Contos Chuvosos Seguir história

O céu hoje está pesado e monótono, com um tom escarlate, lindo e imponente. Não só hoje, todo dia desde o ocorrido. Venho pensando em formas de sair daqui, de onde estou. O ar agora também, sempre tinha cheiro de chuva quando cai sobre a terra.

Me perdi...

Não lembro de como isto aconteceu, na verdade, devo saber, mas foi tão repentino que não sei a causa. Minha família não os vejo faz tempo. Um tempão.

Estou parado no vale da sombra e da morte, como o pastor de uma igreja que minha família frequentava dizia. Ele também dizia para dar dinheiro a ele senão você iria para baixo, se é que me entende. Outrora suja com poeira e poluição, agora a estrada que eu estava parado, era banhada a sangue queimado e seco. Avisto um parquinho que eu implorava aos meus pais para ir e me aproximo de um balanço para descansar.

- O céu está vermelho, que bom. – Só isso, não tenho mais nada para falar. Vermelho é uma das minhas cores preferidas.

Me perderam...

Todo mundo sumiu do mundo, do meu mundo. Temo pecar ao falar isso, mas a solidão é libertadora. Dou alguns chutes de leve no chão, enquanto o balanço vai e vem ao vento comigo em cima. A brisa com cheiro de chuva voltou, estou feliz. Ao meu lado, vejo um daqueles brinquedos em que você tem que escalar até o topo, não sei o nome, você deve saber. Lembro que subia de olhos fechados, não tinha medo da altura, estava sempre me desafiando. Não sei como me perdi...

Tinha medo de sapos. Tinha medo de aranhas e medo de baratas. Agora um novo medo foi adicionado. Um medo que engloba vários. A insegurança. Por que crianças são tão más? Devo questionar aos pais, que as criam.

Os medos só pioram com o tempo. Destroem e corroem de dentro para fora. Um dia você é criança que se preocupa apenas em comer terra, se ralar jogando bola e andando de bicicleta e voltar pra casa sujando o chão todo de lama e no outro, um adolescente ou adulto que se preocupa com o futuro. Futuro é outro medo tenso.

Inseguranças, se não fossem emocionais, seriam demônios, que te arranham e machucam a luz do dia, mas ironicamente te soltam no escuro, quando você está sozinho e não pode recorrer à ninguém.

Fui esquecido.

Pego minha mochila que estava ao lado da minha perna, ela é do meu nono ano, uma época boa. Bom, eu comecei a sair com meus amigos e tal. Mas foi nessa época também que minha ansiedade e insegurança foram se desenvolvendo. Levanto do balanço e começo a andar por sobre a calçada rachada. Não tenho para onde ir agora, já pensei em formas de sair daqui, umas mais fáceis, outras mais duvidáveis.

Ouço uma batida. É minha mãe chamando.

- Filho, a carona já está ali na porta nos esperando, o culto de hoje é importante, lembra? – disse ela.

Levanto e da cama e faço que sim com a cabeça. Ela vai embora, e eu aproveita para enxugar uma lágrima que havia escorrido e eu não percebi.

Já foi um lugar melhor. Minha mente.