Para alguns a seleção era a chance dos laços de paz se fortaleceram ou então se renovarem.
Paz? O que era paz?
Colocar 30 garotas dentro de um único castelo, para preencher o ego dos príncipes e depois casa-las!? Mostrando a todos que os dois povos estão em paz!?
Há outras formas de conseguir a paz e o casamento não é uma delas.
— Você não vai morrer se preencher — disse minha mãe pela centésima vez, ela queria que me inscrevesse e parece que lá no fundo, ela tinha certeza que a sua filha mais velha seria selecionada — Faça isso, por favor.
— Mãe, eu já disse — respondi, saindo da frente dela e andando até a sala. Meu pai estava sentado no sofá assistindo um jogo de futebol e sabia que ele ouvia atentamente a minha relutância — Eu não quero usar vestidos, saltos altos, entupir meu rosto com maquiagem e sorrir para as câmeras, essa não sou eu.
Minha mãe bufou e voltou a preparar a janta, conseguia ouvir os resmungos dela.
Não gostava de deixar ninguém desapontado, só que tudo isso... Essa seleção.
Essa não sou eu.
Minhas irmãs sentaram ambas de cada lado e colocaram a cabeça em minha perna, aqueles olhinhos negros me observavam e sabia que elas também não iriam desistir.
A vontade delas de ser uma princesa era maior que tudo, mas não as culpo. Elas vivem em um conto de fadas, tudo bem, são crianças e eu entendo.
— Por que você não quer preencher os formulários? — perguntou Dae, a mais nova. Ela era a mais séria e responsável da família, logo depois de HyunA e meu pai — Pode ser uma chance da sua arte ser vista por todos.
Ela acertou em cheio.
— Não é tão simples assim — exclamo — E se não gostarem da minha arte?
— Todos gostam da "sua arte" — falou Jeon, o meu irmão mais velho. Ele era o único que conseguia compreender o meu jeito e tudo que há em mim, e eu o amava por isso — Você vai ser muito famosa e não será essa seleção que fará isso acontecer, são os seus esforços.
— Os esforços dentro da seleção — gritou minha mãe, vindo em nossa direção com um pano de prato na mão — Só haverá 14 garotas para competir com você e aquele vampiro não é feio, porém tome cuidado. Você sabe que eles são extremamente temperamentais.
— Sem chance — respondo e dessa vez todos se calaram.
Fiquei em silêncio o durante o jantar, observando o relógio e como o tempo passava devagar.
Havia outros motivos para que eu, não fosse a essa maldita seleção, um motivo que tinha um lindo sorriso. Tão lindo que era capaz de melhorar o meu ânimo rapidamente.
Seu nome? Cheol.
Um rapaz de 24 anos, alto, bronzeado e cabelos levemente ondulados. Ele parece um anjo, meu anjo...
Ainda lembro como o conheci, estava na fila do supermercado para pagar algumas compras e quando a sacola rasgou, e os limões foram rolando pelo chão, foi ele que ajudou-me. Pegou limão por limão e entregou para mim, trouxe outra sacola e inseriu cada um dentro da mesma.
Ele trabalhava no local, um serviço braçal que exigia a maior parte do tempo dele. Porém não impediu de me ajudar naquele dia e depois do ocorrido, encontrei-o novamente na festa de aniversário de Darin.
Nesse dia dançamos e ele me levou até a porta da minha casa, só que antes dele ir embora se despediu com um beijo.
Um beijo que até hoje me recordo.
Ele me pediu em namoro uma semana depois e sou a garota mais feliz do mundo desde esse dia.
Após ajudar minha mãe com as louças, peguei o pedaço de torta que seria meu e guardei.
Voltei para a sala e assisti algumas coisas com meu pai, mas como sempre, nada mudou. Todo os dias somos surpreendidos com notícias de rebeldes e seus ataques.
Um homem da guarda real do palácio foi encontrado morto em sua residência e quando os oficiais chegaram no local encontraram a frase "chega de realeza", por todos os lugares.
O rei Jung tem plena certeza que é obra dos Waterfall, a morte é uma forma de parar com a seleção e sobre isso o próprio rei afirma "Nada irá nos impedir de realizar essa seleção, há 20 anos fazemos isso e sempre os Waterfall tentam interferir e seus esforços são em vão."
— Mais um motivo para os formulários irem para o lixo — afirmo, mantendo o olhar fito na televisão.
— Sempre existiu rebeldes e se a seleção não ocorrer, eles continuaram existindo — respondeu meu pai — Os Waterfall querem fazer com que o povo se sentia amedrontados da mesma forma que eles.
— Pai?
— Ele tem razão — exclamou JungKook, jogando a cabeça para o lado e comprimindo os lábios — Eles querem espalhar o caos e o medo, com rei, sem rei, com seleção ou sem seleção. Não muda nada, eles são monstros.
— Um grupo de humanos revoltados que merecem a morte — disse minha mãe — Desculpem o que eu disse, mas é a verdade.
Fecho o cenho e saio da sala, não havia condição para continuar ali.
A madrugada chega, saio do quarto e ando até a geladeira. Abro e fico aliviada ao ver o pedaço de torta intacto, pego-o e vou para o quintal.
Em um canto com pouca iluminação consigo enxergar – não muito bem –, Cheol. Ele estava parado e parecia segurar algo, ando em sua direção, e dou um beijo em sua bochecha.
— Oi Sarang — disse ele, passando a mão ao redor do meu corpo e mostrando o pequena pedrinha que ele havia trazido para mim — Estava com saudades de você.
— Eu também estava — pegando a pedrinha e mostrando o pedaço de torta, entreguei a ele e o mesmo pegou — Sinta-se privilegiado, eu fiz a torta como muito amor.
— Pensei que fosse com farinha e frango — avaliando o pedaço e debochando da minha cara — Não achei um pouco de amor aqui.
— Ridículo — exclamo — Você deve estar sabendo da seleção.
Cheol apenas concordou com a cabeça, estava com a boca cheia.
— Minha mãe está me obrigando a preencher ele — digo, brincando com os botões da camisa dele — Eu não quero fazer isso.
— Vem cá — sentado-se no chão e me puxando ao mesmo tempo, deixou o prato ao seu lado e olhou fixamente nos meus olhos — Do que você tem medo?
— Não estou com medo, só que...
— No fundo você sabe — interveio - Se você enviar o formulário, será escolhida.
— Não é isso — respondo — Eu tenho uma vida aqui com você e não quero deixar tudo isso para trás.
— Não quer ir porquê acha que vai se apaixonar pelo albino?
— Claro que não — exclamo — Eu te amo e você sabe disso, e não chame o rei dos vampiros de "albino".
— Viu!? Já está defendendo o seu futuro marido - brincou ele, logo as suas palavras, começou a sorrir.
— Eu só não quero ir, entende!? — olhando para o chão e arrancando mais grama. Não havia a quem enganar, ainda mais a ele, Cheol me conhecia muito bem e no fundo o mesmo sabia que eu estava com medo — Eu gosto da minha vida.
— Hum...
Levanto o olhar e vejo ele apenas me observando, sabia que estava mentindo e queria ouvir a verdade.
— Aish — pego o prato e levanto, mas Cheol me segura — Eu preciso ir.
— Está com raiva? — perguntou, fazendo aquela voz doce para poder me desarmar — Eu disse algo que lhe machucou?
— Não — puxando meu braço e dando de ombros — Durma bem, Cheol.
— A sua pedrinha — correndo até mim e entregando a coisinha branca e brilhante — Tenha uma boa noite.
Fico parada observando a pedrinha na minha mão e seguro-a fortemente, adentro a minha casa e antes de fechar a porta, vejo ele pulando o muro e dando um sorriso.
Ignoro Cheol e tranco a porta, retorno para o meu quarto e guardo a pedrinha dentro de uma caixinha. Agora ela tem companhia, outras 15 pedrinhas.
As coisinhas que ele sempre trás quando nos encontramos e dessa vez, eu estava irritada com ele.
Odeio ser um livro aberto.
Obrigado pela leitura!
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