Tudo ficaria bem…
Era o que Gaara pensava a cada soco que lhe davam.
Fechou os olhos com força, tentando não ver o que estava à sua frente, e não se tratava dos seus agressores, mas o corpo de Lee ali, tão próximo a si, ensanguentado, morto.
Morto como sua alma, talvez como ele próprio depois de mais algumas intermináveis horas nas mãos daqueles homens tão odiosos.
Nenhum soco ou pontapé doeria mais que perdê-lo, mas ao menos ele já não sofria, já não era punido e isso o fez pensar.
Era um crime amar? Era um crime ser amado?
Por que aqueles homens se incomodavam tanto com o seu amor? Ele não era amor? Não era belo? Não era vivo?
Por que, em vez de também amarem, os maltratavam tanto?
Por que lhe infringirem tanta dor? O que de mal havia feito?
Por que lhe proferiam tantas ofensas entre um golpe e outro? Por que o chamavam de aberração? De bicha? De viado? Aliás, o que de mal havia nisso? Ele não era diferente, ele era igual a todos ali, ele era um ser humano, que agora era tratado como animal.
Ele não entendia, ele só esperava que tudo ficasse bem.
As lágrimas logo secariam, a dor logo cessaria, as feridas sarariam, seu coração ainda amava. Tudo ficaria bem em breve, assim ele pensou de novo.
Já não importavam os motivos para lhe surrarem, apenas uniu suas mãos como se fosse uma reza, um clamor para que tudo ficasse bem.
Em resposta, foi cuspido. Achavam absurdo que ele tivesse a coragem de invocar o nome de Deus.
Mas não era ele filho da criatura divina também? Não devia ser amado sendo “o próximo” daqueles irmãos de alma?
O único “próximo” que eles amavam era o próximo golpe, um golpe ainda mais violento.
Tudo o que Gaara via era o sangue. Tudo o que ele sentia era a dor. Tudo o que ele queria era que tudo ficasse bem.
Tudo ia ficar bem… Ele pensou quando foi golpeado com aquela faca, lançado próximo aonde seu grande amor já jazia e ele apertou a mão agora gélida de Lee.
Fora ele quem lhe ensinou que tudo ficaria bem um dia e ele não duvidava.
Tudo ficaria bem… Ele pensou quando o sangue se fez gostoso em sua boca.
Tudo ficaria bem… Foi o que ele sentiu naquela serena escuridão que lhe tomou o caminho.
Tudo ficaria bem… Ele sorriu quando então a luz lhe chamou.
Ele ainda era indestrutível, ele ainda podia ser feliz, ele ainda era amor, mesmo àqueles que lhe causaram todo aquele sofrer.
Ele ainda acreditava que tudo ficaria bem e foi pensando nisso que ele então sentiu que seu corpo já não lhe pertencia.
Talvez o céu fosse seu novo lugar. Talvez a esperança que Lee lhe havia apresentado fosse real, afinal.
Lee também era um anjo, não era? Com certeza era e assim ele voou para os céus.
Ali ele teve a certeza.
Tudo ficaria bem!
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