Encostado com a cabeça no vidro frio meus pensamentos se voltaram a uma semana atrás quando eu ainda era uma pessoa feliz com a vida.
Minha mãe sempre falava pra mim
— "filho, sai do celular e socializa com as pessoas", sendo que ela mesma me mudou de escola repentinamente pelo simples fato daquele professor maldito de física nos chamar para uma reunião e tagarelar no ouvido dela que eu não estava me esforçando nos estudos, e claro que ela ficou ainda mais interessada nas palavras daquele ser humano quando ele abriu a boca pra falar que talvez era melhor procurar uma escola integral pra mim, pra que assim eu pudesse aprimorar os meus estudos e futuramente ter um trabalho decente pra cuidar dos meus seis filhos e um marido maravilhoso que vai cozinhar pra mim todos os dias enquanto eu faço trancinhas na nossa filha mais velha. Iludidamente claro.
Minha sexualidade nunca foi um problema pra nossa família – eu e minha mãe – e ela nunca se incomodou com isso de maneira alguma, a única coisa que ela reclamava mesmo era em requisito de notas; na sua infância minha genitora não teve muitas condições financeiras e logo após sofrer com o sumiço do meu pai, ela queria que o único filho dela – eu – pudesse ter uma vida boa e assim não sofresse com o dinheiro. Mas o problema é que eu não consigo ser alguém que preste em sala de aula, sempre passei os anos com recuperação ou cola que meu amigo cobrava dois reais pra passar, e nas aulas que éramos pra revisar as matérias eu ficava jogando candy crush como um bobão.
Eu nunca fui lotado de amigos, mas tive o necessário para sobreviver no ensino médio — Jooheon e Takuya – que eram exatamente como a mim, a diferença é que o professor não chamou a mãe deles, e por isso eles ainda vão estar na escola ano que vem enquanto eu estarei com um bando de desconhecidos do outro lado da cidade.
Mas uma coisa que eu fazia muito bem e que era como se fosse a minha primeira paixão, era tocar piano.
Desde os cinco anos quando o meu avô me ensinou as primeiras notas, eu peguei um amor pela música e tudo que a envolvia, passando a fugir de casa a noite e ir pra casa dos meus avós – que moravam no final da rua – só para poder vê-lo tocando Debussy - Clair de lune, que é uma música que até hoje eu tento aprender.
Quando minha mãe anunciou que tinha me mudado de escola depois da conversa com o Sr.Seungwon – professor de física – o meu mundo caiu; meus poucos amigos, minha rotina, tudo foi por água abaixo.
— Pra onde mãe?
— Você vai para Seul estudar arte na School Talent, é um colégio interno e seus tios vão me ajudar a pagar.
— Como assim? Não era integral? — choraminguei abraçando suas costas.
— Não adianta fazer frescura BaekHyun, você vai e ponto.
— Mas eu não gosto de arte! — só o que faltava eu ir estudar em outro lugar forçado a um assunto que eu não gosto.
— Mas é ótimo pra você esquecer do celular.
— E-Eu vou, se eu estudar música — eu sabia que minha mãe desistiria naquele momento, pois a mesma achava que tocar alguma coisa não nos dava futuro algum.
— Tudo bem! — e para minha surpresa ela concordou — você vai daqui a uma semana.
Todavia aqui estou eu Byun BaekHyun com os olhos inchados de tanto chorar dentro de um ônibus lotado com mochilas, rumo a um colégio interno chamado School Talent onde a partir de amanhã estarei estudando música, junto a mais uns trinta alunos que sequer lembrarão do meu rosto angelical no dia seguinte.
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