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A rotina de um servo pode ser complicada e cheia de pesares, mas, com a chegada do festival Meoseumnal, nasce a oportunidade de Jimin e Yoongi celebrarem a felicidade e o amor contido em todas as juras silenciosas que fizeram através das flores.


Fanfiction Bandas/Cantores Impróprio para crianças menores de 13 anos.

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A flor que ama sob a luz das lanternas

Escrito por: @LuhDrama | @LuhDramaLS


Notas iniciais: Olá!

É a minha primeira vez nesse projeto lindo, então espero que gostem.

Boa leitura!

~~

Yoongi havia se tornado servo ao oferecer seus serviços como escravo no lugar de seu pai, este tinha acumulado uma dívida grande demais com uma família da classe yangban, a mais alta casta da sociedade. Acabou por ser uma boa troca na época — ganhou um espaço onde podia produzir suas plantações enquanto a outra era destinada aos proprietários—, agora tinha mais alimento e algum dinheiro para se manter, apesar de pagar altos tributos para continuar tendo seus poucos direitos.

Não convivia com seus mestres, porém precisava, quase todos os dias, ir até a moradia desses receber suas tarefas diárias, como ir comprar alimento, preparar forragem nova para os cavalos e levar mais lenha para manter os quartos aquecidos no inverno. Yoongi fazia tudo com um certo pesar no peito por não ser um homem livre, apesar de ser grato de certa forma pela oportunidade que tinha.

Sua rotina só pareceu ganhar um pouco mais de ânimo quando o viu pela primeira vez, andando por uma área da casa que ao menos tinha acesso.

Jimin era sempre sorridente, e, mesmo fazendo parte de uma casta tão baixa, sentia-se privilegiado por ser tão bem cuidado pela família Kim. Talvez o único momento em que não aparentava ser tão feliz assim era quando estava deitado entre as cobertas macias no quarto espaçoso e com o chão sempre bem lustrado, os fios de seu cabelo eram mantidos longos e, por vezes, precisando vestir um hanbok feminino a pedido do Kim mais velho para que passasse despercebido entre as outras concubinas. Afinal, não eram aceitas relações como aquela, por mais que não houvesse muito além do que aquelas noites abafadas e seu corpo exposto para agradar o principal Kim, que detinha de diversos recursos e poder.

Sabia dos olhares invejosos sobre si pelos presentes que ganhava, dinheiro extra, tecidos bonitos e acessórios, os quais vendia a maioria para converter em mais dinheiro para seus pais, escravos comuns que serviam à mesma família por diversas gerações. Os progenitores sabiam da dupla vida que o filho levava, mas não o detinham pelo retorno que recebiam, e, desde que Jimin estivesse naquilo por sua vontade própria, não viam grandes motivações para intervir.

A vida era um eterno oferecer algo para ganhar um benefício em troca.

Entretanto, aquele não era bem o pensamento de Yoongi a respeito de como a vida funcionava. De vez em quando, observava a saia do hanbok tremulando entre os corredores e pátios, perguntando-se como poderia oferecer algo tão valioso por um sentimento tão medíocre, por mais que Jimin andasse tão mais bem arrumado do que ele, que quase sempre permanecia com as roupas sujas de terra e um satgat cobrindo o rosto do sol quente enquanto arava a terra e cuidava das plantações.

Talvez tenha sido aquele sentimento de incapacidade que o fez observar com mais atenção o servo de mãos delicadas que estava sempre ao lado do Kim mais velho, a não ser quando estava indo entregar alguma mensagem a mando de seu mestre ou ajudando a decorar a casa durante os eventos. Os Kim gostavam muito de sua sensibilidade para decoração, principalmente tratando-se de arranjos.

Porém, o que provavelmente mantinha Jimin — que inclusive foi um nome dado por sua mãe à contragosto de seus proprietários, já que ela se recusou a dá-lo um nome de escravo que o definisse como “cachorro” ou “ninguém” — em tal posição era a sua inestimável beleza e lealdade ao seu mestre, trabalhando desde bem novo sem receber muitas punições — geralmente apenas por erros mínimos quando ainda muito jovem.

A primeira vez que trocaram algumas palavras foi por um acaso. Yoongi levava à casa de seus senhores uma cesta de alimentos da horta e escutou durante seu trajeto um choro baixo e abafado vindo do lago, onde alguém trajando vestes brancas, típicas de um servo — em contraste com o cabelo preto escorrido que caía para todos os lados, por estar encolhido e escondendo o rosto —, temendo ser pego em tal estado.

— Por que uma flor tão bonita está tão triste? — A voz súbita fez com que a pessoa erguesse o rosto, surpresa, por pensar que estava sozinha.

Diferente do que pensou, o rosto do homem, que tinha os fios escuros cobertos por um chapéu largo de bambu, o qual provavelmente nunca o vira sem, não mudou em momento algum ao perceber que Jimin era um homem. Ao invés disso, manteve um olhar preocupado sobre si, tentando entender sua tristeza.

Pela falta de resposta que obteve, por Jimin ainda estar sem reação, decidiu tentar uma abordagem diferente:

— O Meoseumnal está se aproximando... Soube que os cozinheiros da família Kim sabem fazer uma comida muito boa e eles irão cozinhar para o festival também.

O lembrete do evento mais esperado pelos servos fez uma sensação faiscante acender-se em seu peito, era sua data comemorativa favorita. Não que não gostasse de outros festivais, mas aquele era o único dia no ano que via sua classe se divertindo de verdade, sem precisar realizar tarefas ou serem chicoteados por não terem limpado um vaso direito.

— Jun Gae cozinha realmente bem. Eu irei ajudar na decoração. — O sorriso de Jimin ao falar sobre sua função no evento contagiou Yoongi, que sorriu de volta ao perceber que o tinha feito esquecer, um pouco que fosse, do que estivesse o preocupando.

Pensou em sentar ao lado do homem e arranjar um pouco mais de assunto, mas Jimin se levantou com pressa, batendo no tecido branco enquanto afastava o cabelo longo, com vergonha, e recolheu o hanbok florido, que havia largado de qualquer jeito ao seu lado.

— Obrigado — agradeceu com uma rápida reverência antes de sair andando com pressa pela passagem cercada pela água, deixando para trás o servo, que fez o resto do seu caminho até a casa com uma sensação de flores desabrochando.


...


Nos dias que seguiram, Yoongi manteve seus afazeres em dia longe da casa dos nobres, bebendo vinho de arroz ao final de suas tarefas enquanto procurava não pensar no servo particular do mestre Kim. Certamente seus pensamentos custariam sua cabeça.

Ainda assim, não foi possível conter sua alegria interna quando viu o rosto familiar fora dos muros, o cabelo agora preso no alto da cabeça e uma faixa branca amarrada em sua testa. A falta de cor de suas vestes e a pose apreensiva não tiravam sua beleza, e Yoongi não pode se conter, aproximou-se aos poucos, até ver o sorriso tímido despontar novamente nos lábios de Jimin ao este levantar o rosto, uma vez que seu chapéu escondia parte de sua face.

— Olhe, o mestre me deu dinheiro por causa do festival. — Mostrou as moedas que carregava consigo. — Geralmente eu já ganho um pouco pelos meus serviços… — Seu rosto se contorceu em uma careta. — Mas desta vez ele me deu mais.

— E o que pretende fazer? — perguntou, ajeitando as alças do suporte em suas costas, com vários pedaços de madeira empilhados para levar até a residência dos Kim.

— Eu ainda não sei — admitiu, olhando para o extenso mercado ao ar livre, onde comerciantes expunham os mais variados tipos de produtos em suas bancas, como algodão, legumes, joias baratas e tudo mais que alguém fosse precisar.

Jimin praticamente não saía dos limites formados pelos muros da casa em que vivia, exceto quando precisava atravessar o vilarejo para entregar alguma mensagem aos oficiais ou alguma outra figura da nobreza, ou então quando precisava seguir o senhor Kim em alguns lugares em que era solicitada sua presença. Ainda assim, muitas das vezes, ficava dentro da hanok espaçosa e cheia de atividades a serem cumpridas.

— Por que não compra algo que geralmente não conseguiria comprar? — cochichou em seu ouvido, como se fosse um segredo, apesar de não poder chegar tão perto devido ao satgat.

— Farei isso — concluiu animado, mal esperando para comprar algo que pudesse manter consigo, por mais que ainda estivesse pensando o que seria.


Era notável como o humor dos servos da aldeia mudavam com a chegada do evento, ficavam mais energéticos e solícitos, exatamente o que os proprietários visavam ao entregarem dinheiro a cada família de escravos para que estes não gastassem do seu próprio e pudessem curtir o festival sem remorsos.

Nesse meio, porém, Yoongi ainda não conseguia sentir como o evento de um dia podia compensar todo o restante, ainda mais quando o senhor Kim o chamou em sua sala. Curvou-se respeitosamente antes de sentar sobre as pernas diante do homem, que o encarava sério demais para quem o tinha chamado na intenção de que vendesse algo do depósito no mercado ou que o trouxesse legumes de sua horta.

No canto, sempre olhando em direção ao chão, Jimin esperava ter sua presença solicitada, enquanto seu mestre gerenciava os negócios e aqueles que trabalhavam para si. Ver Yoongi ali e saber do assunto que seria tratado entristecia-o, não achava que ele merecesse o que iria ouvir.

— Sabe por que eu permiti que tivesse suas próprias terras? — perguntou de forma retórica. — Era minha forma de dizer que eu confiava em seu serviço bem feito. Te aceitei em minha casa no lugar de seu pai por um ato de misericórdia, mas me parece que não tenho recebido o retorno esperado. A última leva de legumes estava bem abaixo do que foi pedido.

Yoongi abriu a boca uma primeira vez sem dizer nada, repetindo o ato em seguida para tentar se explicar, recebendo um olhar repreendedor de Jimin por detrás do Kim, o qual ele não viu.

— Senhor Kim, uma parte da plantação foi atingida por pragas, eu não consegui salvar. Mas recompensarei na próxima e…

— E mais nada. Amanhã mesmo quero que se mude para cá, entregarei as terras para outro servo mais digno. — Foi sua decisão final, deixando Yoongi se contentar com os punhos cerrados ao lado do corpo antes de reverenciá-lo mais uma vez e se retirar, antes que fosse punido por confrontar o mestre.

Naquele meio tempo, viu os olhos de Jimin embargarem em seu lugar ao engolir o choro de raiva entalado na garganta. A proximidade da data do festival tornava todos mais felizes, mas o festival ainda não havia chegado.

Os dias continuavam comuns.


...


— O que comprou com o dinheiro? — disse Yoongi, baixo o suficiente para chamar a atenção apenas de quem queria.

Era uma tarde quente e tinha um depósito inteiro para organizar quando viu Jimin afastado de seu mestre, não querendo olhar um senhor sendo chicoteado nas canelas por, sem querer, ter deixado uma caixa pequena cair no chão, a qual fez com que uma das filhas do senhor Kim tropeçasse e ralasse as mãos.

— Um vaso! — confessou animado, porém se contendo, com medo de ser repreendido. — Um de cerâmica, igual àqueles que tem na casa do senhor Kim. É bem menor, claro, mas ainda assim…

— Mas, por que um vaso?

Jimin temeu que tivesse feito uma péssima escolha, mas Yoongi era alguém que jamais o julgaria por qualquer uma de suas preferências. E, ao ver a sincera curiosidade em seus olhos, continuou a distrair-se na expressão focada em si ao explicar sua motivação.

— Eu sempre fiz muitos arranjos para a senhora Kim, e agora posso fazer o meu próprio. — Ergueu os ombros. Era algo que realmente gostava de fazer, então, aquilo bastou para que escolhesse o vaso de cerâmica branca, pintado à mão com desenhos de bambus, flores e pássaros por um corante azul. — Geralmente nós compramos comida, mas eu queria comprar desta vez algo que permanecesse comigo.

— Posso te ajudar a montar um, se quiser — ofereceu-se sem pensar muito, ao menos sabia como fazer um arranjo, mas queria passar mais algum tempo com Jimin.

— E-eu aceito — gaguejou sem querer, remexendo os dedos, nervoso como quem toma uma decisão muito errada.

A conversa não pôde ser prolongada, pois o castigo aplicado ao outro servo foi finalizado, o que fez com que todos se dispersassem e Yoongi corresse até o homem ajoelhado no chão para ajudá-lo. Jimin foi impedido de fazer o mesmo ao ser chamado pelo senhor Kim, o qual tinha muito a fazer ainda além de se ocupar com descuidos de seus servos.


Yoongi realmente buscou dar seu melhor para ajudar Jimin em seu passatempo. Servos não costumavam ter muitos momentos de lazer, limitando-se a alguns jogos, bebidas baratas e descanso ao escurecer, ou então quando alguma atração visitava o vilarejo e as filhas do senhor Kim iam assistir junto aos filhos dos escravos.

E por isso ele queria que fosse especial de alguma maneira, por mais simples que fosse organizar flores em um vaso.

Dar flores de presente a alguém podia significar muitas coisas, e Yoongi se atentou ao significado de cada uma na hora de escolhê-las, em contrapartida de apenas pegar as que achava serem bonitas para compor um arranjo. Não tinha muita certeza do que fazia, mas queria arrancar mais sorrisos de Jimin ao ponto de nunca mais vê-lo esboçando descontentamento com sua vida.

Chegou a questionar alguns servos que trabalhavam no jardim o que cada flor poderia significar, recebendo algumas respostas desagradáveis e outras satisfatórias até ter certeza de quais escolheria, colhendo a primeira que o agradou com a ajuda de uma moça jovem que podava as plantas.

— Espero que ela goste — comentou ao entregá-lo uma inflorescência carregada de pequenas flores brancas, recebendo apenas um agradecimento breve ao retornar até o pátio, onde combinou de encontrar Jimin quando este fosse liberado para descansar um pouco.

Sentiu-se ansioso e nervoso, jamais imaginou-se entregando flores a alguém, muito menos para uma pessoa como o servo que vinha inundando sua mente e corpo com um sentimento caloroso. Para ele, entregar aquelas flores ia muito além de ajudá-lo, mas também revelar a Jimin algo que não poderia dizer em voz alta.

Quando viu o rapaz o esperando, não soube muito bem como reagir, apenas esticou o braço de forma exagerada para entregá-lo aquelas pequenas flores.

— São lindas! Acredita que a planta que as origina foi trazida do outro lado do oceano? — Viu os olhos escuros brilharem e, em seguida, sumirem com o sorriso que expressou ao ver as flores.

Jimin o convidou naquela noite para que fosse até sua casa, um espaço pequeno dentro da propriedade dos Kim em que vivia sozinho, depois que seus pais tiveram a oportunidade de adquirir uma casa fora daqueles muros com a ajuda do filho, e este escutou atentamente sobre a flor americana que era chamada de “pequena princesa”.

Yoongi não o disse, mas a escolheu por representar a beleza pura, que era a personificação de Jimin. Em silêncio, então, dividiram um pouco de arroz, fingindo que a ausência de palavras não parecia confortável entre os dois.


...


Um pequeno grupo de mulheres usando hanboks enfeitados e coloridos em conjunto com perucas em formato de penteados elaborados e volumosos, ornamentados com acessórios entre os fios, aproximava-se da entrada da hanok em um dia que Jimin foi dispensado por algum tempo, vindas das casas das gisaengs. Estas eram mulheres que estudavam as mais diversas formas de arte e entretinham homens nobres. O senhor Kim gostava muito de convidá-las para sua casa quando precisava ter alguma distração dos seus dias estressantes ou quando queria agradar as visitas.

Jimin não sabia bem o que a senhora Kim ou suas filhas pensavam de seus hábitos, mas, como elas viviam em uma casa separada no mesmo quintal, talvez nem as percebessem entrando, distraídas demais ouvindo histórias de romance contadas por uma das poucas servas alfabetizadas.

— O pequeno Jiminnie está apaixonado? — disse uma das gisaengs, que frequentemente partilhavam uma bebida com os homens que se reuniam para reuniões, já acostumadas com sua presença, sendo as únicas que sabiam que compartilhava noites com o Kim mais velho, sem receber a mesma quantia que elas ganhavam, é claro. — Para quem irá dar a flor? — prosseguiu, sendo ecoada por outras, todas curiosas demais com o estado mais alegre do servo.

As perguntas pegaram Jimin desprevenido, que tentava esconder o lírio tigre que carregava, sem muito sucesso.

— Para ninguém. Eu apenas…

Uma menina bem nova aproximou-se do servo, apoiando uma mão em seu ombro com um toque sutil, como quem diz que estava tudo bem.

— Não iremos contar ao senhor Kim. Você também tem o direito de ser feliz.

O sorriso gentil fez o servo sentir-se tranquilizado, pouco se importando com o fato de que não iria dar a flor a ninguém, e sim havia acabado de a ganhar de Yoongi para compor seu arranjo. Daquela vez, tinha percebido a mensagem implícita e só foi capaz de sorrir bobo enquanto balançava a cabeça em afirmativa.

O lírio era a forma de Yoongi dizer sem palavra alguma para que o amasse. Era algo assustador, mas ao mesmo tempo libertador para quem pensou que jamais experimentaria aquele tipo de emoção ao aceitar viver subjugado a um homem com muito mais poder sobre suas escolhas.


Depois do episódio com as gisaengs, Jimin tornou-se cauteloso, pedindo para que Yoongi levasse as flores direto para sua casa, de forma que não levantasse suspeitas. O servo não foi capaz de reclamar, ainda que por vezes encontrasse o local vazio, mesmo tarde da noite, sabendo onde sua flor estava no momento e odiando secretamente ter consciência disso. Mesmo que Jimin fosse uma mulher e ele pudesse pedi-lo em casamento, estaria fadado a lidar com o fato de que não se pertenciam unicamente.

— Nós poderíamos fugir durante o festival, eles não têm o direito de nos prender com tarefas neste dia. — A ideia, pensada por Jimin, pareceu animar aos dois, que já pensavam em possibilidades e planos para o futuro. Jimin tinha joias e roupas suficientes para vender e terem dinheiro por algum tempo, inclusive para seus pais. Poderiam ir para longe, onde a família Kim não os achasse.

— Por que não tenta comprar sua liberdade? — Jimin ganhava mais que qualquer escravo, caso juntasse o que recebia poderia gerar uma pequena fortuna, o que, com o tempo, o daria passe livre.

— Jamais deixariam que eu fosse liberto — confessou cabisbaixo. O senhor Kim jamais rasgaria seu registro ou aceitaria a quantia que fosse por conta própria. Talvez até recusasse a proposta de outros nobres interessados em comprá-lo, era um servo muito aplicado e bondoso para entregar de bandeja.

Enquanto montavam lanternas dentro do pequeno espaço que Jimin morava para o festival dali dois dias, alguém os viu juntos, inclusive quando se abraçaram e Jimin roubou um selinho do servo depois de ajustar a posição da linda azaleia vermelha em seu arranjo com os caules mergulhados em água fresca, expulsando-o de sua casa logo em seguida pela tamanha vergonha que sentia.

— Ri baixo ou vão te descobrir aqui! — sussurrou irritado, arrancando mais algumas risadinhas de Yoongi enquanto este ajeitava o chapéu, escondendo seu rosto novamente antes de sair andando noite adentro até onde passou a morar depois de ter perdido suas terras no campo.

Jimin voltou a olhar para seu arranjo, onde as primeiras flores já haviam murchado, as bochechas quentes em pensar que havia recebido uma declaração discreta através da flor, o que demonstrava que Yoongi encantou-se ao ponto de gostar de verdade dele e tentou explicitar aquilo da melhor forma que podia pelas pétalas coloridas em vermelho.


...


No dia seguinte, o senhor Kim percebeu como seu fiel servo parecia mais disposto na véspera do festival, assim como boa parte dos outros que trabalhavam para si, mas qual não foi sua surpresa ao saber que, na verdade, a felicidade de Jimin tinha não só um nome como também um rosto.

Aquilo o irritou como nunca. Seu servo pessoal não tinha tempo para amores, pois era um estado que os deixavam desconcentrados e sonhadores, e escravos não eram pessoas que tinham chances de realizarem sonhos. Por isso, fez questão de lembrá-lo disso.

Jimin não entendeu como foi descoberto de início, aceitando seu castigo enquanto murmurava palavras de perdão, observando apenas a sombra da senhora Kim na porta. Esta monitorava a cena de braços cruzados e com certa satisfação por ver o servo, que tanto chamava a atenção de seu esposo, recebendo o tratamento que achava que merecia.

E, por mais triste que tenha ficado, Jimin continuou sorrindo quando foi mandado para ajudar na limpeza da casa e no preparo das refeições, pois seu mestre não o quis tão próximo daquela vez, precisando fazer atividades mais comuns do que ficar sempre ao seu lado. Ninguém falou consigo durante todo o dia, por mais que percebesse alguns olhares indiscretos em seu rosto machucado.

Decidiu que não veria Yoongi naquele dia e, se possível, nos próximos também, por mais que o Meoseumnal fosse no dia seguinte e eles praticamente viessem falando daquela data incansavelmente. Mas também seria bobagem sua afastar o outro servo quando este demonstrou gostar de si de verdade, olhando-o bobo com os olhos miúdos e sonolentos no final do dia, ao ajeitar com tanto carinho as belas flores que ganhava.

Ainda com certo receio sobre o que fazer, Jimin não se recordou de que Yoongi o procuraria, como em todas as outras noites, e quase caiu da ponte sobre o lago, o mesmo local em que se falaram pela primeira vez, ao perceber a presença do outro servo.

— Você não estava em casa, então pensei que pudesse estar aqui… Jimin, o que houve com seu lábio? — Yoongi tentou tocar em seu rosto ao ver o corte no lábio carnudo, mas ele se afastou, acanhado e envergonhado de ser visto daquele jeito. — Olhe em meus olhos — pediu com firmeza, segurando seu queixo para que não desviasse mais a cabeça e olhasse em seus olhos que, daquela vez, não estavam escondidos por chapéu algum. — Eles te castigaram?

Jimin pôde apenas assentir, não havia como mentir ou amenizar a situação, eram servos, e, a partir do momento que fizessem algo que não agradasse aos seus senhores, seriam punidos.

— Sinto muito, Yoongi. Não podemos mais fugir, apenas… Vamos aproveitar o festival, está bem? — Fungou, tentando não tremer a voz enquanto falava. — E é melhor que a gente não se encontre mais também.

Tais frases, vindas de alguém sempre tão alegre, fez Yoongi estalar a língua descontente.

— Quero que me prometa, então, que amanhã iremos aproveitar juntos — pediu em voz baixa, atraindo a atenção de Jimin para seu colo, onde um ramo de acácias amarelas enfeitava o branco de sua roupa, ao segurar uma de suas mãos.

— Prometo — disse com sinceridade, não se incomodando em esticar o rosto dolorido em um sorriso pequeno daquela vez, apertando a mão áspera pelos calos contra a sua.

Naquela noite, a flor não foi entregue, mas Yoongi não deixou que partisse até que pudesse selar com todo o carinho o lábio ferido, como se, de alguma forma, o seu amor secreto pudesse curá-lo.


...


Era notável a animação de cada pessoa que Yoongi encontrava próxima a si indo até o espaço onde o festival aconteceria. Os servos que moravam fora tinham permissão de formarem suas próprias famílias, então muitos estavam acompanhados pelas esposas ou maridos e por suas crianças, que corriam animadas para verem as peças teatrais e comer bolinhos de arroz.

O evento era prestigiado por vários artistas, que também eram considerados da classe mais baixa, assim como açougueiros e barqueiros. Estes realizavam danças com máscaras para satirizar a condição em que viviam, numa forma de protesto que atraía a multidão e até outras pessoas que não comemoravam o evento.

Enquanto andava por entre aquela atmosfera mais leve que a de costume, a conversa da noite anterior continuava perturbando Yoongi, que permaneceu olhando em volta, buscando pelo garoto em seus trajes brancos em meio à multidão, ou até mesmo disfarçado com seu jeogori florido e a saia comprida. Temia que, talvez, algo de pior pudesse ter acontecido com sua flor ou então estivesse chateado o bastante para não querer aproveitar o dia deles ou quem sabe…

Seus pensamentos foram interrompidos quando sentiu uma mão em seu ombro, fazendo-o virar até ter diante de si a flor mais bela do vilarejo, aos seus olhos, no habitual traje branco, segurando uma vasilha cheia de bolinhos songpyeon.

— Quantos deve comer este ano? Não vale mentir a idade — logo avisou, fazendo Yoongi erguer as sobrancelhas incrédulo antes de achar graça.

— A decoração ficou linda — o servo comentou enquanto andavam pelo festival com barracas enfeitadas com faixas e tecidos, além de lanternas espalhadas pelos telhados das casas, e separava vinte e seis bolinhos para si. — Fiquei com medo que não aparecesse hoje.

— Eu fiz uma promessa, esqueceu? — retrucou com obviedade antes de encher a boca com o lanche de arroz, esperando que comer vinte e três dos bolinhos o trouxesse muita sorte, como dizia a tradição. — E espere para ver como ficará a noite… Só terá que me ajudar a acender as lanternas.

Yoongi concordou em ajudá-lo sem pensar duas vezes, e Jimin finalmente pareceu sentir a ansiedade tomá-lo por estar ali, sem se preocupar em sofrer julgamentos ou fazer algo que não tinha vontade.

Então, sem pensarem no que os aguardava no dia seguinte e nos próximos, aproveitaram o festival com tudo o que tinham direito. Fosse deliciando-se com os diversos pratos preparados, sentindo cada pedaço, sabor e textura por saberem que, caso o alimento fosse escasso, seriam eles a passarem fome; fosse dançando todas as músicas que tocavam, mesmo que os passos não tivessem ritmo algum e eles, por vezes, pisassem no pé um do outro só para se provocarem, pois sabiam que não teriam outra oportunidade tão cedo de se cansarem com algo tão libertador. Ou escondendo-se nos jardins secretos só um pouquinho, onde não poderiam ser vistos, com Yoongi atrapalhando o trabalho de Jimin enquanto este se dedicava a colher as mais bonitas e perfumadas flores para montar um buquê, segurando-as com os próprios dedos, já que não tinham nenhum dos vasos esculpidos como os da família Kim ou o do mais novo para fazer um arranjo melhor.

— É muito difícil fazer isto com seu atrevimento! — ralhou, tentando não enrubescer tanto com o toque dos lábios em sua bochecha, testa, nariz e onde mais Yoongi conseguia alcançar em seu rosto.

— Não terei outra chance de fazer isso — Yoongi logo se explicou, fazendo Jimin revirar os olhos, mas, por fim, acabou rindo com o gostinho daquela liberdade momentânea, onde ninguém podia vê-los e os punir por se amarem.

Quando, por fim, finalizou o buquê, amarrando-o no improviso com uma fita usada para enfeitar o cabelo, Jimin o entregou ao servo, que manteve as flores firmes entre seus dedos, como se tivesse ganhado todo um discurso de juras de amor escritas em cada pétala.

E, sem nunca terem dito uma palavra sobre o sentimento que tinham um pelo outro, souberam ali que era recíproco, independente das condições em que viviam, da classe que faziam parte ou da sociedade, que jamais os permitiria viverem juntos.

Pois mesmos nos piores solos podia nascer o amor, caso este fosse bem cuidado.

— Está na hora de acender as lanternas! — lembrou Jimin quando começou a escurecer, arrastando o outro pelas ruas para acenderem cada uma até que o local estivesse enfeitado com vários pontos luminosos.

Depois de muito andarem, acabaram terminando a noite no círculo formado em volta de mais alguma apresentação de dança e instrumentos, onde todos os presentes pareciam aproveitar cada instante com brilho nos olhos e expressões encantadas, inclusive Jimin, que geralmente não tinha muita liberdade para andar livremente por aí e ver o mundo por si próprio.

Naquele momento, Yoongi reparou na felicidade genuína em cada gesto do outro, mesmo que ainda com as marcas da punição, que recebeu pelas vezes em que estiveram juntos, visíveis, pensou que talvez não conseguisse deixar de encontrar o mais novo como foi ordenado. Ao mesmo tempo, pensou que queria apenas manter aqueles bons momentos em mente.

Não queria que Jimin se machucasse mais por sua causa, apenas permanecer com a imagem do servo e suas bochechas cheias de bolinhos enquanto desejava toda a sorte do mundo para eles; dos vincos na testa ao se concentrar em fazer os arranjos mais belos com algumas flores furtadas do jardim do senhor Kim; do quanto ele ficava lindo naquele fundo festivo com as lanternas acesas; e dos seus olhos brilhando, vivos. Jamais se perdoaria se um dia eles se apagassem por um ato egoísta seu.

Talvez, no futuro, pudessem transformar um dia de comemorações em vários, porém, enquanto não fosse possível, tornaria cada segundo daquele único e especial em sua memória.

E por isso Yoongi o puxou, segurando firme em sua mão para que levantasse quando a música voltou a tocar animada, para cantarem e dançarem orbitando um ao outro, como se aquele dia fosse eterno e as comemorações fossem a representação desta felicidade perpétua em suas vidas.

~~


Notais finais: Queria agradecer a Anna (@Im_Sky_) /(@Im_Sky_) por ter me ajudado muito ao betar a fic e me incentivar a melhorar ainda mais minha escrita e a Bru (@je0n) que junto com a @busanjimin /Busanjimin conseguiram montar a capa do jeitinho, e até melhor, do que eu tinha pensado. Muito obrigada também a Vic (@MissTaeKo) / (@MissTaeKo) que me incentivou a me jogar de cabeça no tema, mesmo com tão pouca informação sobre o festival e a vida dos servos naquela época e a @YinLua / YinLua pelas dicas. ♥
Até a próxima!
Kissus ♥

17 de Agosto de 2021 às 21:25 0 Denunciar Insira Seguir história
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Fim

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