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Desde o início do universo a morte e a vida coexistiam em perfeita harmonia, uma sendo dependente da outra, cada uma fazendo o seu papel. Com o surgimento de novos planetas e novos seres, tanto a vida quanto a morte tiveram que se adaptar. No planeta Terra, os seres humanos denominavam essas essências de “anjos”. Yoongi é um anjo da morte nascido, sua existência se resumia a ceifar as vidas humanas, isso até receber como missão treinar, pela primeira vez, um dos novos anjos da morte que seriam criados. E o seu aprendiz é Jimin, que já foi humano e uma alma vagante por séculos depois do seu falecimento, mas que agora é um desses inexperientes ceifadores.


Fanfiction Bandas/Cantores Para maiores de 18 apenas.

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Começo ou fim?

Escrito por: @HannaMinn / @Hannaella06

Notas iniciais: Devo dizer que essa é minha história pitchuca, uma oneshort com um universo só dela que me fez morrer de amores.
Mas é claro que ela não estaria aqui se não fosse o @scarisvancci, obrigada pela betagem, meu bem <3
Espero que aproveitem


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Antes do começo, tudo era escuridão, o mais denso vazio. Frio. Sem vida. Era dessa forma desde sempre, até que algo aconteceu, surgindo o princípio de tudo. Uma minúscula luz surgiu em algum lugar daquela imensidão do nada, quase como um grão de glitter em uma parede coberta com preto fosco, um pequeno defeito que se tornava cada vez mais brilhante e chamativo para enfim dar lugar a uma explosão ofuscante e silenciosa. Esse era o prelúdio do universo.

A roda do tempo foi instaurada, diversos corpos celestes foram criados e a vida deu-se origem. Mas o que tudo isso tem a ver com essa história? É o que vocês podem estar se perguntando. Bem, meus caros leitores, devo lhes dizer que tudo, pois, assim como a vida, surgiu também, quase ao mesmo momento, a morte.

Acredito que eu possa dizer que, enquanto o tempo é o rei, a morte é sua princesa mais adorada e, ainda que não fosse a mais velha, era a favorita para a sucessão. Filha do tempo e da escuridão, para nós, humanos, ela tem uma conotação de tristeza e solidão, mas a morte tem várias facetas nos diferentes mundos e para as diferentes espécies.

No entanto, não iremos focar nisso; nos direcionaremos ao que realmente importa para vocês, meus queridos curiosos. Como disse anteriormente, a morte e a vida surgiram juntas, sendo codependentes uma da outra e, aqui, no planeta Terra, elas são representadas por criaturas humanoides que recebem inúmeros nomes, mas que chamaremos de anjos. E é a história de um desses anjos que irei contar hoje para vocês, mais especificamente, de um anjo da morte.


“Em uma noite escura

Sem estrelas, sem lua

O brilho de olhos negros está a surgir

Seu aparecimento não é cercado por tristeza ou dor

Nem alegria ou esperança

Não existem sentimentos, não existem sensações…

Em um silêncio tão profundo

Sem o uivo do vento, sem o respirar

Os pés descalços se põem a andar

Um passo sobre as folhas secas anuncia sua chegada

Quem jaz pode ver

Que um belo anjo sem asas veio o receber”


A morte se mostrou um enigma para a humanidade desde o momento em que dela os homens se deram conta. Tentam justificar com lendas e crenças, mas nada de concreto se tem. Alguns afirmam terem tido uma visão enquanto passavam por uma experiência de quase morte; dizem terem conversado, visto ou escutado espíritos que voltaram para confessar o que existia além da vida. Nada, porém, pode trazer a certeza que procuramos desde o início da nossa jornada consciente.

Por ser algo tão obscuro para uma espécie que deseja evidências físicas, que possam ver e tocar, a morte, com o passar das eras, acabou se consolidando como algo ruim, quase sempre cercada de tristeza, e, com frequência, fortes sentimentos de raiva, medo e culpa são direcionados à ela.

Yoongi sabe bem sobre isso. Como um anjo da morte de muitos milênios, Yoongi já presenciou muitas partidas de humanos de diferentes idades, do minúsculo conjunto de células recém-formado ao enrugado e flácido corpo cansado. Ele já compreendeu que os humanos não têm noção sobre uma das ordens de regência do universo, ou seja, a morte. Só que ter conhecimento disso não faz com que a sensação de decepção, a cada vez que vai presenciar o último suspiro de alguém,desapareça.

Não pela vida que está se findando daquele corpo físico, mas sim pela forma como os vivos ao redor pensam e falam sobre ele, afinal, a morte significa o fim de um ciclo para se iniciar outro. As células do corpo se degradam e os átomos se libertam para formar novas substâncias, novos corpos — humanos ou não —, novas vidas. Porque não pode existir vida se não houver morte.

Yoongi só queria que os humanos entendessem isso e parassem de culpá-lo. Na verdade, não diretamente ele, mas o que ele significava, uma vez que os ceifeiros eram os encarregados de trazer aquilo que mais tinham medo. Humanos tolos, no entanto, também extraordinários. Não contem a ninguém, mas o anjo da morte, Yoongi, secretamente é fascinado pela humanidade. É até engraçado ver sentimentos tão… humanos em um anjo da morte.

Uma vez que os anjos da morte devem aparecer nos momentos finais de uma vida, eles não têm muito contato com os homens. Entretanto, Yoongi se sentiu curioso e passou a observar a humanidade como um passatempo e, com o passar dos séculos, adquiriu jeitos, trejeitos e sentimentos. O fato de se chamar Yoongi é uma prova disso.

Os anjos, tanto da morte quanto da vida, não possuem nomes, eles apenas sabem que estão sendo chamados. Yoongi, diferentemente dos demais, preferiu aderir a um nome, um escolhido com muita cautela e que traz significado para quem o carrega — apesar de contraditório com a sua “carreira” de vida. Afinal, Yoongi quer dizer: cresça bem e viva uma boa vida.

Talvez, no final das contas, não seja tão contraditório assim…

Observando, mais uma vez, os pequenos humanos correndo de um lado para outro soltando gritinhos de euforia, Yoongi quase não percebeu a chegada de seu melhor, único e silencioso companheiro: o Tempo. Ao contrário do anjo da morte, Tempo observa os homens por necessidade, pois cada minúscula ação do mais ínfimo humano direciona toda a história a um caminho.

O Tempo vê todos, no mesmo instante, como um rio que toma diversas direções, convergindo ou divergindo os caminhos de acordo com as escolhas feitas. Sua mente é um labirinto em que passado e futuro coexistem, e o presente corre pelos corredores em busca de uma saída inexistente.

Apesar de ser uma companhia silenciosa, Yoongi gosta da presença do ser superior. Às vezes, ele até tem a sorte de ouvir uma ou duas palavras sobre o que vai acontecer a seguir com os humanos que ambos observam.

Ao longe, as crianças continuavam correndo; talvez tenham passado minutos vendo-as. É meio estranho contar o tempo ao lado do próprio Tempo, Yoongi sorriu pensando nisso.

Um vento mais forte soprou sobre o vale, trazendo a notícia de que uma tempestade se aproximava. Uma mãe chamou suas crianças de volta ao lar e, segundos depois, um grito não mais alegre soou, calando todos ao redor. Uma das crianças caiu e se machucou gravemente, e Yoongi sentiu o seu chamado.

— Todos os córregos convergiram e formaram um imenso rio — A voz grossa e pouco usada chamou a atenção do anjo da morte, que se preparava para partir. Olhando em seus olhos negros, Tempo falou novamente, antes de desaparecer: — Este evento vai acontecer!

Yoongi não entendeu a afirmativa, e ficou ainda mais confuso ao notar as sérias feições alheias; ele poderia jurar que viu um brilho de medo quando foi encarado. Mas não havia o que fazer naquele momento, Tempo havia ido embora e no vale seu trabalho o chamava. Ele não podia o ignorar mais ou se tornaria extremamente doloroso, para ele e para o humano, que não conseguiria sucumbir até sua chegada, vivendo em agonia cruel seus últimos momentos.

Com um último suspiro, começou a andar lentamente até a criança ferida. Era hora de ceifar mais uma vida.


“A morte é poesia

Singela e enigmática

A morte é poesia

Triste e apaixonada

A morte é poesia

Bela e solitária.

A morte é poesia

Incompreendida e indesejada”


Ser chamado pela essência do universo não era algo que acontecia com frequência. Ser chamado pela essência do universo junto a todos os outros anjos da morte relacionados aos humanos era um evento quase impossível e, se a feição dos outros anjos revelavam algo, era que todos eles também estavam confusos com aquela reunião. Ver a agitação em seres naturalmente controlados, sem dúvida, era um ponto fora da curva, tão distante que poderia se transformar em uma reta.

As estrelas se alinharam mais cedo do que esperávamos. Uma raça inteira vai evoluir e, apesar de sabermos dessa possibilidade, não estamos preparados para esse evento.”

Não era possível ouvir realmente a voz que falava, as palavras simplesmente reverberavam em suas consciências, prendendo a atenção ao que era "dito", principalmente após ser revelada a evolução de uma espécie.

Evoluir não significa mudar de forma, adquirir uma nova habilidade ou ter algum tipo de crescimento; evoluir para o universo tem o sentido extinção. Sim, essa é a definição mais próxima para limitadas mentes como a dos humanos.

Visto que a hora chegou antes do aguardado, medidas necessárias deverão ser tomadas, para que o caos previsto pelo Tempo seja evitado. A vocês, anjos da morte, nascidos com a missão de completar o ciclo da vida, lhes trago um novo desafio. Novos ceifeiros precisam ser formados; treinados, para o grande evento que se aproxima.”

Após essas palavras, muitos dos anjos da morte que estavam ali ficaram confusos. Um anjo da morte só surgia quando um anjo da vida era criado. Uma leva de detentores da existência seriam criados para os ceifadores necessários surgirem? Mas o que eles fariam com tantos anjos da vida se a raça humana estava dando um passo mais próximo da aniquilação?

Sentindo a onda de confusão vinda dos seus ouvintes, o ser superior retomou a palavra:

“Não se aflijam com o futuro desconhecido. Os novos ceifeiros não serão criados ou nascidos como vocês, eles serão transformados, remoldados para sua nova existência.”

E então tudo se calou, nenhum som poderia ser ouvido pelos segundos que se passaram. Ao lado de cada anjo da morte, uma alma aparecia, talvez mais confusa que os milenares ceifadores, que, de alguma forma, sabiam o que devia ser feito no momento em que sentiram as essências dos novos anjos da morte serem atreladas às suas. Nada mais foi “dito”, a presença suprema foi se esvaindo até desaparecer quase que por completo. Era como se as estrelas se realinhassem nas suas posições originais.

— O que está acontecendo? — Uma voz suave, banhada em confusão, soou ao lado de Yoongi.

Suspirando, o anjo da morte encarou o rapaz que havia questionado para ninguém em particular, e a primeira coisa que ele notou foi que a personificação daquela essência era linda. Pequenos olhos castanhos, lábios rosados cheios, bochechas fofas, maxilar delineado e fios de cabelo na cor do mais puro mel.

O ceifeiro só percebeu que estava apenas olhando para o outro quando as feições deste se tornaram ainda mais confusas e interrogativas. Desviando nervosamente o olhar, Yoongi voltou a ficar de costas, começando a dar pequenos passos para frente.

— Vamos, no caminho explico o que sei — falou calmamente, ignorando de propósito o momento desconcertante anterior.

Completamente perdido, o rapaz deixado para trás observou como à sua volta ficava vazio, aqueles que ocupavam aquele espaço iam saindo em duplas. Percebeu, então, que não possuía muita escolha a não ser seguir aquele estranho sabia-se lá para onde, na esperança de obter alguma resposta.

Não demorou muito para Yoongi entender o motivo daquelas essências terem sido escolhidas. Elas eram essências humanas, porém, mais do que isso, eram antigas, algumas tão antigas quanto a própria lucidez humana de sua existência. Entre os mortais, elas podem ser conhecidas como divindades ou almas penadas, em algumas culturas até de deuses são chamadas, só que eram apenas formas de energia que se tornaram poderosas demais e conseguiram se manter “vivas” sem a parte física.

É interessante quando se vê assim. Os humanos, assim como outras criaturas espalhadas pelo universo, são compostos por duas partes principais: a física e a energética ou essencial. A parte física é a que sofre os efeitos do tempo, aquela que segue o ciclo da vida de nascer, crescer, reproduzir e morrer. É da parte física que os anjos da morte se encarregam de encerrar o curso, seja grande ou pequeno.

Já a parte energética é a responsável por dar aquilo que se conhece por consciência, discernimento, compreensão de quem se é. Essa parte vem atrelada à carnal e, quando o fim do corpo chega, geralmente a essência retorna à sua matriz no seio do universo. No entanto, certas energias se tornam fortes e conseguem ficar vagando por entre os vivos sem destino definido, pelo menos até o momento em que foram convocadas a serem os novos anjos da morte pelo universo.


“As cores vívidas da última estação

Vão se desbotando.

Os aromas que se espalharam

E eram apreciados

Estão se transformando.

Maravilhosos perfumes

Agora são fétidos odores.


Em um tic-tac o relógio anuncia

O tempo decorrido

E a oportunidade perdida.

A primavera se foi.

O outono se aproxima.


As flores

Que belamente desabrocharam

As casas enfeitaram

E aos amores foram entregues

Hoje, secas e sem vida,

Decoram a lixeira.

À espera de pela terra

Serem engolidas.


Porém, está tudo bem

Porque na próxima estação,

O frio do inverno

Traz de volta a esperança da nova floração”


Explicar o que estava acontecendo pode ter sido mais difícil do que Yoongi imaginou, mas ensinar como fazer para ceifar uma vida se tornou um verdadeiro desafio. Ele não sabia como dizer, pois em sua concepção era simples.

— É só ir até a pessoa cujo destino está se findando e interromper seus batimentos. — Para o anjo da morte era tão simples que não precisava de um passo a passo, por isso ele meramente ditou essas palavras quando chegou à parte de esclarecer as atribuições ao seu primeiro aluno.

Não foi uma escolha sábia.

O recém-anjo da morte ficou ainda mais confuso. Certo, ele foi escolhido para um grande evento, mas seu papel não estava esclarecido, o tal evento muito menos. E, afinal, qual foi o motivo de ele ter sido escolhido? Não saberia dizer. Seus pensamentos estavam dando tanto nó que seria impossível achar a ponta da corda para começar a desatar.

Depois do momento da explicação não muito esclarecedora, ambos permaneceram em silêncio que se tornava cada vez mais constrangedor com o passar dos minutos devido a falta de intimidade e convivência “forçada”. Yoongi não estava acostumado a ter companhia por tanto tempo e estranhava a ligação. Ele conseguia sentir um leve repuxar em direção ao outro, como um aviso de que não ficaria sozinho.

— Como devo te chamar? — o questionamento rompeu o silêncio instaurado por longos minutos. O novo anjo da morte se desassociou de seu corpo físico há muitas décadas, mas algumas convenções sociais permaneceram enraizadas junto à sua essência.

Yoongi se surpreendeu ao ouvir a doce voz novamente. Desde que deixaram o espaço onde tiveram os seus cernes entrelaçados, só havia ouvido murmúrios alheios de entendimento ou confusão conforme falava sobre a situação que presenciavam. Ele permaneceu poucos segundos contemplando a pergunta feita pela primeira vez em sua existência e, por instantes, não soube como responder.

— Yoongi… — sua voz saiu insegura, quase como se tivesse medo da reação que receberia. Talvez ele até tenha ficado com vergonha o suficiente para desviar o olhar daqueles intensos orbes esverdeados.

— Jimin — disse o jovem ceifeiro, momentos depois de perceber que mais nada seria dito pelo outro. “Não que você tenha perguntado”, completou em sua mente. Notou como o seu mentor — ele já poderia o chamar assim? — ficou ainda mais constrangido por ter se deixado perder em pensamentos e a coloração rosada aparecendo nas bochechas pálidas quase passaram despercebidas.

Interessante, refletiu o ex humano. Jimin não tinha muitas memórias de vida como um humano completo, mas ele se lembrava com precisão do momento de sua morte e do anjo que veio cortar o laço entre seu físico e sua essência. A aura dele era pesada e, apesar de usar uma aparência humana, nada nele refletia qualquer tipo de humanidade.

Quando não conseguiu se desgrudar totalmente da vida, mesmo sabendo que não poderia voltar, a essência de Jimin o impossibilitou de seguir ao próximo estágio, e ele ficou vagando entre os planos. Durante esses séculos que passou no limbo, ele havia visto muita coisa, incluindo anjos da vida e da morte. Nenhum deles possuía aquele toque especial que era reconhecido pelos humanos de natureza.

Eles não tinham realmente um nome, não falavam nem entre si direito e, principalmente, Jimin tinha certeza de que não podiam corar. Esse anjo da morte, Yoongi, era uma exceção. Só tinha que descobrir se isso era uma coisa boa ou ruim.


“Oh, bela dama, eu peço

Quando chegar o meu momento

Não quero estar desperto.

Venha na calada da noite

Na tranquilidade da madrugada

Com a lua alta no céu

Assopre a vela da minha alma”


Ainda era estranho, mas a silenciosa convivência aos poucos ia se tornando familiar, os dias e semanas que passavam na companhia um do outro iam fazendo a intimidade, que só aparece com a coexistência, ir se formando. Jimin acompanhava, intrigado, o ceifeiro durante quase todos os momentos do dia. Vez ou outra, ele desaparecia por minutos antes de retornar como se nunca tivesse partido, e foi fácil perceber o quanto ele era encantado pelos humanos, observando-os de longe e deixando transparecer suas pequenas emoções.

Sentiu um repuxar característico em seu ser. Não havia mais como adiar, era o momento de Jimin aprender e fazer por si mesmo as obrigações de um ceifeiro. Sem dizer nenhuma palavra, Yoongi os levou para onde foram chamados.

O local para onde foram possuía longos caminhos coloridos formando um arco-íris no chão. Rosa, lilás, laranja, vermelho… E assim ia passando pela aquarela. Ao fundo, tudo era verde. Demorou um pouco para descobrirem que estavam em uma vasta plantação de flores desabrochando. O céu meio cinza não tirava a beleza exuberante do lugar e, mesmo que ambos já tivessem vivido por muitos anos, ainda conseguiam parar e contemplar o que estava à frente, sem raciocinar.

Yoongi olhou para um encantado Jimin. Era um pouco estranho para ele perceber que a personificação daquela velha essência humana continuava a ter traços de vida. Os olhos brilhantes e o pequeno sorriso involuntário, devido ao seu estado de contemplação… Parecia que nada de ruim havia acontecido e que nenhum anjo da morte havia tocado nessa alma perdida.

O chamado ficou mais forte. E o experiente ceifeiro olhou para além do campo florido e percebeu que havia uma cabana passando quase despercebida ao longe, e era de lá que vinha o puxão que lentamente se tornava mais intenso e começava a incomodar.

Sem dizer uma única palavra, o anjo da morte começou a caminhar por entre as flores, sendo inundado pelos diversos aromas florais. Nem precisou olhar para trás para saber que estava sendo seguido.

Quando chegaram ao verdadeiro destino, eles não precisaram bater ou mesmo abrir a porta para poder entrar. Aquele tipo de estrutura física não era capaz de impedi-los, seus corpos de aspecto espectral ultrapassavam os limites do que era palpável ao homem. Lá dentro, não foi difícil notar o que estava acontecendo.

Deitado em uma cama simples, um jovem em seus poucos 20 anos desfalecia. Aos pés do móvel, sua mãe silenciosamente sofria, com os olhos inundados d’água e o coração triste e inconformado com a previsível perda. Para um bom observador, ainda veria ao fundo o senhor de fios brancos, tentando ser forte, mas pronto para a despedida.

Yoongi se aproximou e olhou para o rapaz. A pele estava tão pálida que era possível ver as rotas coloridas que as veias de sua face faziam, mais um repuxo em sua essência veio com maior intensidade mostrando que a hora havia chegado.

— Jim… — começou, virando-se para falar com o aprendiz. No entanto, este continuava parado no mesmo lugar desde que chegaram. Horror, essa era a expressão em sua face; não havia mais o brilho despretensioso de segundos atrás quando estavam na plantação florida. — Jimin? — chamou com firmeza, esperando ter a atenção devida.

O ex-humano não conseguia acreditar. Sim, ele já tinha compreendido que estava sendo preparado para ceifar vidas, mas aquela cena era algo que não esperava presenciar. As memórias perdidas de sua antiga vida retornavam com força enquanto encarava tudo com um assombro familiar. Ele também havia morrido em casa devido a alguma doença desconhecida. Lembrava-se de seus pais sofrendo, mas garantindo que ficaria tudo bem mesmo quando ele sabia que não, nada ficaria bem.

Tantos anos não vividos, tantos desejos interrompidos e sonhos perdidos. De repente, os mesmos sentimentos que tivera naquele momento ressurgiram com mais intensidade. Culpa e raiva inundaram sua alma. Ele era apenas um rapaz que não tinha experimentado nada, qual o mal que havia cometido para ter sido escolhido para trazer tal desgraça para os seus parentes? Sim, essa fora a razão para ele ter permanecido entre os homens; a preocupação com as pessoas que amava, a inconformidade em ter que partir tão cedo, a raiva irracional…

— Jimin?! — O grito lhe tirou daquela espiral de recordação. Yoongi estava preocupado, porém não era hora para distrações. A cada momento perdido, um novo puxão era sentido pelo anjo. Eles não tinham tempo para ficar hesitando. — Vamos, Jimin. Faça o que deve ser feito.

— Não! — negou com veemência. Jimin não queria entender por que ele deveria fazer aquilo nem o motivo de qualquer um ter que fazer isso, essa coisa de encerrar a vida de qualquer ser. Havia um ciclo a ser seguido, uma lei natural que regia todos os homens, nenhum deles deveria ter uma interrupção assim antes de saber o que realmente era estar vivo. Nascer, crescer, envelhecer e morrer, essa era a ordem.

— Faça! — Yoongi comandou, já impaciente, recebendo novamente uma negativa do aprendiz. Respirando através dos puxões, o mais velho tentou não deixar seu incômodo falar. O ex-humano ainda era novo, de certa forma, e não deveria lidar com uma responsabilidade tão grande assim; no fundo Yoongi odiou ser posto nessa situação.

Ele tentou compreender a confusão que o outro devia estar sentindo, afinal, Jimin fazia parte daquela espécie, esteve entre eles e não conhecia a necessidade, muitas vezes incompreendida, de ceifar uma vida como aquela.

— Ouça, Jimin. Vou tentar ser o mais franco e delicado possível — começou calmo, tanto quanto pôde. — Vocês, humanos, são todos burros! — Jimin falhou miseravelmente em esconder seu incômodo pelas palavras alheias. — Sério, vocês têm uma visão tão limitada da morte... Deixar esse plano físico não significa exclusivamente que tudo terminou. Tudo no universo faz parte dele, sempre, incluindo vocês. Suas tentativas estúpidas de viver o máximo possível, mesmo que as condições sejam miseráveis, ou a ideologia de se tornarem imortais, não têm nenhum sentido! A verdade é que nada é eterno, não existe isso de que algo ou alguém seja perpétuo. Um dia até mesmo o próprio Tempo terá seu fim e o Universo finalmente cederá ao esquecimento.

Yoongi não havia percebido que estava se aproximando do outro até terminar sua linha de raciocínio, encontrando aqueles olhos castanhos tão perto dos seus. Jimin não podia dizer com certeza que entendera totalmente o que o anjo quis dizer, mas foi como se uma nova luz surgisse para iluminar a escuridão da ignorância. O fato de ele ter se perdido um pouco nos traços delicados quando ficaram em silêncio poderia ser facilmente ignorado.

— Agora, por favor, acabe com o sofrimento desnecessário que sua recusa está causando àquela pobre alma — pediu, cansado, deixando transparecer a dor que estava sentindo.

Por ser um anjo da morte, Yoongi sentia, em analogia, uma dor por ignorar um chamado, que ia se tornando cada vez mais intensa a cada segundo que passava. A verdade era que uma parte de sua essência era arrancada à força para manter a alma presa.

Ele quase suspirou de alívio quando viu Jimin caminhar a passos vacilantes para a cama do enfermo, e foi nesse momento que o novato percebeu que não tinha uma ideia real do que fazer.

Tá, Yoongi havia dito que era só interromper os batimentos do corpo físico, mas como ele faria isso? Ele deveria tocar no coração? Cortar o suprimento de oxigênio? Apertar em algum lugar, como se fosse um interruptor, e desligar tudo de uma vez?

— A essência está no coração — a voz vacilante o trouxe de volta à realidade. Ainda confuso, ele viu Yoongi tentando se apoiar na parede da cabana, com uma expressão de dor que o tornava fraco. — Você só tem que mostrar à ela o caminho para a liberdade.

E foi simples assim; no instante seguinte, ele soube o que fazer. Uma onda de poder, que vinha de Yoongi, passou por seu corpo, acumulando-se nos dedos da mão. Era como se estivessem queimando sem a parte da dor. Suspendendo a palma sobre o órgão pulsante, ele sentiu uma mínima conexão, que quase se parecia com um fio se prendendo à sua mão, e foi puxando aquilo que os humanos chamam de alma lentamente para cima.

A pequena bola de energia brilhante foi se libertando, atrelando-se cada vez mais firmemente à mão de Jimin.

Pequenos fiozinhos de luz se emaranharam à sua palma. Era tão fascinante que o jovem anjo da morte nem notou que o ar do moribundo ia cessando. Quando a essência do falecido encontrava-se totalmente livre, ela se soltou lentamente da palma de Jimin e foi flutuando calmamente para seu próximo capítulo no seio do universo.

O choro dos viventes tomou conta daquele cômodo. Havia uma tristeza beirando a uma sensação sufocante, no entanto, enquanto os humanos se abraçavam pela partida do ente querido, também havia um sentimento de gratidão pelo sofrimento daquele jovem ter acabado. Jimin podia sentir isso. Foi como se, ao libertar aquela essência, também trouxesse um pouco de liberdade para seus pais, e ele se culpou por prolongar o sofrimento deles, lembrando de seus próprios progenitores.

Os anjos da morte não tinham o conhecimento da vida pregressa dos humanos de quem eram direcionados para ceifar a vida e nunca saberiam o que a morte de alguém traria para os vivos restantes, por essa razão nunca permaneciam no local após fazer seu trabalho. Yoongi cometera o erro de ficar uma vez por curiosidade, depois disso, ele passou a ter mais conexão com os sentimentos humanos.

Quem poderia imaginar que depois de séculos vagando sem destino, Jimin estaria ali, debilitado demais para ir embora, observando a primeira alma que ceifou e tentando entender suas novas funções no universo ao se tornar, também, um anjo da morte.


“O ontem é certeza, é passado, é aprendizado.

O amanhã é sonho, é futuro, é desejo, é dúvida.

A única convicção do hoje é o finamento.

Feliz, triste, não importa qual seja o caminho

Vivo, sobrevivo, espero, respiro…

Bum-bum, coração selvagem lentamente sendo domado

Pinga, pinga águas claras da vida no leito que te guarda.

O rio que banha meu corpo te espera enquanto sigo flutuando

A correnteza vai me levando.

Sem me importar com a previsível cachoeira

Ou seria uma mínima queda d’água?

Não tenho certeza…

Sinto que é calmaria, é tormento.

Tem o prazer, mas ao mesmo tempo a aflição.

É viver sem rumo, é ter um caminho para seguir a vida.

A foice aguarda onde as águas no fim desaguam.

Quem sabe ela traz liberdade.

Talvez a tão almejada paz.

Somente o manto negro pode revelar enquanto engole a luz”


Ao longe, observando os dois, o Tempo tentou prever o caminho. Do seu lado, a Escuridão esperava tranquila. Yoongi estava certo ao dizer que até mesmo o Tempo terá um fim, entretanto, o detentor de todo conhecimento passado e futuro podia ver quando tudo iria se findar ao olhar para cada ser no universo. Sim, com o verbo no passado mesmo.

Enquanto via Jimin e Yoongi interagirem, ele não conseguia decifrar a razão de ambos os “riachos do futuro” se cruzarem e irem em uma mesma direção, a qual ele não conseguia seguir. Tratava-se de uma situação nova, não poder traduzir o que aquela rota queria lhe dizer.

— Isso é fácil, meu bem — o amontoado de obscuridade pronunciou enquanto o rodeava para tirar a sua atenção do futuro. — Você não consegue ver porque será algo que vai existir até depois de você — revelou, deixando os olhos dele voltarem à luz e verem os caminhos de Jimin aos pouquinhos se conectando aos de Yoongi, um abrindo uma nova rota em direção ao outro.

A resposta que o Tempo procurava não estava lá na frente onde tudo se tornava turvo demais para ser compreendido; ela se encontrava onde a luz ainda brilhava, e era evidente que eles se entrelaçariam de tal forma que seria difícil distinguir onde um começava e o outro terminava.

Para um ser acostumado a ter a resposta de tudo, ficar sem entender uma coisa era tão… confuso.

— Acho que os humanos chamam isso de amor. — A voz da Escuridão trouxe um pouco da razão que o Tempo incansavelmente buscava pelas linhas do destino que conseguia ver.

Ele ainda não entendia, e passaria os próximos dias observando aquelas duas essências. Talvez até se apaixonaria pelo amor que eles iam aos poucos construindo, porque, pela primeira vez em milénios de existência desse universo, o tal amor verdadeiro, tão idealizado pelos deuses e homens, estava sendo construído, e seria intensamente vivido por dois anjos da morte. Um amor tão forte que seria capaz de resistir ao fim do tempo, tão sublime e puro que sobreviveria até depois do sucumbir do universo.

E se não acreditam em mim, meus queridos leitores, infelizmente não tenho provas para confirmar a minha história, mas para aqueles que julgam toda essa narração verdadeira, gostaria de lhes dizer que no universo que virá depois que este se findar, Yoongi e Jimin ainda estarão juntos. E isso eu sei porque foi desse universo que eu vim!

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Notas finais: Essa estória é bem curtinha, mas adoro as partezinhas dela, incluindo a capa maravilhosa que eu surtei assim que recebi e snuffyoon / @monpecs pode confirmar, passei longos minutos admirando os pequenos detalhes sem contar a o tom de roxo/lilás maravilhoso. Simplesmente PER.FEI.TA


4 de Julho de 2022 às 23:15 0 Denunciar Insira Seguir história
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