São quatro horas da madrugada. Cachorros e gatos dormem. Famílias, em suas casas pelos arredores, também dormem. Insone sou eu. Mais o motorista de caminhão que acabou de passar na estrada aqui perto.
Não quero saber se o céu está estrelado ou nublado. Não me interessa a iminência dos primeiros raios do Sol para anunciarem o novo dia. Contento-me com o silêncio acolhedor.
Atravesso a madrugada às voltas com as palavras, observando-lhes o que denotam e o que podem conotar. E escrevo, prestando atenção à ortografia, à gramática, ao capricho de compor bem a frase. Busco elegância e precisão.
O Português é o fundamento do meu pensar e do meu sentir. Existo na minha Língua.
Fosse o meu repertório limitado, a minha vida seria pobre. Um nada a declarar. Os meus afetos seriam indigentes. Um nada a oferecer a quem amo.
Um vasto vocabulário é obrigatório para quem precisa expressar-se com clareza e objetividade. É indispensável para quem deseja argumentar com entendimento. É imprescindível para a sedução e a conquista da criatura que não se verá mero objeto de desejo, mas pessoa amada. É útil, inclusive, para o chiste inteligente ou para a ironia sutil, dispensando grosseria e vulgaridade.
Frases, mensagens...
A poesia, então! O poeta escolhe a dedo as palavras, arma os versos com exatidão, elabora o poema com tino -- arte de navegador experimentado que tira o rumo, risca a rota e, sem erro, aponta o porto (seja logo ali, numa esquina do mar, seja alhures, num cais além do horizonte).
Imenso, o oceano que a madrugada contém. E o singro a escrever para ir longe, para chegar... De preferência, ao coração de quem me lê.
Obrigado pela leitura!
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