“Querido diário.
Sim, mais uma vez eu venho aqui chorar e lamentar mais um término desgraçado com um macho desgraçado.
Nada de novo, o mesmo esquema pantufa: dentro de casa era tudo lindo, maravilhoso, quentinho e gostoso, já na rua…
Em 2 meses ficando, ouvindo aquelas velhas desculpas de que “o que ninguém sabe ninguém estraga”, que “a nossa relação precisava amadurecer” e outras babaquices eu pus ele contra a parede e ouvi de novo “eu gosto de você, você é legal e tal, mas…” que parece que todos os namorados que eu tive na vida combinaram de me dizer.
Não deixei nem ele terminar e desliguei o telefone. É… Esse nem a coragem de falar na minha cara teve!
Foi uma droga! Tá, eu sei que eu já chego em alguém esperando que, no final das contas, seja só mais um babaca pra uma noite (isso quando aguenta a noite toda), e que depois não vai nem ligar, mas esse veio com um papo tão diferente…
Já faziam 2 meses também, achei que já podia me despreocupar e hoje ainda é dia dos namorados… Eu pensei que a ligação era pra me chamar pra sair… Isso explica porque nem pra me chamar pra comemorar num simples motel de beira de estrada que fosse ele teve coragem.
Eu achei que agora ia, mas não foi, aliás acho que voltou pra trás um pouco. Muito difícil essa vida de lidar com homem que acha que só porque eu sou gorda eu não mereço nem a porra dum motel de beira de estrada no dia dos namorados.
Eu me recuso a acreditar na babaquice que o Ryuu me disse de que mulheres como eu só servem pra sexo casual, ou no que o Kayo me disse de que eu nunca vou ser levada a sério, muito menos vou me sujeitar a ser só o contatinho de alguém.
Pelo menos ele não veio com papo de aposta, igual o último… Ah, eu sei que eu não devia me chatear, mas… É uma pena que eu não consiga achar alguém que me ame como eu me amo e que ainda ache ruim que eu não me odeie…
Talvez seja melhor ficar sozinha mesmo, melhor que perder tempo com mais embuste como os últimos. Pelo menos a pizza continua sendo o grande amor da minha vida.
×
Abriu o estojo e pegou o tubo de cola em bastão, o espalhando pela fotografia, a colando no espaço em branco da folha. Ao lado da imagem, completou a ficha já escrita com algumas das informações do rapaz da vez, preenchendo o espaço sobre o término.
Nome do embuste: Toneri
Idade: 26
Profissão: vendedor
Como conheceu: no mercado.
Primeiro encontro: no barzinho depois do trabalho.
Nota: 8/10 (5/10 na cama).
Duração: 19/04 - 12/06.
Tempo que levou pra ser escroto: 2 meses.
Escrotices comuns: regulação de comida; me escondia dos amigos.
Causa do fim: efeito pantufa.
Como acabou: por telefone.
Chance de volta: não quero ver mais nem pintado de ouro.
Terminou as anotações e fechou a agenda. Suspirou pesada, esfregando o rosto, tentando secar as lágrimas que escorriam por ele.
Pegou o telefone, discando o número decorado da pizzaria do bairro, sendo atendida pela simpática dona Mitinha.
— Pizzaria Mokutália, o sabor da Itália. Pois não? - pegou o guardanapo ao lado e assoou o nariz.
— Sou eu, dona Mitinha… A Hanabi! - ouviu o penoso suspiro pesado da senhorinha que já estava acostumada em atender a garota que, tradicionalmente, sempre que terminava um namoro, comprava com eles uma pizza.
— Em pleno dia dos namorados? - o “uhum” arrastado e abafado de Hanabi cortou o coração da idosa que já sabia o pedido de sempre. - Hashirama, uma grande meio a meio. Calabresa e bacon.
— E bastante cebola! - completou, ouvindo Mito replicar seu comentário ao esposo.
— Bastante cebola, Hashirama… O refrigerante é por conta da casa hoje, tá bom? - ofereceu ouvindo um arrastado obrigada antes que ela voltasse às lágrimas.
Deixou o aparelho jogado na mesa, se permitindo se abalar. Não costumava chorar, ainda mais naquele tipo de situação, mas era impossível não cair nas lágrimas ao terminar um caso em plenos dia dos namorados.
Felizmente já havia passado da fase de culpar seu peso por isso, ciente de que o problema não estava nela. Respirou fundo, sabendo que logo sua vontade de fazer drama iria passar e voltaria à plenitude habitual.
Voltou a chorar quando lembrou do dinheiro gasto nas poucas saídas que deu com ele e de quanto tecido para costurar as roupas de sua confecção amadora poderia ter comprado com ele.
Pelo menos ele tinha deixado uma garrafa de vodka pela metade na geladeira e ela tinha bastante yakult. Misturou os dois em um copo e afogou as mágoas, chorando mais ainda ao perceber que ainda faltavam 20 minutos pra poder correr para os braços de sua adorada e merecida pizza.
Não que fosse de seu feitio se empanturrar de besteiras, por mais que fosse difícil acreditar. Os cerca de 30 quilos acima do peso supostamente ideal que tinha não eram frutos de uma alimentação desregrada, adorava comida saudável, mas às vezes merecia meter o pé na jaca depois de meter o pé na bunda de mais um catalogado como escroto.
Bebeu meio copo da mistura, sabendo que não era bom prosseguir, ao menos não com o leite fermentado. Tudo o que menos queria era uma caganeira pra fechar aquele dia péssimo com uma chave de merda - literalmente. Era melhor ficar só na água e na espera.
Estava em um estado deplorável, por isso lavou o rosto. Ninguém precisava descobrir que havia chegado ao ponto de estar ouvindo Fresno nos fones de ouvido, voltando aos tempos de emocore. Ok, concordava que estava sendo um pouco dramática, mas talvez estivesse de TPM, ou estivesse abalada por mais uma vez receber uma demonstração de que talvez seu eu não fosse tão importante quanto seu peso.
Negou com a cabeça. Havia demorado muitos anos para se aceitar e não seria um babaca que achava que não merecia ser pega pela mão e assumida que faria com que todo o esforço fosse jogado no lixo. Foda-se que ele não lhe amava, ela se amava e pronto… Ah, mas seria tão bom um chameguinho e alguém pra chamar de dengo dengo.
Ah, onde caralhos aquele motoboy havia se enfiado com a sua pizza? Não era possível que até a Mokutália iria lhe deixar na mão naquela noite. Precisava fazer valer a pena ter acordado naquele dia. Não era possível que a única coisa que havia pedido para si estava demorando tanto.
Suspirou pesado. Pelo menos não estava com a cara inchada. Precisava se recuperar do drama, estava muito nova pra ganhar rugas de choro. Quem precisava chorar numa noite aparentemente tão bonita? Ainda mais quando, finalmente, ouviu a campainha tocando.
Ajeitou o cabelo para não parecer alguém que havia acabado de terminar um namoro em pleno dia dos namorados e foi abrir a porta, se deparando com o sorridente motoboy que lhe estendeu a pizza com o refrigerante de 1 litro.
— Uma meio-a-meio calabacon no capricho! - riu um pouco triste apenas para não deixá-lo total no vácuo, uma vez que ele estava tendo toda a simpatia que muitos poucos tinham consigo.
Deu a ele as duas notas de 20 reais, negando os 2 reais.
— Pode ficar com o troco! - o rapaz sorriu, agradecendo.
— Valeu aí, moça! Uma boa noite dos namorados pra voc… - antes mesmo dele terminar a frase, Hanabi já chorava, com a cabeça encostada no peito dele.
Konohamaru, o motoboy, não soube muito o que podia fazer. Não entendia como alguém podia chorar tendo uma pizza numa mão e uma Coca-Cola na outra. Sem muita ação, acabou fazendo carinho no cabelo de Hanabi.
Talvez tivesse sido sua frase a desencadear a crise de choro na cliente mais fofinha que havia tido naquela noite e não era questão da aparência dela e sim de que ela havia sido a única de todos a lhe retribuir o sorriso.
Não fazia ideia do que estava acontecendo ali, mas não gostava de ver mulheres chorando, ainda mais as gentis e bonitas como havia achado Hanabi.
— Oxe, moça... Chora não, cê tem uma pizza e uma coca na mão, fora que a senhora é mó bonita pra tá chorando desse jeito... - sensível como estava, até as palavras daquele desconhecido lhe eram acolhedoras, o que lhe emocionou mais ainda.
Era só o que faltava, ser digna de pena até pro entregador de pizza e achar bonitinha a atitude dele em tentar lhe animar.
— Isso foi a coisa mais bonita que me disseram hoje... - agradeceu permanecendo com a testa colada nele, que cheirou o outro sovaco só pra ter certeza que ela não estava sentindo cheiro de suor.
Suspirou pesado, lamentando por ela, voltando a lhe acarinhar os cabelos. Com cuidado para não atrapalhá-la, tirou a caixa térmica que tinha nas costas e colocou no chão. De tão sem chão, Hanabi aproveitou isso para abraçá-lo, já que não era todo dia que tinha alguém em sua porta disposto a lhe dar um abraço e deixá-la chorar.
Konohamaru ficou mais confuso ainda, gaguejando antes de conseguir formular algum tipo de argumento pra fazê-la parar.
— P-pô, moça, a pizza da senhora vai esfriar. Eu num’ sei porque a senhora tá chorando não, mas, ó, anjo num merece chorar por nada não! - parou um minuto, olhando bem pra cara dele.
Ele havia acabado de lhe chamar de anjo?
— Você acabou de me chamar de anjo? - perguntou confusa e ele assentiu.
Visto que ela havia acabado de chorar quase um rio em seus braços, achou que tinha liberdade o suficiente pra secar as lágrimas dela. Assentiu à pergunta dela enquanto isso.
— Eu ia até perguntar se machucou quando a senhora caiu do céu… - respondeu e ela riu.
Não foi força de expressão, depois de ouvir a cantada digna de programa de sábado apresentado pelo Rodrigo Faro, Hanabi teve a maior crise de riso de sua vida.
Quase derrubou a pizza, tendo que voltar pra casa para deixar a caixa na mesa, ainda risonha, conseguindo contagiá-lo, mesmo que ele não entendesse onde estava a piada.
Se a intenção dele era lhe dar ânimo, ele com certeza havia sido o melhor, mas, assim que conseguiu se controlar, foi até o lado de fora, olhando ao redor em busca das câmeras da pegadinha.
— Que tipo de brincadeira é essa? - perguntou até um pouco irritada ao pensar que provavelmente ele estava tirando uma com sua cara ou tendo outras intenções. - Tá achando que isso aqui é roteiro de filme pornô que o motoboy chega e a garota paga a pizza com boquete? - devolveu o humor e Konohamaru franziu o cenho, negando.
— Né brincadeira não, moça, é papo firmeza! Com todo o respeito que eu num quero que a senhora me leve a mal, mas a senhora é mó’ gatinha! - ah, não, ele realmente só podia estar vendo uma palhaça ali.
Negou com a cabeça, estava com fome demais pra rebater engraçadinhos que gostavam de tirar onda com mulheres à beira de um ataque de nervos.
Estreitou os olhos, olhando séria para ele que chegou a se assustar com sua repentina mudança de humor, erguendo as mãos, rendido antes mesmo da ameaça.
— Escuta aqui, cara, eu não tô pra brincadeira não. Hoje foi um dos piores dias da minha vida e eu não tô com saco pra ouvir gracinha de quem quer tirar onda com a gordinha, ok? - reclamou revoltada e ele negou, tirando até o capacete pra ter mais credibilidade.
Ah, pronto! Ele ainda era bonitinho! Ok, não tanto. Ganhava nota 8… Tá, 8,5 com aqueles olhos azuis, numa escala de 1 a 10, mas ainda assim essa era uma nota meio alta pra alguém que fosse lhe dar mole.
O que? Era esperar demais da vida encontrar consolo numa situação dessas, trocando o príncipe no cavalo branco que trazia um sapatinho pelo motoboy que trazia pizza na motinha de 125 cilindradas.
A vida nunca era boazinha consigo e não esperava isso naquela noite onde estava desgrenhada, chorosa e com o moletom mais quentinho e estrapeado que tinha.
Contou até 10 e respirou fundo. Não queria terminar a noite assassinando aquele rapaz. Não costumava receber elogios se não fossem seguidos de algum tipo de “conselho” para emagrecer, por isso era melhor não levar a sério e esperar que não fosse uma brincadeira de mau gosto.
Forçou um sorriso, tentando ser mais leve para acabar logo com o incômodo. Provavelmente Mitinha havia contado o que havia acontecido e ele estava com pena, tentando amenizar seu sofrimento. Era melhor levar numa boa.
— Olha, muito obrigada, tá? Eu sei que a dona Mito deve ter contato que eu fui chutada em pleno dia dos namorados e tal, mas não precisa me animar, ok? - falou acenando com a cabeça, ganhando um olhar assustado.
— Caralho, moça, quem foi o cuzão que fez isso com a senhora? Fala aí que eu vou lá dar uma coça no sujeito que fez a senhora chorar desse jeito! - falou segurando o capacete, demonstrando que realmente não sabia da história e Hanabi estranhou mais ainda.
Espera, ele estava disposto a ir tirar satisfação com seu ex? A brincadeira estava indo longe demais.
Acenou, agradecendo a proposta dele, mas logo negou enquanto, na cabeça de Konohamaru, tudo se encaixava. Fazia muito sentido que ela chorasse daquela forma, mas, diferente do esperado, não sentiu pena dela e sim do desgraçado que havia causado todo aquele transtorno.
— Po, moça, chora mais não. Pensa que quem perdeu foi ele que num tem mais uma mina tão bonita e maneira quanto a senhora. - ficou mais confusa que antes ouvindo as frases motivacionais dele.
A pizza estava esfriando, seu estômago roncando e ela não queria mais perder tempo, ainda mais ouvindo absurdo. Respirou fundo de novo, já estava começando a ser inconveniente.
Era melhor mandá-lo embora antes que perdesse a razão. Riu nervosa, olhando nos olhos dele.
— Olha, obrigada pelas piadas, melhoraram muito a minha noite, tá? Mas chega, eu não preciso de alguém me cantando por pena! - declarou um pouco irritada e ele ergueu as mãos em defesa.
— Po, moça, pensa mal de mim não, eu tô falando sério. - insistiu, vendo-a cruzar os braços, batendo o pé. - Ó, eu sei que a senhora deve tá achando estranho, acho que a senhora num tá odiando os homem tudo, mas, ó, papo reto, eu achei a senhora mó gata. Se teu ex num representou, deixa que o motoboy aqui representa! - não sabia se ria ou chorava diante daquela cena, ainda mais quando recebeu dele um cartão.
Na verdade, era um ímã de geladeira, com um número de telefone/WhatsApp com o desenho de um motoboy e o nome “Kono da Motoca”. Riu, foi mais forte que ela.
— Que porra é essa, cara? - questionou achando que a qualquer momento as câmeras surgiriam e sua primeira hipótese de pegadinha viria a tona.
Konohamaru ajeitou o cabelo bagunçado pelo capacete e, com uma cara fajuta de conquistador barato, pegou e beijou a mão dela.
— Kono da motoca ao seu dispor, moça. Só chamar que eu boto a senhora na garupa e levo até pro céu, se não cobrar pedágio! - riu, mais do que antes.
Aquilo só podia ser o efeito do Lactobacilos Loucos que havia tomado, não era possível. Apertou a bochecha dele só pra ter certeza de que não estava alucinando.
Konohamaru riu, se ajeitando e pondo a caixa térmica de novo nas costas. Tinha mais entregas pra fazer e não podia demorar muito.
Olhou para Hanabi que parecia muito incrédula ainda. Não mentia quando dizia que a achava bonita, pelo contrário. Na verdade, ela era até muita areia para sua motoquinha, mas podia dar duas viagens se ela quisesse.
Hanabi respirou fundo, se dando conta de que toda aquela situação era real. O pior era que estava tão carente que realmente estava considerando cair na lábia do motoboy.
Ah, que fosse. Se era uma chance de ao menos ter uma noite mais agradável, que fosse.
— Você tá realmente falando sério? - perguntou para ter certeza e ele assentiu. - Tá bom então, cara, faz o seguinte… Na volta, passa aqui de novo, tá bom? Tipo, quando acabar seu horário na Mokutália…
— Olha que eu volto, hein? - brincou e ela assentiu.
Não esperava que realmente ele fosse voltar depois, mas não estaria surpresa e nem decepcionada se assim fosse. Pelo menos as péssimas cantadas dele haviam feito com que parasse de chorar.
Mais uma vez teve a mão beijada pelo rapaz que só então soube seu nome, se despedindo.
— Então fechou, dona Hanabi. Logo mais eu volto aí! - declarou saindo de lá e correndo para as próximas.
Antes mesmo que ele virasse o corredor, Hanabi já havia fechado a porta, completamente desacreditada de tudo o que havia acontecido.
Negou com a cabeça e voltou sua atenção à pizza já morna a qual poderia finalmente comer. Serviu-se de refrigerante e sentou, pegando uma das fatias sabor bacon com a mão esquerda, enquanto, com a direita, voltava a escrever na agenda, na folha seguinte.
“Querido diário… Acho que tenho um encontro!”.
Obrigado pela leitura!
Um belo retrato do problema que muita mulher tem de forma leve, divertida, mas sem deixar de te impactar em alguns momentos.
Está num dia triste? A chuva batendo na janela te faz querer abrir a playlist da Adele? Pois eis aqui a solução. Passando de afogar as lágrimas no motoboy gostoso para conseguir um senhor homem, com muita comédia e uma representatividade muito bem trabalhada e realista, venha se apaixonar também <3
Bem, eu comecei a ler a fanfic recentemente e eu estou simplesmente apaixonada. Um Konohamaru totalmente inesperado e que a gente não espera na real, mas pqp, que coisa mais fofa ♡ O jeito que vc aborda gordofobia é algo muito realista. Já me vi na pele da Hinata e da Hanabi em várias situações. Não vou mentir, to shippando mt o casal. Eles são um para o outro ♡
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