Já faz alguns anos que ela partiu, mas nossas memórias continuam vivas em mim. A forma que ela sorria, o jeito que brigava comigo ou como seus olhos tinham um brilho sagaz. Tudo dela ainda vive em mim.
Lembro-me de nosso primeiro beijo. Foi atrás da escola, eu me confessei e pedi para que ela aceitasse meus sentimentos, ela só riu e disse que eu era um bobo, que já gostava de mim há tempos. Antes mesmo que eu pudesse reagir às suas palavras, um beijo leve foi depositado em meus lábios, simples assim.
Hanabi, sem dúvida alguma, foi a melhor coisa que já me aconteceu. Em todos os anos que passamos, não houve um dia em que eu não a amasse um pouco mais. Mesmo com brigas, mesmo com dificuldades, mesmo com a idade, eu a amei até agora e continuo amando.
Me aconchego melhor na cadeira de balanço, quanto tempo faz? Acho que uns cinco anos... Ela se foi, e minha vida passou a ser tão sem graça. Tenho oitenta e cinco anos, vivo em uma casa de repouso, e a ausência de minha esposa ainda é fresca.
Um sorriso me escapa quando me lembro do dia de nosso casamento. Ela estava tão linda, era como se uma deusa estivesse ao meu lado no altar, sim, muito linda. Os anos só a fizeram ficar melhor. Hanabi se foi de forma pacata, despediu-se de mim com um beijo e dormiu. Uma forma tão calma, que não se parecia nem um pouco com minha pequena lua que era a animação em pessoa.
Uma brisa suave sopra no que sobrou de meus cabelos, sim, me tornei calvo, e ela fazia piada disso, dizia que logo eu me tornaria um desodorante roll on, e eu dizia que ela se tornaria um buldogue, com suas bochechas redondas que logo ficariam caídas. Éramos assim, e nossa rotina era gostosa de se viver.
Hanabi reconhecia que estava envelhecendo, mas com sessenta anos, dizia ser nova demais para se tornar a “vovó de biscoitos”. Eu ria e dizia que não havia nada demais nisso. Até mesmo se indignou quando utilizei um perfume de alfazema, ela dizia ser cheiro de idoso, eu alegava que eu era idoso, ela crispava os lábios para mim.
No fim de tudo, eu a abraçava, e ela retribuía. A amei com todo meu coração, a adorei com toda minha alma. Nossas recordações me acalentam em dias que a dor da ausência é insuportável. E quem poderia me julgar por agir de tal forma? Só quem já perdeu alguém assim sabe como é. Me consolo da forma que posso.
Mesmo hoje, sentado na cadeira de balanço, com cheiro de alfazema e tendo apenas alguns fios de cabelo na cabeça, sinto meu coração ser aquecido, com a imagem de minha querida esposa sorrindo para mim. Seria uma alucinação?
“Você está bem velho, Kono”, posso ouvir sua voz com um tom debochado, “Está usando alfazema? Meu Kami! Isso é coisa de velho”. Só posso sorrir, ela está mesmo aqui. “Está na hora, Kono, vem comigo?”. Eu apenas assenti e segurei sua mão.
“Você demorou, Hanabi.... Estava com saudade...”.
Eu a sigo e seguiria sem pestanejar, para onde ela me chamasse, afinal, agora, tudo está em seu devido lugar.
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