simplesmente não tenham chegado até o fundo, ainda.


— Não estávamos brigados — O Jung responde, e eu completo com não realmente. Esses dois são capazes de brigar até mesmo por um pedaço de pizza.


Continuamos conversando, mesmo que no fundo eu continue com a impressão de interrompi alguma coisa ou estou incomodando, até que o sinal toca e é hora de entrar na sala. Confiro a grade horária pendurada ao lado da porta da sala do último ano. A primeira aula é Física e por um momento cogito dar meia volta, mas o Jung me puxa pelo colarinho do blazer e sou obrigado a entrar junto com eles.


Vou até o fundo da sala e me sento na primeira carteira que encontro desocupada, e poucos minutos depois o professor chega e parece bem humorado, carregando um copinho de isopor de café em uma mão e alguns livros na outra.


— Bom dia, classe — Ele começa, e já sei que vamos perder pelo menos meia hora escutando o seu falatório chato e entendiante. Então seus olhos pousam em mim, o que eu estranho, porque nem mesmo sei se ele sabe meu nome. Mas então diz:


— A propósito, — O olho. — Min Yoongi, precisamos conversar sobre as suas notas.

Arqueio uma sobrancelha.


— Ahn...sobre o que, exatamente? — Pergunto e percebo que todos estão com os olhos vidrados em mim.


— Você está quase repetindo na minha matéria. Sabe disso, não sabe? — Assinto. — Pois bem, como uma forma de ajudar a si mesmo e ajudar os seus colegas também, pensei se você não poderia ajudar o Sr. Jeon a passar em física — Diz, apontando para um garoto de cabelos escuros, sentado em uma carteira em uma das fileiras no meio, encostado à parede. Sua expressão é neutra e quase parece petrificado, mas consigo ver a surpresa em seus olhos. Então de repente sinto todo o ar se esvair de mim.


Inspire, expire, inspire, expire.


É simples.


— Mas eu sou péssimo em física. Isso não faz sentido — E não fazia mesmo. — Por que você não pede isso pra algum nerd? Tipo o Seokjin — Digo e vejo que o Kim se encolhe, em uma das primeiras carteiras. Ele é daquele tipo de pessoa que só estuda o dia inteiro, a vida inteira. Talvez ache que vai conseguir um futuro de sucesso, mas o que não o contaram, é que ele nunca vai parar de estudar. Não há descanso para pessoas que sempre procuram por mais.


Mas ele parece ser um cara legal.


— Você é ótimo em física, Sr. Min. Só que deixa a escola muito de lado. Acredito que isso te ajudará a se concentrar mais — Diz, e eu praticamente descarto o seu argumento, porque me parece completamente inválido. Quais as chances de eu ajudar alguém quanto à escola, se eu não consigo nem me ajudar? — Pode fazer isso?


— Eu vou ganhar alguma coisa com isso? Tipo, uns três pontos na média?


Ele riu.


— Podemos negociar. Isto é, se ainda precisar de nota. Mas se não ajudá-lo, vai repetir — Me olha por cima do óculos. — Ou será que o senhor prefere fazer algum trabalho individual para recuperar a nota?


— Não, senhor — Respondo e ele sorri satisfeito. No fundo, não gosto tanto da ideia, porque ganhar um pouco de dinheiro seria melhor. Mas estou praticamente sendo obrigado a ser o tutor particular de alguém que nem conheço.


— Dois esquisitões juntos — Ouço uma voz feminina falar logo atrás de mim, rindo com uma outra garota, e de repente a maior parte da sala já está comentando sobre isso também.

Ouço coisas como “quero ver ele conseguir falar com ele”, “um esquisito e um drogado” e “ele com certeza vai bombar”, então olho para o meu futuro aluno pelo canto do olho, e percebo que ele continua na mesma posição, com a mesma expressão, como se não ouvisse ou não se importasse com os comentários de mal gosto.


Me sinto um pouco mais relaxado quando o professor cita mais duas pessoas que deveriam fazer uma “dupla de estudos”.


Mato as duas aulas depois dessa, mas assisto todas as outras. Quando chega a hora do almoço, vou até o refeitório e procuro pelo Jeongguk — Hoseok disse que esse era o nome dele e, de praxe, me explicou porque todos falam aquelas coisas dele.


— Ele não fala com ninguém. Acho que eu nunca o vi abrir a boca.


— Será que ele é mudo? — Pergunto, afinal, há todo o tipo de pessoa em uma escola. Mas então Hoseok diz que não e que esse é apenas o jeito dele. Quase escuto um “ele é esquisito como você” saindo da boca dele.


O refeitório está movimentado e cheio de gente, e tenho vontade de pegar a mochila e sair dali o mais rápido possível, mas não o faço, porque lembro das palavras do Sr. Bang. Não que eu realmente acredite que vou conseguir ensinar alguma coisa a esse cara que mal conheço, mas com certeza é mais fácil do que redigir um trabalho inteiro sozinho — eu poderia muito bem pegar algum texto da internet, mas tenho certeza de que os professores já estão bem cientes desse método de “infração” de regras, que eu sinceramente encaro mais como economizar tempo e raciocínio.


Depois de ficar procurando por um tempo, finalmente o encontro, sentado sozinho à uma mesa.


Lembro-me de respirar e caminho até ele, então sento no banco, ao seu lado, deixo a mochila escorregar pelo meu ombro e braço até cair no chão e coloco o outro braço sobre o seu ombro.


— E aí, tudo bem? — Pergunto. — Parece que eu vou ser o seu professor por um tempo. Seu nome é Jeongguk, certo? — Inquiro, só para confirmar, mas ele não me responde e abre a boca em surpresa. Seus olhos estão trêmulos e tenho quase cem por cento de certeza de que ele não está se sentindo confortável com a aproximação repentina, mas não movo nem um músculo. Invés disso, percebendo que ele não vai me responder, olho ao redor e murmuro, baixinho: — Fiquei sabendo que você ‘tá interessado na minha parada. ‘Tá no meu armário. Se me descolar cinco mil wons agora, eu te dou tudo — Ofereço, com uma voz grossa, como se estivesse interpretando um personagem de Hollywood, e realmente me sinto um gangster perigoso de uma máfia coreana  — embora devo parecer mais com o garoto que trafica drogas na escola. Mas ele não responde, embora seu olhar agora esteja mudado. Não sei dizer se está com medo de mim ou agora é mais um dos que me acham uma aberração. — Dois mil? — Sorrio amarelo e ele franze o cenho. — Que tal...de graça? — É a minha última tentativa, mas ele apenas se desvencilha de meu braço e se levanta, tão calado quanto antes.


— Eu preciso do seu número — Digo para o vento, porque em alguns segundos ele não está mais lá.

16 de Janeiro de 2019 às 00:33 0 Denunciar Insira Seguir história
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hye n' your knee socks

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