Não vai me levar de volta, me levar de volta e perceber?
Que não há tempo para ser jovem
E todos os meus amigos, são inimigos
E se eu chorei à minha mãe
Não, ela não estava lá, ela não estava lá comigo
-The Pretty Reckless
Estávamos saindo de uma festa animados, peguei carona com as minhas amigas e os rapazes foram todos juntos em outro carro, estava uma noite calma, as estrelas brilhavam no céu, o calor ainda se fazia presente, mas o álcool já fazia minha cabeça rodar, mas me sentia feliz, muito, mas em um piscar de olhos vi o carro a nossa frente ser atingido por outro.
O carro foi jogado a metros de distância, capotando algumas vezes, lágrimas escorriam do meu rosto, tentei secar com as mãos trêmulas, percebi que havia muito sangue sobre elas, sentia os estilhaços rasgando a minha pele e aos poucos o ar foi parando.
Acordei aflita, suando, havia sido só mais um pesadelo, como tantos nesse último ano, tentei tirar as lembranças da cabeça e voltar a dormir, mas não foi fácil.
Acabei me acordando atrasada com o despertador do celular tocando pela décima vez, então precisei correr, peguei a mesma roupa de ontem que estava em cima da minha poltrona preta do quarto, me maquiei e fiquei esperando minha amiga na frente do meu prédio, ela apareceu alguns minutos depois com a sua Lamborghini amarela, o que acho super cafona, mas não posso reclamar, já que nem tive a capacidade ainda de tirar minha carta de motorista.
- Bom dia amiga, acordei atrasada -disse entrando no carro dela e colocando o cinto
- Bom dia, minha estrela do rock
- Não gosto que me chame assime, sabe disso, não sou isso
- Tá, só estava brincando, mas pra mim, você é uma estrela
- Sei
Caímos na risada
- Falando sério agora, a diretora tá me enchendo o saco com o fato da minha mãe nunca estar em casa, não sei como ficou sabendo que ela está em Los Angeles
- Seria porque ela vive postando?
- Talvez, mas o fato é que ela disse que não posso morar sozinha ainda, não tenho idade pra isso, tenho medo que ela dê queixa para um agente tutelar
- Que merda, fala com a professora Jéssica, talvez ela possa ajuda e nem falta tanto pra você fazer 18 anos
- Falei pra diretora que a minha mãe vai e volta, o que não é verdade, já que faz um mês que ela nem vem, não sei que milagre hoje ela me mandou uma mensagem, dizendo que começaram as gravações do filme, finalmente, mas isso ainda pode demorar uns seis meses
- Não entendo, o que ela tem na cabeça pra te deixar aqui, nunca me disse se ela não te convidou ou você quem não quis ir
- Não teria ido se ela me convidasse -Falei negando com a cabeça, imagina se eu deixaria a escola a poucos meses de me formar
- Mas ela realmente podia vir de vez em quando, não é como se fosse do outro lado do planeta, é Los Angeles
- Mas são horas de viagem, ela não se cansaria por mim, agora chega de falar dela -Falei colocando uma música animada no rádio do carro
Assim que chegamos coloquei o capuz e descemos,fomos em direção a sala de aula.
- Lá vem a roqueirinha deprimida -Gritou um garoto que estava em uma rodinha cheia deles
Levantei o dedo do meio para eles e continuei meu caminho.
- Babacas -Esbravejou Dafne -Não liga pra eles
- Não ligo -Respondi entrando na nossa sala e de fato isso não é mais mentira, parei de me importar de tanto que finjo
Depois da aula, fui falar com a professora Jessica,contei minha situação a ela, ocultando o fato da minha mãe realmente não vir nunca.
- Me parece só que ela está preocupada com você e como diretora, isso faz parte do trabalho dela
- Mas não tem o que se preocupar,estou bem
- Quando a sua mãe vier, pode marcar uma visita com ela até a sua casa, tenho certeza que assim irá se convencer e parar de te incomodar
- Minha mãe não vai gostar, ela diz que o tempo que ela fica aqui é pra ficarmos juntas -Menti na cara dura
-Posso tentar falar com ela, mas estou confiando em você
-Obrigado professora -disse feliz a abraçando
Sai mais animada de lá, Dafne me levou para casa e ficarmos de nos encontrar no shopping mais tarde
Tomei um banho e pedi sushi, comi jogada no sofá, depois me arrumei e fui para o shopping encontrar com ela
Logo ela apareceu
-Pensei que fosse me esperar na porta -Reclamou ela -Como eu iria saber em que loja você estava?
-Era só ter me ligado, vem, vamos logo que tem muita coisa ainda para olhar
Mais olhamos as lojas do que de fato compramos alguma coisa
- Gostei dessa bolsa, pena que é cara -disse Dafne com os olhos brilhando para uma bolsa rosa da prada
-Leva, eu te dou de presente
Ela me olhou séria -Não! Imagina se eu chegar com uma bolsa dessas em casa minha mãe vai achar que eu roubei
Peguei a bolsa da mão dela e passei no caixa
- 10.500 senhorita -Passei o cartão e voltei para minha amiga
- Comprou pra você?
- Não né? -Falei entregando a sacola com a bolsa pra ela
- Você não ouviu o que eu disse?
- Tenho a solução, vou com você até a sua casa e falo com a sua mãe, sempre disse que queria que eu conhecesse ela
- Não sei se ela vai estar em casa
- Liga pra saber
- Talvez ela esteja ocupada -disse ela se afastando
- Porque nunca me deixa ir na sua casa? -perguntei indo atrás dela
- Tá, é porque é uma casa normal, meio bagunçada e sem nada demais, não é como o seu apartamento
- O que tem o meu apartamento?
- É de rico né amiga,tem até elevador particular
- Sabe que são exageros da minha mãe
- Está bem,vamos até a minha casa então
Entramos no carro dela e ela dirigiu até um bairro distante do grande centro da cidade, nem sabia que ela morava tão longe, aquele ponto parecia até outra cidade de tão diferente do centro de Nova York, sempre tão agitado e cheio de prédios gigantescos, a vibe aqui é mais tranquila, tem casas grandes e natureza e nem estou no parque, me encantei vendo ciclistas andando devagar, pessoas conversando em frente a suas casas, crianças na rua
- Deve ser bom morar aqui,parece sossegado -Falei ainda olhando pela janela
- Até demais, pra visitar é ótimo, mas para morar dá um certo tédio, assim que eu começar a trabalhar e ter um dinheiro, pretendo me mudar para Manhattan
- As coisas lá são bem caras, os aluguéis são bem altos, pergunta para o Thomas
- Tem visto ele aliás? -perguntou ela sorrindo
- Sim, ele é nosso colega
-Estou falando fora da escola Tay
- Às vezes ele vai lá em casa ou me pede algum favor, mas na maioria das vezes só trocamos mensagens mesmo
- Ele é caidinho por você
- Gosto dele só como amigo, sabe disso, já você
- Eu o que garota? não pira, se eu quisesse já teria ficado com ele
- Poderosa, adoro
Paramos em frente a uma casa grande, branca com janelas escuras, árvores em volta e um gramado perfeito, o cheiro do verde me fez sentir saudade da infância, quando ainda morávamos no interior
- Mora aqui? -perguntei abismada pelo fato dela não achar a casa dela perfeita ou achar que eu não iria gostar
- É
- Sua casa é linda, não sei porque não queria que eu viesse aqui -Falei já descendo do carro animada, mas parei
- O que foi? -perguntou ela também descendo
- Estou bem? -Perguntei ajeitando a minha roupa, nem tão comum assim
- Está sempre linda, vamos logo
Entramos na casa dela, a sala enorme toda em branco, com estofados cinzas, uma mesa de centro preta, muitas decorações coloridas
- Vem, eles devem estar na cozinha -disse Dafne me puxando, a acompanhei até lá
Uma senhora batia algo na batedeira e nem nos ouviu chegar
- Mãe! -Gritou ela, fazendo a mulher desligar o eletrodoméstico
- Filha, que novidade chegando cedo em casa
- Trouxe uma amiga pra vocês conhecerem
Confesso que só depois que ela disse vocês que eu fui ver a irmã dela no canto da mesa, mexendo alguma coisa em um recipiente
- Prazer Taylor -Falei me aproximando da mãe dela
- Oi, querida -disse ela já me abraçando - A Da fala muito de você
-Há,é?
- Muito bem por sinal -interferiu ela
- Sempre, bem que ela disse que você era bonita, mas não pensei que fosse tanto, parece uma boneca.
-Imagina -Falei sem jeito
- Eu sou a Guadalupe a mãe dessas crianças todas
-Não somos mais crianças mãe! -interveio Dafne mais uma vez - Essa é a minha irmã Amanda
Ela apenas me abanou timidamente
- Oi, já nos vimos na escola, há uns anos -Falei, tentando puxar conversa
- É, estudei lá até uns três anos atrás
- Agora ela tá cursando marketing -disse a mãe dela parecendo toda orgulhosa, o que me fez sorrir e pensar que algum dia será que a minha mãe vai ter orgulho de mim?
- E o que está fazendo aí mãe? -Perguntou Dafne abraçando a mãe
- Um bolo de cenoura, mas esse é encomenda -Falou a mulher depositando um beijo carinhoso na cabeça da filha
- A minha mãe faz bolos pra vender Tay
- Devem ser deliciosos, o cheiro tá ótimo
-Dafne filha, vê uma fatia daquele bolo de chocolate que não vendemos pra sua amiga; gosta de chocolate?
-Adoro -Respondi
Me sentei, Dafne nos serviu bolo e ficamos conversando, a mãe dela ficou me contando as histórias de suas encomendas, enquanto ainda preparava o bolo
- E onde está o papai? -Perguntou Dafne
- Saiu, foi comprar peças para o carro, pelo que eu entendi -Respondeu a mãe dela colocando o bolo no forno
- E meus irmãos?
- O Ryan não chegou ainda, o Max deve estar na garagem ou na casa da árvore que ele disse que iria consertar
- Vocês tem uma casa na árvore? -Perguntei animada
- É, o papai fez pra mim,pra nós -Respondeu Dafne olhando para irmã -Quando eu tinha 4 anos, a Amanda pouco ia lá, mas eu adorava, ainda gosto
- Nunca nem vi uma de perto
- Depois te mostro amiga
- Boa tarde família e quem é essa beleza de menina? -Falou um homem entrando, a Dafne correu para abraçar ele
-É minha amiga Tay
Me levantei para o cumprimentar
- Esse é meu irmão Ryan
- Seja bem vinda -disse ele me cumprimentando -Já vi que te ofereceram a especialidade da casa
Além de gato, ele pareceu bem simpático, foi até a mãe dele e lhe deu um beijo no rosto, fez o mesmo com Amanda
- Está cheiroso -disse ela
- Tomei banho por lá mesmo
- Gosto quando vem de uniforme -interferiu a mãe dele
- Meu irmão é bombeiro -Me esclareceu minha amiga
- E o que te trouxe aqui? Veio nos conhecer? -Me perguntou ele,só aí lembrei da bolsa
- Na verdade, vim porque dei um presente pra sua irmã e ela disse que se chegasse em casa com isso, a senhora ia dizer que ela roubou -Falei me aproximando da mãe dela e lhe mostrando a bolsa
-Que filha que tenho, no máximo iria dizer que era um gasto desnecessário
- Deve ter sido bem cara -Falou Amanda
- Um pouco
- Viu mãe, ela me deu
- Está bem, já vi
Ficamos lá conversando até a Dafne me puxar pra fora da casa pelos fundos
-O que tá fazendo?!
-Vou procurar o meu irmão pra apresentar vocês
Ela saiu correndo me deixou lá, naquele quintal enorme, cheio de flores e arbustos, fui seguindo em frente, para ver se a encontrava, parei assim que vi um outro lugar, era tipo uma garagem, mas sem carros, tinha uma bancada na frente, cheia de peças, me aproximei entrando, parei ao ver um homem lindo lá dentro, ele estava com uma regata branca, mostrando bem os músculos definidos, estava suando o que o deixava terrivelmente sexy, porque a Dafne nunca me disse que os irmãos eram tão gostosos.
"Se controla Tay" -pensei mordendo os lábios, ele ainda não tinha me visto, limpei a garganta fazendo um barulho que o despertou
- Conheço você?
- Ooi, não, é, eu sou amiga da Dafne, estava procurando por ela
- Ela não está aqui -Falou ele se aproximando e era ainda mais bonito ainda de perto
-Taylor -Falei estendendo a mão
- Não posso, estou com as mãos sujas -Falou ele as mostrando
- Há, desculpa, eu não queria atrapalhar o seu trabalho, faz brinquedos? -perguntei pegando um controle na mão para analisar, ele o tirou de mim
- Não são brinquedos, são drones
- Brinquedos de ricos
Ele me olhou parecendo que estava bravo, mas fui salva pela voz esganifante da minha amiga que vinha entrando:
- Então já se conheceram, olá irmão
- Oi -disse ele voltando para o que estava fazendo
- Onde você estava? -perguntei brava
- Na casa da árvore, vem vou te mostrar; meu irmão foi rude com você? É o jeito dele
- Não, ele não foi, só não me cumprimentou por estar com as mãos sujas, o que eu prefiro e ficou um pouco chateado por que eu disse que drones são brinquedos
Ela parou na minha frente me encarando
- Você está viva já é um avanço, ele odeia que chamem aqueles troços de brinquedos e de fato não é, mas deixa ele pra lá, vamos -Falou ela se enroscando no meu braço
Ela me levou até a casa da árvore ou forte como ela chamava, custei um pouco para subir, mas consegui, ainda bem que minhas pernas são cumpridas, porque jeito eu não tenho
Era realmente encantador, como se fosse uma casinha de boneca, mas tudo no tamanho real, bem rústico por sinal.
Me sentei no chão ao lado dela:
- E para que vinha aqui?
- Ler, pensar na vida, ouvir música, brincar com o papai quando era bem pequena e com a minha irmã também
Ficamos lá conversando um tempo, depois descemos e voltamos para dentro da casa
-Preciso ir, já está tarde
-Eu te levo amiga
Me despedi da mãe e da irmã dela e fui a esperar perto do carro dela, enquanto ela ia ao banheiro.
O irmão gato da minha amiga apareceu:
- Max falou ele estendendo a mão pra mim
- Taylor -Sorri ao cumprimentar ele, que apertou forte a minha mão, enquanto me encarava, o que fez meu coração quase saltar pela boca e meu rosto queimar como brasa.
-E minha irmã?
- É... está, tá no banheiro, ela vai me levar pra casa -Não sei porque mas comecei a gaguejar, que vergonha
Ele sorriu ainda me olhando e ficava ainda mais bonito assim
- Então seja bem vinda a nossa casa Taylor
- Pode me chamar de Tay
- Tay
Ele virou as costas e foi embora,Dafne passou por ele e veio até mim
- Ele foi grosseiro com você? -Me perguntou ela
- Não, ele veio se apresentar
- O meu irmão?! É sério?
- É
- Bom, vai ver que ele está em um bom dia hoje, agora entra aí menina e vamos logo
Estava feliz até chegar em casa, mas uma noite sozinha sem a minha mãe, já devia ter acostumado, não é a primeira vez que ela vai viajar e passa dias longe, mas agora já faz quase um mês e sei que ainda vai demorar bem mais para ela aparecer, talvez ela venha para o meu aniversário, daqui a 45 dias, não acredito que ela volte antes disso.
Tomo um banho e me acomodo no sofá, coloco um filme aleatório e tento descansar, não ficar pensando, mas é difícil não pensar nas coisas ruins que já aconteceram, nas palavras que já foram ditas, na voz da minha cabeça que fica me dizendo o quanto ninguém se importa comigo e porque se importariam?não sou especial pra ninguém, nem pra minha mãe.
Acabei pegando no sono entre os meus pensamentos, acordei com o barulho do elevador, o que me fez saltar no sofá com o coração acelerado e me encolher de pânico, ninguém tinha permissão de acesso ao elevador pessoal que dá direto aqui em casa, uma lágrima brotou no meu olho, o desespero me fez gritar...
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