Dizem que quando você está próximo aos seus últimos momentos na terra, toda sua vida passa diante dos seus olhos. Eu fui uma exceção àquela regra. Enquanto estava sendo içada pela parede com duas fortes mãos envolta de meu pescoço, tudo que conseguia pensar era: Eu não posso acreditar que vou ser morta dentro de um armazém imundo que fede a peixe morto!
No fundo, eu sabia que lutar seria inútil. Ele era duas vezes mais forte que eu e, bom, bem menos são. Não que eu fosse um exemplo ambulante de sanidade, eu tinha corrido direto ao encontro de um assassino em série armada apenas com um taco de baseball da Hello Kitty nem ao menos tendo um plano, e agora pagava o preço por isso.
Mas eu me recusava a morrer daquela forma por causa da minha impulsividade, ele não ia conseguir! Como um último recurso, esforcei-me ao máximo para lembrar de pelo menos algum movimento útil das aulas de defesa pessoal, amaldiçoando-me mentalmente por ter prestado mais atenção na beleza do professor do que na aula em si. Segurei em seu punho direito, passando meu braço esquerdo por cima dos seus, forçando-os para baixo e girei para a direita, logo saindo de seu aperto, finalizando o golpe com uma cotovelada ao lado de sua cabeça.
Não é tão esperto assim, não é? Cuzão! Comemorei internamente, mas em meio a afobação do momento, perdi o equilíbrio indo em direção ao concreto.
Cai em um baque surdo, acertando o lado direito em uma das prateleiras que ali se encontravam, derrubando algumas latas de tinta junto a mim. Aquilo provavelmente me deixaria com um grande hematoma, mas eu não podia me dar ao luxo de reclamar naquele momento. Aproveitei enquanto ele ainda estava atordoado para levantar e correr para longe dali. Se o flash me visse agora teria inveja.
Corria desengonçadamente enquanto tentava achar Ino, para que pudéssemos sair dali juntas. Eu mal sabia como estava conseguindo ter fôlego depois de tudo que havia passado mas eu tinha certeza que tinha que agradecer por essa descarga de adrenalina depois.
Eu não fazia ideia para onde estava indo, mas ao que parecia, havia conseguido despistá-lo. Escondi-me atrás de alguns caixotes de madeira empilhados, cobertos por uma lona escura. Tinha poucos minutos para recuperar o fôlego e, pela primeira vez naquela noite, pensar antes de fazer algo.
Eu precisava sair dali, isso era um fato. Mas não podia deixar Ino, afinal, eu era o motivo para ela estar naquela enrascada. Levantei praguejando pela dor que sentia por causa da queda de mal jeito, procurando por algo que pudesse usar para me defender, já que eu não fazia ideia onde meu taco havia ido parar.
Respirei fundo, reunindo o pouco de coragem que ainda me restava e saindo de onde eu estava escondida, decisão da qual me arrependi assim que olhei para frente. Ele estava bem ali, a alguns passos de distância. Com um facão. Uma porra de um facão. Aquilo já era apelação!
Filho. Da. Puta.
Como ele surgiu ali? Como ele arrumou uma facão? E como diabos ele foi tão rápido? Eram algumas das perguntas que não esperei para responder, virando meu corpo para correr na direção contrária. Mal consegui dar cinco passos antes de ser arremessada contra a parede metálica do armazém. Eu ia morrer, e eu ia morrer cheia de hematomas. Praguejei baixinho enquanto ele puxava a gola da minha camiseta, prensando-me fortemente contra a parede fria de metal e pressionando a faca contra meu pescoço. É, eu me fodi.
Era isso. Eu já não tinha mais forças, minhas pernas começavam a ceder pelo cansaço. Fechei os olhos esperando que logo começasse a engasgar com o líquido quente e escarlate que antes circulava meu corpo em uma morte um tanto quanto impiedosa, mas ela nunca veio. Meu corpo se chocara contra a parede novamente, com o dobro de brutalidade.
Minha cabeça já começava a rodar e tudo que conseguia enxergar eram borrões, quando ouvi um disparo. Foi a última coisa que ouvi antes que tudo ficasse escuro.
Puta merda, eu morri.
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