calixtosama Calixto Sama

Era uma vez um príncipe que desistiu da princesa da torre e foi viver com a bruxa na floresta.


Fantasia Medieval Para maiores de 18 apenas.

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Capítulo 1 - O príncipe

Ele cavalgava despreocupado naquela tarde.


Estava caçando, o arco a postos, pronto para encontrar uma presa.


Mesmo sabendo que há dezenas de serviçais prontos para atender qualquer um de seus pedidos, nada poderia substituir a sensação de liberdade que caçar lhe traz.


Bom, ao menos era isso que ele acreditava.


Quando o cavalo se assustou e em meio a pulos e esperneios lhe jogou no chão, sentiu-se zonzo após a queda.


Por um momento acreditou estar delirando quando ouviu uma voz doce cantar.


Suave e calma, a voz lhe transmitiu um sentimento até então desconhecido que não soube descrever.


Arrastou-se ainda meio tonto no chão, chegando à beirada do barranco, escondido entre os arbustos, observou ao longe a dona da voz.


Trajando um vestido simples de camponesa em tons de terra, as longas mechas perfeitamente ruivas balançam conforme ela dança.


Os movimentos simples a tornam quase angelical, os braços esticados fazem pequenos movimentos - graciosos aos olhos dele - enquanto rodopia fazendo o vestido balançar e os pés criarem pequenas ondas na parte rasa do rio onde está.


Em meio a um pulo escorregou e caiu sentada na água, após um resmungo alto riu sozinha, divertindo-se com sua própria queda.


O príncipe dono de olhos azuis tão cristalinos quanto às águas do rio onde ela se encontra a admirou, tão bela, tão única, tão intensa.


A felicidade dela, mesmo estando sozinha, também lhe contagiou, fazendo-o sorrir enquanto a observava levantar e torcer a água da barra do vestido revelando as pernas compridas de cor beijada pelo sol.


Quando ela fez menção a tirar o vestido, sentiu as bochechas da pele perfeitamente branca esquentar, e então começou a se arrastar para longe dali. O barulho dos arbustos chamou a atenção dela, que assustada olhou para ambas direções em busca do causador do som, quando o olhar fixou-se no barranco, teve medo de ter sido visto, mas ela apenas deu de ombros e saiu pegando sua cesta de frutas no chão e seguindo em uma direção contrária a do príncipe, que quando ela sumiu de suas vistas, se levantou em busca de seu cavalo.


***


Já de volta ao palácio, sentiu sua felicidade momentânea se esvair a cada passo dado direção a dentro no gelado lugar.


Após cumprimentar a rainha, sua mãe, com uma simples reverência seguiu para seu quarto.


Seu pai havia saído a negócios, provavelmente não teria notado seu sumiço, ao menos era o que ele esperava.


Pela noite, após a refeição na companhia de apenas sua mãe e seu irmão mais novo, mal havia tocado na comida, o banquete na enorme mesa não lhe enchia os olhos, se retirou depois de algumas garfadas para se refugiar em seu quarto.


Tomou um banho demorado, só saindo da banheira quando a água já se encontrava fria.


A voz da garota indo e voltando continuamente em sua cabeça, não conseguia esquecê-la.


Colocou as calças de couro mais confortáveis que encontrou e separou as botas de montaria deixando-as em um canto escondido do quarto. Quando estava vestindo uma camisa seu pai entrou no quarto sem bater.


Curvou-se em reverência sem olhá-lo nos olhos.


— Jack me contou que você não apareceu para o treino de esgrima hoje a tarde — o tom rude e sério foi o suficiente para saber que teria problemas.


Jack tratava-se de apenas um professor de esgrima, a personalidade forte e as habilidades de dedução o levantaram na carreira tornando-o professor particular dos filhos do rei, entretanto, o ego também subiu sendo um perfeito puxa-saco do mesmo e quase sempre o responsável pela maioria das broncas que o jovem príncipe leva.


— Eu… — gaguejou, mas se recompôs após limpar a garganta — eu perdi a noção do tempo quando estava na biblioteca, meu rei.


— Jack deixou bem claro que um dos cavalos de uso real desapareceu e surgiu magicamente depois de algumas horas, assim como o príncipe que também não apareceu para os treinos — com ambas mãos juntas nas costas, passou a caminhar em volta do jovem que mantinha-se de cabeça abaixada.


Com medo de encontrar os olhos verdes lhe encarando com ódio e desprezo.


Ele o intimidava, os quase dois metros de altura e uma musculatura assustadora, no auge de seus quarenta e cinco anos o rei tem total capacidade de ganhar em um duelo de qualquer um de seus soldados de elite, aos olhos do príncipe, ele sequer precisava de guarda costas.


— Me desculpe. Não vai se repetir — deu-se por vencido ao perceber que o rei já sabia de sua fuga.


— Como posso dar meu trono a você se é incapaz de cumprir suas insignificantes obrigações?! — O rei gritou quando parou atrás de si, o tom agressivo o fez instintivamente se encolher quando tentou dar um passo para frente para se distanciar e ficar a uma distância segura a mão grande segurou os fios levemente compridos de seu cabelo com força suficiente para fazê-lo levantar os calcanhares do chão.


Mesmo que não houvesse tanta diferença de altura entre ambos, havia uma enorme diferença entre suas forças físicas.


— Como posso te transformar num rei se você não aprende do jeito mais fácil?! — cuspiu as palavras sobre o filho ao mesmo tempo que soltou os fios escuros lhe empurrando.


Até tentou manter o equilíbrio, mas acabou caindo de joelhos no chão.


Ele caminhou parando em sua frente.


Quase acreditou que depois de tudo ele iria embora.


— Olhe para mim quando eu estiver falando com você — ele lembrou-o, mas ainda assim escolheu desobedecer.


Queria manter os olhos fixos no chão, já sentia seu estômago embrulhar.


Mal percebeu quando ele se abaixou a sua frente ficando poucos centímetros mais alto.


Momentaneamente, acreditou que receberia um abraço, se perguntou quando foi a última vez que ele havia demonstrado qualquer gesto de carinho, mas não conseguia se lembrar.


— Sebastian, você não vai me dar orgulho nunca? — sentiu cada uma das palavras lhe quebrar ao mesmo que lágrimas se formaram em seus olhos.


Teve vontade de gritar o quão bom era desenhando, bordando e pintando. O quão gostosos ficavam seus biscoitos quando ele ia cozinhar — mesmo que escondido — com a velha cozinheira do palácio. Quis jogar nele cada uma das músicas que compôs no piano, mas guardou tudo para si, sentindo um bolo se formar em sua garganta e as lágrimas queimarem em seus olhos.


O rei lhe observou em silêncio por longos segundos, analisando sua reação e então suspirou desapontado.


Sebastian não segurou as lágrimas quando o primeiro tapa soou.


***


Algumas horas após a visita de seu pai, sua mãe foi lhe visitar, ela não disse nada quando entrou, apenas deu-lhe um forte abraço e um suave beijo em sua testa.


— Eu amo a senhora — sussurrou sentindo-a fazer um leve carinho em seu cabelo.


— Não use esses títulos comigo — ela sussurrou também, um tom triste na voz.


— Eu amo você — corrigiu-se apertando-a em seus braços.


— Eu também amo você, cada pedacinho — ela segurou o rosto dele entre ambas mãos e deu-lhe vários beijinhos na região das bochechas doloridas fazendo-o sorrir triste, com os olhos brilhando em lágrimas.


Ele a olhou nos olhos, gravou cada detalhe do tom chocolate que combina perfeitamente com ela e os fios perfeitamente escuros como a noite sem lua que se destaca na pele branca de seus ombros descobertos.


Com um último beijo em sua testa ela saiu, deixando-o sozinho em sua melancolia.


Após um longo suspiro decidiu-se.


Vestiu a pesada capa de pele de urso nos ombros — depois de arrancar o brasão da família real — e calçou as botas de montaria.


Em um bolsa tiracolo colocou todo o dinheiro que tinha e dois cadernos de desenho que não conseguiria deixar para trás.


Guardou por debaixo da camisa a corrente com o pingente que havia sido de seu avô, com o formato de um lobo dentro de uma lua cheia, o antigo rei considerava aquilo seu talismã, e havia presenteado o neto poucos dias antes de falecer.


Dentro de uma caixinha, deixou um desenho seu junto a sua mãe e irmão, um lenço que havia bordado para presenteá-la em seu próximo aniversário e uma carta, depois de deixá-la no ateliê dela em um lugar que sabe que somente ela usa, se retirou.


Não havia tido problemas em cruzar o castelo, os cães de caça que ficam soltos próximos aos estábulos também não fizeram barulho, permaneceram quietos assim como os cavalos que não fizeram som algum.


Teve a sensação de que algo estava lhe ajudando, assim como também sentiu que sua mãe estava se despedindo.


O barulho dos passos do cavalo chamaram a atenção de dois soldados que faziam a ronda, e ao reconhecê-lo trataram de segui-lo tentando levá-lo de volta.


Puxou a touca da capa para se proteger dos galhos e espinhos, sentiu seu coração acelerar ao perceber que eles lhe alcançariam.


Preferia morrer ao ter que voltar.


Bateu sutilmente os calcanhares contra a barriga do animal, incentivando-o a correr mais.


O soldado mais experiente lhe segurou em seu pulso, mas logo precisou soltar quando notou estar se aproximando do barranco fazendo seu cavalo diminuir a velocidade.


O príncipe seguiu por uma pequena trilha na lateral do barranco e quando julgou estar a uma distância segura onde não ouvia mais os guardas, olhando para trás por cima dos ombros, relaxou a postura. Entretanto, um galho atingiu-lhe fazendo seu corpo cair do cavalo.


Gemeu dolorido rolando no chão incapaz de levantar.


Permaneceu deitado tentando fazer seus músculos pararem de doer, mas o cansaço lhe atingiu fazendo-o apagar.

5 de Março de 2023 às 21:22 1 Denunciar Insira Seguir história
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J Carreir J Carreir
Adorei! Um ser que possui sensibilidade e bom coração na realeza nao se vê todo dia, não é ?! Esse pai do Sebastian é um perfeito cretino! e guardo um pouquinho da minha raiva para a mãe omissa dele, hãn! Torcendo muito para que ele encontre a felicidade <3
March 06, 2023, 09:30
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