esternw Ester Cabral

No baile do Universo, meu brilho poderia ser apenas mais um dentre o de tantas estrelas. Isso se eu não fosse uma Supernova, nascida da junção e morte de dois sóis. Um mistério que alguns verão apenas uma vez em toda sua existência. No baile do Universo, feito de luz, havia apenas um ser a ser evitado por todos nós. Exceto por mim, que encarava a escuridão sem medo de não ver o fim.


Conto Todo o público.

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Good-Night

"Now it’s time to say good night

Good night sleep tight

Now the sun turns out his light

Good night sleep tight

Dream sweet dreams for me

Dream sweet dreams for you"


O teto é um amontoado de estrelas em uma disputa boba por quem brilha mais. Se é que isso poderia ser chamado de teto, mas creio não haver outra nomeação para algo que adorna nossas cabeças a alguns metros de distância.

A verdade é que seu voluntariado para nos servir de teto não passa de uma tola curiosidade. Curiosidade infantil, recém-nascida, que ainda brilha como se o amanhã fosse apenas um pensamento muito distante.

Suponho que o baile do universo compense qualquer curiosidade infantil das estrelas recém-nascidas. Perdido em um canto do universo, onde ninguém além de corpos-celestes pode saber onde é, entre o fim do universo e um buraco-negro.

As saias dos vestidos das damas são caudas de cometa e as capas dos cavalheiros ofuscantes e bordadas com o brilho de trezentas estrelas, que cederam sua luz para uma mera vaidade.

Quanta a mim? Eu não precisaria de vaidades, pois apenas minha mera existência é motivo de admiração. Uma Supernova, nascida da junção e morte de dois sóis. Um mistério que alguns ali verão apenas uma ou outra vez em sua longa existência.

Rodeei pelo salão de baile, que quase ninguém conseguia dizer onde terminava ou começava. Sua iluminação feita de um punhado emprestado de energia solar. Pena que nenhum desses sóis possa ter vindo em pessoa.

A cada baile que tenho a oportunidade de presenciar, minha impressão é de que as coisas diminuem. O infinito diminui? Como medi-lo? Provavelmente me perguntariam. A resposta é: não sei. Talvez ninguém saiba. No entanto, é como algo que você simplesmente sabe estar ali. E, em outro momento, não está mais.

Um dos responsáveis por isso está parado em um ponto do salão, isolado e cercado pela escuridão. O único capaz de provocar medo em qualquer um ali.

Em mim? Também, pois como não temer um Buraco Negro, sabendo que nosso fim seria ali, ao seu redor? No entanto, era impossível não se sentir magneticamente atraída para ele.

Certos perigos tinham esse tipo de magnetismo.

Olhei para ele e, mesmo envolto em uma escuridão espessa, tive a certeza absoluta que era encarada de volta. Caminhei em sua direção, meus passos tocando o vazio, mais leve do que hidrogênio.

Parei em sua frente e vi-o estender uma mão, feita de trevas. Aceitei-a, cobrindo sua mão de escuridão com a minha de luz. Ao nosso redor, o nada e o tudo. Senti-me ser puxada e deixei que me carregasse para o meio do salão, engolindo a luz de onde passávamos com suas trevas. Ninguém era tão louco de manter-se ao redor. Apenas eu.

Valsar com um Buraco-Negro era como olhar para o abismo e saber que era encarada de volta. A escuridão te observa em silêncio e você não podia deixar de se perguntar o que de misterioso e assustador se escondia ali; ao mesmo tempo que não podia deixar de admirar a beleza contida naquela escuridão.

― Há muito deixei-me de impressionar em como sou atraída para você. Como a última dança do baile.

De fato, sempre o via, espreitando-me, como se apenas esperando o momento certo para tomar-me para sua escuridão.

― Talvez seja a ordem natural das coisas ― ele respondeu, segurando em minha mão para um giro. ― A Supernova se atraí para o Buraco-Negro.

Os dedos entrelaçados um contra o outro era como ver a mistura da luz com a escuridão.

― Tudo é atraído pela gravitação do Buraco-Negro.

― Exceto que há apenas duas coisas que possuem seu fim irremediável em um.

Nossos dedos se soltaram e ele me puxou pela cintura contra ele. Seus olhos eram dois vórtices intempestivos girando em uma única direção. Hipnotizantes e arrasadores.

― Há beleza no fim?

― O mais belo no universo, junto do início, é o fim.

Eu brilhava incandescentemente, sentindo minha energia ser sugada para ele, tornando-nos um.

Ergui os olhos para cima, vendo o brilho das estrelas diminuindo. Ou talvez fosse apenas eu, ofuscando-as com minha luz.

As estrelas esconderam sua luz e todos os astros pararam, brilhando um pouco menos por um instante. Que muito bem poderia ter sido uma breve eternidade.

O Buraco-Negro, mais uma vez, testemunhou o fim. Belo como uma Supernova.

14 de Março de 2022 às 22:57 0 Denunciar Insira Seguir história
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Fim

Conheça o autor

Ester Cabral Direto do interior de São Paulo e com duas décadas de vida nas costas, apesar da carinha de menina. Rodeada de histórias e tentando transformar a sua em realidade. ♡ Sempre devemos ter cuidado com livros e com o que está dentro deles, pois as palavras têm o poder de nos transformar ♡

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