b3tto Roberto seguins

O destino é um aliado ou um vilão? Alguns dizem que nós fazemos o nosso próprio destino, mas... e quando ele é posto em nossa vida bem antes de nascermos, devemos fugir ou enfrentá-lo? Devemos seguir a risca ou modifica-lo? Marina teve seu destino traçado muito antes de sua existência, mas até seus dezessete anos não sabia quem era de verdade, e após vários acontecimentos estranhos ela descobre que faz parte de um mundo cheio de magia e seres sobrenaturais. E agora é a única que pode salvar a sua família e amigos da grande maldição das sombras


Fantasia Fantasia urbana Todo o público.

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Prólogo

Brasil - 2019


Águas Claras - Interior do Brasil - 1750




A noite chegou mais escura e mais fria do que de costume, nem mesmo o brilho esplendoroso da lua conseguia espantar o breu que se instalou na cidade. Leves gotas de chuva caíam e faziam com que todos entrassem mais cedo em suas residências. Quemesses e botecos fechavam suas portas até que a cidade ficasse apenas com o vazio da noite misturado com o barulho da chuva serena que caía sobre as casas.


Dois irmãos, um de dezessete e outro de dezoito anos, estavam a caminho de casa, montados no seu único cavalo que conseguiram como pagamento de um trabalho feito para o Duque Mosaniel de Castro.

Por mais que Oliver insistisse, o cavalo que já era velho não conseguia andar tão rápido, a escuridão e a chuva o impedia de ser mais ágil — Maldita hora que aceitamos este cavalo velho — bravejou Oliver balançando a corda amarrada no pescoço do animal.

Maurício por sua vez estava mais preocupado com sua mãe, que estava sozinha em casa, ao invés de prestar atenção nos resmungos de Olivier.

— Não seria melhor irmos a pé? — Perguntou Maurício já pulando do cavalo

— Claro que não! Exclamou Oliver que com um tom mais óstio continuou — Assim nós vamos demorar muito mais tempo para chegarmos em casa, suba de volta no cavalo que já está quase na hora da revista —


Os irmãos queriam chegar logo em casa, pois sua mãe estava sozinha e a alguns minutos seria a hora da revista. Todas as noites os guardas do Duque Mosaniel revistavam as casas dos moradores renegados, os mais pobres, para evitar que eles tenham em suas casas algum objeto maligno ou quebrem as regras que o Duque implantou na cidade.


Maurício soltou um suspiro brusco e com um olhar preocupado se aproximou do cavalo para subir novamente, foi quando um raio caiu em frente do animal fazendo com que ele se assustasse e corresse floresta adentro. Oliver já no chão viu o cavalo ir embora e deu um soco na poça de lama vermelha que ali havia se formado pela chuva.

Os dois são obrigados então a continuarem a pé, o caminho não é muito longo, mas sem o cavalo o trajeto fica bem mais difícil. Oliver permaneceu sério e apressado, o peso que ele colocava nos pés a cada passo dado fazia a lama respingar nas bordas de sua calça a deixando completamente suja, Maurício tentou acompanhá-lo, mas ele não conseguia andar tão rápido quanto o irmão, que ironia pensou, logo quem deu a ideia de ir a pé não consegue andar por alguns segundos sem perder o fôlego.


Os dois já haviam andado bastante e por sorte já estavam perto de casa, ao longe já conseguiam avistar seu casebre no alto do morro, cercado com talos de folhas palmeiras colhidas ali mesmo na floresta que fica ao redor da cidade.

Maurício parou e apoiou as mãos sobre o joelho, respirando profundamente pela boca, tentando tomar um pouco mais de ar. Ainda avistando Oliver andar rapidamente, ele gritou — Você não sente falta do nosso pai? Oliver exitou em parar, porém prosseguiu no caminho, mesmo em passos mais lentos ele fingiu não ouvir. Maurício gritou novamente — Eu sinto! eu queria que ele estivesse aqui — Oliver dessa vez parou, virou-se para o irmão e perguntou

— Porque isso agora?

— Porque parece que você não sente a falta dele, você nunca falou dele, desde sua morte — disse Maurício caminhando até Oliver.


Oliver colocou sua mão sobre os ombros de Maurício e com a voz suave disse — A culpa é dele de nós estarmos passando por isso, se ele seguisse as regras da cidade, ele ainda estaria vivo e nós não estaríamos passando fome, e limpando mesas em tabernas por alguns trocados —


Naquele momento, relinchos de cavalos e gritos masculinos assombraram os dois irmãos, logo avistaram chamas de fogo iluminarem o seu lar. Os garotos se olharam assustados e correram intensamente até a casa — O que fazem aqui? Porque estão fazendo isso? Perguntou Oliver tentando passar entre os homens montados em cavalos em frente a sua casa.

Maurício não conseguia esboçar nem uma reação, pela brecha da porta entreaberta ele conseguia ver roupas e outros pertences da família jogados por toda parte, ele desceu a vista mais um pouco, e arregalou os olhos, naquele instante o ar se esguio pelos pulmões, a boca ficou seca, sentiu um calafrio arrepiar sua espinha, tudo o que a família mais temia havia acontecido, a entrada feita no chão estava aberta. Ali ele soube que sua mãe, seu irmão e ele morreriam.


O chefe da guarda do Duque Mosaniel desceu do cavalo em apenas um pulo, colocou a mão próxima do rosto de Oliver e uma chama de fogo se acendeu sobre ela, fazendo com que Oliver se assustasse, Maurício tentou chegar perto do irmão, mas outros guardas o seguraram.

O chefe da guarda iluminando o rosto de Oliver esboçou um leve sorriso de sarcasmo e disse — Vocês me enganaram uma vez, e realmente pensaram que me enganariam de novo?


Olivier, mesmo temendo a morte de sua família, ergueu a cabeça e aproximou seu rosto ainda mais perto da chama que flutuava sobre a mão do guarda, e com um tom irônico rebateu — Não sei do que está falando, onde está minha mãe?

O guarda desmanchou o sorriso e apagou o fogo afastando a mão do rosto do garoto

— Tragam ela — disse ele ordenado aos outros.


Elena estava fraca, com os pulsos e pernas amarradas, havia sido espancada e torturada. Os irmãos tentavam a todo custo chegar perto de sua mãe, mas os guardas os seguravam. Oliver enfurecido esperneava, gritava, xingava, mas os guardas apenas sorriam, Maurício olhava para a mãe tão frágil e violada por aqueles monstros que suplicou — Não façam nada com ela, aquilo era do nosso pai, ela não fez nada.


O chefe se enfureceu, segurou a Elena pelo cabelo e com o rosto franzido esbravejou — Pegamos ela com a boca na botija garoto, vocês sabem que não podem fazer magia negra na cidade, se a natureza não lhes deu o poder da magia pura, vocês não devem procurar outro meio de fazê-la. — Segurem eles — O guarda Gritou


Elena mesmo fraca conseguiu suplicar para que deixassem seus filhos viverem

— Eles não sabiam, eu sou a única culpada, se existe alguém que deve ser punido, esse alguém sou eu.

— Não, mãe — Maurício chorava por sua mãe, ela sabia que isso causaria sua morte, assim como causou a do seu marido.


Oliver ficou paralisado, olhando nos fundos dos olhos daquela mulher sem acreditar no que estava acontecendo, pensou — porque foi fazer isso com você mãe? Por que fez isso com a gente?


Não tinha mais nada para ser feito, Elena confessou. Ela havia violado a única regra da cidade, jamais fazer magia negra. Ela sabia dos riscos, tantas outras famílias já tiveram seu fim por conta disso, então não tinha como escapar da morte ali.


O chefe da guarda criou novamente a chama de fogo em uma das mãos, enquanto a outra segurava o cabelo de Elena. Ele deu o sinal

— Faça — um dos seus subordinados puxou a espada e cortou o pescoço de Elena, arrancando sua cabeça ali mesmo. E logo em seguida sem nem um tipo de remorso o chefe ateou fogo no corpo dela que foi engolido pela chama em menos de segundos.

Oliver apenas abaixou a cabeça esperando tudo ser feito, em um breve instante ele desviou o olhar para Maurício que chorava e suplicava para que os guardas não findasse a vida de Elena.


Os homens que levaram primeiro o pai e depois a mãe dos irmãos, apenas montaram em seus cavalos e partiram deixando ali o resto corpo de Elena que era desmanchado pelo fogo voraz, a dor dos irmãos ficou tão silenciosa que se misturou com o frio e vazio daquela noite. Oliver tirou seus joelhos do chão e entrou dentro de casa, e pulou para dentro da entrada feita no chão. Ele nunca tinha entrado ali antes, apesar de saber que aquele lugar existia. Os garotos eram proibidos até de bisbilhotarem pelas brechas da porta feita de madeira, que dirá entrarem ali dentro, mas agora que seus pais se foram, nada os impedia mais.


O lugar estava coberto por velas de todos os tamanhos, pássaros mortos em cima de um pequeno altar feito de rocha, o sangue dos animais escorria até o chão formando um pentáculo, resquícios de madeira queimada mostrava que haviam feito uma fogueira ali no meio a pouca horas atrás. O fedor era insuportável. Oliver começou a juntar todas aquelas coisas, levou para fora da casa e deixou queimar junto ao corpo de Elena, enquanto Maurício caído no chão e ainda em choque observava o corpo de sua mãe se desmanchar no meio do quintal.


Uma semana depois, eles ainda nutriam resquícios daquela noite, mas não tocavam no assunto, os dois sofriam calados, o clima escuro e pesado da casa corroía os irmãos, parecia que a casa sentia o que havia acontecido. Os garotos se olhavam, mas não se falavam, só se evitavam e tentavam a todo custo esquecer tudo o que aconteceu, mas a cidade não esquecia. Os barões não aceitavam mais seus trabalhos, as tabernas e mercearias não queriam mais comprar os produtos que eles colhiam. Os seus antigos patrões os expulsaram sem nem ao menos pagarem os dias em que eles já haviam trabalhado. Até o único cavalo que eles possuíam se perdeu na mata durante a noite da morte de Elena. Eles literalmente estavam com uma mão na frente e outra atrás.

Todos os dias a guarda do Duque revistava a casa dos garotos, quebravam as coisas, destruíam as vestimentas e ateavam fogo em qualquer erva que vissem — Sem magia negra — Eles diziam, sorriam e montavam em seus cavalos com suas armaduras grandes e pesadas, deixando todo o caos e todo o medo que com o tempo foi se transformando em raiva.


Em um dia qualquer, Maurício correu até o casebre gritando pelo seu irmão, eles estava empolgado, eufórico.

— Chegou uma família nova na cidade, um homem e uma garota, acho que pai e filha, eles são bruxos puros.


Os dois correram até a casa da tal família, para se apresentarem, quem sabe uma família nova na cidade por não os conhecerem talvez lhes dariam um trabalho.


O bruxo novo, César Milano andava com o queixo levantado e peito estufado, coberto de ouro e roupas de seda, cumprimentava todos como se já os conhecesse. A casa que ele iria morar era uma das mais caras da cidade, ele comprou pelo dobro do que ela realmente valia. Já sua filha Amália Milano, era tão frágil e delicada que nem parecia ser real, a pele escura da garota brilhava diante do sol, o cabelo longo e trançado desenhava o rosto dela como se fosse uma pintura feita à mão. Os irmãos se encantaram logo de cara por aquela donzela, mas sabiam que nunca teriam sequer o mínimo de chance com uma bruxa pura.


— Com licença senhor, meu irmão e eu estamos a sua disposição para qualquer serviço que precisar — Disse Oliver reverenciado o bruxo César.

Ele assentiu com a cabeça — Obrigado, mas já temos os nossos próprios empregados —


César e sua filha desceram de seus cavalos e já estavam se direcionando para sua nova casa, quando Maurício tentou mais uma vez — Nós podemos fazer o que o senhor quiser, nunca tememos a nem um tipo de serviço.

O Bruxo puro desceu de seu cavalo junto com a filha e nem sequer virou para prestar atenção no que o garoto havia falado, mas Amália ao passar perto de Oliver sentiu algo chamar sua atenção e o simples fato de lhe olhar nos olhos naquele exato momento fez a ligação entre os dois ser instantânea. Ela sorriu para o garoto e parou na entrada da casa, apertou a mãe de César e disse

— Espere papai, vamos contratá-los, eles parecem ser bons homens.

César parou e disse apontando para vários bruxos renegados que trouxera de outras cidades

— Mas já temos vários empregados bons


Amália sorriu com seu jeito meigo de conseguir tudo o deseja, segurando a barra do seu vestido de seda

— Ora papai, esses garotos devem ter a minha idade. Ela suspirou e continuou

— Tive uma ideia, eles podem ser meus guarda costas, me mostrar a cidade e como tudo funciona aqui.

César deu de ombros, tirou o chapéu da cabeça e antes de entrar na casa disse

— Você quem sabe.

Olhou para os gatos e assentiu.

— Cuidem bem da minha filha, estão contratados .


Os irmão começaram a trabalhar para Amália, eles iam a rios e cachoeiras, corriam pela floresta, contemplavam o pôr do sol nas colinas mais altas da região. Estavam nas nuvens pois nem em seus melhores sonhos teriam um emprego tão bom como este. Amália sempre fazia magia para impressioná-los, ela conseguia usar a água, o fogo, o ar e a terra. Os garotos ficavam impressionados, nunca tinham visto bruxo nem um conseguir usar os quatro elementos de uma só vez, mas Amália conseguia, logo o tempo foi se passando e essa relação foi virando uma amizade, e assim Amália e Oliver foram se aproximando cada vez mais, Maurício era como um irmão para Amália e ele a via dessa mesma forma, mas percebia o jeito ela olhava para seu irmão, ele sabia que entre Amália e Oliver existia uma conexão maior, então sempre que conseguia deixava os dois a sós. Até que um dia eles acabaram ficando juntos e nunca mais se largaram


Fora do horário de trabalho Oliver e Amália sempre se encontravam na floresta para ficarem juntos e jurarem seu amor, em um dia desses um dos guardas que caçava nas proximidades viu os dois transando perto do rio verde e tratou logo de comunicar para o Duque que foi comunicar para César o pai de Amália que por sua vez não se importou — Minha filha já é crescida, se ela quer ficar com um renegado a escolha é dela — disse César dando de ombros para o Duque Mosaniel que não gostou nada da atitude de César — Como um bruxo puro, tão poderoso pode permitir que sua delicada filha cruze com um simples e nojento renegado —


O Duque estava enojado com tamanha atitude, mas não poderia fazer nada com César porque sabia que ele era muito mais poderoso que qualquer outro bruxo daquela cidade, então ordenou que na hora da revista seus guardas acabassem com a vida de Oliver e seu irmão ali mesmo na casa deles. E assim foi feito, os guardas puseram fogo no casebre dos irmão enquanto dormiam.


Bastou o chefe da guarda criar uma bola de fogo na palma de sua mão e atear no teto de palha, que o fogo tratou de consumir tudo o que encontrava pela frente. Maurício acordou e sentiu seu rosto arder, e quando o fogo encontrou-se com seu corpo ele gritou pelo irmão que dormia tranquilamente, os dois correram e com muito custo conseguiram fugir, porém acabaram perdendo o único lugar que lhes trouxe felicidade, mas também muita dor.


Oliver estava inconformado com tamanha covardia, não conseguia entender o porque fariam isso. Eles foram até a casa de Amália atrás de abrigo e disseram o que havia acontecido.


César disse que sabia o porquê de terem feito isso

— O Duque Mosaniel não aceitou o seu envolvimento com a minha filha Amália.

Maurício sentou na bancada da sala e perguntou ainda confuso — Eles tentaram nos matar?

Oliver olhou nos olhos de César e implorou — Por favor senhor, nós podemos nos esconder aqui até à poeira abaixar, prometo que serão só alguns dias depois disso sairemos da cidade.

César suspirou, e pela cara que fez deu a entender que não deixaria os garotos se esconderem ali — Não sei, sou novo na cidade, não quero arrumar problema.


Maurício assentiu com a cabeça — Entendemos senhor, mas muito obrigado por nos ouvir e nos dar um emprego.


Amália balançava a cabeça já com os olhos marejados, ela não poderia perder seu amado. A garota chamou seu pai de canto e sussurrou

— Deixe-os ficar papai, por favor eu amo o Oliver, não esqueça que já fomos iguais a eles.


César suspirou mais uma vez profundamente, ele sabia que se aceitasse poderia se dar muito mal com os comandantes da cidade, porém ele só concordou com cabeça.


Os irmãos já abrigados e mais calmos, foram enfim se deitar. Maurício foi levado para um quarto de hóspedes, neste quarto havia uma janela com vista para as montanhas além da floresta, o céu estava tão iluminado que a luz da lua clareava a maior parte do quarto. Ele olhava atentamente para o céu e uma lágrima escorreu do seu rosto, o fazendo lembrar de sua mãe e seu pai. Já Oliver foi para o quarto de Amália, e por mais que ele tentasse era difícil dormir depois de tudo o que aconteceu com sua vida, ele jurou vingança, não suportará ficar escondido por muito tempo, o Duque destruiu tudo o que ele mais amava e ele não permitiria que fizessem mal a mais ninguém de sua família, só que ele não sabia como.

— Se ao menos eu fosse um bruxo puro, estaríamos um à altura um do outro.

Amália ouvindo aquilo e mesmo temendo o que poderia acontecer com sigo e seu pai ela se arriscou em dizer que existia uma forma de se vingar do Duque e de todos que destruíram a vida de Oliver.


— Como eu poderia me vingar dele, ele é um puro, eu não sou páreo para tal, eu só sei fazer chás e poções com ervas e matos — disse Oliver se lamentando. Amália segurou o rosto de seu amado e com os olhos no fundo dos olhos dele disse — Existe uma adaga que te transforma no que você mais deseja, mas … você precisa enfiá la em seu coração — Oliver pulou da cama e a indagou — Como enfiar em meu coração? assim eu irei morrer — Amália levantou e continuou a falar — Se isso for o que você quer, é claro! Se você disser para a adaga que você quer ser um bruxo puro e lá fundo do seu coração ela encontrar essa verdade, você voltará como um bruxo puro, mas.. caso contrário, você morrerá.


Oliver ainda confuso perguntou — E onde está essa adaga? — Amália sentou-se na cama e com tom mais suave respondeu — Na minha antiga cidade, mas… ela é muito distante daqui e além do mais a cidade e a adaga estão protegidas pelas sombras que ficaram presas lá — Oliver sentou ao lado de Amália e soltou um leve sorriso de canto — Amor, ou você nasce um bruxo puro ou você nasce um renegado não tem como virar um ou outro. Amália soltou o mesmo riso — Aí é que você se engana, eu fui uma renegada. Meu pai, minha mãe e eu, sofremos igual você e sua família, eles faziam conosco as mesmas coisas que faziam com vocês. Até que um dia meu pai encontrou essa adaga na casa de um um barão que ele trabalhava, e nos transformou —

— E a sua mãe — Oliver a indagou. Uma lágrima escorreu dos olhos de Amália que com avós trêmula disse — Ela não queria ser bruxa pura, ela amava fazer poções e curar as pessoa com suas ervas, mas mesmo assim ela disse para a adaga que queria ser uma pura, ninguém consegue enganar a adaga, então ela levou a minha mãe, depois disso os bruxos da minha cidade descobriram o que fizemos e foram atrás de nós para nos matar, mas não poderíamos deixar isso acontecer e pela primeira vez eu me senti poderosa e confiante, eu não me orgulho do que fiz, mas foi preciso, era a cidade inteira contra meu pai e eu, então matamos todos. Jovens, velhos, adultos e crianças, e quando um bruxo puro morre ele se torna um demônio, a sua sombra fica na cidade em que nasceu, então a maioria deles ainda estão lá, protegendo a cidade e agora a adaga, e eles ouvem, enxergam e sabem o que você pensa, por isso é perigoso voltar lá, elas mexem com sua mente de um forma inexplicável. E eu sei que um dia vou ter que pagar pelo que fiz, quando eu morrer minha sombra vai voltar para aquela cidade e minha tortura vai ser eterna.


Amália com o rosto lavado pelas lágrimas deitou-se e virou para o outro lado da cama.

No dia seguinte Oliver levantou bem cedo, nem se quer dominou direito, ele estava decidido a ir atrás da tal adaga e trazê-la para ele e seu irmão, ele saiu sem que ninguém o visse e deixou Amália dormindo. Foi até o quarto de Maurício e sussurrou — Te amo irmão, espere por mim, eu voltarei por você — Maurício dormia, sem nem perceber que seu irmão estaria partindo.

Amália despertou e quando viu o outro lado da cama vazio ficou desesperada, e saiu à procura de Oliver, os seus gritos pelo amado ecoavam e acordava todos pela casa.

— O que ouve — Perguntou César, ainda de camisola

Amália chorava e pedia perdão — Desculpa, eu jamais pensei que ele fosse —

Maurício ouvia os gritos de Amália e correu para perguntar o que havia acontecido — O que estava havendo, onde está meu irmão? — Me desculpe, eu juro que não pensei — Maurício sentou-se junto a Amália e César para entender, e eles o contaram toda a sua história. Maurício decidiu ir atrás do irmão e nada o que Amália ou César dissessem faria o mudar de ideia. Quando ele estava saindo da mansão, os guardas do Duque o avistaram e o prenderam na taberna da cidade.

O Duque anunciou em plena praça pública que Maurício e sua família haviam feito magia negra e por isso ele iria morrer ali na frente de todos.

O Duque Mosaniel queria saber onde Oliver estava, mas Maurício se negava a falar e depois de vários socos e chicoteadas, com os rosto lavado de sangue ele olhou nos olhos do duque e sussurrou — Meu irmão está morto, o incêndio em nossa casa o matou, eu consegui escapar mas ele não — O Duque rapidamente acreditou pois foi ele quem mandou atear fogo na casa dos irmãos. Ele acenou para os seus guardas que amarram os braços de Maurício e o preparam para a morte. O Duque puxou sua espada da cintura e sussurrou — Você irá morrer igual sua mãe e seu pai — e quando ele já estava pronto para cortar o pescoço do garoto Amália gritou — Não o mate, estou esperando um filho deste homem —


Todos da cidade estavam abismados nunca haviam visto um filho nascer de uma bruxa pura e um renegado, as opiniões estavam divididas, uma diziam que era um milagre e que esse bebê era salvação e a esperança de dias melhores, já outros abominavam essa ideia, tinham medo do que essa criança poderia se tornar, um ser maligno, um demônio talvez, porém mesmo assim o Duque queria findar a vida de Maurício, mas César deu sua palavra que seria fiel ao Duque se ele deixasse Maurício vivo e então assim selaram esse acordo.



10 anos depois


O tempo passou, Amália e Maurício tiveram que fingir que eram casados para poderem criar aquela criança sem que superassem que ela não era filha de Maurício. Todos os dias eles iam para o alto da colina para esperarem por Oliver que nunca aparecia, César acreditava que Oliver não havia sobrevivido, e com o tempo Maurício e Amália começaram a acreditar também. Verônica já tinha dez anos de idade e tratava Maurício como seu pai, quase toda a cidade já havia esquecido das coisas que aconteceram no passado e tratavam Maurício com um bruxo puro mesmo ele não tendo poderes naturais. Ali além do poder o dinheiro valia muito mais.


Em uma manhã nublada, Amália e Maurício levaram Veronica para a fazenda que eles haviam construído na antiga casa dos irmãos que havia sido queimada. A fazenda era enorme com várias cabeças de gado, porcos e cavalos. O dia estava frio e garoava, tinha uma árvore de cerejeira sakura em frente a casa que soltava suas folhas sempre que chovia, fazendo o chão fica coberto de folhas cor de rosa, Verônica correu para chutar as folhas, ela brincava com tanta vontade que foi impossível Maurício não se juntar a ela embaixo da garoa e se rolar nas folhas,e depois de Veronica tanto insistir Amália se rendeu e foi brincar com a filha. Eles corriam pelo campo da fazenda tão livremente que pareciam realmente uma família feliz. Naquele instante um tremor os fez caírem ao chão, a terra tremia tão intensamente que eles não conseguiam ficar de pé.


César estava dentro da casa da fazenda e correu para fora, de repente raios caíram sobre os quatro que corriam tentando escapar, Amália abraçou-se com Verônica. Maurício não sabia o que fazer, mas tentava a todo custo proteger as garotas. César tentava parar a ventania, mas não conseguia sozinho, aquela força era muito mais forte do que qualquer outra que ele já havia enfrentado. Bolas de fogo começaram a vir direto das árvores, ali de longe um homem, ele deu um salto com tanta força e parou na frente de Maurício que abraçava Amália e Verônica.


Amália caiu de joelhos no chão, Maurício foi correndo para perto do homem — Oliver? Eu pensei que… você nunca voltaria.

Oliver estava diferente, seu semblante era mais pesado e sério. Ele apenas apontou um dos dedos para Oliver e lhe jogou em uma distância colossal impossível de sobreviver.


Oliver havia conseguido a adaga, renasceu um bruxo puro, mas porque demorou tanto para voltar?


Amalia gritou — Porque fez isso?

— Você ainda pergunta, juraste amor por mim e depois se deita com meu irmão, vocês não me deram escolha — Oliver com o poder da mente arrancou a grande árvore de cerejeira Sakura e jogou na direção de Amália que com rapidez e seu poder da mente segurou a árvore e criou uma barreira tentando impedir que Oliver a atingisse. Amália olhou para Verônica e mandou ela correr o mais rápido que ela pudesse para além da floresta.


— Você está enganado, as coisas não aconteceram assim, me escute por favor.

— Vocês me traíram, eu observo vocês a alguns dias, eu vi tudo.


César foi para dentro da casa e pegou o cristal em que havia trabalhado todo esse tempo, pegou o grimório dos bruxos da sua cidade natal, correu para o campo onde Oliver estava.


Por mais que Amália tentasse explicar que tudo o que ele pensou ou viu foi um engano Oliver não ouvia, ela já estava muito fraca e não conseguiria segurar a barreira por muito tempo, afinal a anos ela não fazia magia desse tipo, estava esgotada.

César desenhou o pentágono no ar, colocou o cristal na terra, criou fogo com suas próprias mãos e usou a água que caía do céu para molhar o cristal, e com uma gota de seu próprio sangue ele leu as palavras em latim no grimório

— in aere, in terra, in aqua, in igne et in sanguine meo.

omne quod tuum est, accipe

omnia tua servant

et quicquid hic manendum est, hic maneat.

(com ar, com terra, com água, com fogo e com meu sangue.tudo o que for teu, leve

tudo o que for teu, guarde

e tudo o que for pra ficar, que permaneça aqui)


Um portal surgiu no alto do céu, sugando tudo o que estava no campo, árvores, carroças, cavalos. Primeiro levou César, depois o corpo de Maurício que estava caído a alguns metros dali, e Amália que desmaiou por fazer tanto esforço segurando a barreira de ar. Olivier se segurou o máximo que pode, ele usava o ar, a terra as árvores, mas a magia do portal era mais forte, então ele colou as duas mãos no fundo do solo e sugou toda a magia da cidade de todos os bruxos que nasceram e morreram ali, até dos que estavam vivos sem sobrar nem um, e mesmo assim o portal era mais forte, ele tentou o quanto pode, mas nada deu certo e antes de ceder ele gritou — Eu amaldiçoou essa cidade, que ninguém nunca consiga sair e nem um outro bruxo ou qualquer ser mágico consiga entrar. Que fique esquecida por tudo e por todos. Eu amaldiçoou, eu amaldiçoou.


Toda a magia de Oliver junto com ele foi sugada pelo portal que no instante em que puxou o bruxo, se fechou.




25 de Julho de 2022 às 12:51 0 Denunciar Insira Seguir história
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