Ele não ousou abrir a carta. Tinha medo. O coração palpitante, os dedos trêmulos, a palma suada. Talvez fosse um ‘adeus’, ou talvez estivesse se precipitando e era algo como ‘estou com saudades’. Colocou toda sua fé em uma pequena carta deixada no correio, endereçada em seu nome. Tinha que ser dele.
Kyle sentou-se no sofá e colocou o pequeno envelope em cima da mesinha arredondada que deixava uma vela e seu terço, para os momentos onde sabia que a dor não iria embora só com seus remédios, então apelava para um Ser Divino. Encarou por longos minutos um ponto específico na lareira, tendo suas bruxuleantes labaredas como uma forma de se acalmar. E se Georgi estivesse voltando? Kyle estava uma bagunça de sentimentos, provavelmente ele o deixaria novamente. Todavia, e se aquela carta fosse uma despedida definitiva? Provavelmente Kyle afundaria ainda mais em seu estado depressivo, caindo lentamente em um poço escuro e sem fundo, sem que tivesse uma corda para se salvar.
Sentia-se dessa forma há muito tempo, na verdade.
Pegou a carta novamente, tomando uma coragem antes não tida antes e rompeu o selo sofisticado, engolindo em seco. Parou por um segundo, avaliando ao seu redor. Respirou fundo e abriu, pegando o papel e lendo-o devagar, para absorver toda a informação.
Apenas mais uma propaganda, uma das inúmeras abertas todas as semanas desde que ele se foi. Amassou a carta e jogou no fogo ardente, entretanto, se tivesse lido o verso de todas, saberia que eram dele.
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