thaymonike thayla Morgado

Simon Basset, o irresistível duque de Hastings, acaba de retornar a Londres depois de seis anos viajando pelo mundo. Rico, bonito e solteiro, ele é um prato cheio para as mães da alta sociedade, que só pensam em arrumar um bom partido para suas filhas. Simon, porém, tem o firme propósito de nunca se casar. Assim, para se livrar das garras dessas mulheres, precisa de um plano infalível. É quando entra em cena Daphne Bridgerton, a irmã mais nova de seu melhor amigo. Apesar de espirituosa e dona de uma personalidade marcante, todos os homens que se interessam por ela são velhos demais, pouco inteligentes ou destituídos de qualquer tipo de charme. E os que têm potencial para ser bons maridos só a veem como uma boa amiga. A ideia de Simon é fingir que a corteja. Dessa forma, de uma tacada só, ele conseguirá afastar as jovens obcecadas por um marido e atrairá vários pretendentes para Daphne. Afinal, se um duque está interessado nela, a jovem deve ter mais atrativos do que aparenta. Mas, à medida que a farsa dos dois se desenrola, o sorriso malicioso e os olhos cheios de desejo de Simon tornam cada vez mais difícil para Daphne lembrar que tudo não passa de fingimento. Agora, ela precisa fazer o impossível para não se apaixonar por esse conquistador inveterado que tem aversão a tudo o que ela mais quer na vida. Primeiro dos nove livros da série Os Bridgertons, O duque e eu é uma bela história sobre o poder do amor, contada com o senso de humor afiado e a sensibilidade que são marcas registradas de Julia Quinn.


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Prólogo

O nascimento de Simon Arthur Henry Fitzranulph Basset, o conde de Clyvedon, foi recebido com muita alegria. Os sinos da igreja tocaram por horas, serviu-se champanhe à vontade no imenso castelo que o recém-nascido chamaria de lar e toda a aldeia de Clyvedon parou de trabalhar para participar dos festejos organizados pelo pai do jovem conde.

– Esse não é um bebê comum – disse o padeiro ao ferreiro.

Falou isso porque Simon Arthur Henry Fitzranulph Basset não passaria a vida como conde de Clyvedon. Esse era apenas um título de cortesia. O bebê – que possuía mais nomes do que qualquer criança de sua idade poderia precisar – era herdeiro de um dos mais antigos e abastados ducados da Inglaterra. E seu pai, o nono duque de Hastings, esperara anos por esse momento.

No corredor fora do quarto da esposa, ninando o bebê que chorava a plenos pulmões, o duque quase explodia de orgulho. Já beirando os 50 anos, assistira a seus amigos – todos duques e condes – produzirem um herdeiro após o outro. Alguns tiveram de se contentar com o nascimento de meninas antes de conseguir gerar um precioso menino, mas, no fim, todos garantiram que sua linhagem continuaria, que seu sangue passaria para a geração seguinte da elite inglesa.

Mas não o duque de Hastings. Embora sua esposa tivesse concebido cinco vezes nos quinze anos de casamento, apenas duas gestações vingaram, e ambos os bebês nasceram mortos. Depois da quinta gravidez, que terminara com um aborto sangrento no quinto mês, médicos e cirurgiões disseram-lhes que não deveriam de jeito nenhum fazer uma nova tentativa de ter um filho. A vida da duquesa estaria em perigo. Ela estava frágil demais, fraca demais e, talvez – observaram com delicadeza –, velha demais. O duque teria simplesmente que se conformar com o fato de que o ducado deixaria de pertencer à família Basset.

Mas a duquesa, que Deus a abençoasse, sabia qual era seu papel na vida. Após um período de seis meses de recuperação, ela abriu a porta que ligava os aposentos dos dois e o duque recomeçou sua busca por um herdeiro.

Cinco meses depois, ela informou ao marido que estava grávida. A euforia imediata dele só foi ofuscada por sua resolução de que nada – absolutamente nada – estragaria essa nova tentativa. A duquesa foi confinada à cama no instante em que parou de menstruar. Um médico ia vê-la todos os dias e, na metade da gravidez, o duque encontrou o profissional de medicina mais respeitado de Londres e lhe pagou uma alta quantia para que abandonasse o consultório e se mudasse temporariamente para o castelo de Clyvedon.

Dessa vez ele não ia correr risco algum. Teria um filho e o ducado permaneceria nas mãos dos Bassets.

A duquesa começou a sentir as dores do parto um mês antes da hora, e colocaram almofadas sob seus quadris. A gravidade poderia manter o bebê em seu corpo, explicou o Dr. Stubbs. O duque considerou o argumento plausível e, depois que o médico se retirou para repousar, pôs ainda mais um travesseiro debaixo da esposa, posicionando-a num ângulo de 20 graus. Ela permaneceu assim por trinta dias.

E então, finalmente, chegou o momento decisivo. Toda a casa rezou pelo duque, que queria tanto um herdeiro, e alguns se lembraram de rezar pela duquesa, que continuava magra e frágil apesar de sua barriga ter se tornado redonda e larga.

Todos tentaram não nutrir muitas esperanças – afinal, a nobre já havia parido e enterrado dois bebês. E mesmo que conseguisse dar à luz um bebê vivo, poderia ser uma menina.

Quando os gritos da duquesa ficaram mais altos e mais frequentes, seu marido se dirigiu aos aposentos dela, ignorando os protestos do médico, da parteira e da criada. O local estava coberto de sangue, mas o duque fazia questão de estar presente quando o sexo do bebê fosse revelado.

A cabeça do feto apareceu, seguida dos ombros. Todos se inclinaram para a frente a fim de observar enquanto a duquesa fazia força e empurrava, até que...

Até que o duque soube que Deus existe e ainda sorria para os Bassets. Esperou um instante para que a parteira limpasse o bebê, então pegou o menininho nos braços e se dirigiu ao salão para exibi-lo.

– Eu tenho um filho! – anunciou ele. – Um filhinho perfeito!

Enquanto os criados comemoravam e choravam de alívio, o duque olhou para o minúsculo condezinho e disse:

– Você é perfeito. É um Basset. E é meu.

Queria levá-lo para fora do castelo a fim de provar a todos que finalmente havia gerado um menino saudável, mas como no início de abril o clima era um pouco frio, deixou que a parteira o devolvesse aos braços da mãe. O duque montou um de seus cavalos premiados para comemorar, desejando a todos os que pudessem ouvir a mesma boa sorte que tivera.

Enquanto isso, a duquesa, que não parara de sangrar desde o parto, ficou inconsciente e, por fim, faleceu.



...



O duque lamentou a morte da esposa. De verdade. Ele não a amava, é claro, nem ela a ele, mas os dois haviam sido amigos de uma forma estranhamente distante.

Ele não esperara nada do casamento além de um filho e herdeiro, e quanto a isso ela se provara exemplar. O soberano ordenou que flores frescas fossem levadas toda semana a seu mausoléu, qualquer que fosse a estação do ano, e seu retrato foi transferido da sala de estar para o saguão, em posição de destaque acima da escadaria.

E então o duque começou a pensar na criação do filho.

Não pôde fazer muito no primeiro ano. O bebê era jovem demais para palestras sobre administração de terras e responsabilidade, de modo que o duque o deixou sob os cuidados de uma ama e foi para Londres, onde sua vida continuou praticamente como era antes de ele ser abençoado pela paternidade. A única diferença era que agora ele forçava todos – até mesmo o rei – a olhar para o pequeno retrato do filho que havia mandado pintar logo depois de seu nascimento.

O duque visitou Clyvedon algumas vezes, e retornou em definitivo no segundo aniversário de Simon, pronto para assumir a educação do jovenzinho. Mandou que lhe comprassem um pônei, selecionassem uma pequena arma que ele usaria no futuro na caça à raposa e contratassem tutores de todas as disciplinas conhecidas pelo homem.

– Ele é jovem demais para tudo isso! – exclamou a ama Hopkins.

– Bobagem – respondeu o homem, com condescendência. – Evidentemente, não espero que ele domine nada disso logo, mas nunca é cedo demais para dar início à educação de um duque.

– Ele não é um duque – resmungou a ama.

– Vai ser – disse ele.

Virou-se de costas para ela e se agachou ao lado do filho, que estava no chão montando um castelo assimétrico com um conjunto de blocos. Fazia vários meses que o duque não ia a Clyvedon e ficou satisfeito com o crescimento de Simon. Ele era um menininho robusto e saudável, com cabelos castanhos sedosos e olhos azul-claros.

– O que está construindo aí, filho?

Simon sorriu e apontou.

O duque olhou para a ama Hopkins.

– Ele não fala?

Ela balançou a cabeça.

– Ainda não, Alteza.

O duque franziu a testa.

– Ele já tem 2 anos. Já não deveria estar conversando?

– Algumas crianças levam mais tempo que outras, Alteza. Sem dúvida ele é um menininho inteligente.

– É claro que sim. É um Basset.

A ama assentiu. Ela sempre assentia quando o duque falava da superioridade do sangue de sua família.

– Talvez ainda não tenha nada que ele queira dizer – sugeriu ela.

O duque não pareceu convencido, mas deu a Simon um soldadinho de brinquedo, acariciou-lhe a cabeça e saiu para exercitar a nova égua que havia adquirido do lorde Worth.



...



Dois anos depois, no entanto, ele já não estava tão confiante.

– Por que ele ainda não fala? – explodiu o duque.

– Não sei – respondeu a ama, retorcendo as mãos.

– O que você fez com ele?

– Eu não fiz nada!

– Se estivesse fazendo seu trabalho direito, ele – disse o duque, apontando um dedo furioso na direção de Simon – estaria falando.

O menino, que estava treinando suas letras numa escrivaninha em miniatura, observava a conversa com interesse.

– Ele tem 4 anos, pelo amor de Deus! – bradou o duque. – Já deveria saber falar.

– Ele sabe escrever – retrucou a ama. – Criei cinco crianças, e nenhuma delas tinha o talento com as letras que o pequeno Simon tem.

– Ele vai ter que escrever muito se não souber falar. – Virou-se para o filho com os olhos cheios de raiva. – Fale comigo, droga!

O menino retraiu-se, com o lábio inferior trêmulo.

– Alteza! – exclamou a ama. – O senhor está assustando a criança.

O homem virou-se para ela.

– Talvez ele deva levar um susto – falou. – Talvez o que esteja precisando seja uma grande dose de disciplina. Uma boa surra pode ajudá-lo a encontrar a voz.

O duque agarrou a escova de prata que a ama usava para pentear os cabelos de Simon e avançou na direção do filho.

– Vou fazer você falar, seu pequeno idiota...

– Não!

A ama ofegou. O duque deixou a escova cair. Foi a primeira vez que ouviram a voz da criança.

– O que você disse? – sussurrou o duque, com os olhos se enchendo de lágrimas.

O menino cerrou os punhos ao lado do corpo e projetou o queixinho à frente enquanto falava.

– Não me b-b-b-b-b-b...

O rosto do soberano ficou mortalmente pálido.

– O que ele está dizendo?

Simon tentou pronunciar a frase de novo.

– N-n-n-n-n-n-n...

– Meu Deus – bufou o duque, aterrorizado. – Ele é um idiota.

– Não é, não! – gritou a ama, lançando os braços ao redor do menino.

– N-n-n-n-n-n-n-não b-b-b-b-b-b-bata... – Simon respirou fundo – em mim.

O duque afundou no assento próximo à janela e enterrou a cabeça nas mãos.

– O que eu fiz para merecer isso? O que eu posso ter feito... – lamentou-se.

– O senhor deveria estar elogiando o menino! – observou a ama Hopkins. – Está há quatro anos esperando que ele fale e...

– E ele é um idiota! – berrou. – Um pequeno idiota!

Simon começou a chorar.

– Hastings ficará nas mãos de um débil mental – gemeu o duque. – Todos esses anos rezando por um herdeiro e agora está tudo perdido. Terei que deixar o título para meu primo. – Virou-se para o filho, que soluçava e secava os olhos, tentando parecer forte diante do pai. – Não consigo sequer olhar para ele. – Soltou um arquejo. – Não consigo.

Ao dizer isso, o homem saiu da sala.

A ama Hopkins deu um abraço apertado no menino.

– Você não é um idiota – afirmou categoricamente, num sussurro. – É o menininho mais inteligente que eu conheço. E, se existe alguém capaz de aprender a falar direito, sei que esse alguém é você.

Simon se entregou ao abraço carinhoso e chorou de soluçar.

– Vamos mostrar a ele – jurou a ama. – Ele vai engolir o que disse, nem que seja a última coisa que eu faça.



...



A ama Hopkins se mostrou fiel à promessa. Quando o duque de Hastings se mudou para Londres e tentou fingir que não tinha um filho, ela passava o tempo inteiro com Simon, proferindo palavras e sílabas, sem poupar elogios quando ele acertava e o encorajando quando errava.

O progresso foi lento, mas a fala do menino melhorou. Quando ele fez 6 anos, “n-n-n-n-n-n-n-não” havia virado “n-n-não”, e aos 8, conseguia dizer frases inteiras sem hesitar. Ele ainda se enrolava quando ficava nervoso e a ama tinha que lembrá-lo com frequência de que ele precisava se manter tranquilo e focado se quisesse que as palavras saíssem completas.

Mas Simon era determinado, inteligente e, talvez o mais importante, muito obstinado. Aprendeu a tomar fôlego antes de cada frase e a pensar nas palavras antes de tentar pronunciá-las. Ficava atento à sensação em sua boca quando falava de maneira correta e tentava analisar o que dava errado quando não conseguia.

E finalmente, aos 11 anos, ele se virou para a ama, fez uma pausa para organizar os pensamentos e disse:

– Acho que está na hora de irmos ver meu pai.

A ama olhou para ele apreensiva. O duque não via o menino havia sete anos. E não respondera a nenhuma das cartas que Simon lhe enviara. Tinham sido quase cem.

– Você tem certeza? – perguntou ela.

Simon assentiu.

– Muito bem, então – concordou a ama. – Vou solicitar uma carruagem.

Partiremos para Londres amanhã.

A viagem durou um dia e meio, e já era quase noite quando a carruagem parou diante da Casa Basset. Simon olhava maravilhado para as movimentadas ruas da cidade enquanto a ama o conduzia pela escadaria da entrada. Nenhum dos dois jamais estivera na Casa Basset antes, de modo que, quando chegou à porta da frente, a ama não sabia o que fazer a não ser bater. A porta se abriu em segundos e eles foram observados de cima a baixo por um mordomo bastante imponente.

– Entregas são feitas pelos fundos – informou ele, estendendo o braço para fechar a porta.

– Espere um pouco! – disse a ama rapidamente, colocando o pé entre a porta e o batente. – Não somos criados.

O mordomo olhou com desdém para as roupas dos dois.

– Bem, eu sou, mas ele não – completou ela. Agarrou o braço de Simon e o empurrou para a frente. – Este é o conde de Clyvedon, e seria prudente tratá-lo com o devido respeito.

O mordomo ficou boquiaberto e piscou várias vezes antes de dizer:

– Até onde sei, o conde de Clyvedon está morto.

– O quê? – gritou a ama.

– Com certeza eu não estou morto! – exclamou Simon, com toda a justificada indignação de um menino de 11 anos.

O mordomo examinou o garoto, reconheceu imediatamente que ele tinha os traços dos Bassets e os fez entrar.

– Por que você pensou que eu estivesse m-morto? – perguntou Simon, amaldiçoando a si mesmo por gaguejar, mas sem se surpreender. Era comum que isso acontecesse quando ficava com raiva.

– Não cabe a mim dizer – respondeu o mordomo.

– Certamente cabe – rebateu a ama. – Não se pode dizer uma coisa dessas a um menino da idade dele e não se explicar.

O mordomo ficou em silêncio por um instante e então finalmente falou:

– Sua Alteza não se refere ao senhor há anos. Da última vez que alguém tocou no assunto, disse que não tinha filhos. Como pareceu muito triste com isso, ninguém levou a conversa adiante. Nós, os criados, imaginamos que o senhor tivesse falecido.

Simon sentiu as mandíbulas se apertarem e a garganta arder.

– Ele não teria ficado de luto? – questionou a ama. – Vocês não pensaram nisso?

Como podem ter suposto que o menino estava morto se o pai não ficou de luto?

O mordomo deu de ombros.

– Sua Alteza veste preto com bastante frequência. O luto não teria alterado esse costume dele.

– Isso é um ultraje! – decretou ela. – Exijo que vá chamar Sua Alteza imediatamente.

Simon não disse nada. Estava se esforçando muito para manter as emoções sob controle. Precisava fazer isso. Nunca conseguiria falar com o pai com o sangue fervendo daquela maneira.

O mordomo assentiu.

– Ele está no andar de cima. Vou avisá-lo agora mesmo da vossa chegada.

A ama começou a andar de um lado para outro, descontrolada, resmungando baixinho e se referindo a Sua Alteza com todas as palavras vis de seu surpreendentemente extenso vocabulário. Simon permaneceu no centro da sala, plantado ali com os braços esticados ao lado do corpo enquanto respirava fundo.

Você vai conseguir!, gritava mentalmente. Você vai conseguir!

A ama se virou para ele, viu-o tentando dominar a raiva e deu um suspiro.

– Sim, isso mesmo – disse ela rapidamente, ajoelhando-se e tomando as mãos do menino nas suas. Sabia melhor do que ninguém o que aconteceria se Simon tentasse encarar o pai naquele estado de espírito. – Respire fundo. E pense bem nas palavras antes de falar. Se você conseguir controlar...

– Vejo que ainda está mimando o menino – comentou uma voz imperiosa que vinha do vão da porta.

A ama Hopkins se endireitou e se virou devagar. Tentou pensar em algo respeitoso para dizer. Pôs-se a imaginar qualquer coisa que aliviaria aquela terrível situação. Mas ao olhar para o duque, viu Simon nele e sua raiva se renovou. O homem podia ser igual ao filho fisicamente, mas com certeza não era um pai para ele.

– O senhor é desprezível – disparou ela.

– E a senhora está despedida – decretou ele, enquanto a ama recuava. – Ninguém fala assim com o duque de Hastings. Ninguém!

– Nem mesmo o rei? – provocou Simon.

O duque deu um rodopio, sem sequer notar que o filho havia falado claramente.

– Você – disse ele em voz baixa.

Simon assentiu. Havia conseguido dizer uma frase corretamente, mas uma frase curta, e não queria abusar da sorte. Não enquanto ainda estava tão perturbado. Em geral conseguia passar dias sem gaguejar, mas agora... a forma como seu pai o encarava fazia com que se sentisse um bebê. Um bebê idiota. E de repente sua língua parecia estranha e grossa.

O duque sorriu de forma cruel.

– O que tem a dizer, menino? Hein? O que tem a dizer?

– Está tudo bem, Simon – sussurrou a ama Hopkins, lançando um olhar furioso para o duque. – Não deixe que ele o perturbe. Você consegue, querido.

E de alguma maneira o encorajamento dela piorou tudo. O garoto fora até ali para provar seu valor ao pai, e agora sua ama o estava tratando como um bebezinho.

– Qual é o problema? – provocou o duque. – O gato comeu sua língua?

Os músculos de Simon ficaram tão tensos que ele começou a tremer.

Pai e filho se encararam pelo que pareceu uma eternidade, até que o duque praguejou e partiu em direção à porta.

– Você é meu pior fracasso – sibilou ele. – Não sei o que fiz para merecer isso, mas se Deus quiser nunca mais o verei novamente.

– Alteza! – repreendeu a ama Hopkins, indignada. – Isso não é maneira de falar com uma criança!

– Tire-o da minha frente! – gritou ele. – Você pode ficar no emprego desde que o mantenha longe de mim.

– Espere!

O duque se virou lentamente ao som da voz de Simon.

– Você disse alguma coisa? – perguntou ele com a fala arrastada.

O garoto respirou fundo pelo nariz três vezes, com os lábios ainda apertados de raiva. Forçou a mandíbula a relaxar e passou a língua no céu da boca, tentando lembrar a si mesmo a sensação de falar corretamente. Por fim, quando o duque estava prestes a mandá-lo embora de novo, ele abriu a boca e disse:

– Eu sou seu filho.

O menino ouviu a ama dar um suspiro de alívio e algo que ele nunca vira antes brotou nos olhos de seu pai. Orgulho. Não muito, mas algum, espreitando nas profundezas. Algo que deu a Simon uma centelha de esperança.

– Eu sou seu filho – falou mais uma vez, agora um pouco mais alto. – E não estou m...

De repente, a garganta fechou. E ele entrou em pânico.

Você vai conseguir. Você vai conseguir.

Mas a garganta estava apertada, a língua parecia grossa, e o pai começou a estreitar os olhos...

– Eu não estou m-m-m...

– Vá para casa – disse o duque em voz baixa. – Não existe lugar para você aqui.

Simon sentiu no âmago a rejeição do pai. Experimentou uma espécie peculiar de dor tomando conta de seu corpo e envolvendo o coração. E, conforme o ódio lhe invadia e transbordava por seus olhos, ele fez uma promessa solene.

Se não podia ser o filho que o pai queria, então seria exatamente o oposto.

28 de Julho de 2021 às 20:40 0 Denunciar Insira Seguir história
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