Os fogos de artifício na noite de ano novo sempre foram um espetáculo. Ao menos era o que se falava pelas ruas de Konoha. Em Suna não tínhamos a chance de fazer tantos festivais e comemorações quanto aqui, muitas vezes, por causa do constante vento que arrastava a areia do deserto ao redor dificultando a visibilidade. Afinal como era possível se divertir enquanto seus olhos eram constantemente bombardeados por uma infantaria completa de pequenos grãos?
Suna era um lugar seco e solitário, dominado pela melancolia e pelo silêncio. As pessoas eram introspectivas e, na minha opinião, mortalmente comuns. Não que isso fosse uma coisa ruim, o silêncio era a minha maior característica e talvez por isso que a mudanca para Konoha tenha sido tão surpreendente. Tudo aqui estava vivo, como se uma chama ardente estivesse queimando em cada pessoa. Nunca constante, sempre em mudança. Ao contrário de mim, que, apesar de possuir chamas nos cabelos, vivia em um mundo imerso próprio, quieto como águas paradas.
Por isso, qual não foi minha surpresa ao chegar na escola e me ver acompanhado de um vendaval vestido de verde. Tudo que se encontrava ao seu redor parecia estar num estado de agitação permanente, exatamente como a cidade, as palavras que saiam de sua boca falavam de juventude e da chama da vida que queimava em cada um de nós. Com ele, eu passei a entender um pouco mais sobre o fascínio inicial que aquele novo ambiente e seus habitantes haviam gerado em mim. No início eu pensava que apenas compreender isso seria suficiente. Porém, a cada dia que passava, mais nos aproximavamos e mais eu me via atraído e submerso em toda aquela vibração e energia efusiosa que ele irradiava. Totalmente o meu oposto. Éramos água e óleo, mas, estranhamente, eu me encontrava constantemente buscando um jeito de alcança-lo, de fazer com que essa mistura heterogênea de matérias se tornasse una. Como se ele fosse uma estrela cadente e eu apenas a sua cauda.
- Você vem com a gente ver os fogos hoje à noite? - estávamos os dois deitados no telhado da escola observando as nuvens passarem e tomarem forma. Minha atenção se encontrava dividida, ora as formas brancas e macias no céu, ora a vontade de mexer os olhos continuamente para fitar Lee, como se para garantir que ele ainda estava ao meu lado. Uma dessas olhadelas revelou um par de olhos escuros cerrados sobre sobrancelhas grossas que me encaravam com curiosidade. Desviei os meus rapidamente de volta para a vista de cima e pensei em um milhão de respostas possíveis que poderia dar. Mesmo sabendo que ele já estava acostumado aos meus longos silêncios, eu conhecia sua energia e inquietação e sabia que ele não se manteria parado por muito mais tempo. Nossa bolha de tranquilidade estava prestes a ser rompida. Sendo assim, escolhi a resposta mais simples.
- Não sei. Não parece haver nada de muito especial neles. Afinal, são só fogos. - depois de ouvir tanto a respeito desse belíssimo show noturno de fogos de artifício, eles pareciam a mim cada vez mais previsíveis e monótonos se tornando uma parte da noite pela qual eu não esperava grandes coisas.
Pude sentir sua movimentação ao meu lado e fechei os olhos, resignado com o fato de que o momento havia acabado. Em breve, ele sairia pela porta e correria pelo pátio alegando ter que provar sua juventude antes que o intervalo acabasse. Enquanto eu continuaria no telhado com o olhar perdido no céu e os pensamentos revendo os detalhes da conversa: suas expressões captadas rapidamente através de observadelas ocasionais, o brilho naqueles orbes incrivelmente escuros presente no momento em que ele se levantava e anunciava sua corrida ou até mesmo a forma que os cabelos negros se moviam quando tomava velocidade e disparava pelo pátio.
Por isso, fiquei surpreso ao abrir os olhos e encontrá-lo ainda de pé ao meu lado. Em seus olhar agora havia um brilho divertido, como se escondessem no fundo algo que eu desejava secretamente saber.
- Nunca se sabe quando algo comum pode te surpreender. - e sorriu, saindo em seguida para a corrida diária. Aquele sorriso grudou em minha mente e eu gastei vários minutos analisando seus detalhes. No fim, parecia que os fogos eram o destino dessa noite.
Na hora combinada caminhei ao encontro do local marcado por Lee. Junto a ele se encontravam mais três pessoas: um garoto de aparência sombria, Sasuke; outro de cabelo loiros e olhos azuis brilhantes, Naruto, e uma garota usando coques chamada Tenten. Podia ser impressão minha, mas ela parecia estar de mãos dadas com o loiro que lhe lançava um sorriso discreto sob o ombro.
Senti a boca seca e a vontade de dar meia volta e ir para bem longe quase dominou meu corpo por um instante. Bem no fundo eu havia alimentado esperanças de que seríamos apenas Lee e eu vendo os fogos. Sozinhos. Com sorte em algum lugar isolado e tranquilo no qual só o momento presente importasse. Percebi imediatamente o quanto daquilo eu havia fantasiado e essa percepção fez com que eu prosseguisse para encontrá-los. Alimentar sonhos muitas vezes causava mais dor do que encarar a face verdadeira da realidade. Portanto, apenas me conformei com o que havia sido me dado.
Cumprimentos foram trocados e eu os retribui com um breve aceno, em seguida nos pusemos a caminho do monumento da cidade onde a maioria da população já estava se reunindo para assistir ao espetáculo. E lá se foi o lugar isolado e tranquilo.
A contagem regressiva começou enquanto eu olhava para o céu, esperando o evento tão bem falado. Ao meu lado, Lee segurou a minha mão quebrando minha concentração nas estrelas. Quando eu me virei para perguntar o que havia acontecido, ele se aproximou e nossos lábios se tocaram enquanto ao nosso redor as pessoas gritavam e apontavam para a cena. Nos separamos e sorrimos sem graça um para o outro, e, os fogos, que eu não tinha interesse, de repente pareceram maravilhosos.
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