É tão estranho estar de pé em silêncio com alguém bem na sua frente. Uma amiga disse que tinha esse garoto querendo falar comigo e eu vim, mas nunca pensei que ele fosse me pedir para ficar com ele, muito menos agora. Olho para o relógio na parede e meu coração acelera. Já estou atrasada e não sei o que responder. Ele é bonito, uma série acima, tem um cabelo descolado e um sorriso de menino doce, mas nada disso faz o meu coração vibrar como eu acho que deveria. Estou tão nervosa, minhas mãos estão suando e não sei como dizer para ele. Ele se aproxima e coloca suas mãos na minha cintura, agora sim eu estou nervosa. Acabo me afastando e olho para o relógio. Não dá mais para enrolar.
— Desculpa. Eu acho você um gato e tudo o mais, só que no momento eu não acho que vou poder ficar com alguém. — Ele dá um leve sorriso e encosta na parede à minha frente.
— Bem, eu posso esperar. Enquanto isso vou curtir o som que vocês fazem. — Um alívio absurdo toma conta do meu peito. Dou um beijo em seu rosto e saio correndo dali.
Estou atrasada, muito, muito, muito atrasada. Merda! Os caras vão me matar! Passo pela porta do auditório e toda a escola está lá, meu estômago revira e engulo seco, meu coração dispara e minhas pernas tremem ao ver todo mundo ali, apenas esperando por nós. Tudo bem, vai dar tudo certo. Dou a volta e entro pelos fundos, tentando fazer o mínimo de barulho. Eu já estou encrencada, não quero piorar ainda mais a minha situação. Ando até o pequeno palco e todos estão ali. Ahi está verificando as caixas de som, Eros brincando com as baquetas, Erick posicionando os instrumentos e o Apolo... Bem, está sendo o Apolo, focado no celular, provavelmente falando com alguma garota peituda e sem cérebro suficiente para entender que ele não está levando ela a sério. Infelizmente é ele quem me vê. Vou na direção de todos jogando minha mochila em um canto e amarrando meu longo cabelo preto em um rabo de cavalo baixo.
― Finalmente apareceu. Onde infernos você estava Lígia? ― Ele se coloca sobre mim, tirando vantagem da diferença de altura que nem é tanta assim, só dois centímetros. Essa proximidade faz meu coração acelerar um pouco, mas é só porque ele é intimidador.
― Desculpa gente, eu tive... Uns contratempos. ― Sinto meu rosto esquentar e desvio o olhar, procurando algo que nem sei o que é dentro da mochila.
― E podemos saber o que é esse contratempo tão importante que te fez atrasar justo hoje? ― Apolo insiste, mas eu não quero falar sobre isso, muito menos para ele.
― Teve dor de barriga? Já aconteceu comigo, é uma merda. Sem piada. ― Fico ainda mais vermelha com o comentário do Eros, então me viro e simplesmente solto.
― Um garoto veio falar comigo, ele queria ficar comigo... ― Todos me olham em silêncio. Eros larga as baquetas e vem correndo, empurrando Apolo para o lado.
― E o que você disse? ― Todos estão prestando atenção, esperando a minha resposta e isso me deixa ainda mais nervosa, meu coração a mil por hora e não sei onde enfiar minha cara nesse momento.
― Eu agradeci, mas recusei. Meu foco é a banda e não garotos. ― Todos se olham e eu fico ali de pé muito sem graça.
Não é mentira que meu foco é a banda e nossa música, mas eu não contei toda a verdade, nem para os rapazes e nem para o garoto que pediu para ficar comigo. Não recusei o garoto apenas por isso, é que eu já gosto de alguém, mas é platônico e eu duvido muito que isso vá mudar. Pensar nisso é desanimador e eu me sinto um pouco idiota, mas eu tento focar na música e curtir o momento.
― Ok galera, já deu. Lígia vai aquecer a voz, vamos começar em alguns minutos. — Ahi bate palma e se vira.
― Você precisa relaxar Ahi, vai ficar velho rápido assim. É só uma apresentação para os nossos colegas, não é como se estivéssemos fazendo um show no Maracanã. ― Erik se apoia no microfone e sorri com seu jeito relaxado. Viro para responder, mas Apolo se coloca na minha frente.
― Ahi está certo e essa não é só uma apresentação, é a nossa primeira apresentação de muitas. Nossa banda vai ficar famosa e vamos conhecer o mundo juntos.
Sinto meu coração palpitar e borboletas no meu estômago. Sim esse é o nosso sonho, foi por isso que montamos a banda, porque amamos música e queremos viver dela pelo resto de nossas vidas. A música que nos uniu quando todo mundo acharia impossível sequer nos cumprimentarmos e hoje estamos fazendo o nosso primeiro show. Sai de trás de Apolo e olho para cada um deles e quando nossos olhos se encontram sinto essa conexão, esse laço incrível que temos e meu peito se enche de emoções como amor, alegria, satisfação.
― Não estamos aqui à toa, não vamos parar por aqui. Eu estou aqui porque acredito na gente, acredito em vocês e sei que vamos voar muito alto. Nós somos o Rosa e Espinhos e vamos ser a banda mais famosa do mundo.
Nos abraçamos, o diretor nos anuncia e respiro fundo. As borboletas no meu estômago parecem ainda mais agitadas, minhas pernas tremem um pouco, mas as firmo. Seguro o microfone com as duas mãos e olho ao redor, todos estão sorrindo para mim, me dando um pouquinho da sua força e confiança e então o show começa.
Começamos com nossos covers favoritos, músicas das bandas que mais amamos, vibramos a cada nova estrofe, a cada nota, a cada batida, levamos o público a loucura. Várias meninas jogam papéis no palco, sem dúvida com seus telefones e e-mails, os caras gritam e todos cantam junto com a gente. Quando o show acaba, nos abraçamos e agradecemos, estamos ofegantes, exaustos, mas muito felizes e satisfeitos com nosso primeiro show bem-sucedido. Saímos do palco e logo fomos cercados por nossos colegas. Minhas amigas gritam, me abraçam e aplaudem, noto alguns caras olhando diferente para mim e meu coração acelera. Nos tornamos as celebridades da escola e assim começou o nosso sonho, a banda Rosa e espinhos.
Obrigado pela leitura!
Podemos manter o Inkspired gratuitamente exibindo anúncios para nossos visitantes. Por favor, apoie-nos colocando na lista de permissões ou desativando o AdBlocker (bloqueador de publicidade).
Depois de fazer isso, recarregue o site para continuar usando o Inkspired normalmente.