zephirat Andre Tornado

Luke Skywalker termina o seu último combate contra um adversário inesperado. Mas o fim significa um novo princípio.


Fanfiction Filmes Para maiores de 18 apenas. © Star Wars não me pertence. História escrita de fã para fã.

#Sabre de luz #Final alternativo #Equilíbrio #Força #Luke Skywalker #Snoke #Rey #Kylo Ren #Os Últimos Jedi #The Last Jedi #Star Wars #Guerra das Estrelas #Episódio VIII
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Capítulo Único


A dor era intensa. Arquejou, olhando estupidificado para o ferimento cauterizado que fumegava.


Como lhe podia doer? Como podia sentir a amputação com tanta intensidade se aquele membro era artificial? Oh, claro que lhe doía, assim como sentia tudo o que aquela mão segurava, apertava, acariciava. Corrigindo, que tinha segurado, que tinha apertado, que tinha acariciado… A prótese ligava-se ao seu sistema nervoso, antes revestida de carne e pele, agora apenas o esqueleto metálico. Era isso que lhe doía, a separação dessa estrutura do seu braço. Já fazia parte dele, era também ele próprio.


Depois uma torrente de lembranças…


Também tinha feito o mesmo com o seu pai, naquela luta intensa que travaram sob o olhar ávido do Imperador Palpatine, no palco extraordinária da Sala do Trono da segunda Estrela da Morte. Decepara-lhe a mão direita que também era artificial, o pai urrara de dor. Teria sentido a mesma dor que ele sentia agora. Prostrava-se a seus pés, o grande Darth Vader, asmático e derrotado, levantando a mão esquerda a pedir-lhe que parasse. Que se detivesse por um momento. E ele parara. E ele se detivera. E percebera que estava dominado pela raiva. Percebera que resvalava para o mesmo abismo onde Anakin tinha tombado e percebera o erro, antes do deslize final que o faria prisioneiro de uma segunda máscara negra forjada em durasteel. Olhara para a sua mão mecânica e percebera que o ciclo se completava e retomava no mesmo ponto, infindo como o Universo.


Regressando do passado, encaixando-se naquele físico que lhe doía, fez o mesmo que o seu pai. Levantou a mão esquerda, pediu que ela parasse, que se detivesse. Suspirou o nome dela.


- Rey…


Ela, ao contrário dele, não via a monstruosidade da ação, não percebia que podia sair daquela prisão de raiva e de dor. Estava demasiado envolvida na loucura, na mentira, na perdição inelutável que a fazia definitivamente num potente instrumento do Mal. A queda era completa e irreversível. Não se importaria de usar a terceira máscara negra, pois a segunda já tinha conhecido um dono tão implacável e obstinado quanto Darth Vader.


Snoke, ao contrário de Palpatine, não se ria demente. Esperava em silêncio, naquela figura dantesca de holograma gigante, ladeado pelo seu mais fiel discípulo e o maior dos cavaleiros de Ren, chamado Kylo. E era de Kylo a segunda máscara negra. Haveria uma terceira, lamentavelmente… Tantos erros, tantos abismos semeados. Talvez se Snoke gargalhasse como fizera Palpatine, talvez ela conseguisse perceber. Talvez ela despertasse e visse a amplitude da desgraça.


Porém, não havia salvação. Não, daquela vez. Ele estava sozinho diante dela, alquebrado e vencido. Os seus olhos azuis embaciaram-se de comoção. Fez um ligeiro esgar. Doía-lhe demasiado. O braço privado da mão artificial, a alma, o coração, a vida inteira.


Embora fraco e vergado, não iria desistir para já. Iria sempre tentar até ao fim. Um apelo trémulo.


- Rey… Por favor.


Ela respondeu-lhe com uma rigidez impressionante. Uma ausência tão funda como um buraco negro. Uma estrela moribunda cuja luz fora tragada por pressões incomensuráveis, uma força gravitacional que esmagava, que destroçava, que sugava. Não havia nada ali da sua antiga pupila, nem sequer um fio de esperança, uma ponta fina que pudesse agarrar e puxá-la para um abraço reconciliador. Um qualquer vestígio de amor, de compreensão, um resquício da antiga Rey, jovem e impaciente, exigindo todas as respostas que ele lhe queria dar.


De repente, sentiu que a paz iria chegar e deixou-se ir. Não era uma desistência, embora estivesse fraco e vergado. Em pé, sobre as suas pernas cansadas mas de pé, e esse era um pormenor que o diferenciava de Darth Vader. Não caíra quando fora desarmado. Não, não seria uma desistência porque ele percebeu outra via, uma possibilidade… Não lhe competia a ele a revolta. As suas hipóteses estavam esgotadas, o propósito embotado. A sua rebelião e a sua luta, finalizadas.


Suspirou e sorriu. Baixou a cabeça e acenou uma única vez, aceitando o Destino, numa resignação bendita. Como Ben Kenobi… Era simples. E ele sabia que não terminava ali.


Rey decapitou Luke Skywalker com o seu sabre de luz. A lâmina azul passou rente nos ombros do Jedi e antes que o corpo tombasse num gesto dramático transmutou-se em energia pura unindo-se à Força. As vestes murcharam e onde estivera o cavaleiro Jedi, o herdeiro dessa magnífica estirpe de guardiães da paz e da justiça, ficou um amontoado maltrapilho sem qualquer glória aparente. Tudo se esfumou com rapidez, a carne, o odor, o espírito.


Era irónico que o sabre de Anakin Skywalker tivesse servido para causar a morte de Luke Skywalker, o último dos Jedi. O domínio do pai sobre o filho existira, então, numa forma tortuosa, asquerosa, cruel. Pela mão da aprendiza transviada, a órfã de Jakku, outra profecia quebrada, Rey.


Um grito encheu a atmosfera enlutada, emergindo do silêncio.


- Não!!!!


Um sabre de luz vermelho de três pontas cruzou-se com o sabre de luz azul, um convite ao confronto, a exigência de uma segunda tentativa.


Novamente o equilíbrio, a Luz e a Escuridão.


O sorriso pérfido de Snoke que tudo tinha antecipado.


O último Jedi havia tombado. O último dos cavaleiros de Ren também. Kylo morria espezinhado pela fúria redentora de Ben, que recebia a pujança da Força em estado puro, brilho incandescente e que o fizera reagir ante a incompreensível e injusta morte de Luke Skywalker.


- Luta comigo! – exigiu Ben inflamado com aquele renascimento das cinzas da sua própria morte. Anelante e em êxtase, percebia-se vivo e rejuvenescido, pujante e palpitante. – Luta comigo, Rey!


Rey olhou-o sem emoção. Era uma máquina insensível, fabricada pela maldade que lhe fora imposta pelas mesmas falsidades que ele absorvera antes para se tornar em Kylo Ren. Alguém morto, sem chama, sem ânimo. Sem humanidade. Opaca como as trevas mais densas.


Ben, assombrado por aquela suprema epifania, afastava as falsidades, as dúvidas, todos os medos e deixava de ser máquina. Tinha arrancado a máscara negra, os cabelos molhados colavam-se na testa. Ele era alguém vivo, animado pelo poder puro que lhe fazia o sangue arder nas veias. Com toda a sua humanidade resgatada.


Se a morte do seu pai, Han Solo, o tinha empurrado para o negrume mais intenso, a morte do seu pai espiritual, Luke Skywalker, tinha-o definitivamente salvado dessas sombras revoltas.


Ben e Rey lutaram.

18 de Março de 2018 às 12:31 2 Denunciar Insira Seguir história
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Fim

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Andre Tornado Gosto de escrever, gosto de ler e com uma boa história viajo por mil mundos.

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Ninlil Anunnaki Ninlil Anunnaki
Este foi um de seus contos que me apertou o coração, André. Eu gostaria de ter visto isso no filme. Meu coração explodiria de emoção... e seria, na minha opinião, mais condizente com a saga. Ficaria profunda e coerente, um novo patamar. Pena que não seguiram esse viés, amiga. Ainda bem que você o materializou! Pudemos ter um gostinho... beijos!
March 18, 2018, 14:56

  • Andre Tornado Andre Tornado
    Muito obrigado, Bianca! Também gostaria de ter visto algo mais "adulto" em The Last Jedi, mas temos aquele filme... Beijo grande! March 18, 2018, 16:35
~