Estar Presente Seguir história

Estar presente. Tenho pensado muito nisso.

Observo que o meu corpo atua no espaço físico e se revela aos outros olhos como ente material inegável. A minha presença parece incontestável.

Não obstante, o meu corpo não é uma mesa, um sofá nem uma parede. É invólucro da energia vital, da minha essência divina -- a alma eterna --, e da minha consciência temporal, restrita, regida por um ego complexo, refém dos conteúdos subconscientes, basicamente frágil, embora proclame a sua soberania e defenda, com unhas e dentes, a sua primazia.

Esse ego controla a minha idiossincrasia, os focos preferenciais da atenção, o que entendo que percebo. Mais: permite que emoções -- todas, primitivas -- banhem o que chamo de razão, geralmente, de raciocínio lógico. (Ah! As minhas certezas e opiniões banais!)

Esse ego, metido à protagonista, não para de se impor, de se intrometer em todas as situações, de trazer para si, em sua não assumida megalomania, a pretensa importância de ser muito especial, considerando-se o centro do universo.

E, aí, está o problema. No decorrer da vida, diante do Outro, como um dândi vaidoso, costuma atentar à própria fatiota e à ridícula cabotinagem, ocultando de si mesmo os andrajos, a profunda frivolidade.

Nos ambientes aonde vai, invisível, pavoneia-se. Absorto, às voltas com a sua ilusória excelência, não vê, não ouve, não identifica o Outro (também imerso na intrínseca fatuidade).

Trata-se de um corpo em frente de outro corpo. Ambos, substancialmente, ausentes.

Quero e busco estar presente, aberta às possibilidades de compreensão das diferenças, de pleno entendimento, de trocas múltiplas, de sincero acolhimento do Outro. Tenho certeza de que isso não é impossível, desde que me assuma mero animal humano --transitório, falível, comum... Sobretudo, não mais do que um pequeno crisol onde, sutil e silenciosamente, manifesta-se a incomensurável abundância divina contida na minha alma.