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Exilado de Asgard há mais de trezentos anos, o deus Hermod já viveu muitas vidas diferentes (e igualmente tediosas) entre os humanos. Como Min Yoongi, um sul-coreano bicampeão olímpico de hipismo, as coisas pareciam finalmente estar ficando interessantes em Midgard, o mundo mundano. Isso até Odin, o deus maior e seu pai, convocá-lo de volta para Asgard, com a missão de recuperar a Pedra da Vida, um artefato precioso que foi roubado, e impedir o Ragnarok, o fim de todos os deuses nórdicos. Agora, Yoongi precisa entrar em uma jornada até o reino dos elfos e salvar o seu mundo, assim como recuperar a confiança da sua família divina. Mas Jimin, o elfo guardião responsável por proteger a Pedra da Vida, não parece muito disposto a ajudá-lo a concluir sua missão, ainda mais quando a verdade sobre a Pedra da Vida e o Ragnarok é muito mais sombria e perigosa do que Yoongi poderia imaginar. E o fim do mundo pode nascer de um sentimento tão imprevisível quanto o amor entre um deus exilado e um guardião com o seu destino selado.


Fanfiction Bandas/Cantores Para maiores de 18 apenas.

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Hermod, o deus renegado

Escrito por: @dntfarway / dntfarway


Notas iniciais: oi, gente! pra quem não me conhece, sou a annie :) já tenho várias fanfics aqui no projeto e essa foi umas das que mais me deu trabalho, porque não sabia nadica de nada de mitologia nórdica haha pesquisei bastante e nem tudo tá condizente com os mitos nórdicos porque apelei pra minha imaginação em vários momentos, mas essa é a magia da ficção, não é? espero que gostem e que odin me perdoe pelas heresias kkkkk


um muitíssimo obrigada à @trancyz / @trancyz por ter dado vida a essa capa e banner tão tão tãoooo lindos e também a @Sra_Lovegood/@SraLovegood pela paciência e carinho em betar a fanfic <33


boa leitura!


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Hermod, em comparação a todas as outras vidas mundanas que tinha vivido nos últimos trezentos anos, se acostumou mais rápido do que esperava com aquela nova que estava levando.

Não era a melhor de todas, sendo sincero. Se um dia fosse ranquear todas as suas vidas — era algo que ele já fazia, na verdade, nos seus momentos mais desesperadores de tédio, mas ninguém precisava saber — em Midgard, o mundo dos humanos, o primeiro lugar definitivamente seria de Anastasia Fedorova, uma aristocrata russa do começo do século XX, com dinheiro o suficiente para comprar um país — coisa que ela tinha feito, mas não era tão divertido assim como tinham feito parecer.

Para um deus ancestral, não havia nada de muito interessante em posses materiais e capital ilimitado, todavia, era divertido ter sua vida ameaçada por basicamente todo o país. Novamente, para alguém que vivia por séculos — e, principalmente, séculos preso no mundo dos humanos —, ir dormir sem saber se teria a mansão de diamantes invadida por assassinos russos altamente treinados no meio da noite era o máximo de diversão que Hermod teve em décadas. E, claro, o dinheiro também comprava coisas legais, vez ou outra.

Depois de Anastasia, o segundo lugar pertencia a John Willow, um escritor eremita londrino do século XVIII. Não havia nada de muito interessante na vida dele, mas viver isolado em um casarão nos confins do interior da Inglaterra, cercado por livros, o cheiro constante de primavera e outono e protegido pelo céu limpo do campo, havia sido uma experiência terapêutica da qual sequer sabia estar precisando.

Deuses não se preocupavam muito em tirar tempo para descansar a mente. Era um conceito até cômico, se pensasse bem, levando em conta que, para Hermod, o tempo sequer existia.

Por fim, em terceiro lugar, estava ele: Min Yoongi, século XXI, trinta anos, bicampeão olímpico de hipismo, primeiro atleta sul-coreano do ramo a conseguir o título.

Para alguém que tinha vindo depois de Anastasia — ela finalmente foi assassinada em uma daquelas madrugadas, para a infelicidade de Hermod —, Yoongi não carregava muitas expectativas para a vida que teria. Hermod já tivera muitas, estava cansado.

Quando nasceu — renasceu, pela enésima vez desde o seu exílio de Asgard — como Min Yoongi e tomou consciência sobre quem era — isso sempre acontecia quando completava cinco ou seis anos em sua vida nova —, Hermod foi tomado pelos pensamentos sombrios e autodepreciativos que sempre brotavam do seu inconsciente de deus renegado, quando recomeçava em uma nova vida mundana: estava sozinho, não podia voltar para casa, nunca seria aceito de volta por seus parentes divinos, humanos eram irritantes, sentia falta de Asgard.

O pior de tudo era que sequer se sentia no direito de sentir falta do mundo dos deuses nórdicos, pois ele próprio havia pedido a Odin, seu pai, para ir embora. Ele quis deixar Asgard para trás, tinha sido sua escolha. Não tinha o direito de se arrepender ou sentir saudade.

Entretanto, era difícil lembrar disso quando, ao vivenciar uma nova morte, passando por todo um processo que deveria levá-lo para bem longe de Midgard e acabava abrindo os olhos para uma nova vida, ainda preso à Terra.

Geralmente, seus primeiros anos consciente sobre quem era e sobre o porquê do seu exílio, assim como todas as lembranças do que o levaram àquele ciclo sem fim de vidas novas entre os humanos, eram os mais complicados. Seus “eus” nunca tinham uma infância boa, por conta desse fator.

Com Min Yoongi, entretanto, foi diferente.

Como Yoongi, Hermod não levou mais de um ano para se acostumar com seu novo estatuto de ser humano. Talvez fosse porque Yoongi era o irmão do meio de um trio de filhos, como o próprio Hermod, ou porque o seu pai era um historiador alemão aposentado, que tinha se mudado para a Coreia do Sul para morar com a namorada e posteriormente esposa, com uma forte ligação com as antigas tradições germânicas, o que o fez crescer ouvindo sobre as histórias das quais fazia — fez — parte: os nove mundos, vikings, o temido Ragnarok, a árvore da vida Yggdrasil, a ponte Bifrost, Odin e seus filhos, entre tantas outras lendas do que os humanos chamavam de mitologia nórdica.

Era tudo tão familiar e bem-vindo que Hermod sequer se ofendia com o fato da sua verdadeira vida ser vista como um mito, apenas lendas fantásticas de povos antigos. Tudo bem, tudo bem, aqueles filmes do Thor tinham sido um pouquinho ofensivos por uma série de motivos.

A primeira era que Thor era seu meio-irmão, filho apenas de Odin, não de Frigga. Sua mãe nem gostava muito dele, na verdade. A segunda era que o Thor de verdade era muito mais chato que o tal do Vingador lá e nunca, nunquinha, viria a Midgard lutar contra alienígenas. Ele nem dividia o vinho nos banquetes em família, para começo de conversa, mas Hermod ia deixar passar.

E nem o façam começar sobre a imagem que tinham pintado de Loki.

Loki, insuportável, traiçoeiro, babaca, o primo que ninguém gostava e o motivo para Hermod ter tido que pedir exílio, um galã de Hollywood com um arco de rendição e um amor secreto pela família? Ah, por favor.

Enfim, tirando os ultrajes contra sua história, feitos pelo cinema e a literatura — O Senhor dos Anéis também não escapava, até porque elfos eram mais bonitos e menos prestativos —, que precisava aturar atualmente, Hermod estava feliz como Yoongi. Tão feliz que era fácil esquecer que, no dia em que Yoongi se fosse, ele acordaria em outra vida, em outro lugar, e teria que começar tudo de novo pelo resto da eternidade — ou até algum monstro piedoso vir até Midgard matar o seu eu deus.

Depois de trezentos anos, ele tinha perdido essa esperança.

Enfim, pelo menos, ser Yoongi tinha diversas vantagens, como: o hipismo, que reviveu seu amor por cavalos e competições; a família menos dramática que tinha tido até então — todas as outras o odiavam —; a tecnologia do século XXI; e Jung Hoseok, seu melhor amigo.

— Hyung, não! — Uma mão roubou o celular da sua mão, sem cerimônia alguma. — Você é o único que bebe esse veneno. Pede outro uísque.

— Jeonggukie, é você que vai pagar, por acaso? — E Jung Hoseok lidava com uma das poucas dores de cabeça da vida de Yoongi: Jeon Jeongguk, seu aprendiz.

Ok, dor de cabeça era exagero. Yoongi gostava bastante do garoto. Só preferia que ele não saísse fisgando coisas das suas mãos quando estava no meio de um serviço, como pedir as bebidas daquela noite de comemoração pela sua vitória em um campeonato estadual de hipismo que havia acontecido naquela semana.

Aquela era outra parte que o agradava em sua nova vida mundana: comemorar vitórias e títulos com muita bebida e comida era parecido até demais com seus dias em Asgard.

Curvando-se sobre o balcão da sua cozinha, para que pudesse alcançar Jeongguk do outro lado, Yoongi puxou seu celular de volta e respondeu à pergunta de Hoseok, que estava no sofá da sala, decidindo que filme iriam assistir:

— Como sou eu, ninguém aqui, além de mim, tem direito de escolha. — Sorrindo para o bico emburrado e braços cruzados de Jeongguk, completou: — Você pode escolher o que vamos beber quando ganhar pelo menos uma medalha estadual, garoto.

— Eu tô tentando! — protestou Jeongguk, sua voz alcançando uma oitava mais alta por conta da revolta. — Se você comparecesse aos nossos treinos, como promete que vai fazer, eu já teria ganhado uma — alfinetou, os olhos grandes fuzilando Yoongi.

Ele, por sua vez, deu a volta no balcão e bagunçou os fios loiros do cabelo levemente maior do amigo mais jovem, enquanto adicionava a bebida favorita dele no carrinho de compras.

— Fiquei ocupado com os treinos para o campeonato esse mês, você sabe disso — falou enquanto caminhava até a sala, acompanhado pelo mais alto. — Mas, a partir da semana que vem, vou começar a aparecer. Prometo.

Jeongguk o encarou com desconfiança enquanto o seguia.

— Vou pedir pra Nabi colocar até na minha agenda, que tal? — ofereceu Yoongi, um pouquinho mais convincente, referindo-se à sua empresária.

A mulher seguia uma política estrita de pontualidade e comprometimento, então ela ter conhecimento de algum compromisso de Yoongi era o mesmo que garantir, com cem por cento de certeza, que ele iria aparecer. Até o lembrava da sua mãe Frigga e a forma como sempre o obrigava a comparecer a cada uma das batalhas irritantes dos seus irmãos guerreiros, para ajudá-los com o que fosse necessário.

Como se Thor o deixasse fazer alguma coisa além de enviar a mensagem de vitória para Asgard no fim de tudo.

— Diga ao nosso pai que a glória ainda pertence à dinastia Aesir, irmãozinho! — aquele ridículo costumava dizer. Irmãozinho! Ele era mais velho, licença!

Mas enfim.

— Ok, vou acreditar então — disse Jeongguk, dando-se por vencido, ao passo que largava-se bem ao lado de Hoseok no sofá.

Era um sofá grande, com espaço o bastante para uma pessoa dormir confortavelmente, mas, por algum motivo, Jeongguk resolveu sentar quase no colo de Hoseok, curvando-se sobre o corpo do mais velho para que pudesse checar a tela do notebook que ele tinha no colo, aberta no catálogo da Netflix. Hoseok não ergueu o olhar para o mais novo, mas Yoongi não deixou de perceber o rubor que tomou seu pescoço com a proximidade do garoto.

Eles pareciam dois adolescentes apaixonados e idiotas o suficiente para não perceberem os sentimentos de um pelo outro, coisa que Yoongi achava hilário. Era sua diversão diária, sério.

Hoseok era veterinário do centro de treinamento que Yoongi e Jeongguk frequentavam e tinha olhos para o mais novo da dupla desde que ele chegou no primeiro dia daquele ano, montando um cavalo Friesian que Jeongguk insistia em chamar de Banguela, como o dragão de Como Treinar Seu Dragão, porque ambos eram pretos.

Yoongi tinha dito um milhão de vezes que aquele era um nome ridículo para competições, mas quem disse que Jeongguk o ouviu? E ainda se autodenominava seu aprendiz, francamente.

O Min não podia afirmar que tinha percebido o óbvio interesse romântico de Hoseok no novo cavaleiro do centro de treinamento apenas porque era um observador e não deixara passar os olhares esgueirados do melhor amigo, a quantidade de tempo que passava com eles nos campos, embora seu trabalho fosse majoritariamente nos estábulos ou em seu escritório, e a maneira em que passou a visitar mais o apartamento de Yoongi, agora que Jeongguk praticamente se auto convidava todos os dias.

Na verdade, tinha percebido a paixão de Hoseok unicamente porque… oras, ele era um deus de milhares de anos. Não havia muita coisa que passasse despercebida para si, principalmente um sentimento tão óbvio quanto o amor, que era o tema principal de basicamente tudo o que envolvia a humanidade desde os confins dos tempos.

Hoseok e Jeongguk, no entanto, pareciam ter muita dificuldade de perceber que o interesse deles um pelo outro era mútuo, o que gerava inúmeras situações cômicas, como aquela atual.

Humanos eram serzinhos muito divertidos, apesar de tudo. Claro, os humanos que Yoongi gostava e criava laços em suas vidas, porque a grande maioria servia apenas para estressá-lo e fazê-lo desejar que o Ragnarok destruísse Midgard de uma vez por todas e eles pudessem recomeçar do zero. Políticos, professores que humilhavam alunos no meio de toda a classe e pessoas que abandonavam animaizinhos na rua estavam no topo dessa lista.

— Quando você disse que iríamos comemorar sua vitória dessa semana — Hoseok dizia após escolher um filme, colocando o notebook sobre a mesa de centro da sala para que pudesse colocar a produção na televisão embutida na parede —, achei que seria uma coisa mais animada. Beber e assistir filmes é basicamente nossas sextas normais.

Yoongi, sentado em uma poltrona ao lado do sofá, agora escolhendo o cardápio de comidas da noite, ergueu os olhos do celular para que pudesse trocar um olhar nervoso com Jeongguk.

A verdade era que eles tinham uma festa programada para aquela semana.

Domingo seria aniversário de Hoseok, e Yoongi e Jeongguk estavam planejando uma comemoração surpresa desde o começo do mês — bom, Jeongguk estava planejando, e Yoongi contribuindo com o dinheiro, mas, ainda assim, era uma parceria. E, por mais que agradasse bastante ao antigo deus duas festas grandes na semana, os humanos tinham uma ideia muito irritante e equivocada sobre o lazer e o prazer.

Diferente da produtividade, a diversão, aparentemente, tinha que ser limitada e, caso não fosse, era vista com maus olhos pelos demais, principalmente em um país tão rígido e viciado em trabalho quanto a Coreia do Sul. Sério, Yoongi achava que aquelas pessoas tinham que aprender a relaxar um pouco e não se preocupar tanto com quantas festas o vizinho estava organizando em uma semana, mas, novamente, quem era ele para julgar alguma coisa? Ah sim, um deus de mais de um milhão de anos.

De qualquer forma, precisou abrir mão da sua comemoração por conta do aniversário já planejado de Hoseok. E, se fosse franco, nem tinha sido algo que o aborreceu, porque ele gostava muitíssimo do conceito de aniversários.

Quantificar o tempo e fazer uma contagem desde o seu nascimento, designando etapas específicas — como estar na faculdade aos vinte anos ou ter uma família formada aos quarenta, por exemplo — para cada fase da vida? O que mais humano poderia haver do que isso?

E, claro, também tinha o detalhe de que gostava de Hoseok e queria vê-lo feliz. Essa parte do afeto e companheirismo era algo que, apesar da quantidade excessiva de anos vivendo entre os humanos, ainda não tinha aprendido a expressar muito bem, limitando-se a demonstrá-los através daqueles pequenos atos, como pagar por uma festa chique para seu melhor amigo e deixar Jeongguk colocar Vingadores: Ultimato para assistirem pela enésima vez.

— Deveríamos ter feito uma festa mesmo — comentou, ao reparar que o mais novo estava repetindo a programação de sempre. — Assim não precisaríamos ver esse negócio de novo. Vem cá, você já não sabe as falas desse negócio decoradas?

— A gente não assiste tanto assim, hyung — protestou Jeongguk, contrariado.

Yoongi o encarou, incrédulo.

— Ignora ele, Jeonggukie — disse Hoseok, tomando partido do loiro, como sempre fazia desde que aquele coelhinho gigante tinha entrado na vida deles. E Yoongi achava isso a maior injustiça do mundo, por sinal. — Eu também gosto desse filme.

— Se você chorar que nem criança no final como sempre faz, vou te chutar pra fora desse apartamento — ameaçou Yoongi, apontando para o Jeon, que o retrucou com um estirar de língua como os adultos de vinte e seis anos maduros faziam.

Hoseok veio em defesa do mais jovem novamente, ao jogar uma das almofadas do sofá no mais velho e pedir que ele parasse de implicar com o amigo deles. Jeongguk soltou uma risada alta e esganiçada quando o objeto acertou a cara de Yoongi em cheio, o que fez o Min fuzilá-lo com os olhos felinos.

Se ainda tivesse seus poderes de deus, aquele garoto já teria sido pulverizado. Mas, obviamente, nunca faria isso de verdade porque sempre acabava rindo junto ao mais novo e seu melhor amigo, porque as risadas deles eram contagiantes demais e enchiam Yoongi daquele sentimento quente e confortável que tinha sentido poucas vezes nas inúmeras vidas que já tivera.

A conclusão à qual chegava, no fim de tudo, era que tinha se acostumado tão rápido e bem à vida de Min Yoongi porque este tinha Jung Hoseok e Jeon Jeongguk fazendo-o companhia. Eles diminuíam sua saudade de casa e faziam aquele desejo de voltar para Asgard ser apaziguado, pelo menos, por ora.

Yoongi não era um deus exilado, sem lar e com um passado de arrependimentos quando estava com eles, coisa que o fazia sentir muito grato em relação aos amigos, mesmo que esses o obrigassem a comemorar sua nova medalha de ouro vendo Chris Hemsworth atuar como seu meio-irmão idiota.

Os sacrifícios que fazia pelos dois, sinceramente.

Daquela vez, seu sacrifício durou até metade do filme — tinha sido até mais do que a última vez —, quando o conforto oriundo de um bom jantar e das bebidas que tinham tomado, combinado ao tédio de assistir a um longa-metragem que não gostava, o fizeram apagar completamente ainda no sofá, de onde tinha expulsado Jeongguk para que pudesse esticar suas pernas.

E, com a inconsciência, veio uma imagem que, apesar dos séculos sem vê-la, ainda estava gravada em cada pedacinho do que ele era.

O salão principal de Valhalla, o palácio dos mortos heróicos, a casa do seu pai, Odin.

Não era a primeira vez que Hermod — Yoongi — sonhava com Valhalla, contudo, todos os sonhos anteriores tinham sido memórias de tempos perdidos, que pareciam se desfazer cada vez mais a cada vida nova sua, como uma tapeçaria de fios sendo desfeita pelas mãos cruéis do tempo.

Ele via os enormes banquetes para celebrar as inúmeras vitórias contra os gigantes, via as festas sem fim para honrar as almas dos guerreiros trazidos pelas valquírias para os braços do seu pai, via Frigga rodopiando e rodopiando, sob luzes mágicas e dançantes, de mãos dadas com seu irmão Balder. Via deuses e elfos, guerreiras e vikings, uma vida fantástica perdida em lendas e mitos.

Naquela vez, entretanto, Yoongi apenas viu o salão principal.

Ele sabia que não era uma lembrança, porque não estava na sua forma de Hermod, como sempre acontecia quando sonhava com sua antiga casa, e a luz azulada que adentrava pelas janelas gigantescas, formando sombras sobre o piso de ouro, não era familiar. O lugar também estava silencioso, como nunca estivera desde que o deus mensageiro conseguia lembrar.

Yoongi caminhou até o centro do local, sentindo-se deslocado e pequeno em seu corpo humano no meio do salão divino. Seus passos estouraram como canhões no vazio de sons, lembrando-o daquele dia, o dia em que tudo mudou para seu eu deus, e ele foi tomado por um pressentimento avassalador de que havia algo de muito, muito errado acontecendo.

Precisava acordar.

Antes que o fizesse, no entanto, foi surpreendido pelo estrondo das majestosas portas sendo abertas, estourando como um vulcão entrando em erupção no silêncio que pairava ao redor do Min.

Com o coração disparado, virou-se em direção ao som e foi tomado pela mais completa confusão ao reconhecer a figura parada diante da entrada, carregando um sorriso de rugas nos cantos dos olhos castanhos claros, tão claros que beiravam ao verde, que era mais do que familiar para o cavaleiro olímpico.

— Pai? — Yoongi franziu o cenho, sem compreender o que estava acontecendo.

Era realmente o seu pai. Quer dizer, o pai de Yoongi.

O cabelo cor de areia, cheio de fios grisalhos, os olhos gentis e atentos, o nariz longo, a estatura comprida e os passos calmos e lentos, como se tivesse todo o tempo do mundo para chegar ao seu destino — o que sempre estressava sua mãe humana quando os dois saíam para feira ou supermercado juntos —, pertenciam realmente a Wolfgang, que tinha assumido o nome coreano de Woosung. Ele estava até usando as camisas de botão que tanto gostava.

Contudo, havia algo de diferente.

Quanto mais Woosung se aproximava do filho, mais esse percebia que o castanho-mel dos seus olhos brilhavam, como dois anéis dourados presos aos orbes do seu rosto. Não era o efeito da luz nas írises do homem mais velho que causava aquela cor, mas uma aura mística, divina.

Aquele não era o seu pai humano.

— Odin? — deduziu quando Woosung o alcançou, parando bem à sua frente.

— Olá, filho — respondeu o homem, em um tom altivo que poderia pertencer unicamente ao pai de todos os deuses nórdicos.

Yoongi não estava entendendo nada.

— Espera — ele se exaltou, olhando em volta, como se fosse encontrar explicações para o que acontecia nas paredes cobertas por armaduras de guerreiros do salão. — Isso está acontecendo de verdade? Agora mesmo? Não é uma memória? Nós estamos conversando?

— Se acalme, criança — pediu Odin e colocou uma mão em seu ombro, para contê-lo.

Se fosse qualquer outra pessoa, Yoongi teria rido ao ser chamado de criança — e provavelmente teria transformado o sujeito em um espírito e o levado para o mundo dos mortos, se ainda tivesse seus poderes de deus —, mas aquele era o seu pai, o seu pai de verdade, o maior deus que existia. Ele tinha todo o direito de chamá-lo como quisesse, ainda que estivesse no corpo de um historiador aposentado.

— Eu não entendo — admitiu, voltando o olhar assustado para o homem à sua frente, que abriu um sorriso divertido.

— Eu preciso conversar sobre um assunto importante com você — contou Odin, dando tapinhas em seus braços. — Achei que tomar uma forma familiar para você fosse facilitar o nosso encontro. Já faz o quê? Duzentos anos que a gente não se vê?

— Trezentos e sessenta e sete — corrigiu Yoongi, sentindo o peso do tempo cair repentinamente em seus ombros. Trezentos e sessenta e sete anos preso no mundo dos humanos, uau.

Será que ele podia entrar no livro dos recordes por isso? Iria checar, quando acordasse daquele sonho maluco.

— Você cresceu, filho — comentou Odin, o que não fazia um pingo de sentido, mas não seria Yoongi que iria contrariar o pai de todos. — Como está sendo sua estadia em Midgard?

— Senhor… Quer dizer, pai, me perdoe a falta de respeito, faz uns anos que não converso com um deus, mas você não veio aqui para saber o que eu andei fazendo no mundo dos humanos, né? Não depois desse tempo inteiro me isolando lá — pontuou Yoongi, um tantinho acusativo, enquanto observava Odin começar a caminhar pelo salão, observando-o como se fosse a primeira vez que estivesse o visitando.

— Isolando? Foi você quem me pediu o exílio de Asgard por ter falhado em trazer seu irmão de volta — relembrou o deus, maldoso.

— Valeu pela lembrança — resmungou o Min, amargamente.

As imagens do acontecido não demoraram mais de um segundo para inundar sua mente, como um filme assistido muito mais vezes do que Vingadores: Ultimato. Yoongi já tinha o rebobinado infinitas vezes, durante todos aqueles anos, decorado todas as suas falas de trás para frente, sentido em cada parte de todos os corpos que já tivera a dor da culpa, do luto e do arrependimento, como se tivesse exigido por uma tortura eterna, e não pelo exílio.

Ele ainda conseguia ouvir o barulho dos canhões, espadas, flechas e pedras que atiravam sobre seu irmão Balder após esse ter ganhado imunidade de todos os males, por conta de uma promessa exigida por Frigga, para impedir a morte profetizada em um sonho do seu filho. Conseguia sentir a vibração dos gritos e alegria ao provarem que o deus da paz de fato estava imune, à salvo dos perigos. Conseguia sentir o alívio de saber que seu querido irmão não morreria, assim como conseguia sentir o choque e terror repentinos ao assistir ao corpo de Balder despencar do palanque em que estivera exposto após ser atingido no coração pelo ramo de uma árvore de Asgard, que tinha sido esquecido por Frigga durante seu ritual, logo não fazia parte da promessa de não ferir o deus.

Havia sido uma armadilha de Loki, que enganou o seu outro irmão Hod, o qual era cego, e o fez matar Balder durante a festividade.

Ele ainda lembrava, como se estivesse acontecendo naquele exato momento, não há centenas de anos.

Lembrava-se da sua mãe implorando aos prantos para que fosse até Helheim, o Reino dos Mortos, e pedisse à deusa da morte, Hela, que devolvesse o seu irmão para Asgard. Lembrava-se da viagem cansativa, que quase o matara diversas vezes, do sorriso presunçoso da deusa dizendo que apenas devolveria Balder caso todas as criaturas dos nove mundos implorassem por sua vida; de atravessar cada um dos reinos, espalhando a mensagem de Hela.

Lembrava-se de esbarrar com uma senhora em Midgard, sem saber que, na verdade, se tratava de Loki disfarçado, e pedir-lhe que cumprisse o que a deusa da morte pediu, o que ela não fez, logo Hela não devolveu Balder para os deuses. Lembrava-se da vergonha por não ter percebido, antes, que estava sendo enganado por Loki, que não conseguiria trazer seu irmão de volta, apesar de todos os seus esforços.

Lembrava-se, principalmente, da culpa.

Tinha sido culpa sua não proteger seus irmãos, como era o seu trabalho, não ter percebido que estava sendo enganado por Loki, por não ter convencido Hela de outra maneira. Era tudo culpa sua, e não era o único a ter chegado a essa conclusão. Por isso, quando pediu exílio ao seu pai como punição por ter falhado em sua missão de trazer seu irmão de volta dos mortos, Odin não hesitou um segundo em conceder o seu desejo e esquecê-lo entre os humanos.

Ele tinha pedido para deixar Asgard. Tinha escolhido assumir a culpa pelo que acontecera, ser o deus renegado. Não tinha mais pelo que chorar.

Por essa razão, não entendia por que Odin tinha lembrado da sua existência tão repentinamente, após todo aquele tempo.

E, muito menos, entendeu as próximas palavras que ouviu do seu pai divino:

— Eu preciso que você volte para Asgard, Hermod.

Yoongi sentiu uma vergonha pulsante queimando sob sua pele ao ser chamado por seu nome de deus, como não acontecia há séculos. Todo aquele tempo sentindo falta de ser Hermod, de voltar para casa, não tinham o preparado para a sensação de que não pertencia mais que o assolava brutalmente naquele segundo.

Ele não era mais o deus Hermod.

— Por quê? — Sua voz não veio muito mais alta que um sussurro.

Odin o encarou, com o rosto do seu pai mundano, o que não serviu para deixar aquela conversa mais fácil, apenas o lembrava que seu lugar agora era em Seul, como Min Yoongi, com Hoseok, Jeongguk e sua família humana.

Já era tarde demais para voltar.

— O Ragnarok — contou Odin, sério. — Ele está próximo. E não vai ser um recomeço, filho. É o fim completo, a morte de tudo o que conhecemos. Os humanos nos esqueceram e esquecem mais um pouco a cada dia que passa, nós não temos mais o poder que costumávamos ter. O Ragnarok vai nos destruir para sempre.

— Tenho certeza que o senhor consegue evitá-lo por mais alguns milênios — retrucou Yoongi, fingindo que as palavras do pai não fizeram um pavor gélido escorrer por sua espinha.

Odin soltou uma risada sarcástica.

— Ele já está acontecendo há muito tempo, criança — falou o deus, caminhando para perto do filho novamente. Por algum motivo, ele parecia maior conforme se aproximava. — Os gigantes estão travando uma guerra conosco desde que você nos deixou e, por muito tempo, conseguimos impedi-los de destruir Asgard. Mas nós não vamos conseguir por muito mais tempo.

— E por que você está pedindo minha ajuda agora? — questionou o Min, sua voz retumbando pelo salão vazio. — Melhor ainda, por que eu? Sou só um deus mensageiro. Nem um deus sou mais, na verdade.

Odin acariciou o seu cabelo escuro, como seu pai humano costumava fazer durante sua infância naquela vida, e respondeu:

— Você vai saber quando voltar a Asgard. Você é o único que pode nos ajudar, Hermod. Estou lhe implorando, filho.

Yoongi encarou seus olhos dourados.

— Meu nome é Yoongi — foi o que disse, antes de acordar em um susto.

Ele ainda estava no sofá da sua sala com Hoseok dormindo ao seu lado, a cabeça apoiada no outro braço do móvel, e Jeongguk adormecido na outra poltrona, encolhido como uma bolinha. A televisão estava desligada e a mesa de centro cheia de garrafas de bebida e caixas de comida vazias.

Sua vida humana ainda estava intacta, como se o sonho nunca tivesse acontecido, como se Odin nunca tivesse aparecido repentinamente e exigido que ele retornasse para Asgard, para salvar os deuses do fim do mundo. Não lembraram dele naqueles últimos trezentos anos, nem para chamá-lo para uma festinha de fim de ano, mas agora era o único que podia salvá-los do Ragnarok? Não, obrigado.

Por mais que sentisse falta de casa e o preocupasse a morte de todos os deuses — o que obviamente o incluía —, estava feliz como Min Yoongi. E continuaria vivendo como Min Yoongi pelo tempo que lhe restasse.

Os deuses que se virassem sozinhos.

(x)

— Nós precisamos conversar — foi a primeira coisa que Shin Nabi disse, assim que Yoongi adentrou o seu escritório, no dia seguinte ao seu sonho com Odin, carregando dois copos de café americano em mãos.

— Bom dia pra você também, noona — cumprimentou Yoongi, deixando o café da mulher em sua mesa, antes de se jogar no sofá pequeno que havia no canto da sala. — Dormiu bem? Eu nem tanto, mas obrigado por perguntar.

Nabi ignorou o copo de café — o que o Min levou para o lado pessoal, porque tinha passado muito tempo em uma fila para comprá-lo — e levantou-se da sua cadeira, para que pudesse caminhar até a porta do escritório e trancá-la. Ela checou, pela janelinha que havia na madeira, se havia alguém no corredor exterior ao local, antes de se voltar para o seu interior e encarar o cavaleiro com um par de olhos escuros e sérios.

Yoongi franziu o cenho para atitude. Sua empresária não era de se importar muito que alguém a ouvisse dando uma bronca nele por qualquer coisa que tenha feito — mesmo que, agora, não se lembrasse de ter feito alguma coisa que pudesse ter a irritado — e, muito menos, se incomodava se fosse interrompida, continuando a gritar com o Min mesmo na companhia de outras pessoas.

O que quer que ela fosse falar naquele momento era importante o suficiente para esses fatores começarem a incomodá-la de uma forma que nunca a incomodaram antes.

Ao chegar nessa conclusão, Yoongi sentou-se ereto no sofá e colocou o seu copo de café no chão, ao lado dos seus pés, antes de questionar:

— Aconteceu alguma coisa?

Um milhão de coisas transpassou por sua mente naquele segundo: sua vaga para as próximas Olímpiadas tinha sido perdida, seu cavalo tinha morrido, seu dinheiro havia sido perdido, acontecera alguma coisa com sua família, ele tinha uma doença rara da qual não tinha conhecimento e nunca poderia competir na vida. No entanto, nenhuma das suposições sequer chegou aos pés da verdade.

— Você precisa voltar — Nabi disse, em alto e bom tom, encarando-o com tanta profundidade que era como se conhecesse os segredos de cada uma das suas vidas passadas.

Yoongi franziu o cenho, sem saber se deveria interpretar a afirmação da única forma que sabia como interpretá-la, uma vez que aquilo não faria sentido. Ninguém sabia da verdade, ninguém sabia quem ele era. Muito menos a empresária de sua carreira como um atleta de hipismo.

— O quê? — perguntou, confuso. — Voltar pra onde? Do que você está falando?

— Asgard, Yoongi — repetiu Nabi, tão firme quanto antes. — Você precisa voltar para Asgard.

O Min sentiu todo seu corpo esfriar e seu coração despencar diretamente para o chão, montando morada ao lado do copo de café, tamanha sua surpresa e assombro diante das palavras da mulher. Como ela sabia daquilo? Nem tinha como. Nada daquilo fazia sentido algum.

— Noona, como você… — começou, sem saber que rumo dar para os seus pensamentos e palavras, limitando-se a encarar a Shin, completamente sem reação.

Nabi ajoelhou-se à sua frente, aqueles olhos tão familiares encarando-o de perto, dizendo um milhão de coisas que ele não conseguia entender no momento.

— Yoongi, sou eu — ela sussurrou, no mesmo segundo que as suas írises ganharam uma coloração prateada, como o dourado dos olhos de Odin no sonho. — Frigga. Sou eu.

Yoongi desconfiava seriamente que ainda estava sonhando.

— Desde quando? — foi a única coisa que conseguiu perguntar, visto que sua mente milenar parecia ter virado uma papa, com a revelação que sua empresária era na verdade Frigga, a sua mãe deusa disfarçada.

— Desde sempre, bobo — respondeu a mulher, sorrindo. — Alguém tinha que tomar conta de você, né?

— Por que só agora? — Yoongi sentiu as palavras doerem tanto quanto tinham doído no sonho, queimando por dentro, lembrando-lhe de coisas que não gostava de lembrar.

Por que tudo aquilo estava acontecendo agora que estava genuinamente feliz com sua vida mundana?

Frigga apoiou uma das mãos em seu joelho esquerdo, enquanto a outra usou para acariciar sua bochecha carinhosamente. Era um tanto estranho receber aquele afeto de uma pessoa que conhecia como sua colega de profissão, mas, naquele momento, reconheceu o carinho da sua mãe, o seu toque doce e presente.

— Eu sempre estive com você, Yoongi — ela informou gentilmente. O Min não deixou passar despercebido a forma como a deusa o chamava por seu nome humano, não por Hermod, e sentiu-se grato por isso. — Durante todas as suas vidas, arrumei um jeito de ficar ao seu lado e cuidar de você. Eu nunca concordei com seu exílio, você sabe disso.

Yoongi estaria mentindo se dissesse que a informação o surpreendia. Frigga, a deusa que implorou para que ele fosse ao reino dos mortos buscar um dos seus filhos e trazê-lo de volta para ela, parecia muito capaz de fazer companhia ao seu outro filho no mundo dos humanos durante todo aquele tempo.

E ela não estava mentindo. A deusa nunca tinha concordado com seu exílio. Na verdade, tinha tentado convencê-lo a não pedir pelo banimento, visto que sabia que Odin iria concedê-lo, mas, na época, estava cego demais pela sua dor e pressão do pai para dar ouvidos à mãe.

— Você estava comigo até quando eu era o John? — questionou, surpreso.

Frigga abriu um sorriso.

— Quem você acha que era o caseiro que batia na sua porta toda semana e mantinha aquela casa velha e feia funcionando?

— Ei, eu gostava daquela casa! — protestou, revoltado.

— Filho, acho que até o palácio da Hela é menos assustador que aquele casarão horroroso — retrucou a mulher. — Fiquei super aliviada quando você trocou de vida.

Os dois riram juntos e, por um momento, não era como se o mundo dos deuses estivesse acabando e Yoongi, um deus esquecido, fosse o único capaz de salvá-lo. Sentia-se reencontrando um velho amigo, alguém com quem podia dividir tudo o que não dividia com as outras pessoas por motivos óbvios.

Para alguém que tinha vivido tantas vidas naqueles últimos séculos, ele tinha muita coisa para dividir e adoraria fazê-lo em uma conversa com sua mãe divina, mas sabia que ela estava se revelando naquele momento não porque sentia saudade ou coisa do tipo. Se fosse assim, Frigga já teria contado a verdade muito tempo atrás.

Ela estar se revelando justo no dia posterior ao seu sonho com Odin só podia significar uma coisa: Frigga iria levá-lo de volta para Asgard, custe o que custar.

— Odin sabe que você está aqui? — perguntou, curioso. Precisava saber se a mãe estava ali por se importar, como tinha dito, ou porque tinha sido mandada pelo deus maior.

— Não — respondeu Frigga, no mesmo segundo. — Ele proibiu todos os deuses de fazerem contato com você, afinal você estava exilado. Era sua punição. Ele nunca soube que eu me disfarçava para te encontrar.

— E você está se arriscando ao se revelar agora para me levar de volta? — deduziu, o que fez a mulher abrir um sorriso culpado.

— Asgard precisa de você, Yoongi — a deusa afirmou, os olhos tão suplicantes quanto no dia que implorou para que ele fosse até Hela, clamar pela vida do seu irmão. — Nós estamos condenados, meu filho. Seu pai não teria vindo até você se tivesse outra opção. Eu sei que parece que ele está apenas te usando, mas é uma forma de devolver o seu lugar em Asgard, de você recuperar a sua glória entre a nossa dinastia.

O Min sabia, mas…

— Eu gosto da minha vida aqui — insistiu, imbatível.

Só o pensamento de deixar Hoseok, Jeongguk, seus pais, seus irmãos e o hipismo para trás causava-lhe uma dor amarga e apertada, que machucava o seu peito e fazia o corpo estremecer. Ele não gostava nem um pouquinho da sensação.

— Ela pode ser a última — barganhou Frigga, sem nunca deixar de encará-lo, o que provava a veracidade das suas palavras. — Você pode vivê-la até o dia da sua morte e voltar para Asgard, quando ela terminar. Sem mais outras vidas, sem exílio. Odin te deixaria fazer isso, se você nos ajudar a impedir o Ragnarok. Por favor, Yoongi.

Yoongi a encarou por um longo minuto enquanto pensava em suas palavras. Terminar de viver como o cavaleiro sul-coreano e voltar para casa, após aquela vida terminar, era o que, no fundo, ele realmente queria. Não queria mais acordar em outras vidas e passar por todo o processo novamente, não queria mais se punir por algo que o tempo o fez perceber, aos poucos, que não tinha sido culpa sua.

Asgard podia não ser mais o seu lugar, mas ele ainda poderia reconquistá-lo. Poderia provar que ainda valia a pena, que ainda poderia ser o deus que costumava ser.

Poderia honrar a vida do seu irmão.

Com um suspiro, apertou as mãos da sua mãe divina, sua mãe que tinha o feito companhia por todos aqueles séculos sem que soubesse, e deu-se por vencido:

— Tudo bem, vou voltar para Asgard, com a condição de que eu possa retornar para cá depois que tudo acabar e Min Yoongi seja a última vida que eu viva em Midgard.

Os olhos prateados de Frigga cintilaram como os portões gigantes de Valhalla.

— Fechado.

Yoongi esperava muitíssimo que aquele não fosse mais um arrependimento para sua lista infinita.


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Notas finais: o que acharam do capítulo? e do yoongi? o coitado queria paz, ganha uma missão suicida… eu me diverti horrores escrevendo ele e espero que os dramas desse coitado também divirta vocês porque ele ainda vai sofrer muito pela frente rs


não esqueçam de deixar um votinho, um comentário legal e até o próximo capítulo!

2 de Abril de 2022 às 03:24 0 Denunciar Insira Seguir história
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