-Tomás , acorda ! Ou queres chegar atrasado à apresentação ?
"Já estou acordado há bastante tempo" - pensou o Tomás
Acordou fisicamente e abriu a persiana , não foi preciso abrir muito para ser momentaneamente cego por raios solares. O dia estava previsivelmente quente. Não! Estava pior que quente , estava abafado . Naquele momento não era só o dia , mas também a mente de Tomás se encontrava abafada... abafada de pensamentos sobre o que poderia acontecer naquele dia .
" O dia perfeito para começar a escola"
Entrou na cozinha para comer as habituais torradas com manteiga que a mãe , já lhe preparara.
-Escola nova ,vida nova ! Desta vez vais estar rodeado de amigos ! Tu consegues ! - disse-lhe a mãe , mais entusiasmada que o filho .Porém um falso entusiasmo .
- Já te disse que não preciso de amigos .
A Dona Isabel sempre fora bastante preocupada em relação ás opções sociais do filho.Embora a família Ribeiro se tenha mudado para o Norte ,porque Alberto Ribeiro (pai de Tomás) tenha sido transferido para a sede da sua empresa no Porto , Isabel Ribeiro acreditava que poderia ser uma nova etapa na vida do filho .Quando era mais novo ,Tomás , cedo percebeu que haviam desequilibros de inteligência entre ele e as pessoas que o rodeavam que desencadeou a que gostasse da solidão e tratasse a sua mente como um amigo . O seu melhor amigo.
-Sabes o caminho ? Queres que te leve ?
- Vou a pé , não te preocupes- disse Tomás
Mal saiu da casa , colocou os phones nos ouvidos e caminhou. Não estava a ouvir música , mas sim os seus pensamentos . Colocar phones foi um método que lhe permitiu ignorar o que se passava á sua volta e focar-se no que realmente interessava . A sua mente .
" Há algo que não bate certo na Teoria das Cordas , não na teoria em si mas nas implicações que nela existem. "
Tinha ficado quinze minutos a debater no assunto , mas entretanto tinha chegado à sua nova escola e então os seus pensamentos dissiparam-se .
A escola era grande e as habituais grades para delimitar a área escolar fizeram-lhe lembrar uma prisão . Não uma prisão de pessoas , mas sim de ideias. Sem liberdade . Ironicamente a escola é um poucos locais onde as pessoas não têm liberdade para exprimir as suas ideias , têm de se reger pelas regras e aplicar nas provas , apenas os conhecimentos que são lecionados nas aulas . Isso aconteceu com Tomás num teste de matemática ,no ano anterior, quando aplicou um teorema que a professora ainda não tinha ensinado (nem iria ensinar , porque era muito avançado ). A professora anulou essa questão a Tomás e ainda escreveu um recadinho a dizer o quanto era arrogante por estar a tentar mostrar que é mais inteligente que os colegas. A partir daí , Tomás percebeu a realidade da escola , da "liberdade de expressão " e de conhecimentos que habitavam nesse tipo de estabelecimentos . Zero.
Haviam muitos estudantes na entrada da escola e uma estranha alegria pairava no ar . Obviamente , sendo o seu primeiro dia , Tomás encontrava-se bastante desorientado , mais desorientado que uma pessoa no deserto . A verdade é que as circunstâncias eram muito semelhantes . O dia estava quente , Tomás encontrava-se perdido , com uma produção excessiva de suor , talvez a única diferença seja mesmo a densidade populacional que havia. Decidiu entrar na escola e aventurar-se no meio de corpos desconhecidos , sorridentes e estranhamente mais suados que o dele . Caminhou durante algum tempo. Sentiu-se tonto.
"Preciso de ar "
Continuou a caminhar , em esforço . Parecia que o caminho se estreitava e com isso havia ao longo do tempo uma decadência de oxigénio. Viu um balcão de atendimento .
"Tenho de ir para lá "
Sentiu uma onda de adrenalina e foi para lá ,ficou aliviado por ter conseguido chegar lá , vivo. Esperou a sua vez e aproveitou para se acalmar e controlar a respiração . Quando chegou a sua vez , perguntou onde se tinha de dirigir e uma senhora de meia - idade , muito calmamente e com um sorriso agradável lhe explicou .
A confusão , felizmente , já se tinha evaporado e naquele momento só se encontravam algumas pessoas na entrada da escola . Pegou no smartphone e viu que nele marcavam nove e meia. Ía guardar o telemóvel no bolso quando sentiu um encontrão que o fez cair .
"Seria um bullie ? "
Olhou timidamente e viu. Os seus olhos verdes brilhavam com o que estavam a visualizar : cabelos lisos pretos , olhos azuis como a água do mar de uma praia paradisíaca , pele branca como uma folha de um caderno . Era uma deusa. Porém , uma deusa que tinha deixado cair dois cadernos , e com eles fez também Tomás sentir o chão.
-Desculpa ! Estás bem ? - perguntou a rapariga
"Até a voz dela ...ela é um oásis neste deserto "
-Sim - disse ,timidamente Tomás
Tomás levantou-se e deu-lhe a mão para ela se levantar. A mão dela era quente , que de alguma forma o confortou.
- Obrigada ! Sou a Leonor !
-Sou o Tomás
Os olhares deles fixaram-se . Parecia que estavam a comunicar-se através dos olhos.
- Estás bem , Leonor ?-gritaram algumas vozes
Várias pessoas chegaram e Tomás percebeu que era o momento ideal para sair. Caminhou lentamente na direção oposta com apenas uma coisa em mente ...
" Ela é bela ...como a Lua "
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