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Em seu leito de morte, o Rei de Autumnrise deixou seu último pedido como também sua última ordem: que quando os céus se tornassem rubros e o Sol fosse coberto pelas nuvens negras, seu filho mais velho fosse entregue como oferenda ao Deus da água, para que a fé de seu povo elevasse as forças do ser imortal que traria a fartura de volta à cidade. Por anos, o Príncipe Min Yoongi aceitou seu destino, em nada temendo o amanhã, até conhecer Park Jimin, o descrente que o fez torcer para que a competição dos Deuses nunca se iniciasse.


Fanfiction Bandas/Cantores Para maiores de 18 apenas.

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Sua descrença, minha apatia

Escrito por: @RedWidowB | @LadyofSomething

Notas Iniciais: Olá! Bom, antes de mais nada, agradeço a @minie_swag pela avaliação e betagem, assim como @nutella_kpop pela capa e banner lindos! Sem vocês, essa coisinha não seria a mesma. Segundo, aviso que essa fic contém violência e drama em boa parte de seus capítulos, logo, se for o tipo de conteúdo que não lhe faz bem, aconselho não ler. Priorize seu bem estar!

Se não for seu caso, desejo boa leitura!


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Vinte anos de vida, no século 31, era muito tempo para a existência de um humano.

Todos os dias, antes de dormir, Min Yoongi orava por sua alma, ciente de que o amanhã poderia não existir. Porém, não o fazia por realmente temer a morte, ou por ter motivos para ser castigado após ela; era somente o que fora ensinado a fazer desde os quinze anos, afinal, a qualquer momento o mundo poderia entrar em ruínas mais uma vez.

Naquela manhã, no entanto, não foi a ocasião de suas orações pela salvação de seu espírito serem atendidas. Ele se levantou da cama com o mesmo vigor limitado — mas saudável — e a ardência em seus pulmões que continuavam a funcionar, lutando contra o ar que os inflava. Odiava dormir de máscara respiratória na mesma proporção que odiava acordar intoxicado com que o cercava, mas se deixava levar pela ideia de que, aos vinte anos, não tinha mais tanto a perder.

Às vezes parecia insanidade de sua parte imaginar que, cem anos antes, seus bisavós não passavam por aquilo. O ano de 3822, em que sobrevivia e temia o amanhã, nada se parecia com o período histórico em que a família Min se tornou a realeza de Autumnrise.

A monarquia, extinta milhares de anos antes, tornou-se uma opção aos extremistas políticos que encontraram em Min Yonghwa, bisavô de Yoongi, uma imagem confiável para ser usada enquanto Autumnrise era transformada em uma grande potência industrial, em contraste a todas as medidas protetivas que o mundo tomava em relação à poluição da Terra.

A família real Min se manteve por oitenta anos no poder, acobertando as atrocidades que os grandes empresários faziam e culpando a população pelo abandono dos deuses, que deixaram de contemplar Autumnrise com as bênçãos das competições divinas.

As escrituras sagradas afirmavam que, de vinte em vinte anos, a competição dos deuses trazia ao mundo a fartura oferecida pelo Deus ganhador, porém, em cem anos, Autumnrise nada recebia, afundando em sua sujeira e poluição. No momento que o pai de Yoongi se tornou Rei, coroado sob os protestos e coberto de promessas que não poderia cumprir, assegurar-se religião foi sua cartada.

Um filho teve, logo, um filho poderia oferecer ao Deus que mais pessoas adorassem.

Vinte anos depois da coroação e dez anos após a morte de seu pai e mãe, diferente do que se esperava de um Príncipe — se é que ainda deveria ser chamado assim —, Yoongi não morava em um castelo, muito menos tinha regalias tremendas em relação ao povo que supostamente o servia.

Tinha um quarto em um hotel no centro da cidade, no último andar de um prédio em pedaços e dominado por ratos, e isso era tudo do que poderia se gabar além da comida que ainda recebia de graça. De resto, seus privilégios haviam sido dissolvidos tão logo o corpo de seu pai esfriou sob a terra que o cobriu.

Mas o Min não se importava.

A família real estava morta e isso pouco importava à sociedade de Autumnrise — assim como a ele —, exceto quando o assunto era o medo que sentiam das consequências da promessa de o Rei Min nunca ser cumprida.

Caso alguém morresse enquanto descia as escadas sujas de excrementos e drogas que ele enfrentava todos os dias, seria apenas mais um morto e menos uma boca para ser alimentada. Na eventualidade de Yoongi ser a pessoa, então seria o suposto futuro de farturas indo para o inferno.

Por isso, o Min não vivia uma vida de fartura, entretanto era protegido como um bezerro é protegido em uma fazenda, esperando o momento certo do abate.

É claro que as palavras do falecido rei não citavam o assassinato do próprio filho, muito menos indicavam subliminarmente tal atrocidade, todavia o Min simpatizava com a premissa de deixar de existir naquela terra infértil e atroz. Assim, por mais que não suplicasse pela competição dos deuses, Yoongi não se incomodava com sua iminência.

Dessa forma, todas as manhãs saía às ruas com sua máscara de proteção na face, olhando para o céu à espera de sua escuridão, e naquele dia em específico reparava não ser o único a pensar daquela forma. A cada esquina que passava, naquele cenário decrépito e sem cor que caracterizava a cidade, via pichações vermelhas, feitas com sangue, clamando pela competição e exaltando o Deus que há muito tempo os abandonou.

O chão que pisava era de pedra sujismunda como todas as paredes que alguns chamavam de lar, mesmo que nem ao menos um teto as cobrisse. De longe, viu o mercado que não vendia frutas ou sequer alimentos, abarrotado com drogas manipuladas para manter os mais pobres vivos enquanto caçavam ratos para comer e pílulas que diminuíam os sintomas das doenças que a caça causava.

A humanidade daquele lugar havia se tornado o reflexo de sua podridão, castigada pelos deuses que, a cada vinte anos, lutavam pelo controle daquelas pragas que se espalharam pela Terra e cultuavam-nos.

Yoongi não entendia o porquê de os deuses desejarem aquelas criaturas, porém não se deixava questionar demais. E justamente enquanto ignorava o questionamento recorrente, ouviu uma confusão ocorrendo próximo a ele.

— Meu Príncipe! — uma voz grossa gritou.

Não era incomum ser chamado daquela forma, apenas era estranho ser reparado em qualquer momento.

— Meu Príncipe, nos ajude! — Viu uma mulher gritar enquanto corria em sua direção, balançando seus braços magros no ar.

Ela era mais baixa que ele, com seu corpo ainda mais diminuído pela fome, de forma que seus olhos eram fundos e as maçãs de seu rosto eram apenas o reflexo dos ossos da face.

— Há um herege entre nós — justificou a mulher, cujo os cabelos finos e negros começavam a faltar na cabeça pálida assim como dentes faltavam em sua boca.

Yoongi se deixou levar pelo braço, sendo puxado pela asperidade das mãos calejadas da mulher que muito provavelmente era mais nova que ele. Com a mão desocupada, ligou a potência mais forte de filtragem do ar em sua máscara, ciente de quanto mais longe estivesse das ruas principais, mais o ar da cidade se tornaria tóxico.

Não foi muito longe ao lado da outra que nada dizia. Era óbvio que aquela não era uma tentativa de fazer algum mal a ele, pois a fé em seu sacrifício era maior que a ganância momentânea sobre as suas poucas possessões.

Quando finalmente pararam, o que encontrou não o surpreendeu. Em frente ao que um dia fora um templo do deus fogo, dois homens de aparência tão decadente quanto a garota ao seu lado seguravam um rapaz pelos braços. Yoongi viu as marcas roxas no pescoço magro do garoto e o sangue que escorria de seu rosto coberto pelos cabelos loiros.

Sangue que fora usado para mais uma marcação nas paredes, ele percebeu.

“A competição dos deuses chegará” era uma frase longa, que exigia mais sangue do que o Min imaginava que somente o nariz do garoto poderia fornecer.

— Esse herege estava falando contra o nosso Deus, Príncipe — um dos homens disse. — Já o castigamos, como pode ver.

O tom de voz e a postura daquelas pessoas não era de ganância. Eles não queriam algo em troca de seus atos, apenas se orgulhavam de tê-los feito.

— E quem lhe deu o direito de castigar alguém? — Yoongi retrucou, atípico ao que normalmente faria. Talvez só estivesse cansado, mas prosseguiu seus ditos: — Em algum momento te dei o título de juiz ou carcereiro?

Os Mins não ditavam mais nada na cidade desde a morte do Rei, e Yoongi nunca fez menção de tentar tal coisa. Ele era apenas um sacrifício, deixava a função de governar aquele lugar para aqueles que um dia colocaram sua família no pedestal.

— Solte o rapaz — ordenou como nunca havia feito por nenhum miserável naquele lugar. Nunca evitou a morte de ninguém, fosse de fome ou pela injustiça, mas aquela parecia ser a primeira vez.

— Mas… — a mulher interviu. — É um herege…

Yoongi a encarou e depois desviou o olhar aos demais.

— Assim como vocês serão também, se não o soltarem.

O corpo fraco e magro foi jogado no chão antes que as palavras do Min fossem terminadas.

— Podem ir — afirmou, vendo-os correr em seguida, rindo como loucos que provavelmente eram.

A quantidade de fanáticos religiosos havia aumentado ainda mais desde que a fome começou a assolar Autumnrise e o rei faleceu em decorrência da alta poluição do ar que danificou seus pulmões. Junto ao desespero, veio a “fé”, e junto a ela, os crimes de ódio.

E aquele era o primeiro crime que o Min impediu.

Ele se agachou em frente ao rapaz machucado, com as mãos trêmulas de nervosismo que só naquele momento o acometeu. Os cabelos médios e loiros do desconhecido cobriam a face arroxeada, então o príncipe deslizou seus dedos gélidos sobre a tez estranhamente morna e inflamada, retirando os fios que o impediam de ver a face distorcida pela dor.

Mesmo com a máscara, o Min sentiu sua respiração queimar por dentro e seu corpo buscar, inconscientemente, pela fuga. Os olhos do rapaz caído o encaravam com ódio, pigmentados de rubro sanguíneo e enfermiço. De seus lábios roxos e inchados, um líquido escuro e grosso escorreu, e o sangue que saía de seu nariz respingou nas roupas acinzentadas que Yoongi usava quando expirou com força, tentando respirar normalmente.

Uma mescla de desespero e nojo tomou conta de Yoongi. Poderia simplesmente deixar aquele amaldiçoado ter seus últimos momentos de vida naquele beco escuro e sujo, fingir que o sangue em suas roupas não significava nada, exatamente como seus pais um dia fizeram com aquele povo… mas não o fez.

Respirando fundo, engolindo o enjoo que o cheiro forte de excrementos e sangue o causou, o Min pegou o herege no colo e levou-o consigo para casa, importando-se pela primeira vez com algo que não fosse seu papel na vida e a competição que não era sua.

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Notas Finais: Obrigada por ler! Até o próximo!

15 de Fevereiro de 2023 às 00:25 0 Denunciar Insira Seguir história
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