meloncake Sαrα M.

Um causo mágico, peculiar e brasileiro. Acontecido na vida de um gaúcho há três décadas atrás. Este é um conto do passado. Talvez real, talvez não. Cabe a você acreditar no misticismo das palavras aqui escritas. Anteriormente publicado em outra plataforma, vencedor de três concursos, sendo estes: → Concurso Corte de Espinhos e Rosas (1º lugar) → Concurso Florescendo Palavras (2º lugar, posto Azaléia) → Concurso Oportunidades (4º lugar) ↓↓↓ Lembrando que PLÁGIO É CRIME! ↓↓↓ Artigo 184 do Decreto Lei nº 2.848 de 07 de Dezembro de 1940 → Pode conter erros ortográficos.


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O Causo

Quando eu era jovem — o que já faz décadas! — eu morava no litoral do Rio Grande do Sul, mais precisamente em Torres. Não havia nascido naquela cidade, mas minha família se mudou de Uruguaiana para lá quando eu tinha doze anos. Era um lugar belíssimo. Eu e meu pai costumávamos subir as escarpas pela manhã para observarmos a Ilha dos Lobos que ficava um pouco distante da praia. Às vezes íamos até lá com o pequeno barco dele, que apelidei de Aventureiro dos Sete Mares.

Em um certo dia de minhas férias de verão, quando já tinha meus dezesseis anos, resolvi pegar o barco e ir sozinho até a ilha. Meu pai havia saído para trabalhar e minha mãe estava na vizinha, ninguém suspeitaria da minha façanha. Convidei alguns amigos para irem junto, mas eles negaram.

“Guri, teu pai vai ficar uma fera!” diziam alguns. Outro completara com “Vai cair uma chuvarada. Tu vai te arrepender!”.

Não dei ouvidos, simplesmente peguei o barco e fui. A ilha não era tão distante, mas no caminho o tempo se fechava mais e mais. Quando me dei conta, a chuva já caía, cada vez mais forte.

“Tchê, não é que eles tinham razão?” pensei.

O vento já estava açoitando o barco com toda força, eu andava de um lado para o outro dentro deste, pensando no que faria. Estava mais perdido que cusco em tiroteio.

Os trovões ribombavam em meus ouvidos, o céu clareava a todo instante com poderosos raios e quando voltava a escurecer era como se estivesse noite. Eu já não conseguia distinguir mais onde estava. Não sei bem o que aconteceu, mas creio que em determinado momento desmaiei.

Quando acordei, a tempestade havia se dissipado, o barco havia encalhado em uma ilha, mas não a dos Lobos.

As ondas do mar levaram meu barco para um lugar que nunca havia visto. Assim que toquei meus pés na areia, senti como era macia e vi que sua tonalidade era tão clara que quase podia reluzir. A flora era magnífica, a água por volta da ilha era cristalina.

Não sei quanto se passou desde que tinha chegado lá. Fiquei andando em volta da ilha, pois, o que tinha de beleza, tinha de pequenez. Torci para não encontrar algum animal selvagem, mas naquele lugar só habitavam aves coloridas e insetos igualmente impressionantes. Por um momento pensei estar em outro litoral, mas julgo até hoje que aquela fauna não exista em lugar algum.

Senti que havia pisado em algo duro, olhei para baixo e vi pequenas conchas, elas tinham um tom esverdeado, diferente de todas as conchas que havia visto. Peguei uma e guardei no bolso.

O tempo passou. Fiz daquela a minha ilha. Amarrei o barco, com as folhas das palmeiras improvisei uma barraca e cacei os peixes que ficavam nas águas rasas para me alimentar. Esperando por um resgate, todo dia formava um pedido de socorro nas areias, mas receava que ninguém iria me encontrar, com certeza tinham me dado como morto há muito tempo.

Nomeei meu novo lar de Magia, pois nada fazia mais sentido do que isto. Acordava todas as manhãs com o maravilhoso canto dos pássaros, um até vinha todo dia cantar perto da barraca. Minha vida era perfeita, mas eu sentia falta dos meus pais, amigos... No fundo, eu sabia que estava ali por um erro.

Em um determinado dia ensolarado, resolvi sentar na beira da praia e observar a imensidão azul que me cercava. Fechei os olhos e lembrei de minha antiga vida, uma lágrima escorreu no canto do meu olho. Eu não estava verdadeiramente feliz.

Quando os abri novamente enxerguei uma luz, mas não era o Sol. Eu estava em uma sala toda branca e deitado em uma cama.

— Ah! Que bom que acordou. — disse uma mulher de branco ao meu lado, verificando o que parecia ser soro.

— O que aconteceu? — perguntei com a voz rouca, minha garganta estava seca como um deserto.

— Seu barco foi atingido por uma tempestade e ficou à deriva por um dia, estava quase morto quando o encontraram aqui, no litoral de Santa Catarina.

Ouvi atentamente as palavras que a mulher dizia, pensando como aquilo era possível.

— Seus pais chegarão em breve. — completou, retirando-se em direção a um paciente que estava próximo de mim.

Eu simplesmente não conseguia acreditar no que havia acontecido. Então tudo não passara de um delírio? O que eu diria se me perguntassem exatamente o que aconteceu? Não queria ver a raiva de meu pai e a preocupação de minha mãe quando chegassem.

Movi meu braço com dificuldade até meu bolso. Quando coloquei minha mão dentro dele pude sentir uma coisa dura, a puxei e vi que era a concha. Fiquei mais confuso ainda.

“Talvez seja um lugar mágico” pensei.

Não importava o que havia acontecido. A tempestade fez meu barco chegar até aquele lugar, não havia farol iluminando em nenhuma direção, mas aquela ilha foi a minha salvação. Eu nunca esquecerei da beleza dela e de seu misticismo, que mesmo invisível nos mapas, está gravada em minha mente e meu coração.

Hoje, já fazem trinta anos que tudo aconteceu. Não moro mais em Torres, mas na capital Porto Alegre. Jamais contei esta história para alguém, mas a escrevo como um relato, de que minha teimosia quase me matou, mas me fez encontrar a coisa mais bela que vi em toda minha vida. Se você algum dia encontrar este lugar, pegue uma concha na areia e não a largue, pois, quando retornar para este mundo normal, ela estará contigo.

12 de Fevereiro de 2022 às 21:42 0 Denunciar Insira Seguir história
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Fim

Conheça o autor

Sαrα M. Em cada frase, de cada esquina, eu posso encontrar poesia.

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