lilyzsoo Livia Inacio

“Estou sozinho”, ele pensou. Era apenas uma criança de doze anos, mas ninguém parecia se importar com isso.


Conto Impróprio para crianças menores de 13 anos.

#original #angústia #infância
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Estavam gritando novamente. Ele era o alvo da vez. Não importa o que dizem, ele não quer ouvir; ocupado demais com as próprias lágrimas para distinguir qualquer outro som, se não o próprio choro.


Estou sozinho, ele pensou. Era apenas uma criança de doze anos, mas seus pais não levaram sua idade em conta.


“MENINOS NÃO CHORAM!” foi o que ele escutou. Passos pesados e gritos femininos entraram por um ouvido e saíram pelo outro.


O armário do quarto, onde esteve sentado abraçando as próprias pernas por um longo período de tempo, era o melhor dos esconderijos – na opinião dele, é claro.


Não foi muito difícil pegar um celular jogado por entre as pilhas de roupas velhas. Esperava de coração que o plano desse certo.


A chamada foi atendida, mas o garotinho nada disse. Ele simplesmente não precisou.


O dispositivo apagou.


Quando sentiu a presença de outro alguém, ele pensou que o coração fosse capaz de sair pela boca. Prendeu a respiração como ninguém, sufocando o choro que eventualmente cessou.


Sirenes irritaram os ouvidos alheios, fazendo-o tapá-los com ambas as mãos. O estrondo vindo de algum cômodo distante fez com que pulasse assustado.


Ele não sabia se aquilo era bom ou não, até que ouviu alguém gritar: “Apareçam! É a polícia!”


A ligação havia dado certo, então.


Alguém correu; uma mulher chorou histérica. E ele se recusou a sair do armário. Estava com medo do que poderia acontecer, com medo de sair na hora errada.


Por outro lado, ele foi descoberto.


A porta se abriu e o garotinho ergueu o queixo para cima, encontrando os olhos de um policial baixinho de cabelos grisalhos, o qual se abaixou sem que o contato fosse quebrado.


“Vai ficar tudo bem” ele sorriu para a criança, que esticou os braços e se deixou ser pegado no colo. “Foi você que fez a ligação?” Ele apenas murmurou de volta, sem força de vontade para dizer uma palavra sequer.


Enquanto era carregado, ele viu os pais sendo algemados e empurrados para o lado de fora da casa. A criança apertou os ombros do policial. Não demorou muito até que a farda se tornasse úmida pelas lágrimas solitárias que a criança permitia deixar escapar.


Os olhos dele estavam inchados demais para se manterem abertos por mais tempo. A última coisa que ele viu antes de apagar foram diversas pessoas encarando-o com pena; outras chocadas com as manchas espalhadas por seu corpo.

1 de Agosto de 2022 às 00:31 6 Denunciar Insira Seguir história
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Fim

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Ely Ely
nossa tô extremamente triste, nunca fui feliz. parabéns amiga, suas palavras foram fortes, pontuais e muito ricas! adorei a leitura tão sensível e profunda :( <3
September 27, 2021, 02:10
Rael Souza Rael Souza
Ansioso para os próximos capítulos 😁
August 13, 2021, 16:55

nanat adriano nanat adriano
por deus, lembrei-me apenas do Gabriel Fernandes..que tristeza.
August 12, 2021, 02:01
NíngYì Mèng NíngYì Mèng
Por Deus, que pobre criança! Às vezes, me pergunto, como pessoas que deveriam amar um filho incondicionalmente, podem se comportar desta forma? Será que podem ser almas condenadas a praticarem o mal, ou algum tipo de maldição? Eu realmente não sei, mas o que quero saber (e espero ter certeza) é que esse garoto irá encontrar alguém que o ame (seja pela adoção ou por algum parente decente) e que vai viver uma merecida vida de amor e respeito.
August 11, 2021, 03:19

  • Livia Inacio Livia Inacio
    exatamente! penso da mesma forma porque isso simplesmente não entra na minha cabeça. nunca passei por algo parecido, mas sinto muito por todos aqueles que sim. deve ser traumatizante ser tratado desta forma por quem deveria te apoiar........ obrigada pelo comentário, a propósito! ♡ August 11, 2021, 20:38
~

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