Eu costumo olhar os flocos de neve caindo pela janela. Costumo pensar em milhões de possibilidades que poderiam acontecer nas próximas horas, pois tudo pode acontecer em vinte e quatro horas.
Vinte e três horas atrás eu estava em Chicago. Estava observando a neve cair pela janela daquele pequeno quarto e agora estou em um dos principais bairros da Filadélfia, na Pensilvânia.
Em menos de vinte quatro horas, existe um leque de possibilidades; assim como existem escolhas para a morte e para vida. Eu fiz algumas escolhas e algumas delas me trouxeram até aqui.
Tinha uma passagem na minha cama e uma anotação: Um novo jeito de começar, vá e tudo será resolvido.
Na posição que eu estava eu não tinha como negar.
Abro minha mala vermelha, que não é tão grande. Eu a encaixaria como mediana. Procuro meu cachecol amarelo entre as roupas bagunçadas e tento ser cuidadosa, mas não tem como não bagunçar mais. Olho no relógio e percebo que se eu não sair de casa em dois minutos eu chegarei atrasada e isso não é bom.
Bela maneira de recomeçar aqui.
Perco a paciência rapidamente e jogo a minha a mala sobre a cama. Achei! Coloco meu cachecol amarelo e dou uma volta com ele no pescoço. Desço a escada correndo e abotoo meu sobretudo. Acho no chão minhas botas e calço às pressas.
Meu primeiro dia aqui, não posso falhar. Abro a porta da casa desesperada e olho a mensagem no celular com o endereço que me foi enviado.
Saio correndo pelas calçadas assim que vejo o ponto de ônibus a minha frente. A neve não ajuda muito a correr. Tenho a leve impressão que aqui neva mais que em Bellwood.
Meus pés praticamente afundam no chão e em alguns centímetros de gelo. Sigo correndo e segurando a minha bolsa de lado. Céus! Quando que me tornei tão sedentária? Fico surpresa com a minha falta de ar, no entanto consigo chegar no ônibus que estava fechando as portas.
— Com licença, esse ônibus passa na 800 Spruce Street, Philadelphia? — pergunto a motorista morena e ela afirma. Agradeço e procuro uma cadeira vazia e ali me sento.
Vejo pela janela os prédios antigos da Filadélfia. Aqui é tão histórico, diferente de Chicago e de Bellwood. A arquitetura é bonita, alguns prédios me lembram castelos ou aquelas mansões antigas de livros e filmes. Não há tantos carros, o que é um ponto positivo.
Fico atenta para não perder o lugar que devo descer. Afinal, eu não conheço nada daqui.
Coloco música para tocar, preciso relaxar um pouco e tentar afastar o nervosismo que insiste em se apoderar de mim. Meu velho tique de balançar as pernas não me abandona. Afrouxo um pouco o cachecol, sentindo meu coração apertar e aquela velha sensação de falta de ar.
Não, isso não vai me colocar para baixo dessa vez. Não, dessa vez.
Do outro lado da janela vejo o prédio qual procuro. Me levanto correndo e peço parada, o ônibus para e eu saio.Aqui está mais frio, minha vontade é de voltar para o quentinho do ônibus. Ou o quentinho da cama desconhecida na qual acordei.
Olho o letreiro e leio em voz alta: — Pennsylvania Hospital.
Repito para mim mesma o nome do hospital, tentando gravar as letras em minha mente.
Me sinto tão pequena e insignificante diante do grandioso prédio à minha frente. Fico algum tempo parada na frente do hospital vendo a movimentação. Vejo médicos, e entre eles alguns enfermeiros.
O silêncio é quebrado quando a sirene da ambulância se aproxima.
Eu levo a mão ao peito e flashes assolam minha cabeça. Meu coração volta a acelerar e a minha respiração falha. Isso não vai me derrubar hoje, e se depender de mim, nunca mais.
Dou passos largos e apressados para a entrada do hospital. A porta automática abre a minha frente e entro. Aqui dentro está quente e confortável. Estamos na época do natal, e há uma grande árvore decorada no centro do saguão. Parece ser um bom ambiente.
— Sakura Romanov. — uma voz me tira do meu estado de admiração e memórias pungentes. O homem desconhecido à minha frente está com o meu nome falso.
— Eu, sim. Prazer. — estendo minha mão, tentando ser educada.
— Senhorita. — a voz do homem volta a repetir meu nome e eu olho melhor para ele. — Ou eu deveria dizer… Haruno. — meu corpo se retrai e arregalo meus olhos. — Yugakura Hidan. Chefe da cirurgia e responsável pelos residentes, orientador do programa de residência.
— Prazer em conhecê-lo. — digo ainda sem jeito. Ele é um homem bonito, deve ter no máximo uns quarenta e cinco anos, talvez? Cabelos grisalhos e queixo quadrado, um bom porte.
— Recebi seu currículo ontem. — tremo e sinto uma pequena aflição quando ele fala.
— Você sabe a verdade sobre m…
Tenho minha frase cortada por ele.
— Não se preocupe com isso. Porém tenho uma observação a fazer: não toleramos atrasos.
— Eu, eu… Ah, não! Esqueci. — bato a mão na cabeça. — Mil desculpas, não foi a intenção.
— Sei que teve uma longa viagem de Chicago para cá. Apresente-se a sala dos residentes em dez minutos. Teremos uma apresentação.
— Não está tudo perdido? — pergunto e já pensando que fiz algo errado, como sempre.
— Não, não está. Vai dar tudo certo. — ele toca meu ombro, fazendo-me olhar a mão dele. São grandes.
— Foi você que me mandou pra cá? Você sabe sobre o que aconteceu? — pergunto receosa. Será que ele que me trouxe até aqui? São tantas dúvidas pairando sobre a minha cabeça.
— Não foi eu que te trouxe até aqui, mas sei um pouco sobre o que houve. Até mais. — ele fala educadamente. Um verdadeiro gentleman americano.
Novamente volto a ficar sozinha no hospital, e pauso para encarar a árvore de natal. Me aproximo desta e noto que as estrelinhas tem o nome de funcionários do hospital. Tenho vinte minutos até achar a sala dos residentes.
Muitas incertezas rondam a minha cabeça nesse momento e especialmente sobre o senhor Yugakura. Ele soube sobre mim e ainda está me ajudando a mandado de alguém. Não consigo entender o porquê disso, porém se eu quiser encontrar a verdade, terei que ficar.
Não demoro a encontrar a sala, e ao olhar pela janela vejo que tem pessoas lá dentro. Acredito que sejam os novos residentes. Respiro profundamente, chega a inflar o meu peito.
Não aja diferente dessa vez e principalmente: Não seja você.
Abro a porta e os olhares de todos caem sobre mim. Há um loiro forte, uma morena de olhos perolados, uma loira de olhos azuis e uma outro morena de coques no cabelo.
— Oi! — digo. Alguns acenam, outros parecem não se importar.
— Oi! — o loiro muito bem afeiçoado fala. — Residente?
— Sim. Esse é o local, certo?
— É. Bem-vinda.
Procuro um lugar para me sentar, então o loiro me mostra uma cadeira vazia perto dele. Me sento ao lado dele e o agradeço pelo gesto gentil.
— Que horas eles irão falar conosco? — a loira de olhos azuis pergunta.
— Desculpa a demora. — o senhor Yugakura aparece na sala ao lado de uma mulher de cabelos roxos. É instantâneo, todas as residentes olham deslumbradas para a mulher estonteante a nossa frente. — São os mais novos residentes do hospital. Meus sinceros parabéns, eu sei o quanto lutaram para entrar aqui e seus esforços valeram a pena.
— Hoje vocês são médicos, devem se orgulhar disso. A especialização é um sonho para os novos residentes, mas desde já eu aviso que isso daqui é um jogo e esse jogo a partir de agora vai virar um pesadelo. De agora em diante na vida de vocês, os segundos que levam para tomar uma decisão vão decretar se o paciente vive ou morre. Vocês terão acertos, mas também muitas perdas. Espero que levem isso a sério. A propósito, me chamo Dra. Konan, e sou especialista em cardiologia. Torço para que joguem bem.
— Bem, dadas as palavras de incentivo. Vamos para a apresentação. — o outro continua.
— Uzumaki Naruto, vinte e cinco anos vindo de York interior. Boas notas. O que almeja?
— Quero ser um cirurgião de trauma.
— Blake Ino, vinte e quatro anos e vinda de Oakland. O que pretende seguir? — ele pergunta para ela. Eu começo a estalar meus dedos, estou nervosa e pensativa.
— Oncologia.
— Tenten Mitsashi, vinda de Hong Kong. — todos nós olhamos para a jovem chinesa. — Vinte e cinco anos. O que te traz de tão longe?
— O sistema de saúde daqui é um dos melhores do mundo. Ganhei uma bolsa para aprender um pouco aqui e depois aplicar no meu país.
— Hinata Hyuuga, vinte e quatro anos vinda de San Diego. O que quer alcançar?
— Obstetrícia. — ela fala curto.
Eu serei a próxima, ao contrário de todos aqui presentes, eu não decidi o que quero ou o que irei fazer. Honestamente eu nem sei como caí aqui, já que mal batalhei por tudo isso.
— Madeline Sakura, vinte e cinco, vinda de Chicago. Te trouxemos aqui. — ela fala e todos os outros voltam a me olhar. Fico sem jeito é surpresa por ela ter mudado o meu sobrenome.
A Dra. Konan vai até a porta e parece estar falando com alguém e então volta para cochichar algo no ouvido do Yugakura. Ele assente e diz: — Ok. Mande entrar. É o nosso último residente de última hora.
Um cara entra na sala, está de jaqueta preta, calça jeans surrada e tênis. A atenção de todos vai para ele. Ele é alto, olhos negros marcantes e cabelo pretos na altura do queixo quadrado e com uma covinha no meio.
Bonito. Observo minhas colegas e acho que elas também acharam.
— Uchiha Sasuke, vinte e seis anos vindo diretamente da Curran-Fromhold, penitenciária masculina da Filadélfia.
Ele acena um pouco irônico.
— O que almeja?
— Sair da condicional. Bom revê-lo, Hidan. — ele fala.
E nós simplesmente ficamos sem palavras, nos entreolhando sem entender nada.
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