laressa Laressa Leal

Apenas cães uivam à luz da lua... E maior injustiça não poderia acontecer. Eu os invejava e subia no telhado todos os dias para apreciá-la. Nunca fui capaz de uivar, nem tinha coragem o suficiente para declarar a minha admiração em voz alta. Os outros bichos desdenhavam de mim: "Por que está indo contra a sua natureza?!", "Você não é um cachorro!", "Não se comporte como tal." Ainda assim eu escalava até o ponto mais alto, para poder cortar alguns metros dos milhares de quilômetros que nos separava.


Conto Todo o público.

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Capítulo Único.


"Á todos aqueles que admiram o que seu coração clama, ao longe, sem nunca poder tocar aquilo que se deseja."

Me estiquei preguiçosamente, aguardando a pouca luz que o sol irradiava sumir no horizonte. O cair da noite fez as poucas gotículas de água brilharem no meu pelo negro, refletindo a luz estática dos postes que pouco a pouco se acendiam pelas esquinas.

Eu os odiava.

Quebraria cada lâmpada e entortaria cada poste, que se erguiam arrogantes entre as ruas de concreto, se fosse fisicamente capaz disto.

Por um motivo simples: Eles ousavamdesprender a sua luz, fraca e enjoativa, competindo com a escuridão da noite.

Disputandocom a minha amada.

Era uma rivalidadecompletamente inútil, pensei comigo mesmo enquanto saltava de um telhado para o outro. Nem todas as luzes do planeta acesas ao mesmo tempo seriam capazes de ofuscar o seu encanto.

Ninguém escrevia músicas sobre velas, nem sobre claraboias e muito menos sobre os malditos postes.

Já ela colecionava poemas, canções, livros e obras de arte que tentavam capturar uma fração de sua graciosidade.

Até mesmo fiéis possuía, e eu me via encaixado no mesmo lugar que eles. Como poderia negar que era divina se eu mesmo separava um lugar especial em minha mente e coração para adorá-la?!

Um cão, em algum lugar que não podia enxergar, começou a uivar. Me empertiguei de raiva e inveja, fazendo cada pelo do meu corpo se arrepiar, e soltei um grito miado alto.

Ele parou de uivar e começou a latir ao longe.

Sorri convencido, pulando entre osmuros de mais algumas casas até chegar a um telhado especialmente alto.

Ele poderiauivar o quanto quisesse, mas eu duvido que em um bilhão de anos a lua já tenha respondido algum cão uivando de volta.

Me equilibrei no parapeito e esperei, até que a minha amada estivesse pronta e espantasse as nuvens que a cobriam.

Me balancei de um lado para o outro nervosamente. Haviam dias como aquele, em que ela me castigava com a sua timidez e se recusava a aparecer, se escondendo atrás das cortinas negras e carregadas.

Odiava esses dias também. Mas entendia e esperava que todos eles passassem, e então, na noite seguinte, nem que fossem por alguns momentos ela aparecia, talvez apenas para ver se eu já havia desistido ou me cansado de esperar.

Eu nunca desisti e muito menos me cansei.

Depois de alguns momentos as nuvens deram espaço e com todo o seu brilho ela me recebeu.

Suspirei aliviado quando a vi, brilhante e formosa no céu, eme ajeitei para observá-la.

Meu âmago se encheu com uma paz morna, porque de uma coisaestava convicto:

Cães podiam uivar para a lua sem receber resposta.

Mas enquantoeu estava sob a sua luz, tinha certeza que ela me contemplava de volta.

Sentir sua luz branca sob meu pelo era como ser correspondido, e isso já bastava para que pudesse alimentar o nosso amor impossível em meu coração.

Um gato e a Lua.

Tão impossível quanto isso.



2 de Julho de 2022 às 13:14 0 Denunciar Insira Seguir história
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Fim

Conheça o autor

Laressa Leal Não sei o que acontece a partir desse ponto, mas será uma aventura deliciosa descobrir. Ela/Dela. ENFP. Sugestões, reclamações, protestos, opniões impopulares, dúvidas ou uma reflexão inesperada da madrugada: manda mensagem amigx, vamos rasgar uma ideia.

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