Okay, há duas possibilidades: ou o Godzilla está à solta, ou uma tempestade aterrorizante está desabando lá fora.
Qualquer que seja a explicação, um show de luzes e sons tem transformado a noite em algo mais sombrio e amedrontador do que todos os cenários apocalípticos que já imaginei — e preciso mencionar que já pensei em alguns devidamente macabros.
Mesmo sentado na cama, encolhendo os joelhos em total desamparo, os trovões me chacoalham como um brinquedo. Sinto que a agressiva ventania, numa tentativa desagradável de brincar de pega-pega, irá arrancar a porta do meu quarto e me arrastar para fora. E não posso deixar de agradecer à minha coragem me abandonar com um tremor patético.
Eu sei, esta é uma noite fantástica para estar absolutamente apavorado. Mas...
Esse aroma terroso que toma meu olfato, a parede projetando a sombra das gotas pesadas que caem perto do poste da rua, a percussão hipnótica que elas fazem sobre o asfalto rugoso... Já era, minha mente está agindo por contra própria. E o seu golpe baixo é me mostrar todas as memórias daquela madrugada.
Posso quase ver nós dois aqui, sentados no chão, sob a mesma coberta. Você recostado na mesa de centro, de frente para a porta da varanda. Eu, debruçado entre suas pernas, imerso no seu abraço. Sua respiração tranquila, tão serena, destoando do formigamento eletrizante que provocava no meu pescoço. Sua voz sussurrante preenchendo cada canto dos meus pensamentos com uma destreza espantosa, quase assustadora.
Ali, você não economizava nas palavras para expressar o quanto estava feliz por estar comigo, apenas contemplando a chuva cair. À medida que ela caía, eu, sempre tão diferente de você, deixava-a preencher o meu silêncio.
O que diabos eu tinha na cabeça? Relembrar o que aconteceu só me faz ter mais certeza de que eu jamais entenderei por qual razão tola decidi manter minha felicidade em segredo. Uma felicidade que só existe quando nós estamos juntos.
Se eu tivesse alguma ideia do que viria a seguir, teria te segurado pelo braço e implorado para que você ficasse? Pediria para continuarmos aquela louca jornada pelo nosso caótico mundo cheio de cores? Essas são perguntas que eu nunca soube responder... Mas uma coisa é certa. Tão inegável que me atinge como um raio no peito.
Eu realmente sinto a sua falta, idiota.
[Paam, paaam, paaam]
Como uma descarga elétrica que me puxa de volta para a realidade, parecendo querer me livrar da nostálgica lembrança que insiste em umedecer meus olhos mais do que o biologicamente necessário, escuto batidas grosseiras na porta da frente. Apesar da algazarra sonora da trovoada ao fundo, as pancadas, cada vez mais fortes, forçam-me a deixar minha cama.
Descendo a escada em meio aos estrondosos trovões, posso sentir os pelos arrepiarem na base da minha nuca quando um breve relâmpago rasga a escuridão do ambiente, com um clarão que parece congelar minhas retinas, obrigando-me a piscar uma centena de vezes para recuperar a visão.
[Paam, paaam, paaam]
— Estou indo! — Afetado pela cegueira momentânea e pelas batidas desesperadas, esqueço que não fui programado para gritar e tenho a brilhante ideia de tentar vencer o estrépito da chuva com a minha voz, o que claramente não funciona.
Já recorrendo à minha reserva de fôlego extra, enfim chego à porta, que me surpreende por ainda estar intacta. Ao abri-la e olhar para o rosto irreconhecível do ser afogado em desespero do outro lado, a sensação gélida da maçaneta, que antes parecia uma pedra de gelo entre meus dedos, desaparece tão rápido como os raios que cortam o céu.
É... ele?
Ele está aqui?! Depois de tanto tempo... E por que não me lança seu insuportável sorriso atrevido? Por que não fala meu nome daquele jeito irritante de sempre? Por que não pergunta pelo Sr. Don como de costume? E no seu olhar... por que nele só vejo um profundo vazio?
O que aconteceu com você, Yu?
── 🌈 ──
Hey!
Antes de todas as cores e de todos os doces, preciso destacar alguns pontos importantes:
1 — Não, esta não é uma história completamente fofa. Eu diria que apenas 50% dela é açucarada. A outra metade, deixo logo de aviso, é só ladeira abaixo. Você pode encontrar alguns gatilhos e temas sensíveis como: violência de todos os tipos, exploração sexual, família tóxica e assédio. Sim, o clima é complexo. E só para deixar claro, zero romantização de qualquer um desses tópicos, mas os deixo aqui explícitos para prevenir choques inesperados no meio da leitura;
2 — Por puro apego desta autora à cultura nipônica, a maioria dos personagens são japoneses e a história se desenrola em algum lugar do Japão. Não vou me aventurar a responder onde exatamente, já que nem eu tenho essa informação;
3 — Este capítulo, que é um prólogo, introduz a situação no presente (HOJE), quando tudo começa a deslizar em um tobogã direto para o fundo do poço. A partir do próximo, a história será contada no passado, especificamente, 6 MESES ANTES do presente. Isso será indicado na parte superior do capítulo, para que você possa perceber sem dificuldade, mas estou avisando mesmo assim;
4 — A história é escrita em primeira pessoa, narrada por um garoto extremamente cansado de 19 anos (propriamente apresentado logo mais).
E é isso, fim do que eu tinha para falar :^
Espero que goste do que está prestes a vivenciar nesta humilde obra colorida.
Obrigado pela leitura!
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