12 de junho de 2017.
No horizonte o céu acinzentado mostrava camadas alaranjadas além das montanhas, anunciando mais um pôr do sol . Enquanto sobre a cidade de Bariloche, flocos de cristais de gelo caiam do céu. Era a primeira noite que nevaria, por isso, alguns permaneciam no conforto de suas casas aquecidas por lareiras e observando, através da janela, a cortina de pequenos pontos brancos que caia sobre o chão deixando-o com um grande tapete branco sobre as ruas. Algumas outras pessoas apreciavam esse momento na rua mesmo. O que era o caso dele. Aquela visão era um dos charmes da tranquila cidade da Argentina.
Atravessou o cruzamento da avenida a passos lentos, enquanto abria o guarda-chuva. Ele não fora pego de surpresa, antes de sair de seu quarto de hotel sabia que nevaria essa noite. As botas escuras afundavam trazendo pequenos ruídos a seus ouvidos. Cruzou com algumas poucas pessoas. Enquanto muitas estavam dentro de cafés e restaurantes, observando a verdadeira chegada do inverno através das grandes vidraças.
Parou em frente a uma cafeteria, os olhos percorreram a fachada do lugar, que possuía um clima intimista, enquanto uma placa de madeira destacava o nome .
‘’Vertiente café con ideas ‘’. Ressoou na mente o nome do local, treinando seu espanhol para que adaptasse a frase para sua língua de origem
“Que diabos é Vertiente ?”. Antes que a dúvida perdurasse mais, enfiou a mão dentro do bolso da calça e retirou o celular. Digitou a palavra no google translate, que lhe apresentou rapidamente a resposta.
-Galpão...- Estranhou como palavras, escritas e faladas, tão diferentes no final tinham um só significado- Hn.
O celular marcava seis e quinze. Poderia toma rum café ali, mas tinha coisas a fazer. A noite seria longa e solitária.
Um casal, sentado perto da janela do café, trocava sorrisos e frases. Observou como a garota de cabelos escuros parecia tímida em frente ao jovem rapaz loiro.
Aquela seria somente mais uma data que passaria sozinho, e quanto menos visse romantismo estampado em cada esquina daquele lugar, melhor seria.
Soltou o ar pela boca, que saiu como uma nuvem de fumaça.
Colocou-se a caminhar através da calçada que o levaria de volta ao pequeno hotel que estava hospedado. O vento batia mais frio do que nunca contra seu rosto. Deu mais uma volta do cachecol azul-escuro no pescoço e cobriu minimamente seus lábios.
Virou a esquina e assustou-se quando esbarrou em uma moça morena.
- Lo siento! - Ouviu a voz firme. E antes que pudesse dizer qualquer coisa ela saiu apressada. Mas ainda o olhou brevemente, com um pequeno sorriso sugestivo.
Voltou a caminhar e sentindo que seus dedos poderiam congelar a qualquer momento. Arrependeu-se como nunca por não ter trazido consigo uma luva.
Enfiou o celular de volta no bolso aproveitando também para esconder a mão dentro do tecido jeans escuro, enquanto a outra mantinha -se firme segurando o guarda-chuva de material transparente. Mas seus dedos tatearam somente o fundo do bolso, não encontrando algo muito importante que sempre carregava.
Virou o rosto para o caminho que tinha feito, observando o rastro dos seus passos sobre a neve. Voltou pelo lugar de onde tinha vindo, com sua atenção voltada ao chão, enquanto sentia um incomodo crescente no peito.
“Não posso perder o pingente. É a única coisa material que me remete a ela…”
Os olhos escuros, varriam a neve enquanto caminhava com pressa.
Sua busca parou, quando a alguns metros à frente, envolta a um grande e pesado casaco vermelho, uma jovem abaixada tocava a neve. O vislumbre brilhoso chamou sua atenção, estava ali, nas mãos dela o seu pingente. Expirou o ar tranquilamente.
Não o havia perdido afinal.
Aproximou-se a passos lentos. E quando estava perto o suficiente da moça, ela ergueu a cabeça para si.
Assustou-se quando viu o rosto da mulher. Era belo. Poderia dizer o mais belo que já teve o prazer de encarar.
Os grandes olhos com íris verde-esmeralda pareciam chocados. Notou as maçãs do rosto dela avermelharem-se, e ela ergueu-se rapidamente. Poderia dizer que ela estava tão surpresa quanto ele.
Preparou-se mentalmente pra dizer o que precisava dizer. Só que em espanhol.
Mas ela cortou as pequenas frases montadas que sua mente começava a formar quando sua voz baixa rompeu aquele silêncio entre eles.
- É seu? - Perguntou com um forte sotaque em inglês, e mostrou-lhe a palma da mão, onde um pequeno leque Uchiwa prateado com pedras vermelhas reluzia.
-Sim !- Disse tocando a mão fria dela, recolhendo o pequeno objeto. Colocou-o de frente a seus olhos, sorriu minimamente. Aquela era uma das melhores lembranças que tinha de sua mãe, Mikoto.- Obrigado!
Mas seus olhos mudaram o foco do pequeno objeto cintilante para o rosto redondo e vermelho da moça que o observava, com um tímido sorriso. Sua mão desceu, parando ao lado do corpo, enquanto apertava o pequeno objeto em sua palma, sentindo-se estranho. Não sabia porque, mas uma forte lembrança de sua mãe lhe veio à mente…
-olhe só que gracinha, Sasuke! Ela não para de te encarar!- Virou -se para onde Mikoto tanto olhava, e rolou os olhos quando a jovem de cabelos castanhos assustou-se e escondeu-se atrás de uma barraca.
-Mãe!- Sussurrou, sentindo-se estranho. Enquanto Mikoto parecia divertir-se com seu constrangimento.
-É dia dos namorados...Você nunca levou alguém lá em casa.- Ela enganchou o braço no seu, enquanto ele pagava os tomates na pequena barraca perto do mercado- Gostaria tanto de ver meu bebê acompanhado de uma moça bonita e gentil. Ah meu coração não ia aguentar! Me promete que ano que vem, nesta mesma data, você vai me aparecer com a nora dos meus sonhos?!
Observou os olhos negros brilhantes em expectativa. Sua mãe sabia muito bem como manipulá-lo quando queria.
-Claro!- disse mais pra encerrar o assunto do que qualquer outra coisa. Mikoto socou o ar, com um sorriso vitorioso. Riu divertido.
Fechou os olhos suspirando fundo. A saudade de sua falecida mãe o arrebatou como se tivesse levado um soco no estômago.
-Porque você não entrou?
Seus olhos abriram-se e encarou de cenho franzido a mulher a sua frente. Ela parecia ansiosa. Aquela pergunta só poderia ser pra ele, mas o que ela queria dizer afinal?
- Onde?
-No café - Ela virou o rosto e seu olhar a acompanhou, as sobrancelhas ergueram-se em surpresa ao ver o letreiro do Vertiente café con ideas ao seu lado. -Bom, pode parecer estranho, mas eu vi, lá de dentro, quando você parou em frente ao lugar- Ela parecia envergonhada em confessar aquilo, pois estava entregando que o estava observando antes– Parecia querer conhecer… Mas de repente foi embora.
Observou alguns fios rosas desprenderem-se de dentro do casaco que a protegia do frio, quando um forte vento soprou tudo a seu redor, fazendo flocos dançarem entre eles.
- Eu não tinha nenhum bom motivo para entrar -Disse. E ela cruzou as mãos em frente ao corpo, parecendo um pouco mais nervosa.
-Se eu te chamasse pra tomar um café comigo, seria um bom motivo?
Após o convite, sua surpresa deve ter sido evidente até para ela, que enfiou as mãos no casaco vermelho e começou a dizer baixo:
-Me desculpe!- Ela riu nervosamente – Eu sou mesmo idiota, nem te conheço e to te chamando pra sair comigo…Não pense que é carência, por favor!- Ela olhou para o lado enquanto o rosto parecia queimar- Eu só te achei bonito e…Esquece! Foi um prazer conhecê-lo!
Ela virou-se apressadamente, fugindo. Mas tão rápido quanto o primeiro passo apressado dela, foi sua mão que segurou o punho da estranha mulher de cabelos rosados.
-Tudo bem! - Disse rápido demais. Mais até do que gostaria.
Ela o olhou chocada por um instante, mas depois a expressão suavizou.
O sorriso quente dela o fez ignorar o receio por ter aceitado algo assim tão inesperadamente.
Caminharam timidamente ate a frente do café. Enfiou o pequeno pingente de volta ao bolso, depois de uma breve olhadela. Onde quer que sua mãe estivesse, ela deveria soltar fogos de artifício naquele momento.
Abriu a porta de vidro do local, dando passagem à jovem sorridente. Ela parou em sua frente, seu rosto menos enrubescido.
-A propósito, meu nome é Sakura!
-Prazer, Sasuke!
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