Estavam gritando novamente. Ele era o alvo da vez. Não importa o que dizem, ele não quer ouvir; ocupado demais com as próprias lágrimas para distinguir qualquer outro som, se não o próprio choro.
Estou sozinho, ele pensou. Era apenas uma criança de doze anos, mas seus pais não levaram sua idade em conta.
“MENINOS NÃO CHORAM!” foi o que ele escutou. Passos pesados e gritos femininos entraram por um ouvido e saíram pelo outro.
O armário do quarto, onde esteve sentado abraçando as próprias pernas por um longo período de tempo, era o melhor dos esconderijos – na opinião dele, é claro.
Não foi muito difícil pegar um celular jogado por entre as pilhas de roupas velhas. Esperava de coração que o plano desse certo.
A chamada foi atendida, mas o garotinho nada disse. Ele simplesmente não precisou.
O dispositivo apagou.
Quando sentiu a presença de outro alguém, ele pensou que o coração fosse capaz de sair pela boca. Prendeu a respiração como ninguém, sufocando o choro que eventualmente cessou.
Sirenes irritaram os ouvidos alheios, fazendo-o tapá-los com ambas as mãos. O estrondo vindo de algum cômodo distante fez com que pulasse assustado.
Ele não sabia se aquilo era bom ou não, até que ouviu alguém gritar: “Apareçam! É a polícia!”
A ligação havia dado certo, então.
Alguém correu; uma mulher chorou histérica. E ele se recusou a sair do armário. Estava com medo do que poderia acontecer, com medo de sair na hora errada.
Por outro lado, ele foi descoberto.
A porta se abriu e o garotinho ergueu o queixo para cima, encontrando os olhos de um policial baixinho de cabelos grisalhos, o qual se abaixou sem que o contato fosse quebrado.
“Vai ficar tudo bem” ele sorriu para a criança, que esticou os braços e se deixou ser pegado no colo. “Foi você que fez a ligação?” Ele apenas murmurou de volta, sem força de vontade para dizer uma palavra sequer.
Enquanto era carregado, ele viu os pais sendo algemados e empurrados para o lado de fora da casa. A criança apertou os ombros do policial. Não demorou muito até que a farda se tornasse úmida pelas lágrimas solitárias que a criança permitia deixar escapar.
Os olhos dele estavam inchados demais para se manterem abertos por mais tempo. A última coisa que ele viu antes de apagar foram diversas pessoas encarando-o com pena; outras chocadas com as manchas espalhadas por seu corpo.
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