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Histórias de terror sempre foram as preferidas de Yoongi. Querendo expressar sua paixão pelo horror, o garoto cria um canal e começa a gravar uma série sinistra sobre lendas urbanas. Para filmar a lenda da Loira do Banheiro, em especial, ele decide usar como cenário o banheiro do andar interditado da escola, esperando que o ambiente ajudasse a aterrorizar seus espectadores. O que Yoongi não esperava é que um fantasminha loiro resolvesse aparecer e que fosse fazer um acordo com ele: uma encenação assombrosa para o vídeo e, em troca, informações fresquinhas sobre o Restart.


Fanfiction Bandas/Cantores Para maiores de 18 apenas.

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Capítulo I

Escrito por: bbmoonie / @bbmoonie

Notas iniciais: Oii! Tudo bem? Eu estava muito animada para esse tema TuT <3333 adoro demais e me diverti muito escrevendo!

Muito obrigada @LadyofSomething/@RedWidowB pela betagem tão atenciosa <3 e YinLua/ YinLua por ter revisado a fanfic <333. Também agradeço muito @yonpanx/ @yonpanx pelas capas e banners que ficaram um amorzinho!! <3

Essa fanfic não tem uma playlist, mas se você gosta de ler ouvindo música, recomendo ouvir algumas do Restart skjds (nostalgia).

Boa leitura!

~~~~

O prédio da escola daria uma boa locação para um filme de terror.

Uma construção antiga, de quatro andares, com paredes de tijolinhos pintadas de um bege desgastado pelo tempo. O cenário perfeito. Eu o adoro.

Tento captar toda sua grandeza pela lente da câmera. O céu nublado definitivamente ajuda a deixar o take do jeito que eu preciso. O barulho dos outros alunos ao redor incomoda um pouco, mas até que se encaixaria bem na gravação.

Cara, é um começo e tanto para o vídeo.

— Ei, Yoongi — Jungkook me chama, aproximando-se. — Não vai comer, não? O intervalo já vai acabar.

Olho de relance para o grande relógio em uma das paredes. Ainda tenho cinco minutos. É o suficiente para filmar mais algumas cenas.

— Toma, vai. — Empurra em minha direção o meu sanduíche já meio aberto. — Come isso logo.

Resmungo, porém não recuso. Não sei que horas vou conseguir jantar hoje, então é melhor me alimentar bem.

— Tá fazendo o quê?

— Gravando.

— Isso eu sei. — Viro em sua direção bem a tempo de vê-lo revirando os olhos. — É para o vídeo do Homem do Saco?

— Não, esse já está pronto. Agora estou gravando o da Loira do Banheiro.

— Essa é uma das melhores lendas urbanas. Não dá medo nenhum, mas a história é legal. O que você tá planejando?

Ele está certo, essa lenda é meio batida mesmo, mas eu vou dar um jeito de deixá-la assustadora o suficiente.

— Você vai ver. Se tudo der certo, vai ser um dos melhores vídeos do canal.

Uhh... Quero ver o que você vai aprontar.

— Ei, Jungkook! — Hoseok se aproxima correndo com uma bola de futebol debaixo do braço. — Quer jogar? A galera já tá lá na quadra.

— Vai lá — eu incentivo. — A gente já se vê na sala.

— Quer vir junto, Yoongi? — Hoseok pergunta, sorrindo em minha direção.

Ele até que é simpático, todavia futebol definitivamente não é algo que eu curta e, além disso, eu estou muito ocupado. Então, digo:

— Não, valeu.

Os dois se afastam, correndo em direção à quadra, e eu engulo o sanduíche o mais rápido que posso antes de voltar às gravações.

Logo o sinal toca e todos nós seguimos em direção às escadas. Subo até o terceiro andar e entro na sala, aproveitando os minutinhos que ainda tenho para guardar a câmera com cuidado — ela é o meu bem mais precioso.

As últimas aulas da tarde passam rápido. Eu mal consigo prestar atenção, ansioso demais para o que me aguarda.

Assim que o último sinal toca, o professor e alguns alunos já começam a sair da sala. Ao contrário do que normalmente faço, hoje guardo o material bem devagar.

— Cara, vamos logo — briga Jungkook, apressado.

— Pode ir. Eu vou ficar hoje — falo baixinho, para que nenhum outro aluno me escute.

— Como assim? Tem aula extra?! — pergunta, atraindo alguns olhares curiosos.

— Cara, dá para falar baixo? — Aceno para que ele se aproxime e sussurro: — Vou gravar no banheiro do quarto andar.

— Você é doido? — sussurra de volta, alarmado. — Se alguém te pegar...

— Ninguém vai nem perceber.

Eu confio na minha capacidade de passar despercebido.

Ele me olha desconfiado, e eu apenas sorrio e dou um soquinho de leve em seu braço, tentando descontrair.

— Relaxa. Eu já planejei tudo. Vai ser sucesso.

— Eu espero... Bom, boa sorte. Não seja pego.

Espero ele e os outros saírem e descerem as escadas, para só então pegar minha mochila e ir para o corredor. Escuto atentamente por alguns segundos, tentando identificar algum barulho suspeito.

Preciso tomar cuidado com os monitores. Se algum deles me pegar subindo para o quarto andar, vou ficar encrencado.

Olho em volta, atento. O monitor do andar desceu com os últimos alunos e todas as outras salas estão vazias.

Sem esperar mais nenhum segundo, aproveito a oportunidade e subo o lance de escadas que leva até o quarto andar.

Todo o andar havia sido interditado por algum motivo desconhecido. De acordo com as regras da escola, ninguém podia nem sequer subir lá. Eu não estaria contrariando essa regra se não fosse por um bom motivo.

Largo a mochila no chão, pego a câmera e paro em frente à porta do banheiro. Gravo enquanto a empurro. As dobradiças rangem alto. É a vibe assustadoramente perfeita.

Tateio a parede com um pouco de nojo em busca do interruptor e acendo a luz, que acaba sendo apenas um trio de lâmpadas de led tubulares brancas.

O ambiente clareia o suficiente para que eu possa registrá-lo. É bem sujo e está um pouco destruído. Péssimo para usar, ótimo para ser o cenário do vídeo.

Filmo um rápido take, apresentando todas as partes do lugar. Os azulejos brancos do chão e das paredes, as pias enferrujadas, as cabines sujas e até a janela quebrada. Aos poucos, construo a ambientação perfeita.

Para contar a história da Loira do Banheiro, nada melhor do que um banheiro abandonado como aquele.

Corto a gravação e corro para apagar a luz de novo. Tiro a lanterna do bolso e a acendo sob meu rosto. É hora de começar a narração.

Fazendo a voz mais sombria que consigo, começo a contar:

— Quem nunca ficou com medo de usar o banheiro quando era criança, depois de ouvir alguma história assustadora? Existem muitas lendas contadas sobre espíritos que assombram banheiros: Bloody Mary, Hanako-kun e, é claro, a Loira do Banheiro.

Faço uma pausa dramática e começo a contar a história da lenda:

— Ao ser obrigada a casar cedo, uma jovem moça decidiu roubar as joias da família e fugir para Paris com o dinheiro que conseguiu vendendo-as. Pouco tempo depois, ela morreu lá. A família tentou trazer o corpo de volta para o Brasil, mas o navio que o trazia foi saqueado e seu caixão violado. Assim, em meio à toda confusão, seu atestado de óbito desapareceu. Por isso, ninguém soube o motivo de sua morte.

Um vento gelado entra pela janela quebrada, fazendo meus pelos se arrepiarem.

— Dizem que seu corpo ficou exposto em uma redoma de vidro na casa da família enquanto seu túmulo não ficava pronto. Sua mãe não queria enterrá-la, mas, depois de ter diversas visões da filha pedindo para ser sepultada, acabou cedendo. Há relatos de pessoas que a viram pedindo para sair de dentro da redoma.

No mesmo instante, um barulho estridente ecoa.

Meu coração dispara. Paro de falar, tremendo enquanto espero que o sinal pare de tocar. As aulas da turma da noite estavam começando.

— Caralho, que susto — murmuro. — Ah, merda. Estava indo tão bem... Agora vou ter que cortar o vídeo.

Cara, um corte acabaria com o clima, mas eu não tenho outra opção. Só aceito e espero a barulheira dos alunos se aquietar para voltar a gravar.

— Há relatos de pessoas que a viram pedindo para sair de dentro da redoma — repito a fala, meio triste pelo timing perdido. — Depois de muitos anos, a casa da família virou uma escola, e alguns dos alunos alegaram ter visto coisas estranhas acontecerem nos banheiros, como torneiras se abrindo sozinhas e um cheiro de perfume feminino tomando o ambiente. Também relataram terem visto sua aparição: uma mulher loira, com o nariz tampado por algodões.

Eu já tenho uma imagem assustadora para ilustrá-la no vídeo.

— Existe um ritual para invocá-la, que consiste em chamar seu nome três vezes em frente ao espelho, bater três vezes a porta do banheiro, dar a descarga três vezes e falar três palavrões.

Contive-me para não revirar os olhos. Essa é a versão mais comentada do ritual, entretanto, ainda assim, parece tão infantil. Que espírito se sentiria convocado por descargas?

— Os veteranos do ano passado diziam já ter avistado um fantasma aqui. Muitos acham que é só história para assustar os mais novos, mas, sabem como é, eu prefiro nunca duvidar. E, por isso, esse é o melhor banheiro da escola para o que viemos fazer hoje.

Interrompo a gravação e corro para pegar o tripé na bolsa, posicionando a câmera para que ela filme todo o banheiro panorâmicamente. Pego também o celular para gravar o meu POV.

Confiro se ambos estão gravando e lentamente me dirijo para frente do espelho, tentando deixar aquele momento o mais dramático possível.

Encaro meu rosto no reflexo. Meus cabelos bagunçados, as olheiras fundas e a pele pálida se encaixam bem na cena.

— Loira do Banheiro — chamo. — Loira do Banheiro. Loira do Banheiro.

Sigo em direção à última cabine da sequência e bato a porta três vezes. Entro no pequeno cubículo, segurando a respiração, e dou descarga mais três vezes. Sem ter coragem de inalar o cheiro, volto para o meio do banheiro e recito os três palavrões:

— Porra. Caralho. Merda.

Nada acontece, mas não é como se eu estivesse esperando alguma coisa. Aquele ritual infantil claramente não funcio...

A porta da última cabine se abre de supetão. A luz pisca.

Eu encaro meu reflexo no espelho. Os olhos arregalados, o corpo petrificado. Tudo o que consigo pensar é: um monitor me achou.

E então, vejo o vulto no reflexo.

Viro para trás imediatamente, mas antes que eu possa ver alguma coisa, as luzes se apagam.

Estou prestes a correr para fora do banheiro quando elas acendem de novo.

Buu... Quem me convoca aqui...?

Curioso, procuro de onde vem a voz. Um garoto loiro está apoiado na porta da última cabine. Ele veste um uniforme branco e azul, carrega uma lancheira no ombro e uma revista nas mãos — a qual lê enquanto fala comigo.

— É melhor correr antes que eu te mate... Buuu... — Ele nem parece ligar para o que fala, com a voz soando em um tom monótono.

Meu coração disparado começa a se acalmar no peito.

— Hã... Oi? — chamo sua atenção.

Ele levanta os olhos da revista com o cenho franzido.

— Ué. O que você ainda está fazendo aqui?

— Isso é uma pegadinha ou algo do tipo? — pergunto, genuinamente curioso. — Porque, olha, foi muito boa. Mas você podia ter feito as falas serem um pouco mais assustadoras, sabe?

O garoto apenas continua me encarando.

— Desde quando você está aqui? Eu vim assim que o sinal bateu e não vi ninguém subir antes de mim. Cara, você foi muito rápido.

Aquela pegadinha foi boa, eu realmente me assustei por alguns segundos. Faltou um pouco de assombro no final, mas talvez eu até consiga usá-la no vídeo. Vai ficar parecendo que eu realmente invoquei algum fantasma.

— Eu estou aqui já faz um tempo. Tipo assim, alguns anos — responde, sorrindo de canto.

Ha ha, muito engraçado. Legal, você não sai do personagem. É do grupo de teatro?

— Fala sério, garoto. Primeiro, você me chama nesse banheiro no-jen-to, depois, fica enrolando como se eu adorasse ficar aqui. — O loiro me analisa dos pés à cabeça, com a mão na cintura. — Olha só, eu sei que deve parecer que eu amo assombrar esse lugar, mas te garanto que não é tão legal assim, não, viu?

Ou ele é muito bom de atuação, ou realmente está irritado.

— Mas eu não te chamei aqui. Foi o Jungkook que te falou alguma coisa?

— Você fez todo o ritual e quer falar que não me chamou? — Seu tom é indignado, como se toda aquela confusão fosse culpa minha.

Só então minha ficha cai.

— Espera. Espera aí. — Meu coração começa a acelerar, mas não é de medo ou apavoro. É animação. — Você é a Loira do Banheiro?

— Tipo isso. Eu não sou A Loira do Banheiro, aquela da lenda. Mas eu sou um loiro. E um fantasma. E assombro esse banheiro em específico. Vale para você?

— Vale! Claro! Mas como...?

— Você faz perguntas demais para quem deveria estar morrendo de medo — interrompe, encarando-me com curiosidade.

Medo? Por que eu teria medo? Esse momento é como um sonho se tornando realidade!

— Eu não tenho medo de fantasmas. Você está realmente, realmente morto?

— Sim! Poxa, eu até fiz uma ceninha assustadora e você nem acredita em mim. — Um biquinho irritado toma conta de seus lábios. Ele desencosta da porta e vem em minha direção. — O que você quer que eu faça? Te possua ou algo assim?

— Você pode me possuir?!

Cara, seria uma experiência única! Não conheço ninguém que foi possuído por um fantasma.

— Não. E mesmo se pudesse, não faria. Você parece animado demais com a possibilidade. É estranho.

— Foi você quem ofereceu... — murmuro, contrariado. Por que me dar esperanças em vão?

— Presta atenção, garoto, eu vou provar só uma vez. Se quiser acreditar, acredite. Se não, eu vou embora.

Ele ergue a mão que não está segurando a revista e agita os dedos. As portas das cabines abrem e fecham no ritmo que sua mão dita. Após olhar de relance para as torneiras, todas elas se abrem, fazendo o metal enferrujado chiar.

Puta merda.

— Você é um fantasma.

Minha nossa. É como um sonho. Um fantasma de verdade.

— Pois é. Prazer, Jimin, o fantasma desse banheiro.

Meio sem jeito, estendo a mão para ele.

— Prazer, Yoongi. Eu sou, hã... vivo. E aluno dessa escola.

Ele sorri em minha direção, mas não aperta minha mão.

— Legal, Yoongi. Não me leve à mal, mas você tocou naquela descarga imunda e eu não vou encostar na sua mão.

Assinto, rapidamente limpando a palma na calça.

— Como você consegue fazer essas coisas? É tipo mágica!

— Já me chamaram de demônio, de assombração, mas de mágico, nunca. — Ele ri alto e começa a andar pelo banheiro, aproveitando para fechar as torneiras. — Sei lá. Eu só consigo. Eu penso e acontece. Tipo, força da mente, sabe? Acontece desde que eu morri.

— Cara, que incrível! Como você morreu?

Ele me olha embasbacado. Será que é tabu perguntar para fantasmas como eles morreram?

— Bati a nuca. — Vira-se de costas, mostrando um machucado extenso e roxo escuro bem na nuca. — Bati na privada, acredita? Aí, apaguei e morri.

— Nossa, eu sinto muito.

— Faz parte. — Dá de ombros.

Por alguns segundos, temo ter dito alguma coisa errada, só que, antes que eu possa me desculpar, ele muda de assunto:

— Seu uniforme é diferente do meu — comenta, dando a volta pelas minhas costas, puxando a blusa entre os dedos. — Em que ano você está?

— Estou no nono.

— O quê?! — Para na minha frente, inclinando-se em minha direção, como se analisasse cada parte do meu rosto. — Achei que você tivesse uns doze anos.

— Eu tenho quase quinze! — brigo. Não gosto quando as pessoas acham que eu sou uma criança, e isso acontece vezes demais!

— Não parece. Eu tenho quatorze e pareço ser mais velho do que você.

— Há quanto tempo você tem quatorze?

— Depende. Em que ano a gente tá?

— 2022.

— Não acredito! — Arregala os olhos, escandalizado. — Dez anos! É tempo demais!

— Você morreu em 2012?

— É. — Jimin olha para a revista que carrega com um biquinho despontado. — Imagina só quantas edições dessa revista já não saíram! E eu não pude ler nenhuma...

— Que revista é? — pergunto, tentando puxar assunto. Eu não sou bom de conversa, mas quero manter o papo rolando. Não é todo dia que consigo conversar com um fantasma.

— Olha. — Entrega-me a revista, hesitante. — Toma cuidado, viu? É meu bem mais precioso.

A revista é uma Capricho de 2012, com a foto de uma banda na capa. Parece uma revista adolescente qualquer.

— Restart. Você curte?

— Hã... Não conheço.

— Eles não fazem mais sucesso?! — pergunta rapidamente, com a voz subindo algumas oitavas.

Alarmado com seu tom, desvio os olhos para ele. Jimin me fita com a expressão mais triste que já vi.

— Eu não sei! Não estou muito por dentro do mundo da música, sabe? — minto. Eu nunca escutei sobre essa banda, mas também não quero fazer o fantasma chorar. — Talvez eles façam.

— É... Talvez...

— Você parece gostar bastante deles, né? — Tento melhorar o clima tenso.

— Eu sou o maior fã deles. Família Restart para sempre. Eu sou muito Lanzazético.

Assinto, como se soubesse do que ele está falando.

— Dá pra ver na sua cara que você não tá entendendo nada. Poser. — Revira os olhos. — Quer dizer que eu gosto desse aqui, o Pelanza.

Ele aponta para a capa. Eu só concordo.

— Qual é o seu preferido?

Engulo em seco. Tinha resposta certa ou errada? Se eu escolhesse o errado, ia ter minha alma aprisionada para sempre naquele banheiro sujo?

— Esse. — Aponto para um loirinho aleatório.

— Você é Thomético. Esse é o Thomas.

— Ah, tá. Entendi.

Ele pega a revista das minhas mãos e a encara com os olhos brilhando. É a primeira vez que eu vejo um fantasma fã de bandas pop.

Quer dizer, é a primeira vez que eu vejo um fantasma, no geral.

— Eu já reli essa revista uma centena de vezes.

— Imagino. Deve ser chato ficar aqui sem fazer nada.

— Mais ou menos, na verdade. Eu só apareço quando alguém me chama. No resto do tempo, é como se eu estivesse dormindo.

Jimin volta a andar pelo banheiro, parecendo subitamente curioso.

— O que é isso? — pergunta, parando em frente à minha câmera.

— É uma câmera. Ela serve para tirar fotos e gravar.

— Eu sei o que é uma câmera. — Olha-me de relance, quase ofendido, como se eu fosse um idiota. — É que na minha época elas eram muito caras. E um pouco diferentes também.

Ele dá a volta no tripé e começa a apertar os botões.

— Espera, espera! Cuidado!

Corro para o seu lado, para garantir que ele não apague nada sem querer. Todo e qualquer segundo daquela filmagem era muito, muito precioso.

— Isso aqui é importante demais. Como... como sua revista! Okay? Então, sem apertar botões.

— Certo. Sem apertar botões — repete, despreocupado. — O que você tem de tão importante aí?

— Gravações. Eu estou gravando uma série de vídeos sobre lendas urbanas para o meu canal de terror. O vídeo de agora é sobre a Loira do Banheiro — explico. — Por isso fiz o ritual.

— Sério?! Posso ver? Eu nunca vi como é, só apareço depois que as pessoas me chamam.

— É o mesmo ritual que o da Loira do Banheiro, mas pode sim.

Paro a gravação, entro na galeria e volto algumas filmagens, dando play nas que gravei naquela tarde.

Jimin se aproxima ainda mais, focado na telinha. Ele nem parece perceber quando seu braço encosta no meu.

Assim que minha pele entra em contato com a sua, um arrepio cruza meu corpo. Era como tocar uma nuvem muito gelada. Não tão sólido, mas frio como gelo.

Cara, eu estou tocando em um fantasma.

— A escola não mudou nadinha. — Seu comentário me tira do meu surto interno.

— É mesmo? — pergunto, desviando os olhos dos nossos braços para seu rosto.

De perto, posso ver melhor os detalhes do seu rosto. Sua pele é muito pálida e seus olhos castanhos são contornados por uma cor levemente arroxeada, assim como sua boca.

Ele é um fantasma bonitinho.

— Passa para o próximo — pede, parecendo fascinado. — A qualidade é tão boa!

Eu passo para a próxima gravação. E para a próxima, e para a próxima.

— Você fica engraçado assim — brinca, rindo da minha gravação contando a história da lenda. — Parece aqueles vídeos de susto.

Eu não consigo conter um sorrisinho. Não é exatamente esse tipo de vídeo que eu gravo, mas, se essa é a vibe que eu passo para Jimin — que é a personificação do terror! —, fico satisfeito.

— Esse é o do ritual — explico, dando play.

Nós dois assistimos calados, até o momento em que a porta bate e a luz pisca.

— Fala sério, minha entrada foi triunfal!

— Foi mesmo, mas depois perdeu todo o potencial.

— O quê?! — Ele me encara perplexo. Só então parece perceber nossa proximidade e se afasta, pigarreando. — Quer dizer, eu acho que foi bem assustador, sim, senhor.

— O jeito que você falou não dá muito medo. Mas as portas batendo foram bem boas.

— Ah, tá, obrigado, especialista em assombrações. Só queria te lembrar que o fantasma aqui sou eu, okay?

— Cara, eu sei, mas sou bem exigente com o meu trabalho. E eu tenho certeza de que já vi mais filmes de terror do que você. Acredita em mim, o jeito que você falou não deu medo nenhum.

Jimin até pode ser um fantasma, mas eu, com certeza, sou mais especialista em terror do que ele. Disso, não tenho dúvidas. Estou até disposto a brigar sobre isso.

— E o que você sugere?

— Você poderia sussurrar, ou dar um grito estridente. Ia fazer todo mundo ficar com medo.

Hum — murmura a contragosto.

— Você pode sussurrar perto da câmera na próxima.

— Espera aí, quem disse que vai ter uma próxima?

É mesmo. Eu só tinha aquela gravação. Não era como se Jimin fosse aparecer de novo para me assustar ou algo assim.

Se bem que...

— E se...

— Não.

— Mas eu nem falei nada!

— Eu já sei o que você vai pedir. Sinto muito em te dizer, mas aparentemente eu nem posso aparecer em vídeos. Olha só.

Desvio os olhos para assistir à gravação que ainda rolava. Eu estava falando sozinho. A imagem tremia de vez em quando, como se houvesse alguma interferência, mas Jimin não aparecia.

— Verdade... Mas você pode falar, né? E bater as coisas! — Olho para ele com meus melhores olhos pidões. Eu praticamente nunca ajo daquela forma, a não ser que seja uma emergência. — Por favor, Jimin! Imagina só, vai ser o melhor vídeo sobre a Loira do Banheiro em todo o YouTube.

— Não sei, não... E eu nem sou a Loira do Banheiro!

— Mas você é loiro. E assombra aqui. É tipo, O Loiro do Banheiro!

— Deixa eu pensar.

Ele faz um biquinho e pensa, encarando a lente da câmera. Eu só espero, torcendo para que ele aceite.

Seria maravilhoso, assustador, assombroso. Simplesmente, o melhor vídeo do canal!

— Tá, eu aceito. Mas com uma condição.

— Qual? — pergunto, determinado a fazer qualquer coisa.

— Quero informações sobre o Restart. Todo mundo. Como estão, o que fazem, músicas novas, família. Tudo!

— Fechou!

Uma condição simples para uma oportunidade enorme.

— Certo. Acordo fechado então. — Ele não aceita a mão que eu estendo em sua direção. — Não vamos dar as mãos, você ainda não lavou a sua mão suja.

— Tudo bem — respondo, sem nem me importar. Eu estou radiante.

— E é bom você trazer informações relevantes, hein? E fotos! Eu quero fotos.

— Eu vou construir um dossiê completo, Jimin. Confia.

Ele ergue as sobrancelhas, surpreso.

— Tá. Confio. Mas se não for bom o bastante, eu sumo e levo sua alma comigo.

— Você pode fazer isso?! — pergunto entusiasmado, com um sorriso já se abrindo no meu rosto.

— Não. Nem começa a ficar animado.

Solto um muxoxo enquanto ele ri.

— Você é engraçado, Yoongi. Diferente dos outros garotos.

Arregalo os olhos e imediatamente viro para o lado.

Estou tímido. Eu nunca fico tímido na frente dos outros.

— Valeu, eu acho.

Quando o encaro de novo, ele está sorrindo.

— Vou indo agora. Quando voltar, não esqueça de me chamar!

— Você não pode aparecer quando quer?

— Eu só posso desaparecer quando quero. Para aparecer, preciso ser chamado. Então, não esqueça! Faça todo o ritual e lave as mãos depois, por favor.

— Certo. Ritual. Mãos — repito.

— Isso aí. Tchau, tchau, Yoongi! Nos vemos em breve, espero.

Jimin acena em minha direção e some em um piscar de olhos, como se nunca tivesse estado ali.

Eu fico sozinho no banheiro, parado, perguntando-me se aquilo realmente tinha acabado de acontecer.

Eu tinha fechado um acordo com um fantasma — um fantasma bonitinho, loiro e “Lanzazético”.

Saio do banheiro sujo, levando o celular e a câmera, e me sento ao lado da bolsa jogada no corredor escuro.

Enquanto espero o sinal da turma da noite bater para me infiltrar e sair entre eles, fico assistindo e reassistindo as filmagens.

É real. Fantasmas são reais. Jimin é real.

Sorrio como não sorria há muito tempo. Eu me sinto como uma criança ganhando doce, como um estudante passando de ano, como... como Min Yoongi, descobrindo que tudo o que mais ama é, definitivamente, real.

~~~~

Notas finais: Foi isso! Vocês pegaram a era Restart? Eu não peguei muito, só lembro de ouvir bastante nas rádios, mas depois dessa fanfic tenho escutado constantemente.

Espero que tenham gostado! Até o próximo capítulo! <3

6 de Julho de 2022 às 23:39 0 Denunciar Insira Seguir história
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