Escrito por: taeatria
Notas Iniciais: Ok, então antes de qualquer coisa eu vou deixar alguns avisinhos que acho importante vocês lerem antes de iniciar propriamente a leitura:
1) A história é totalmente ficção, mesmo assim ela se passa em um período medieval (tal qual os contos da Disney) então existem algumas falas que envolvem este período em questão. Então sim, tem falas problemáticas dos padres, tem cidadãos com pensamentos horríveis, tem bruxa queimada na fogueira, e em contrapartida tem a família de bruxas fazendo chá de camomila e feitiços com flores e incenso.
2) Eu queria ter me aprofundado muito mais na questão de bruxaria, eu pesquisei muito e eu até cheguei a começar a separar a "vertente" da bruxaria que cada membro seguiria, mas existiam muitas informações conflitantes então eu decidi deixar bem "amplo" nesse sentido, já que ao meu ver é melhor do que falar alguma informação errada e acabar prejudicando alguma religião que realmente exista.
3) Se houver algum equívoco da minha parte vocês podem e devem entrar em contato comigo, me mandem links, indiquem livros, me expliquem onde eu errei para poder arrumar qualquer erro que eu tenha feito ao decorrer dos capítulos. Isso aqui não é uma ditadura, eu não sou a senhora dona da razão, então sejam absurdamente abertos e sinceros comigo.
4) Eu não aceito grosserias, xingamentos e discurso de ódio nos meus comentários. Quer fazer alguma crítica? Faça, sou totalmente aberta e buscarei refletir e melhorar, agora xingamentos, calúnias, falas preconceituosas e críticas negativas pesadas eu não irei aceitar de forma alguma.
5) As personalidades dos personagens não são condizentes com a realidade, nem mesmo os parentescos familiares, causas ou doenças citadas sequer são existentes (é sempre bom deixar claro).
Agora, antes de desejar uma boa leitura para vocês eu gostaria de ressaltar o nome das pessoas que fizeram essa história ser possível, seja em capa, betagem, avaliação ou até mesmo em me aceitar nesse projeto tão maravilhoso. um agradecimento especial para a capista @nutella_kpop_, muito obrigada pelas capas e o banner tão lindos eu realmente não sei como você conseguiu transformar todas as minhas ideias malucas em arte e para a beta @tsukinojojo, obrigada por literalmente fazer uma limpa em cada equívoco, erro, frases sem sentido ou partes com falta de clareza que teve aqui nessa história e a transformar no que é hoje. Muito obrigada.
Finalmente, eu desejo uma boa leitura para vocês e espero que gostem da história.
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Era uma vez, há muito tempo, escondido nos mais altos e longínquos alpes — onde, posteriormente, iria se localizar parte do continente asiático — um pequeno vilarejo, perdido dentre as florestas e morros na parte mais afastada do reino, ignorado por todos os homens que ali nunca haviam vivido. Para todos os desconhecidos, que de lá só ouviram falar o nome, aquele lugar era apenas mais um povoado com as mesmas casas simples de madeira e as mesmas pessoas de sempre, que faziam os mesmos trabalhos de todos os outros locais. As mulheres cuidavam de suas casas e famílias, os homens trabalhavam como criadores de gado, ferreiros, marceneiros ou na casa de Cristo. Os bêbados de lá também ficavam no bordel e havia uma igreja bem no centro, com um padre residente, sem imaginar todos os segredos e as histórias que rondavam a mata que cercava Hoffnung.
A maioria não sabia como as histórias referentes à família Min começaram. Tinha os que diziam que se iniciara com uma noiva, os que contavam que ela havia matado o noivo e fugido para a floresta, já outros falavam que a garota havia assassinado a família inteira de seu noivo e então ido para a floresta. A partir daí, as histórias mudavam conforme o narrador: alguns diziam que a mulher foi tentada pelo Diabo e o cultuava em troca da juventude eterna; outros comentavam que a garota havia sido uma armadilha, também havia aqueles que acreditavam nas crenças de que tal noiva fora amaldiçoada desde o berço e por isso acabaria por viver isolada… mas todos concordavam em algo: alguma coisa havia acontecido naquela madrugada na floresta, algo que mudou Hoffnung para sempre.
Mas só saberíamos a verdade sobre essa história se viajássemos para o outro lado dessa narrativa. Na parte mais escura e afastada da civilização, no coração da floresta, havia uma singela casa, construída dentre as árvores grossas que se faziam vizinhas e os animais, os quais eram sua única companhia. Ali vivia uma família muito caluniada e manchada, por conta das histórias que eram repassadas através de boatos pelos cidadãos. Mesmo assim, os Mins viviam em paz, cultuando seus deuses e sobrevivendo apenas da natureza, que tanto os abençoava.
Seungyeon havia sido agraciada pelos deuses com um bom marido, um daqueles homens que um dia havia se aventurado pela floresta e se apaixonado não apenas pela paisagem, mas também pela jovem que havia sido um dia, quando estava dançando em meio a uma celebração com suas irmãs e mãe. Foram-lhe concedidos, além disso, seus sete filhos perfeitos, todos à sua maneira.
Chaerin era a primogênita, aquela que um dia herdaria tudo o que seus pais tinham. Ela carregava a beleza de suas antepassadas, em especial, da falecida avó materna, de quem sua mãe muito poucos traços havia herdado.
Logo após ela, nascera Sunghee, a segunda filha, com pouco mais de um ano de diferença. A caçadora era idêntica ao pai em todos os sentidos, desde os gestos e formas de falar até o formato do rosto, olhos, nariz e boca, os quais não negavam a paternidade da mulher.
Meses depois, a natureza abençoou a família com outro bebê, Youngsun, que, conforme crescia, mais se parecia com o retrato pintado acima da lareira da casa, cujo rosto pertencia à primeira Min que ali viveu.
Jiyoon veio para os agraciar apenas dois anos após a última gravidez. Ela era como a avó paterna aos olhos do pai, os lábios finos e os olhos de corça não deixavam dúvidas para o homem. No ano seguinte, veio a primeira filha a se parecer verdadeiramente com a mãe em praticamente todos os seus traços, Yujin, e, com três anos de diferença da menina, os gêmeos vieram finalmente para acrescentar àquela longínqua família. Subin era parecida com a irmã de sua bisavó; caso seus longos cabelos ruivos não fossem indicação suficiente, os olhos pequenos, que eram um traço recorrente naquela geração, não a deixavam mentir. Já Yoongi, o último filho, compartilhava de suas características principalmente com Chaerin, com o sorriso gengival sendo o principal diferencial.
Os dias eram todos parecidos, sem as grandes ocorrências esdrúxulas que aparentavam ser tão comuns no povoado, como a família ouvia por aí. Alguns dias se iniciavam com a caça; outros, com agradecimentos e preparações para ritos. Havia momentos em que um dos filhos adoecia, outros em que havia brigas, mas, em geral, pouco os diferenciavam da rotina de qualquer outra família.
Aquela manhã havia começado normal como todas as outras. Seungyeon preparava o café da manhã da família com ajuda de Sunghee, que cantarolava um cântico em tom baixo, e Jiyoon e Yoosung haviam saído cedo para preparar a carne que os alimentaria mais tarde. Já Youngsun, Yujin e Subin colhiam frutas, hortaliças, vegetais e ervas na horta da família, enquanto Chaerin e Yoongi traziam aos poucos os grãos ancestrais, leguminosas e sementes que eram responsáveis por parte de seu sustento. A vida era boa, simples e tranquila.
Quando Yoosung e Jiyoon voltaram de seus afazeres cotidianos, a preparação do café estava muito próxima de ser finalizada. O homem nunca havia sido discreto ou silencioso o suficiente. Jiyoon poderia não sofrer do mesmo mal, porém, quando se tratava de seus assuntos de interesse, o tom de voz era alarmantemente aumentado. Foi assim que ambos chegaram à pequena residência: com passos e vozes em um tom altivo e um bater de portas logo após, para se limparem de toda a sujeira que fizeram na preparação e cuidado do charque.
Após a cena, não levou muito tempo para as filhas de Seungyeon se tornarem presentes; as vozes calmas e diversas, junto aos variados sons de sapatos no assoalho de madeira, faziam a matriarca sentir-se em casa mais uma vez.
— Mamãe, chegamos. — Youngsun tomou a frente, junto a Yujin e Subin.
Todas as três estavam sujas de terra e alguns pedaços da grama que se alastrava por toda a região. Duas das garotas traziam cestas que não as pertenciam, mas sim a seus irmãos. A matriarca tomou um semblante confuso em seu rosto ao perceber a ausência dos dois.
— Onde estão seus irmãos? — perguntou para as três garotas. Não era corriqueiro que os dois chegassem em algum momento diferente, normalmente os cinco sempre chegavam juntos, afinal nunca se distanciaram tanto assim, não era preciso.
Os pensamentos de Seungyeon começaram a trabalhar naquele momento, indo para lados mais sombrios do que o necessário. Lembrava-se de Hyeon, sua irmã mais nova que havia se afastado demais, chegando próximo ao vilarejo. Ainda se lembrava de ouvir os gritos, mesmo de longe, de Dahye, sua outra irmã, correndo atrás da irmã mais nova e voltando aos prantos murmurando sobre fogueiras e cheiro de queimado.
As três irmãs entreolharam-se, como se tentassem chegar a um acordo sobre o que diriam sobre a irmã mais velha e o irmão mais novo. Naquele breve momento, Yoosung se fez presente. Notando o clima tenso na cozinha, abraçou sua mulher de uma forma calma, olhando para as três filhas que demonstravam susto e insegurança em suas feiçoẽs.
— Meninas, o que aconteceu? — questionou em um tom calmo, diferente de sua esposa, que parecia apreensiva com a possível resposta que receberia.
A terceira filha, então, como a mais velha, tomou a frente da situação e, botando a cesta com ervas em cima da pequena mesa, começou a explicar.
— Chaerin decidiu buscar flores para Hee, pois ela havia comentado de um novo feitiço que estava pensando em fazer e que precisava de mais botões para isso. Yoon decidiu acompanhá-la, ao que parecia, havia algumas flores silvestres que gostaria de usar para preparar tintas. Os dois falaram que não demoram a voltar — explicou de forma breve à mãe, ato que pareceu aliviar um pouco o coração angustiado com a ausência de dois de seus filhos.
Yoosung botou suas mãos nas costas da esposa, falando em tom baixo com ela por um breve momento, como se a consolasse, antes de retornar a atenção às cinco meninas que estavam na cozinha.
— Sunghee e Jiyoon, terminem de fazer o café da manhã, por favor. Também façam um chá com um pouco da macela que suas irmãs trouxeram. Youngsun, Yujin e Subin podem ir se limpar, e após isso eu peço que ajudem suas irmãs — disse o único homem presente no momento.
As cinco meninas, então, começam a dispersar-se dos locais que estavam para cumprir suas tarefas, enquanto os dois adultos saíam da cozinha para conversarem em particular.
Um pouco mais distante da pequena casa, mas não o suficiente para estarem próximos da aldeia, irmão e irmã encontravam-se em meio às árvores da fazenda. Chaerin colhia alguns tipos de flores diferentes utilizando o casaco de Yoongi como um tipo de cesta improvisada, já que as da colheita de grãos haviam sido levadas de volta a casa por suas irmãs quando os dois grupos se separaram. O último filho estava sentado no chão, com os sons da natureza o envolvendo enquanto mexia no antigo tarô, uma herança de sua tataravó que foi passada por diversas gerações até chegar a suas mãos.
— Vai jogar? — indagou a primogênita, vendo as cartas sendo embaralhadas.
Um simples “sim” foi suficiente para Chaerin, que sabia todas as manias e trejeitos de seu irmão durante uma sessão de jogo, fosse para ele próprio ou para outra pessoa.
Não demorou nem mesmo três minutos após aquele pequeno diálogo para o baralho ser aberto em meio à grama e os pequenos olhos de Yoongi se arregalarem ao ver o que o oráculo lhe falava.
— Chaerin… — chamou Yoongi em um tom baixo logo após terminar toda a sua leitura, vendo a irmã logo se virar em sua direção mais uma vez. — Acho melhor irmos, mamãe pode ficar preocupada se demorarmos muito — disse simplesmente, recolhendo rapidamente suas cartas e levantando-se.
— Vamos então, Gi. Aliás, colhi lavanda para mamãe, alecrim para Younsun, os cravos que Sunghee precisava e as suas flores, claro — comentou a mais velha de forma casual, mesmo sabendo que provavelmente havia um motivo para o seu irmão querer sair tão rapidamente da floresta, apesar daquele ser um de seus locais favoritos para meditar, uma razão que bem provavelmente apenas sua mãe saberia.
Enquanto na floresta os dois irmãos voltavam para a sua família, que estava preocupada com uma possível demora, muito longe dali, na capital do reino, um rei estava na sala do trono, com sua feição neutra mal disfarçando o medo em seus olhos. Seu herdeiro nunca chegaria ao trono, seu filho estava para morrer. Aquele era um pensamento recorrente desde quando Jimin tinha sete anos e havia sido diagnosticado com uma doença sem cura. Já fazia dez anos desde o diagnóstico do príncipe, porém era como se a dor nunca passasse.
— Então, o máximo que Vossa Majestade pode fazer por Vossa Alteza é orar por seu herdeiro em conjunto à sua família. Caso nada disso funcione e a saúde dele continue a se deteriorar, eu aconselho Vossa Majestade a comprar um pedaço dos céus para termos a certeza que o príncipe terá conforto ao chegar ao Reino de Deus — disse o padre de uma forma respeitosa, vendo a figura do Rei permanecer imperturbável, como de costume.
— Claro, o senhor está certo. Por favor, siga o conselheiro Seung, para ele lhe dar uma simbólica quantia em prol do conforto de meu filho em meio ao Reino dos Céus — pediu em um tom educado.
Logo depois, saíram o padre e o empregado da coroa que o acompanhava, com este último levando Vossa Reverendíssima para fora dos portões após o líder religioso ter conseguido o valor esperado para a promessa de um local aos céus para o príncipe quando chegasse a hora de sua partida.
Após ficar sozinho em meio à sala do trono, Jihoon finalmente despencou. Sua estrutura corporal, que antes se demonstrava impassível, logo sentiu a desolação costumeira de quando estava só ou com sua amada esposa há tantos anos.
Sentia-se frustrado consigo mesmo, com sua família, com todo o dinheiro e poder político, com seu povo, com os padres, bispos e papas e até mesmo com Deus, pois nada parecia ser suficiente para darem mais saúde ao seu único filho. Sentia-se impotente sempre que observava a feição cansada e dolorida que era uma velha conhecida do Príncipe Regente e que lhe causava tanta agonia. Seus esforços pareciam nulos, causando apenas desolação e dor por não ter o suficiente para impedir a única coisa que precisava desesperadamente parar: a morte.
— Marido? — O tom doce e um tanto quanto quebrado de Aureum fez o Rei ajustar-se momentaneamente em seu trono. Os olhos, antes repletos de vida e paixão de sua esposa, naquele momento só transpareciam a dor de Vossa Majestade. — Seung contou-me sobre as palavras do padre — relatou, sentindo seus olhos arderem, mas deixando o seu rosto permanecer como em todos os outros dias. Assim como para o Rei, a dor havia se tornado rotineira para ela.
Ambos não falaram nada. Não precisavam. O sombrio som das palavras ressoava em suas cabeças, mesmo sendo ouvido há tanto tempo.
Eles sabiam que Park Jimin, um filho amado e um príncipe querido, iria adormecer um dia como em qualquer outro, rodeado de todo o conforto e luxo que poderia ter em meio àquelas tão gloriosas paredes, suas feições iriam relaxar e toda a dor sumiria, como se finalmente estivesse curado, porém apenas aqueles que estivessem lá saberiam que dos sonhos ele nunca acordaria. Seria levado pela morte para nunca mais voltar. E isso os assustava e os entristecia mais do que qualquer outra coisa.
Aos poucos, os boatos foram sendo espalhados pelo povo, afinal já fazia anos desde que o jovem príncipe fora visto por alguém de fora do castelo. Os empregados pouco ou nada falavam; os padres, muito menos, e dos médicos que ocasionalmente iam só restava o silêncio a respeito do paciente. Muitos falavam sobre uma possível doença ou algum tipo de exorcismo sobre a saúde de Vossa Alteza. Alguns temiam o que ocorreria, outros diziam como achavam que a princesa Baram, segunda filha do Rei e da Rainha Park, assumiria o trono junto de seu marido, Kim Seokjin. Os idealistas especulavam sobre um possível fim de toda a monarquia, e os crentes achavam que, qualquer que fosse o destino, estava dentro dos conformes dos planos de Deus, mas todos carregavam a mesma opinião popular do lado de fora das paredes do castelo: o Príncipe Regente não sobreviveria por muito tempo, independentemente do motivo.
Por longas semanas, tais burburinhos continuaram até que Vossa Majestade, desesperado por um milagre, lançou um último comando à sua Guarda Real: seus cavaleiros deveriam ir em busca de algo, ou alguém, para curar seu príncipe ou, pelo menos, prolongar seu tempo de vida. Não lhe importava se fossem criminosos, descrentes odiosos ou até adoradores de Satanás. A idade, inteligência ou qualquer outro parâmetro também era irrelevante, a única coisa que desejava era livrar seu filho de toda dor e sofrimento dos quais, desde a tenra idade, era vítima tão cruelmente.
Então, as buscas começaram por todo o reino, desde as províncias mais longínquas até as mais próximas ao castelo; milhares de mulheres, homens, jovens e até mesmo idosos passaram pelas paredes dos castelos. De tudo um pouco fora visto pela família, que parecia cada vez mais sem esperança vendo seu filho e irmão continuar a adoecer tão precocemente sem nenhum tipo de melhora.
Aos poucos, as pessoas foram diminuindo, os sussurros aumentando e a saúde de Park Jimin piorando. Ninguém sabia o que fazer, os cavaleiros se encontravam perdidos e a família real estava em um completo amargor inconsolável, enquanto o príncipe observava tudo de uma forma cansada, esperando apenas o momento em que cairia nos braços da entidade que, como um ente querido, o acompanhava por toda sua vida, para então não acordar mais. Mal sabiam eles que seu último suspiro de esperança viria através um jovem escudeiro, que um dia parou em um bar pobre buscando uma simples bebida.
Jeon Jungkook não costumava ir a locais assim, porém as últimas semanas haviam sido tão movimentadas e frustrantes que precisava beber para esquecer — ou pelo menos esquecer do último golpista que fora levado ao castelo para uma cura milagrosa que, obviamente, não aconteceu. Suas esperanças já vinham definhando, assim como as dos outros cavaleiros e escudeiros. Todos estavam cansados. Uma parte de si queria ajudar a achar algo para que o príncipe ao menos não sentisse dor; a outra parte, porém, gostaria que Vossa Alteza apenas se fosse de uma vez, para não precisar passar dias e mais dias em cima de um cavalo apenas para se decepcionar com os resultados falhos de sua busca.
Então, seu refúgio havia sido ali, em um bar rudimentar com uma aparência decadente, onde a maior parte dos homens sentados ou eram muito pobres, ou muito bêbados. Eram pessoas que não tinham nada a perder e não se importavam com absolutamente nada, nem esposa, nem filhos; nada além de juntar dinheiro para outro copo de bebida assim que saíssem daquele local.
Jungkook, então, pediu a indicação do garçom, que voltou com uma bebida que não fazia a mínima ideia do que era, ou da sua composição, porém tinha certeza de que seu pai saberia, afinal ele era um daqueles homens que só se importavam em sustentar seu maldito vício.
— Adoradores do Satanás, era isso que os Mins eram! Eu mesmo vi aquela vagabunda ser queimada viva quando criança, meu pai foi um dos carcereiros dela. E sabem o que ele dizia? Que ela nunca nem ao menos pediu perdão a Deus em algum momento, tinha orgulho de ser fruto do demônio! — o bêbado falava de uma forma altiva e meio embolada, mostrando que estava ali há muito tempo, desde antes da chegada de Jungkook, que logo passou a escutar aquele diálogo. — Ela jogou uma maldição no reverendo, por isso que, depois que aquela bruxa morreu, ele adoeceu e logo o padre Jung assumiu — contou e por mais alguns minutos continuou a falar para quem quisesse ouvir sobre como os Mins eram uma família maldita.
— Desculpe, senhor — disse o escudeiro, chamando a atenção do bêbado, que murmurou algo como “o que foi?” para Jungkook. — Você poderia me contar quem são os Mins? — questionou de uma forma educada. Bebeu mais um gole de sua bebida, vendo a expressão de asco que tomou o rosto, anteriormente indiferente, do homem malcuidado à sua frente.
— Os Mins — praticamente cuspiu a pronúncia do sobrenome, começando mais uma vez a sua narrativa. — Adoradores do Diabo, isso que eles são! Uma família repleta de bruxas, que vem amaldiçoando Hoffnung há décadas! Vivem na floresta fazendo magia negra e atraindo mais e mais desgraça para todos os pobres cidadãos — contou, odiosamente.
Os olhos do jovem escudeiro se arregalaram brevemente com o depoimento. Não se importando, o homem logo continuou a falar.
— Tudo começou quando Min Hayun matou o noivo e a família dele e fugiu para dentro da floresta que cerca a cidade. A maior parte das pessoas nem ligou muito na época, já que todo mundo sabia que ninguém conseguiria viver lá — diz com uma breve risada, mas o tom amargo ainda estava vívido em suas palavras. — Daí sabe o que aconteceu? Aquilo era um sacrifício para o Diabo, e, pelo o que dizem, ele deu para aquela prostituta, além da vida, mais dois bebês-diabos. Então a família resolveu continuar vivendo e crescendo ali, levando mais jovens para engravidarem as garotas e depois serem mortos em seus próprios rituais de adoração a Satã — terminou a história, logo pedindo mais uma dose de bebida.
Ao perceber que o bêbado lhe dera informações o suficiente, Jungkook deixou o copo de bebida meio cheio em sua mesa e entregou dinheiro ao garçom mal-encarado antes de sair porta afora.
Contou na manhã seguinte ao chefe da Guarda, Namjoon, sobre as tais façanhas dessas bruxas escondidas em meio à floresta de Hoffnung, fazendo os homens do Rei darem-se ao trabalho de descobrir onde se localizava o tal vilarejo.
— Chefe Kim, eu insisto em dizer que isso é um equívoco! — em um tom incrédulo, o cavaleiro Sang falou ao chefe Kim, que ordenava a expedição até o vilarejo de Hoffnung.
Ele não poderia acreditar na audácia do escudeiro ao propor aquele lugar esquecido por Deus, e muito menos que o chefe da Guarda Real acataria tal sugestão. Levar a ideia para frente, então, estava além do inaceitável aos seus olhos.
— É só a história de um bêbado, ele poderia nem ao menos saber o que está dizendo! — retruca, observando a expressão séria de Namjoon, que transparecia o desgosto pelas falas de seu cavaleiro.
— Senhor Sang, Vossa Majestade foi bastante clara quando ordenou que qualquer ser que tivesse poder o suficiente para curar o filho dele deveria ser trazido ao castelo, não seria de importância o gênero, a idade ou as crenças. Iremos ao povoado de Hoffnung como fomos a tantos outros à procura de uma solução para um problema devastador que atinge nosso povo. Se a família Min existir e for mesmo capaz de salvar Vossa Alteza, não será problema nenhum para a Coroa, portanto não deve ser um problema para o senhor também. — As falas foram proferidas de uma forma séria, não deixando margem de resposta, nem para Sang Hyunjoon, nem para quaisquer outros cavaleiros.
Então, a viagem se iniciou.
Por longos dias, os servidores da Coroa viajaram, alguns adoeceram em meio ao caminho, dificultando a viagem; outros sentiam-se cada vez mais cautelosos sobre onde estavam indo e quem levariam de volta para a família que juraram proteger e servir. Isso dificultava o ritmo da viagem, pois, além de parar por dias em busca de melhoras, Kim Namjoon tinha que, cotidianamente, lembrar os seus cavaleiros do motivo de estarem naquelas terras.
Quando chegaram à cidade, logo começaram as perguntas sobre o que a Cavalaria Real fazia por ali. Muitos estavam esperançosos, pensando que finalmente se livrariam do “mal” que rondava a aldeia, enquanto outros duvidavam e pensavam que era sobre algum dos muitos forasteiros que vieram recentemente a Hoffnung.
Em um primeiro momento, quando disseram ao padre o que procuravam, próximos de alguns de seus fiéis, as comemorações vieram com força, com a esperança de que aqueles que eram ditados de forma tão fervorosa como algo maligno seriam eliminados finalmente. Isso os levou a um jovem curioso em frente aos membros da Guarda com um quê de desafio. Seu nome era Jung Hoseok, o sobrinho do padre.
— O que vocês querem com os Mins? — perguntou objetivamente.
Ele era um dos jovens mais cotados para guiar a Guarda em meio à densa floresta, senão o mais, afinal desde a tenra idade era pego se esgueirando pelo matagal, apesar das súplicas de seus familiares sobre o assunto. Óbvio que, por passar tanto tempo lá, logo conheceu um jovem que regulava de idade consigo e que facilmente fez cair por terra todos os estereótipos que tanto eram difundidos. Aos dezenove, Hoseok poderia ser considerado muito mais esperto do que diversos anciões da aldeia, simplesmente por não cair nos boatos acerca da tão comentada família.
— Se for por conta dos boatos, vieram em busca da família errada. Por mais que digam que eles são frutos do Diabo, isso não passa de um equívoco. Eles são pessoas sãs e boas, e, se querem minha ajuda para matá-los, eu prefiro que me enforquem. — Em um tom rude, ele proferiu cada palavra com a determinação pairando em seus olhos, o que de certa forma causou admiração no chefe Kim, que logo lhe respondeu:
— Não temos interesse em ferir a família Min, senhor Jung. Fomos mandados pelo Rei por conta de algo particular, porém que requer a ajuda dos Mins e de seus poderes — contou diplomaticamente, porém a sinceridade era perceptível em cada palavra, o que aplacou um pouco da desconfiança de Hoseok, foi o suficiente para o jovem concordar em guiá-los em meio à floresta.
— Estejam prontos após o almoço. — Foram suas últimas palavras naquele dia antes de sair de cena.
Namjoon se virou para os guardas e mandou eles se prepararem o mais cedo possível no dia seguinte e logo se retirou como o Jung. As próximas horas pareceram voar e, quando os cavaleiros e escudeiros notaram, já estavam em seus cavalos, começando a seguir Hoseok, que estava a pé, porém parecia saber exatamente por e para onde ir.
Eles não sabiam ao certo por quanto tempo cavalgaram em meio àquele lugar, apenas sabiam que, quando chegaram, se surpreenderam com o local. Não era nada como os boatos diziam, nem a casa, nem a região à sua volta e muito menos os seus habitantes. Era uma casinha pequena, porém bonita, com uma horta e várias flores e plantas em meio a todo o local, e sete pessoas estavam espalhadas por ali.
A mulher e o homem mais velhos — os pais, pelo que parecia — conversavam calmamente próximos à entrada da residência. Uma garota parecia escrever avidamente em um caderninho de couro, enquanto outras três dançavam e uma quinta colhia algumas frutas. Parecia uma família normal e feliz.
— Viram? Eles são uma boa família, nada como o que as pessoas acham, apenas uma família normal que tem um sistema de crenças diferentes. A matriarca é Soohyun, seu marido é Yoosung; ele pegou o sobrenome dela, não ao contrário. A mais velha é… — A fala de Hoseok foi interrompida por uma voz calmante e melodiosa, como uma canção sussurrada.
— Chaerin. Depois dela, vêm a Sunghee, a Youngsun, a Jiyoon, a Yujin e os gêmeos: Subin e Yoongi, o único menino e um bom amigo de Hoseok — continuou a matriarca sem aumentar o tom de voz ou os acusar de nada.
Os braços da mulher pousaram nos ombros do garoto enquanto olhava nos olhos de Namjoon.
— Chaerin e Yoongi provavelmente estão perdidos pela floresta, mas em breve voltarão. Enquanto isso, eu os convido para tomar uma xícara de chá. Jiyoon, você faria o favor de amarrar os cavalos dos cavaleiros para eles não fugirem? — Ela dirigiu sua fala e o olhar para filha que colhia alguns frutos e logo concordou, colocando a cesta no chão e indo em direção à mãe.
Os diversos homens se entreolham antes de descerem de seus cavalos, levando-os para junto da garota e do pai, que pouco a pouco começaram a arrumar os lugares. Fora uma sorte que, para não parecer ameaçador, Kim Namjoon trouxera apenas seis cavaleiros e dois escudeiros — um deles sendo Jungkook, que ouvira sobre a família em um primeiro momento —, afinal, além de estarem em um local desconhecido à procura de pessoas perigosas, não era de excelência ideia rivalizar a família de feiticeiro, não quando eles rapidamente se tornaram uma das únicas esperanças para a melhora de seu príncipe. Como não saberiam quanto tempo demoraria para o homem e a jovem arrumarem seus cavalos. Hoseok apenas fez um sinal para seguirem a mulher enquanto ia pegar a cestinha que antes estava nas mãos de Jiyoon para logo começar a colher morangos.
Ao entrarem na residência, Namjoon observou cautelosamente todos os cômodos. Algumas velas estavam dispersas pelo local junto de flores, ervas e até mesmo pedras, mas nada assustador. A decoração era diferente de tudo o que já havia visto: havia panos, pinturas de constelações, feitas claramente à mão, do sistema solar e tudo mais o que se poderia imaginar, mas nada pareceria macabro, ou algo parecido como tudo que ouviram nas regiões próximas e no próprio povoado. Pelo contrário, a residência parecia muito acolhedora. Porém isso não os faria baixar a guarda.
Na cozinha, Yujin automaticamente fora ao encontro da chaleira, pegando ervas e começando a preparar o chá, enquanto sua mãe sentava de frente para Kim Namjoon, ambos observando qualquer coisa que poderiam obter em proteção aos seus. Desconfiados, porém respeitosos à mesma medida.
— Então, senhores, o que fazem em um lugar tão distante? Hoffnung é uma parte isolada do restante de nosso reino; apesar de ainda fazer parte das terras reais, é considerado um povoado muito pequeno e cotidianamente desconhecido a todos os forasteiros que por aqui andam — falou a mulher, enquanto suas filhas providenciavam o chá.
Yujin preparava a bebida, Youngsun secava algumas xícaras, Sunghee colocava o jarro de leite na mesa calmamente, junto das colheres, e Subin arrumava todos os biscoitinhos que seriam servidos também.
— Após vários desastres e charlatões, Vossa Majestade chegou à sua família, que, pelo que dizem, é capaz de fazer grandes coisas — começou Namjoon, sem dar muitos detalhes, mas demonstrando que não pretendia esconder o que queriam ali. — Vossa majestade está ansiando por ajuda e…
— Perdão por interromper, porém a maior parte dos boatos sobre minha família são equívocos dos moradores do povoado, que, como desconhecem nossas crenças e nossa história, insistem em atacar. — Uma voz feminina se fez presente, assim como a forma forte de uma figura loira, que trazia cestas com um garoto um pouco atrás de si, logo indo guardar algumas plantas desconhecidas. — Yujin, trouxe mais lavandas e algumas peônias para o seu perfume.
— Chaerin, querida, interromper não é educado — a mãe repreendeu em um tom gentil. — Porém temo que minha filha esteja certa, senhores. Nossa crença é baseada unicamente na natureza, não podemos lançar feitiços incríveis ou fazer pessoas morrerem com apenas um olhar meio atravessado. Não fazemos pactos com o Diabo nem somos seus seguidores fiéis, porque não acreditamos nele, da mesma forma que a maioria de nós aqui não acredita no seu deus — falou brevemente.
A fala da mãe chamou a atenção do jovem de dezoito anos, Yoongi, que os encarava, lembrando-se daquele dia na floresta em que ele e Chaerin atrasaram-se e sobre o que as cartas lhe contaram. Por um momento, seus olhos saíram do tarô que insistia em embaralhar, uma mania que havia adquirido desde que começara a jogar.
— Também não podemos parar a morte — Yoongi comentou em um tom baixo. Foi a primeira vez que os cavaleiros escutaram a voz dele.
Muitos deles, naquele momento, pareciam desconfiar das falas da família; outros aparentavam estar frustrados, por perderem dias de viagem a troco de absolutamente nada. Porém Jungkook observou toda a cena familiar por um momento, como se estivesse pensando em algo, enquanto as garotas serviam o chá e os biscoitos para todos, da mesma forma que a visão de Namjoon acompanhava a primogênita guardar todas as ervas em seus devidos potes de forma precisa. O Jeon, então, cochichou algo brevemente para o chefe da Guarda, que concordou com suas palavras, para o desespero dos outros homens.
— Os senhores não podem parar a morte, porém acreditam que poderiam fazer alguma melhora na saúde de um jovem doente? — indagou Namjoon, vendo as mulheres e o único garoto se encararem por um momento, como se estivessem discutindo apenas com um olhar.
— Não poderíamos dar-lhes certeza, meu senhor — respondeu Subin em um tom ameno. Suas palavras pareceram satisfazer Namjoon, mesmo que fossem tão ambíguas.
Então ali um acordo foi fechado: três dos Mins viajariam até o reino e tentariam, pelo menos, amenizar os sintomas do príncipe. Foi decidido que seriam Chaerin, Youngsun e Yoongi os escolhidos para a tarefa.
Nas semanas seguintes após o acordo, a família preparou-se para a despedida. Malas foram feitas; flores, ervas, frutos e grãos foram colhidos, assim como objetos foram esculpidos e runas foram desenhadas por eles. Os homens do Rei arrumaram suas coisas para seguir viagem, enquanto os Mins se despediam tristemente, com abraços e bênçãos, antes de os três seguirem viagem, com seu futuro prestes a mudar a vida de muitas pessoas.
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Notas Finais: Então, é basicamente isso, eu espero que vocês tenham gostado do início da história, comentem o que vocês acharam pois isso me ajuda demais a evoluir e até o próximo!
Obrigado pela leitura!
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