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Kakashi não mede esforços em demonstrar, da maneira seja ela qual for, que faria de tudo por Obito. Por mais louca que fosse a situação, ele faria, outra vez, ele faria.


Fanfiction Anime/Mangá Impróprio para crianças menores de 13 anos.

#Obikaka #inkspiredstory #kakaobi #yaoi #lgbt #Kakashi #obito #Angst
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Único.

Kakashi sorriu ao ouvir o resmungo de seu esposo após provar daquele chá de alho com gengibre.

Era fim de tarde, chovia lá fora, o hospital ficava longe o suficiente de onde moravam para conseguirem ir até lá, e sendo assim, o casal de idosos recorreram a mais pura medicina natural que conheciam.Chá.

— Horrível...

— Se quiser se recuperar logo desse resfriado forte, você tem que beber tudo. Quando a chuva passar, podemos ir ao hospital.

Obito revirou os olhos e agradeceu mentalmente por Kakashi não visualizar aquilo, e no mesmo segundo, ele se xingou de mil formas mentalmente por ter agradecido mesmo que involuntariamente aquela fatídica realidade do outro.

— O gosto não é dos melhores. Mas foi feito por você. Então, pensando assim, o sabor até fica mais atrativo.

O Hatake sorriu, ainda sentado na beiradinha da cama. Ele tateou o colchão até sua mão subir sobre as pernas do Uchiha, e ali, ele localizou uma das mãos dele, a qual segurou firme e acariciou o dorso, sentindo a pele sensível por conta da idade e pelo fatídico ocorrido de anos atrás.

— Pronto... Obrigado pelo chá. Já me sinto melhor.

— Ótimo! Vou levar as coisas para a cozinha e... Ei!

— Não... Fica aqui comigo nesse friozinho de tarde vai? Vamos ficar deitadinhos juntos apenas sentindo o cheiro de velharia um do outro.

O Hatake gargalhou ao ouvir aquilo. Ajeitou os óculos escuros que caiam de seu rosto e, tateando toda a cama, ele se acomodou ao lado do marido, se deixando ser puxado para um abraço acolhedor.

— Você me amaria... Mesmo se...

— Obito... De novo isso?

— Desculpe. Mas não entra na minha mente que você manteria nossa relação se pudesse ver o meu atual estado. Não sei se isso foi uma caridade egoísta divina para mim ou o quê, também não sei se xingo ou agradeço a Deus pelas consequências dessa desgraça. Mas sempre que me pego pensando sobre outras situações que aquilo poderia gerar, eu me alívio quando penso que você não pode me ver. Quero que sempre tenha a lembrança do Obito que conheceu na adolescência, aquele cara bonitão que você dizia que facilmente seria escolhido para ser galã da novela das 22hr!

Kakashi suspirou e sorriu. Um misto de tristeza, angústia, compreensão. Os seus dedos tatearam o rosto alheio, as digitais sentiram as marcas severas das queimaduras que deformaram aquele rosto que tanto amava, e sua boca se uniu a boca alheia, um beijo breve, de poucos segundos, mas de muito amor.

— E se eu enxergasse, Obito? Você acha que eu simplesmente iria te largar por sua aparência?

— Sinceramente? Eu não sei. Mas eu sei que você sempre elogiou muito a minha beleza e ela foi drasticamente tirada de mim. Talvez, se você enxergasse após aquele acidente, eu teria sumido no mundo. Mas não iria prender você a uma pessoa tão asquerosa como eu. Não conseguiria me olhar no espelho como me olho, sentindo insatisfação e aceitar que você ainda está comigo porque quer.

— Esse é o seu pensamento, e eu deveria respeitar, mas não. Porque eu te amo, e não há beleza no mundo que mude isso. Asqueroso? Eu deveria pegar minha bengala e dar na sua cabeça. Eu amo você, eu me apaixonei por sua personalidade, o seu jeito desastrado, sua espontaneidade, seu jeitinho único de me fazer rir e me amar. Seu cuidado, sua proteção, seu cheiro, seu toque. Eu poderia passar horas dizendo tudo que amo em você. E depois, vem a beleza. Você sempre foi muito lindo, admito. Mas o que te faz pensar que um acidente mudaria meus sentimentos?

— Você fala isso porque não me vê! — ele riu de um jeito forçado e abraçou Kakashi com mais força. — mas eu te pouparia disso e sumiria no mundo. Você viveria sua vida feliz para sempre enxergando e com uma pessoa bela ao seu lado.

— Você me impediria de ser feliz então. Se eu tivesse que ficar com alguém só pela beleza eu estaria na merda!

Obito riu daquilo. Já estava acostumado a rir de suas desgraças. Ele fechou os olhos apreciando os carinhos deixados em seu rosto e depositou uma sequência de beijos sobre o topo da cabeça de Kakashi.

— Vamos parar com essas suposições antes que isso gere uma briga. E brigar com você é o que eu menos quero hoje. Eu te amo e vou acreditar que alguma divindade me beneficiou dessa forma estranha ao te fazer perder a visão. Estamos juntos até hoje, você tem as mais belas lembranças da minha aparência e eu continuo amando insamente você independente da sua atual condições. Aliás, você fica um charme com esses óculos.

Agora, havia sido Kakashi quem riu. Porém, ele não disse mais nada. Apenas sussurrou um "descanse" quando ouviu seu marido tossir devido a gripe e o cobriu, ficando quietinho acariciando os seus cabelos ralos pela idade avançada, notando quando a respiração do Uchiha tornou-se mais intensa, indicando que ele havia dormido.

Kakashi queria se levantar e ir ajeitar a pequena bagunça que havia feito em sua cozinha pelo preparo do chá. Seu perfeccionismo exigia isso. Mas o calor do seu marido estava o impedindo de deixá-lo naquele fim de tarde chuvoso e friento. Então, ele se permitiu ficar ali e descansar junto dele, embalado no calor dele, inalando o cheiro dele, permanecendo com ele.

E ele agradeceu no dia seguinte por isso. Porque foi ficando ao lado de Obito na tarde anterior, que Kakashi aproveitou literalmente até o último segundo da vida de seu companheiro.

O Uchiha faleceu no início da noite. Pela madrugada, Kakashi foi ao banheiro e foi quando notou a estranheza do seu marido não se mover na cama como de costume e não demonstrar estar respirando. Logo depois, veio seu desespero ao sacudi-lo e chamá-lo de forma alta, também, sem respostas.

E então, ele ligou para a polícia, para uma ambulância, e em meio a madrugada, ele teve a pior notícia de sua vida. A confirmação da morte do seu marido.

Pela manhã, ele recebeu o laudo da causa da morte. Bem, Obito já tinha os seus setenta e poucos anos, a sua saúde estava frágil e debilitada, uma gripe forte foi o suficiente para deixar sua imunidade ainda mais baixa, mas ainda assim, o médico afirmou que naquela idade e com a saúde fragilizada como ele estava, qualquer outra mera coisinha poderia levá-lo a morte.

E bem, havia sido a pior manhã da vida do Hatake. A preparação do velório, separar as roupas para a funerária vestir o corpo de seu marido, tudo aquilo era demais para si mas, ele estava grato. Porque ele soube que Obito havia tido uma segunda chance no dia daquele acidente de carro e ele viveu sua segunda chance de vida até o último suspiro.

Kakashi se desesperou ao abrir os olhos e identificar aquele cheiro único hospitalar. O Hatake não demorou a ser abordado por uma enfermeira que estava diluindo uma medicação no soro injetado diretamente em sua veia. E enquanto ela fazia isso, as memórias bagunçadas do grisalho começavam a se montar na mente dele, como um quebra cabeça que pouco a pouco ganhava forma.

E ele se lembrou do porque estava ali. Quando a lembrança horrível daquele acidente se mostrou fresca na sua mente. Ele nunca esqueceria a imagem de Obito preso nas ferragens do carro em chamas enquanto os bombeiros tentavam o tirar urgentemente dali.

Obito havia sido o seu herói pois, Kakashi se lembra de que havia desmaiado por minutos quando o carro em que estavam se colidiu com um caminhão desgovernado. Ele se lembrava vagamente de Obito tirando o cinto dele e o empurrando para fora, o jogando no asfalto, e minutos depois, o carro começou a ser consumido por chamas.

E por pouco, o Uchiha não havia perdido sua vida ali. Porém, oitenta por cento do seu corpo havia sido consumido pelas chamas. E naquele dia, sua autoestima e parte daquele ânimo contagiante, havia morrido com as chamas do veículo.

O Hatake suspirou ao entrar na sala em que o velório acontecia. O ar preso nos pulmões pareciam lhe dar mais forças para seguir até o caixão que estava sendo velado bem ali no centro do lugar, sendo cercado por amigos e familiares.

Os olhares de todos caíram sobre si. Era óbvio, ele era o marido do falecido Uchiha Obito. Mas a atenção dos demais, não eram por isso. Não eram apenas para saber se ele estava bem. A curiosidade de todos, gritavam por outra razão

— Kakashi?

— Rin... Obrigado por vir! Ele amava muito você! Era a melhor amiga dele...

A senhorinha de um metro e cinquenta sorriu ao ouvir aquilo, encarou o caixão com aquela bola de mágoa entalada na garganta mas, logo seu foco voltou ao Hatake, e ela se repudiou por sua curiosidade gritar naquele extremo, mas ela precisava interroga-lo agora mesmo.

— Kakashi... Eu sinto muito pelo que houve eu... Meus pêsames... — ela lambeu os lábios em nervosismo e se encorajou para questiona-lo, mas se calou ao ser encarado pelo homem que já sabia bem o que viria a seguir. — eu...

— Quer saber como eu estou enxergando?

Ela arregalou os olhos mas anuiu com a cabeça, não escondendo sua surpresa. Ela visualizou as iris do Hatake se fixarem outra vez no caixão e a mão trêmula do senhor de idade acariciar o rosto por baixo daquela tela que o cobria.

— Eu nunca perdi a visão, Rin... Meus olhos sim foram afetados pelos estilhaços do vidro do carro mas eu fiquei quinze dias com eles enfaixados e usando colírios antibióticos. Passei por procedimentos e cirurgias para que minha retina não fosse tão afetada.. eu não perdi a visão. Meus olhos apenas ficaram mais sensíveis.

— Mas... Eu pensei que.. todos pensamos que.. o Obito pensava que..

— Eu sei... Foi uma mentira feia né? Mas eu não aceitaria perder o homem da minha vida ou vê-lo tão receoso comigo se soubesse que eu estava enxergando...ele sempre foi muito vaidoso, sempre amou enfatizar como eu tinha sorte por ter um galã de novela e sempre me dizia para reafirmar o quão lindo ele era. — o Hatake sorriu com as lambanças e suspirou. — e isso nunca mudou. Obito nunca deixou de ser um galã aos meus olhos.. mas aos dele sim. Ele não seria feliz comigo achando que eu estaria com ele por caridade, por dó. Muitas vezes ele disse que sumiria no mundo para me poupar de viver com alguém como ele...

— Kakashi...

— Eu não podia perde-lo. Me chame de egoísta ou o que quiser... Mas se ser cego perante a ele me garantisse faze-lo feliz como ele merecia e me fazer feliz por estar com ele independente de tudo, eu faria, eu faria de novo... Eu colocaria novamente um óculos no rosto, andaria para lá e para cá com uma bengala e adotaria outro cão de abrigo e o adestraria para ser o meu cão "guia". Eu pagaria outro médico para me dar um falso laudo de perda de visão, eu faria tudo de novo... Só pra ele se sentir bem e seguro comigo. Eu faria...

E naquele momento, o Hatake desabou em lágrimas e foi consolado pela amiga do seu marido. Um abraço foi deixado pela senhora que tentava segurar o choro, imaginando o quão dolorido também era para Kakashi ter que fingir tudo aquilo por anos apenas para fazer Obito verdadeiramente feliz e seguro. Para manter o pouco de sua autoestima.

— Então... O meu marido está em situação grave na UTI? Eu quero vê-lo!

— Você irá... Mas eu devo te adiantar que... Um acidente desses causado por fogo não é algo fácil de se ver e de se lidar. Estamos fazendo de tudo e eu tenho esperanças que conseguiremos salva-lo. Mas Kakashi... Se ele de fato sobreviver, a vida dele irá mudar drasticamente. Porque nem mesmo centenas de cirurgias voltadas a estética, de reparações, irão trazer a aparência dele outra vez.

Kakashi crispou os lábios. Agora temia que não suportasse encarar aquela UTI. Entretanto, aquilo não durou mais que um minuto. Era o seu Obito. Era o homem da sua vida, afinal de contas. Era o homem que o fazia rir, sorrir e ser feliz. Aparência alguma mudaria isso. Não para si, mas ali, diante do vidro da UTI, Kakashi soube que não seria fácil, não para si, mas para ele.

Não seria fácil... Mas ele estava disposto a fazer de tudo para tornar mais fácil para aquele que ele sempre amaria.

E foi em uma das visitas a Obito, quando ele já estava estabilizado no quarto, que Kakashi soube o que teria que fazer.

O Hatake usava óculos escuros devido a sua vista sensível. E ele se surpreendeu quando Obito despertou. Ele ficou tão comovido que não expressou nada e não conseguiu falar nada. Mas sua surpresa maior foi quando viu o Uchiha encarando seus próprios braços castigados pelo fogo. Um choro ruidoso se formar nos olhos dele, estes que, cheios dágua, encararam Kakashi a distância e pareceram aliviados.

Obrigado por não deixá-lo me ver assim...

Ele não sabia bem para quem Obito sussurrou aquilo. Mas era nítido. Seu marido achava que ele estava cego e, ele soube naquele instante o que deveria fazer dali em diante.

Kakashi ignorou os olhares curiosos sobre si e assistiu aquela parte dolorosa que era o caixão sendo fechado. Sentiu que metade sua ficou ali dentro. E depois, a cada passo que ele dava no cemitério acompanhando as pessoas que seguiam o caixão para o enterro, sentia que tudo parecia irreal demais. Não era só tristeza, era um vazio descomunal, porém, a gratidão de ter vivido mais de cinquenta anos ao lado do amor de sua vida, fazia tudo valer a pena.

— Nos vemos em breve, amor. Você sempre será o galã da minha vida.

Os óculos escuros e a bengala foram colocados sobre a tampa do caixão antes do mesmo descer e a terra começar a cobri-lo até não restar mais madeira evidente.

Kakashi suspirou, sentindo a garoa se mesclar com suas lágrimas e ele enfiou as mãos no bolso, encarando o céu nublado, com um sorriso triste e grato nos lábios.

— Você sempre será lindo para mim. Eu te amo! Até breve...

18 de Março de 2022 às 02:04 0 Denunciar Insira Seguir história
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Fim

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