"Escreva uma carta" ele disse. E foram suas últimas palavras, que ecoaram pelo pequeno quarto em um som agoniante, emitidos com muito esforço, retratando a imagem dele..aquele tão indesejado por muitos, tão apreciado por mim.
E então o cardiógrafo me mostrou uma linha reta.
Voltar para casa foi a pior parte. Apenas vi louças quebradas pelo chão. Tive sorte em ela não ter me visto, e subi para o meu quarto.
Eu não havia entendido o que ele queria me dizer:
"Como assim uma carta?"
"Existe um endereço para mandá-la pro lugar onde você vai?"
Perguntei a mim mesmo já que seria tarde demais para ele próprio me dar as respostas.
"O que vai acontecer se eu não escrever a carta?"
Perguntas não paravam de surgir quanto mais eu pensava.
Peguei o meu banquinho vermelho para sentar e pensar.
Algo me movia a escrevê-la, talvez um pensamento insano de que se eu escrever a mesma, vou ter retorno.
O quê eu deveria escrever foi outra questão.
Abri a pequena janela do meu quarto e olhei para o céu com poucas estrelas; poucas estrelas e um vento gentil, me fazendo encolher,, Bell se aconchegava no meu colo.
Observei as estrelas por mais tempo.
Aquela mulher surtava no no andar de baixo, era impossível ignorar, sons de louça, gritos, agonia, eu so tentava pensar em que aquilo iria parar em algum momento.
Me encolhi mais um pouco na janela.
Uma carta...
Coloquei Bell no chão e fui pegar um papel e um lápis.
Ele só me pediu para escrever uma carta. Porque provavelmente sabia o que eu iria achar disso, e consequentemente escreveria a carta como eu achasse que deveria escrever. Eu sei que ele me conhecia muito bem.
Posicionei o lápis no papel e hesitei um pouco antes de começar a escrever. Eu escreveria o que eu penso, exatamente como meus pensamentos são, e assim, se eu fizer uma boa carta, posso ter retorno. Reconheço que só tenho dezesseis anos, e simplesmente nunca havia escrito algo assim antes
“Elliot,
Eu vi as estrelas chorarem.
Eu sei que elas sabem o que eu sinto, e eu sei que você era amigo delas. Você uma noite me apontou e disse o nome de cada uma. E agora a nova estrela se chama Elliot.
Bell me olhou e eu sei que por dentro ela disse que me entendia também. Sim, a pequena gata que me deste pouco antes de ir para este tal de céu.Ela é muito parecida com você,e tenho medo de deixá-la sozinha; sabendo que minha avó não aceitava você, tampouco qualquer coisa que vinha de ti. Ela ficou um pouco...violenta desde hoje a tarde, e tem algumas secuélas nas minhas costas
Elliot, eu te amo.
Você foi o único que eu consegui amar. Desculpe quando pareci um pouco doente quanto a isso.
E eu não sei o que fazer sem você.
Dave.”
Peguei minha mochila e comecei a colocar minhas coisas dentro dela. Coloquei Bell por cima de tudo, porque se ela ficasse a velha certamente a jogaria pela janela. Apenas queria que ele morresse, mas depois que isso aconteceu ela perdeu o controle. Eu posso até entender a situação dela, mas sei que eu preciso sair daqui.
Fui para a janela e pisei no telhado inclinado para o chão.
Ele estava um pouco úmido, então deslizei lentamente nele. Não queria machucar Bell na mochila.
Quando eu estava na beirada do telhado pulei no chão de paralelepípedos.
Coloquei meu capuz, e me certifiquei de que a carta estava no bolso.
Corri pelas ruas estreitas e molhadas, pulei pelas poças de água que refletiam a lua, Bell não parava de miar.
Para o alto penhasco eu deveria ir.
Para o alto penhasco eu estava indo.
Era o mais perto que eu chegaria das estrelas.
Enquanto percorria a pequena cidade, olhei para a casa vermelha caindo aos pedaços da velha Drutt que vivia falando mal de minha familia; a casa marrom e com a porta riscada de giz de cera do garoto que me batia na escola, a casa azul da mulher que me dava bolinhos sempre que os fazia, e a casa verde da professora...parei por um instante, respirei fundo, encarei a porta por um momento, e então dei tres batidas, me arrependendo em seguida, pois haviam sons indesejados que pararm logo em seguida.
A mulher esguia abriu a porta, segurando um roupão vermelho fechado com a sua mão direita, enquanto com a outra segurava a porta, com uma expressão confusao e ao mesmo tempo sanguinária, por te-la interrompido em momento embaraçoso.
-O que o rapaz faz em frente a minha casa?- soltou ela segurando-se para não aletarar a voz
-Professora Adélia, por favor, me diga para que direção fica ao penhasco, por favor eu..
-Certo...mas Dave, por que estás aqui esta hora me pedindo tal coisa?
-Me desculpe, mas por favor, apenas me oriente ao penhasco e nunca mais a incomodo em sala de aula ou em sua casa!
-Que assim seja-- ela apontou impaciente para a minha esquerda, caminho contrario do qual percorri-percorra esta rua , dobre a direita e vá reto, apenas reto, haverá arvores e uma subida enorme- e fechou a porta, com pressa.
Apressei minha corrida.
Apreensivo, ao chegar perto da minha casa, vi minha avó surpresa ao me ver, e quase pendurada na janela pela qual eu havia saído ouvi gritos de maldição e uma batida em minhas costas.
Uma batida que me levou ao chão segurando o choro pela dor subita, para não passar tanto vexame, levantei fingindo não ter ocorrido nada, e olhando para trás, vi meu banco de madeira quebrado no chão.
Apertei meus lábios e meus olhos, e voltei a minha corrida, um pouco dificultosa, percorri o caminho indicado pela professora, e ao fundo, como a esperança, eu via frondosas árvores abrindo caminho para um caminho íngrime.
Eu tentava, ao meu máximo não perder mais tempo, a dor em minhas costas aumentava, e por sorte, Bell não sofreu dano. Retirei a mochila e passei a arrastá-la.
Subida.
Subida.
E subida.
Bell miava cada vez mais.
Os grilos eram os mais ouvidos, e o chacoalhar das arvores tentava me refrescar inutilmente.
Vendo a beirada do penhasco, mal pude acreditar; com dificuldade me deitei no chão, e coloquei Bell dentro do meu moletom, para que nao caminhasse para a própria morte. Tentei evitar olhar para baixo.
Arremessei a mochila atras de mim e retirei a carta do bolso, inspirando ar e coragem para le-la em voz alta
Após lter lido dei um pequeno deslize nas pedras. Foi só um susto.
Fechei meus olhos e senti uma mão pousar em meu ombro.
-Elliot?-
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