Arwen
— Willian, não vá por esse caminho.
Falei com toda calma que ainda existia em meu ser, levando em consideração que ele havia sido um gentleman até aquele momento.
— Qual é Arwen! É a última festa da turma. O que acontece no campus, fica no campus. — argumentou, me deixando mais irritada.
— E na minha memória, para sempre. — retruquei.
— Nós estamos nesse chove e não molha o semestre inteiro. — ele insistiu.
— Quando você vai entender que não é NÃO?
— Arwen eu vou embora, vou voltar pra Inglaterra. Queria uma lembrança tua, para os meus dias solitários...
Nesse momento ele ataca minha boca, segurando com força meus ombros e algo dentro de mim... grita... Se está bêbado o bastante para perder a noção do perigo, não importa. Eu o empurro e lhe dou um tapa tão forte que seu lábio sangra. Ele limpa a boca e me olha incrédulo.
— Você é maluca...
— Agora você tem uma lembrança. Esqueça todo resto, eu já esqueci.
William era um belo rapaz, loiro, de olhos azuis pálidos, inteligente e bem humorado. Eu diria popular, mas não pegador. Saímos algumas vezes ao longo do semestre, mas não assumimos um "namoro" e nem passamos dos beijos. Não que eu seja careta, só que eu sentia que não seria o "certo". O momento ou a pessoa? Não sei.
— Você é um babaca!!!
Eu me virei e segui na direção do estacionamento, decidida a ir embora. Me voltei ao ouvir uma voz conhecida, chamando por mim.
— Arwen!! Arwen, espera!!
— Mikaela, tô indo embora.
— William te aborreceu?
— Eu dei um tapão nele. Acabou o projeto namoro.
Respondi, deixando explícita minha decepção.
— Ele parecia um cara legal, mas não é para você.
Ela me conhecia bem, então só revirou os olhos e mudou de assunto, tentando me animar.
— Arwen, daqui a alguns dias é teu níver, porque não aproveitar hoje? Depois vamos nos despedir, sem saber quando nos veremos de novo.
Mikaela é uma linda italiana, morena de cabelos e olhos castanhos. Seu sorriso é iluminado e a sua personalidade tão calorosa, que foi impossível não me tornar sua amiga. Ela agora voltaria para casa também. Talvez saber que todos eles tinham para onde voltar, me deixou tão sensível às investidas de William.
— Arwen, não queria te deixar sozinha. Podíamos viajar para Grécia, sei lá, pegar sol, tirar esse amarelado de Vancouver. Mas meus pais exigem a minha presença na comemoração das suas bodas.
Falou contrariada, como toda jovem que precisa obedecer às tradições de uma família da aristocracia italiana e proprietária de uma vinícola que produz uma famosa marca de vinhos.
— Por que você não vem comigo? Minha família ia te amar também. E você sabe, tenho irmãos e primos disponíveis.
Minha amiga conseguia me fazer rir.
— Não ficarei sozinha, meu pai sempre vem me visitar por esses dias.
Mesmo sabendo que eu não poderia me envolver com alguém da família dela, seu convite confortou o meu coração.
— Não perca a festa por minha causa. Nos falamos amanhã.
— Vai ficar bem?
— Claro. Vou para casa tomar um balde de sorvete ou comer brigadeiro até estourar.
— Se o Vicenzo não tivesse vindo me buscar, seria um programão.
— Ele sim, te ama e te merece. — afirmei.
Nos abraçamos por um tempo, porque Mikaela é do tipo bem carinhosa. Ela aproveitou para tirar mais uma foto e eternizar aquele momento.
Sua estadia em Vancouver também estava no fim e Vicenzo veio buscá-la para garantir que ela não atrasaria sua volta para a Itália. O noivo apaixonado, não via a hora que Mikaela decidisse pelo casamento, para viverem definitivamente na vila da Famiglia Velathri.
O compromisso havia sido firmado entre eles desde muito cedo, mas ela decidiu estudar em outro país, para ter certeza que a escolha do esposo era por amor e não baseada em uma decisão imatura e confortável, sendo Vicenzo um amigo de infância.
O sentimento se confirmou, fortalecido pela confiança que a distância os obrigou a cultivar e logo eles estariam prontos a dar o passo decisivo. Eu era testemunha da cumplicidade e dedicação que existia entre eles, nas ocasiões em que Vincenzo vinha encontrar Mikaela.
Eu a observei se afastar, indo ao encontro do noivo. Eles se abraçaram e acenaram para mim.
Vancouver é uma cidade incrível e apesar do frio extremo, me adaptei muito bem. A primavera compensa os dias gelados com um sol que te abraça e um céu azul, que deve ser o mesmo que paira sobre o paraíso. É um convite a passar horas nos parques fazendo piqueniques, passear pelas ruas onde as árvores de Cherry Blossom florescem ou visitando os campos de Tulipas em British Columbia. Era onde eu morava sozinha e estudava nos últimos anos.
A única família que conheço está em outro país, mas meu aniversário está próximo, então meu pai deve cumprir a tradição, vindo me ver como em todos os anos.
Meu pai é um Licaon e minha mãe era humana. Tragicamente, ela morreu assim que eu nasci. A única lembrança que tenho dela é um colar com uma pedra de Âmbar, tão valioso para mim que só uso em ocasiões muito especiais, com medo de perdê-lo.
Arthur Tyrell era o Alfa da sua alcatéia quando me revelou a nossa natureza e me explicou que a minha parte humana se sobrepôs a lupina. Que sorte, hein? Por isso eu deveria viver uma vida normal, no mundo normal. Resumindo, eu era uma loba sem poderes, que não podia viver em uma alcatéia.
Todavia, aquela sensação de pertencer sempre me acompanhou, sempre travou os meus sentimentos, sempre me fez esperar o momento certo e a pessoa certa. Que parecia não chegar nunca.
Eu pensava sobre isso enquanto caminhava para o meu carro, deixando o barulho da festa para trás. O estacionamento estava deserto, a comemoração estava no auge e ninguém iria embora tão cedo. Era o final de um semestre e muitos como eu, se despediam definitivamente da universidade.
Foi nesse instante que senti algo muito próximo e muito ruim. Mãos como garras, tocando meu ombro. Eu me virei e o empurrei. Meu agressor se surpreendeu. Um homem alto e magro, com roupas antigas. Seu sorriso era assustador e sua pele muito pálida. Poderia se passar por humano, mas eu soube no mesmo instante que não era.
— Tire as mãos de mim.
— Você tem o instinto. — falou, sibilando a última palavra.
Tentei me afastar e correr, mas ele me alcançou e fechou as mãos na minha garganta. Uma voz dentro de mim, ordenou que eu o enfrentasse. Quando você sabe que o mundo "invisível" existe, mesmo vivendo no mundo real, você não pode simplesmente desistir fácil e deixar qualquer "coisa" te machucar. Ele era forte, mas eu segurei seus punhos e me debati, tentando me soltar.
De repente, um calor envolveu minhas mãos e queimou a pele dele. A criatura me olhou surpresa, não mais do que eu mesma. Ele me atirou de encontro a um carro e a pancada me fez cair sentada, a dor se espalhou da minha coluna para as extremidades do meu corpo. Meu agressor olhava para os punhos feridos e para mim com ódio. A pele no local estava bastante ferida, as mangas da camisa e da casaca que vestia foram queimadas. Pensei que iria morrer ali, sozinha.
O silêncio foi interrompido pela chegada de mais alguém, mas não consegui focar em nada, tal a dor que sentia.
Tudo que consegui ver, foi um par de coturnos caros e ouvir a voz, que parecia ter saído dos meus sonhos, apesar de eu estar vivendo um pesadelo. E então, apaguei.
Kylo
— Você vai se arrepender de ter feito isso.
Falo, chamando a sua atenção. A criatura se vira devagar, enquanto eu ando na sua direção.
— Tenho ordens de levá-la.
— Se voltar, será de mãos vazias. Se ainda as tiver.
— Cavalheiro, ela é o meu tributo ao mestre. — declara, como se isso fosse motivo para eu desistir.
— Ela é minha protegida.
A sensação de perigo aumentava vertiginosamente, enquanto eu me aproximava da universidade. Meus instintos gritavam para que eu encontrasse aquela que deveria proteger. Cheguei a tempo de evitar que o desgraçado se aproximasse dela outra vez, para cumprir sua intenção sinistra. Seja qual for, minha presença o impediu. Infelizmente, não consegui evitar que Arwen fosse ferida e sentia a raiva se alastrar pelo meu corpo como veneno, tomando conta dos meus atos e me fazendo ser tão brutal na luta quanto poderia ser. Sem piedade, pois essa criatura que feriu uma inocente, não merece clemência.
Um vampiro que ataca um humano é severamente castigado, segundo as leis que nos regem. Esse sobrenatural foi além ao atacar uma Tyrell. Um ato passível de julgamento e execução sumária da pena, imposta por mim mesmo.
Ele empunha uma velha espada!!! Sério?!! Quem ainda usa espada?! Eu não ando com uma espada, mas tenho minhas armas. Duas adagas com cabo de marfim, que só uso em casos extremos, porque não podemos chamar a atenção dos humanos. Mesmo não me transformando, eu levo a melhor, pois ele não passa de um desgarrado. Tanto suas roupas de época, quanto seu modo de lutar, são ultrapassados. Eu o imobilizo e soco seu rosto, repetidamente. Com certeza usaria Arwen como moeda de troca, por mais alguns anos de uma vida miserável.
— Quem mandou você? Fale!! — pergunto entre um soco e outro.
— Quando descobrir será tarde demais. — responde, com um sorriso na cara desfigurada.
Enquanto duelo com o perseguidor, olho algumas vezes para onde Arwen está caída e ela não se mexe nenhuma vez. Está realmente machucada e isso me faz tomar a decisão de finalizar o infeliz, sem chance de fazer um interrogatório regado a muita pancada, o que ele merecia por sua covardia e ousadia.
Apesar do local estar deserto, procuro ser rápido e limpo. Mesmo a distância que estamos da festa, não posso arriscar ser visto exterminando um vampiro, por um bando de jovens bêbados ou não. Então, acerto a garganta e dou fim a qualquer sinal da sua existência.
Me aproximo dela, encostada no carro e me ajoelho a sua frente.
— Pela Deusa, que eu não tenha falhado.
Quando Arwen me olha, sou atingido por seus incríveis olhos verdes e uma sensação tão forte, que faz meu coração perder o ritmo. Se eu já não estivesse de joelhos, cairia.
— Minha.
Ela toca o meu rosto como se me reconhecesse, sorri e desmaia. Eu a carrego em meus braços e me dirijo para um local seguro, pois se sabiam onde estuda, com certeza sabem onde mora. Pego o carro e a levo para um dos imóveis que mantemos na cidade. Durante todo o trajeto, ela continua adormecida no banco do carona.
A deito na cama com todo cuidado. Agora, posso admirar a sua beleza e aparente fragilidade. Os cabelos soltos sobre o travesseiro, a boca bem desenhada se move e ela aperta os olhos sem abri-los. Eu toco seu rosto angelical, delicadamente.
Tenho que tirar sua blusa suja e rasgada, para ver o que o maldito lhe causou. As marcas das garras no seu pescoço já estão sumindo e suas costas não parecem feridas. Fico impressionado com o seu poder de cura.
— Cheguei atrasado. Me perdoe.
Eu a cubro e tento me levantar. Arwen segura minha mão e a sensação se repete, ecoando como os círculos de energia que se formam quando uma pedra é jogada na água.
—Minha.
O poder usado para se curar, mesmo sem saber, a deixou fisicamente exausta.
Espero por um tempo ao seu lado e depois saio do quarto. Eu fico sentado na sala, olhando para o nada, mas atento a qualquer movimento. Passaram-se muitas horas, até que a senti despertar.
Ao toca-la, veio a mim uma lembrança e quanto mais eu pensava, mais nítida ficava.
Eu ainda era um garoto quando Diandra apareceu na minha casa. Eu tive a mesma sensação, mas por algum motivo, esqueci e não contei nada ao meu pai. Ela estava grávida de Arwen, cujos olhos herdou da mãe.
"—No momento certo, ela vai reconhecê-lo". — Diandra me falou, antes de enterrar aquele episódio no fundo da minha memória.
Agora entendi porquê até então, não havia encontrado minha escolhida. Ela estava sendo mantida longe de mim, por uma mentira necessária.
Meu pai só agora me contou que seus poderes estavam selados, por isso ela nunca se transformou e só seriam revelados quando ela encontrasse seu companheiro.
—Mas ela não me reconheceu.
Para Arwen, eu era o meio irmão que nunca veio visitá-la e agora lhe traria terríveis notícias. Se ela me odiasse e me rejeitasse, eu entenderia.
Obrigado pela leitura!
Pela deusa, que cap foi esse? Ja estreamos da maneira que eu gosto: com mistérios e pancadaria. Nele somos apresentados a protagonista da serie, Arwen, que jurava que era humana. A narrativa foi super show, a descrição da vida e da cidade pacata, o ataque do vampiro misterioso e puf, o GOSTOSO do Kylo chegando sentando o sarrafo e salvando a mocinha. Vou me deliciar relendo essa história incrível.
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